Dragon's Son escrita por Starkiller


Capítulo 5
O sangue do Oráculo


Notas iniciais do capítulo

Estou postando do celular então desculpem qualquer erro de formatação.



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Quando a claridade invadiu aquele quarto seu ocupante já estava desperto, mesmo que relutasse a se levantar. Sabendo que em pouco tempo alguém viria incomodar, se levantou e esticou o corpo, espreguiçando-se, enquanto olhava o quarto ao seu redor. Admirou o céu limpo daquela manhã e foi ao espelho sobre a penteadeira mexer em seu cabelo. A garota obviamente não precisava se preocupar tanto com a aparência, sua pele levemente morena não possuía uma marca que fosse. Seu cabelo era castanho e ondulado. Seu corpo era esguio e curvilíneo mesmo coberto pelo blusão masculino que usava como pijama. Seu quarto era excessivamente rosa, como ela mesma descrevia, paredes rosa pálido, mobília rosa bebê, roupa de cama rosa choque. Sua cama possuía um dossel ornado de flores esculpidas na madeira. Era um típico quarto de princesa, mas na verdade era sua prisão. A garota remoia seus pensamentos quando batidas na porta a despertaram.
— Entre. - convidou ela.
— É aqui que mora a aniversariante do dia? - indagou o visitante, um rapaz ligeiramente mais velho que a garota.
— Seu bobo. - riu a garota. - O que faz acordado tão cedo? Deve ter voltado tão tarde ontem.
— Queria ser o primeiro a dar um abraço... - o garoto interrompeu seu galanteio. - Karen! - exclamou indignado. - Não me admira eu estar ficando sem camisas, você está se apoderando de todas elas!
— É o único meio de ter você por perto Nate. - defendeu-se Karen. - Você nunca fica em casa tempo o suficiente.
— Estou brincando irmãzinha. - disse ele rindo. - Pode ficar com essa para você, afinal ela fica melhor nas suas curvas que em mim.
— Idiota! - zombou ela.
Nate está no auge dos seus 19 anos. Seu porte atlético evidencia seus músculos perfeitos, somados ao cabelo castanho e liso com um pequeno topete, os olhos amendoados e o sorriso libertino, fazem dele o sonho das garotas. Seu maior defeito é que ele sabe o quanto é desejável e por isso dá em cima de qualquer garota que apareça em sua frente, exceto sua irmã Karen. Eles moram numa espécie de fortaleza junto com uma infinidade de famílias. E é o fato de não terem permissão para sair que faz Karen chamar o quarto de prisão. Karen aceitava sua situação quando tinha a companhia do irmão, mas desde que ele passou no teste da Esquadra, ele tem viajado tanto que ela quase não o via.
— Se não se importa, quero me trocar. - disse a garota apontando a porta.
— Como sua alteza desejar. - disse o garoto, indo de costas para a porta e se curvando a ela.
— Idiota! - disse ela rindo e atirando um travesseiro nele.
Depois de se lavar e se vestir, Karen desceu para tomar seu café com o irmão. Parecia que aquela seria uma manhã calma em família, mas tudo mudou de repente. Um dos guardas da Esquadra adentrou a casa deles com um semblante sério. Karen soube imediatamente que seu tempo com o irmão tinha acabado.
— Senhor Skye, desculpe incomodá-lo, mas convocaram todos imediatamente.
— Isso parece grande. Toda a Esquadra sendo convocada. Algum adiantamento?
— Não senhor, apenas temos que comparecer no Centro de Operações.
— Karen...
— Não se preocupe. Encontrarei um modo de passar o tempo.
— Feliz aniversário de novo. – disse o irmão como se estivesse se desculpando. – Vamos. – completou para o guarda que o aguardava.
O visitante se curvou e eles saíram. Emburrada, Karen se concentrou em seu desjejum. Mais tarde ela tentou sondar algo sobre a tal convocação, mas ninguém parecia saber do que se tratava. Ela estava com uma sensação de que uma tragédia estava para explodir em suas mãos, mas como ela não previra nada, tentava espantar o mau agouro. Antes do almoço se encontrou com um pequeno grupo de amigos, com os quais discutiu do que se tratava uma reunião em massa da esquadra. Durante seu almoço, um mensageiro apareceu, informando que Nate saíra em uma missão com sua equipe de rastreadores. Isso colocou fim em suas esperanças de ver o irmão pelo resto do mês. Mal conformada ela foi pro quarto. Só restava praticar um pouco do legado da família.
Seus antepassados fizeram uma promessa para alguém muito importante e desde então a família Skye está predestinada a gerar um Oráculo a cada geração. Karen nasceu com a Visão, o dom dos oráculos, o que significa que ela pode ver o futuro ou o passado, não importa sua vontade. Se ela se esforçar bastante e mantiver a concentração e o foco ela pode induzir uma visão.
Então desde que teve a primeira visão esse tem sido seu treinamento, induzir as visões até que isso se torne uma parte natural dela e ela não precise gastar tanta energia. Na teoria isso parecia algo fácil e até chato de se fazer. Na prática é algo extremamente difícil, desgastante e frustrante quando ela falha.
Sua semana seguiu sua rotina de sempre; desjejum, passeio, amigos, almoço, treino, lanche e cama. Esperava por notícias de seu irmão, mas nada. Ela sentia que algo errado estava acontecendo.
A equipe de batedores de Natanael chegou ao esconderijo bem antes do previsto, o que era estranho, pois eles geralmente demoravam mais que o previsto. Karen sentia que alguma coisa grave aconteceu. Seu coração disparava enquanto ela tentava ver o irmão no meio da comitiva. Primeiro ela viu o grupo que carregava uma maca e aliviada, viu o irmão coordenando a caminhada para não esbarrarem no possível ferido. Ela se recusava até mesmo em pensar na outra opção. Era definitivamente um ferido. Nate disse algo a um dos guardas do portão e ele saiu apressado na direção do castelo enquanto todos se dispersavam e os carregadores da maca levavam-na para o galpão que funcionava como enfermaria.
Karen se apressou a descer de seu quarto e encontrou o guarda ainda entrando.
_ Senhora! - disse ele em tom respeitoso. - Sua Alteza, seu irmão, solicita sua presença na enfermaria, com urgência.
_ Vá na frente e diga que estou a caminho.
Alguns instantes depois a garota adentrava apressada a enfermaria. Fora seu irmão e a enfermeira havia apenas uns dois enfermos e apenas dois dos carregadores. A maca estava no chão, sobre ela um garoto estranho, provavelmente da idade da garota, ajoelhado, estático, olhando para o vazio com olhos arregalados e uma expressão de dor no rosto.
_ O que houve com ele? - disse Karen já se aproximando.
_ Cuidado! - disse Nate segurando seu braço antes que ela tocasse o estranho.
_ Mas...
_ Nós o encontramos no posto avançado que fomos examinar, ajoelhado em estado de choque. Tentei fazê-lo voltar a si, mas quando o segurei... - Nate mostrou as mãos queimadas, já com uma espécie de pasta para aliviar e cicatrizar.
_ Ele te atacou?
_ Duvido que ele ao menos saiba o que acontece ao redor dele. O corpo dele é quente como se estivesse em chamas.
_ Diga exatamente o que aconteceu. - disse a garota.
_ Recebemos informações de um posto avançado dos Caçadores na orla da Floresta Escura. Íamos investigar e ver quantos deles existiam, talvez uma possível sabotagem. Quando alcançamos o local não havia guardas na entrada, e tudo parecia abandonado. Entrei com mais quatro homens para investigar. Não havia sinal de vida no lugar, encontramos alguns elmos e peitorais chamuscados em alguns cômodos. Por um instante achei que o lugar era um posto a muito abandonado e que a informação era falsa. Deixei os outros de vigia e fui até a prisão. O lugar estava destruído, praticamente consumido pelo fogo, cinzas e metal derretido por todos os lados. Foi quando eu o vi. De costas para a saída, de joelhos, ainda respirando. - disse o garoto apontando o outro na maca. - Chamei, mas ele não respondeu. Cheguei perto e vi seu rosto, ele não se movia ou reagia a nada. Tentei sacudi-lo e seu corpo queimou minhas mãos como se estivesse em chamas. Foi quando entendi que ele tinha queimado tudo. Não sei como ele conseguiu usar magia dentro de uma das celas dos Caçadores, mas o fogo tinha partido dali e se espalhado por tudo. Os outros me chamaram, acharam diversas partes de vestimenta de caçadores num cômodo, todas com marcas de fogo, fora as partes não inflamáveis, apenas cinzas. Então usamos algumas poucas vestes anti-chamas como maca e trouxemos até aqui.
_ E ele não reagiu desde então?
_ Não.
_ Tudo bem, deixe-me tentar. - disse Karen olhando para o irmão.
_ Tem certeza?
_ Tenho. - ela respondeu.
_ Vocês, - Nate chamou aos dois guardas que ainda aguardavam ali. - vão até o comandante e relatem o ocorrido. Avisem que me encontro com ele assim que resolver tudo por aqui.
Os dois saíram imediatamente sem questionar as ordens superiores. Assim que ficaram sozinhos, Karen se aproximou mais e se ajoelhou na frente do garoto estranho. Ela olhou fundo dentro dos olhos do garoto, eles pareciam aterrorizados.
_ Oi! - começou ela, se dirigindo ao estranho. - Sou Karen. Desculpe arrastar você até aqui dessa forma, mas era o único meio de te manter seguro. Outros Caçadores chegariam logo e matariam você pelo que fez.
Ainda nenhuma resposta.
_ Eu sei que algo ruim aconteceu, mas você precisa reagir. Por favor, deixe-me ajudá-lo, mostre-me o que aconteceu. - Karen sussurrou, estendendo a mão quase tocando o estranho.
O ar ao redor dele estava tão quente que incomodava a pele da garota. Ela estava prestes a desistir de tocá-lo quando algo mudou, ela sentiu as correntes de energia se mover ao redor do garoto e o calor se dissipou. Ele estava permitindo que ela o tocasse, ele queria que ela visse o que ele viu. Assim que os dedos dela tocaram na testa do garoto a sala começou a girar, saindo de foco enquanto um novo cenário se formava. Antes do novo local se focar por completo uma voz masculina soou na mente da garota.
_ Eu não queria machucá-los. Eles só queriam me ajudar. Só que eu não consegui controlar. Eu não queria controlar.
_ Tudo bem. - respondeu a menina em pensamento. - Ninguém se machucou sério. Como disse antes me chamo Karen. E você?
_ Erik. Você disse que podia me ajudar. Como?
_ Primeiro me conte o que houve, antes de encontrarem você.
_ Eu... eu não consigo. Não consigo pensar sem perder o controle.
_ Então me deixe olhar dentro de você.

~ MEMÓRIAS ~
O espaço ao redor de Karen voltou a se focar, mas não era mais a enfermaria, era uma prisão. Ela podia ver as grades de diversas celas, todas as barras de ferro cobertas de inscrições mágicas. Olhando ao seu redor ela encontrou Erik encolhido num dos cantos do lugar de cabeça baixa. Ela mal deu um passo e um grito de dor ecoou por todo o lugar. A voz era de uma garota. O rapaz reagiu ao som, ergueu a cabeça, seus olhos vacilavam entre a raiva e o terror. Ele investiu contra as barras, sendo lançado ao chão no meio da cela. Ele se levantou, parecendo pronto para tentar outra vez, quando uma sombra apareceu nas grades.
_ É inútil garoto. Nada pode atravessar essas barras. Nenhuma magia conhecida no mundo pode ser lançada dentro dessas celas. Acabe com o sofrimento dela, diga onde ele está.
_ Mesmo que eu soubesse, eu nunca diria. Prefiro morrer.
_ Eu sei disso, mas o que me deixa curioso é se está disposto a deixar ela morrer. - disse o Caçador com um sorriso no rosto. - Tragam ela aqui! - gritou para alguém na outra cela.
A garota estava horrível. Cheia de cortes, hematomas e pequenos furos como de agulhas. Seu rosto estava um pouco sujo, talvez por ter sido deixada no chão por muito tempo. O Caçador que ordenava agarrou o pescoço a prisioneira e na frente da cela de Erik começou a apertá-lo.
_ Onde ele está? - perguntou para o garoto, que o ignorou, seus olhos congelados na garota. - ONDE ELE ESTÁ? - gritou e toda a máscara de paciência se esvaindo de seu rosto. - JURO QUE VOU PARTÍ-LA AO MEIO. ONDE ELE ESTÁ? - continuou a ameaçar e gritar.
Se Karen soubesse quem era "ele" e onde estava teria gritado a resposta apenas para se livrar do Caçador e do rosto contorcido de dor da garota, mas Erik se mantinha calado, sem desviar os olhos dos olhos da garota. Então no silêncio que se instalou por alguns segundos, ouviu-se um estalido. Um osso se partindo. O rosto da garota de repente ficou suave, toda a dor havia se esvaído de seu corpo, pois naquele momento a vida também se esvaia dela. Seus olhos perderam o brilho, seu corpo se relaxou. Erik caiu de joelhos, estático, paralisado na posição em que estava quando foi encontrado, a mesma em que estava agora na enfermaria. Karen precisou gritar isso para si antes que surtasse.
"_ Eu... matei... ela..." - Karen demorou um pouco pra entender que os sussurros vinham da mente do garoto. - "Minha culpa... tudo minha culpa..."
"_ Vamos garoto... - essa era uma voz diferente, mas ainda parecia vir da mente do garoto. - Você pode fazer mais que lamentar... Olhe para ele... - Erik obedeceu, e a dor e culpa queimaram dentro dele, sendo completamente consumidas por um novo sentimento, o ódio... - Isso! Deixe a raiva queimar dentro de você... Eu posso te ajudar... Deixe-me assumir o controle... Deixe-me queimar..."
Enquanto ouvia o garoto ser seduzido por aquela voz animalesca e se consumir de raiva, Karen também assistia sua postura mudar, do garoto vencido pela dor, para algo que emanava força, poder e medo. Seja o que estava tentando controlá-lo, não era humano. Seus olhos faiscaram com um brilho vermelho, como se estivessem em chamas.
_ Então heroizinho, está mais disposto a colaborar agora? - provocou o Caçador Líder.
O garoto apenas sentenciou:
_ Cadáveres. Tudo que vejo na minha frente são corpos em chamas. Todos vocês vão queimar.
_ Já disse nenhuma magia conhecida nesse mundo pode ser lançada dentro destas celas. É inútil.
_ Eu vou assistir você arder até só restar cinzas. - o garoto estava em transe. Karen sentiu um impulso para correr dali antes que fosse tarde. - Eu invoco o espírito ancestral do fogo! - a sala começou a aquecer. - Para consumir e destruir!
Nada aconteceu. O Caçador esboçou um sorriso, então o corpo do garoto entrou em combustão. Assustado o Caçador recuou largando o corpo da garota que caiu com um barulho surdo no chão.
_ Bem vindo. - disse a voz dentro do garoto. - Sem prisioneiros. Como na nossa Era.
O Caçador saiu correndo ao mesmo tempo em que o fogo se espalhou pela cela, consumindo tudo que tocava. Madeira, metal, tecido, pessoas, tudo foi tragado pelo fogo. Caçadores gritavam por uma ajuda que nunca veio.

~ FIM DE MEMÓRIA ~

Era horrível. Karen não podia suportar mais. Aquilo era o suficiente. Ela cortou a ligação psíquica com a mente de Erik, voltando à enfermaria como se sua mente fosse um elástico preso a ela que foi esticado demais. Ela caiu sentada, arfando. O garoto caiu deitado no chão totalmente desmaiado.
_ Karen! - seu irmão gritou, correndo até ela.
A garota dispensou cuidados, mas não conseguia falar. Sua garganta estava tão seca que parecia estar rachando. Era como se tivesse mesmo estado naquele inferno.
_ Água. - foi tudo que conseguiu dizer. Bebeu cinco copos seguidos antes de voltar a falar. - Leve ele para uma cama e cuidem das feridas. Ele vai acordar. Logo. - ela olhou para o irmão, que tinha uma interrogação praticamente estampada no rosto.
Karen acenou negativamente com a cabeça como se dissesse: "aqui não". Ele entendeu e ajudou ela a se erguer e depois a levou para casa.


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