Dragon's Son escrita por Starkiller


Capítulo 4
Livre - Segunda Parte


Notas iniciais do capítulo

Depois de três capítulos atribulados, um meio tranquilinho. Espero que curtam.



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Estava tão cansado que entrei no modo automático, coloquei a comida na bandeja sem pensar ou mesmo ver o que estava fazendo. Caminhei até uma mesa vazia e sentei. Dei uma mordida no pedaço de torta de frango e a explosão de sabor me animou.

Antes mesmo de eu dar a segunda mordida, uma bandeja pousou na minha frente e meu coração vacilou quando olhei no rosto dela, mas a tempestade em seus olhos me deixou apreensivo.

— O que diabos você acha que estava fazendo ontem? – mesmo sussurrando, ela transmitia sua raiva. – Se queria me matar de susto e preocupação conseguiu. Você simplesmente não apareceu no fim das aulas e quando vou te procurar, está preso numa redoma lutando como um gladiador romano. – então sua expressão suavizou de repente. – Fico feliz que esteja bem. – terminou ela sorrindo.

— Desculpe. – pedi. – Era um risco necessário. Ser o alvo do Raphael durante esse ano não era uma opção. E eu precisava provar que tinha controle sobre a magia.

— E seus pais? Vi quando eles chegaram. Sua mãe parecia sentir dor de tanta preocupação. Seu pai estava...

— Eu sei... Encontrei com eles no refeitório antes de ir pra aula... – disse sorrindo. – Não foi uma reunião de família feliz, mas foi melhor que o esperado.

— Eles vão acabar aceitando.

— Provavelmente. Meus irmãos me apóiam e desconfio que minha mãe ainda deva estar agradecendo a deusa por ontem. Meu pai é um pouco mais difícil, mas ele vai aceitar.

— Me encontra hoje à noite? Depois do jantar? Quero te mostrar um lugar.

— Claro! Vai ser... – minha voz morreu de repente.

Senti um aperto no peito, uma apreensão tão forte que paralisei completamente, meus sentidos procurando a origem do perigo. Uma das vantagens de ser da família Starkiller é esse instinto de proteção. Varri o local com o olhar, procurando meus irmãos.

Alex estava na mesa com seus amigos discutindo sobre alguma experiência que fizeram mais cedo, nada de anormal.

Gabriel tamborilava na mesa e falava sobre o campeonato que estava por vir. Seus amigos apostando em quem seria o vencedor. Outra vez, nenhuma anormalidade.

Eu não entendia de onde vinha aquela sensação até lembrar-me da Kamilla na minha frente. Seu rosto já naturalmente pálido estava lívido, como uma alma penada. Achei que tinha assustado ela, mas notei que não era para mim que ela olhava. Tinha algo ou alguém atrás de mim Olhei para trás bem a tempo de ver a professora Helena passar na frente da porta com mais duas pessoas, dois homens, totalmente diferentes fisicamente, mas emanavam a mesma aura violenta. Eram eles que ativaram meu alerta de perigo, mas eu nunca os tinha visto na vida.

Kamilla parecia aterrorizada, ela devia saber algo sobre eles.

— Mas que...

— Membros da Ordem dos Caçadores. – respondeu ela voltando a me olhar.

— Já ouvi falar, mas acho que nunca tinha visto um. – acho que não era o que minha expressão dizia, pois ela completou.

— Certamente sua família não teria assuntos com Caçadores.

— O que exatamente eles caçam?

— Em teoria, eles são uma facção da Armada dos Guardiões que devem manter nosso mundo a salvo. Na prática, eles são uma facção formada por mercenários que só querem poder e riquezas.

— E por que eu tenho a sensação que você descobriu isso na prática?

— Beber sangue, não é a única habilidade extra de um vampiro. Alguns de nossos dons não são bem vistos pelos Caçadores. Eles têm estado no controle a tanto tempo que não gostam de ser desafiados. Antes de sermos aceitos em sociedade, os Caçadores conseguiram bloquear nosso suprimento de alimento e meu bisavô quase conseguiu vencê-los numa guerra escondida do resto do mundo. Até que em uma noite uma equipe de Caçadores encontrou o esconderijo dele e desde então nunca mais tivemos noticias dele.

— Acha que ele está morto?

— Agora é bem provável. Naquela época acho que ele foi capturado com vida, para experiências. Caçadores dariam a vida pelo segredo de nossa longevidade.

— Já que você tocou no assunto... sobre sua... é... Alimentação... Como tem feito isso aqui?

— Diferente do que as lendas dizem, não somos assassinos insaciáveis, normalmente podemos nos sustentar com uma dose diária ínfima. Eu tenho um suprimento para todo o ano letivo no meu quarto. Algumas gotas na minha bebida do almoço e jantar e estou satisfeita.

— Exceto? – insisti, sempre tem uma exceção.

— Se eu perder muito do meu próprio sangue. Então terei que beber o suficiente para repor e me curar.

— Desculpe pela falta de tato, mas soa como dependência química ao invés de um conto de fadas. Mesmo com as vantagens.

— Quer tentar dizer isso a eles? – ela disse zangada.

— Eu não vou me aproximar daqueles dois por nada nesse mundo.

— Ainda não entendi sua reação aos Caçadores, você nem ao menos sabia sobre eles.

— Corro o risco de parecer covarde, mas a presença deles me faz sentir como se eu fosse uma presa indefesa diante do predador. Apenas esperando o inevitável abate.

— Eu quase pude tocar a tensão que emanava de você, como se você soubesse que era o alvo, não era covardia, era mais forte, como autopreservação.

— Ao que parece foi uma reação isolada, meus irmãos nem notaram a presença. Seja o que for não é uma questão de família.

Eu mal tinha tocado na comida, mas eu apetite tinha se esvaído com a apreensão. Indiquei o jardim com o olhar e ela concordou. Levantamos carregando nossas bandejas até o balcão onde as deixávamos e saímos. O sol do meio dia castigava nossas cabeças. Outro mito sobre os vampiros é a intolerância ao sol, seus olhos eram muito mais sensíveis a luz, mas daí a queimar ou explodir era outra história.

Os jardins anexos ao salão de refeições eram esplêndidos por si só. Ele era formado por canteiros em formas geométricas, triângulos, círculos e quadrados. Circundando-os havia caminhos de cimento adornados com bancos de madeira e no centro uma fonte com uma estatua de uma mulher com as mãos erguidas sobre a cabeça como se segurasse algo. De suas mãos vertia água que descia por todo seu corpo como uma aura, como se ela lançasse um feitiço. Se olhássemos ela de frente, no horário certo, dava pra ver a lua exatamente sobre suas mãos, como se ela a sustentasse no céu. Naquele horário, parecia alguém com tanto calor que conjurou água para se refrescar, o que não parecia uma idéia nada ruim. Nos canteiros havia as mais diversas plantas, desde comuns roseiras e violetas até plantas carnívoras e mandrágoras. Guiei nosso caminho até um banco próximo de uma roseira com flores violeta. Sentei e ela sentou ao meu lado, seu corpo meio de lado se apoiando ao meu. Seu toque queimava minha pela, de um jeito agradável que me fazia pensar que arderia feliz naquele fogo. Ela olhou nos meus olhos e ruborizei. Sou tão inexperiente com isso que tinha medo de fazer besteira que errava por não fazer nada. Kamilla sorriu e afagou meu rosto com as costas da mão. Ela parecia ter bastante experiência. Afastei esse pensamento antes que arruinasse o momento.

— Você fica muito fofo assim, encabulado. – disse ela rindo.

— Não faz isso. – eu disse mais corado. – Eu fico ainda mais sem jeito, não quero estragar isso – indiquei tudo com um gesto da cabeça. – com meu nervosismo.

— Você não estragaria isso nem se tentasse muito. Só relaxe, não pense no que estamos fazendo, é só deixar rolar.

Suspirei, tentado diminuir minha tensão. Ela segurou meu rosto e tocou seus lábios nos meus. De repente todo aquele contato não era suficiente, aquele beijo era pouco, eu queria mais, muito mais. Meu braço envolveu seus ombros para sustentá-la e aprofundei o beijo de um simples roçar de lábios para um enlaçar de línguas. Apertei seu corpo contra o meu, minha mão livre deslizando por suas costas. Ela apertou meu pescoço com uma mão e a outra afagava meu tórax. Senti meu corpo pulsar, como nunca antes, despertando sensações que eu nunca senti antes. Assustado com essa intensidade, eu interrompi o beijo e ela gemeu em protesto antes de recobrar o juízo e se afastar de mim.

— Caramba! Eu sinto muito. – eu não sabia o que tinha acontecido, mas sentia que era minha culpa. – Eu não sei o que aconteceu.

— Sinto muito, mas eu não vou aceitar ou pedir desculpas. Isso foi intenso e gostoso.

— Eu tenho que ir agora. Para a próxima aula.

— A gente se vê a noite?

— No jantar. Depois eu tenho que hã... falar com meus irmãos sobre... hã... os Caçadores.

— Tudo bem.

Levantei e saí apressado dali, tão envergonhado quanto nunca estive antes. O calor escaldante das caldeiras e o trabalho pesado aplacaram minha confusão por um tempo. Eu não parava de pensar no que aconteceu e partes do meu corpo pareciam reagir a cada lembrança. Eu tinha mesmo que falar com meus irmãos. Ainda estávamos trabalhando na limpeza dos estábulos, então eu voltei a entrar no modo automático enquanto trabalhava, foi uma péssima idéia, não pensar nos meus afazeres deixou minha mente livre para reviver detalhadamente aqueles breves minutos no jardim, eu ainda sentia o calor do corpo dela no meu, meu corpo se aquecendo onde eu não queria, ou será que queria? Pensei com um sorriso bobo no rosto. Terminei tudo e sai de fininho para a aula de natação. Praticamente corri pros vestiários. Comecei a me trocar quando vi os chuveiros, não resisti e tomei um banho gelado, isso acalmou meus ânimos. Vesti a sunga e saí do vestiário já direto para piscina, onde pulei e dei algumas braçadas até os outros chegarem com o treinador. Fisicamente eu me sentia melhor, mas ainda não conseguia tirar tudo da cabeça não ia dar para esperar até o fim das aulas. Saí da água e fui em direção ao treinador.

— Treinador, eu não me sinto muito bem. Dá para me dispensar hoje? - o vi pensar por um tempo enquanto me estudava. Eu devia parecer mal, ou ele achou que eu precisava de um tempo depois do ultimo dia.

— Tudo bem, mas quero esforço dobrado da próxima vez.

— Combinado.

Nem troquei de roupa, vesti minha camisa e a calça sobre a sunga e fui correndo até o campo de futebol. Se eu tinha que ter "aquela" conversa, preferia o Alex para isso, ele não tiraria tanto sarro quanto o Gabriel. Não era muito longe, passando o complexo onde ficava a academia de ginástica e o ringue de boxe, havia um espaço enorme cercado por uma tela quadriculada onde um grupo de garotos corria num gramado. Entrei sem hesitar e fui até um dos adultos, pedi que liberassem meu irmão. Não sei o que o cara pensou, ele não pareceu feliz em fazer aquilo, mas não demorou muito a gritar meu irmão, que veio correndo do outro lado do campo. Quando me avistou ele aumentou a investida. Seu olhar já procurava por um possível perigo. Velhos hábitos não são fáceis de deixar. Tranqüilizei ele com um aceno. Eu achei que nunca ficaria tão envergonhado como no dia em que me declarei para a Kamilla. Que engano. Nada seria tão vergonhoso quanto falar com o Alex sobre garotas. Eu insistia que ninguém me notava perto dos meus irmãos, mas a verdade é que nos meus quinze anos eu nunca tinha me interessado por alguém. Embora o Alex fosse o mais velho de nós, com seus dezenove, ele era menos experiente que o Gabriel. Ainda assim falar com ele sobre o assunto me renderia menos tempo de provocações. Quando contei a ele a historia do almoço, ele riu um bocado, dizendo que se lembrava quando aconteceu com ele pela primeira vez. Quando conseguiu se controlar. Ainda esboçava um sorriso.

_ Não tem muito que se possa fazer para controlar esse tipo de situação, mas da próxima vez, com certeza não saia correndo. - odeio admitir, mas ver ele rir me contagiou e logo eu também estava rindo de mim mesmo. - O lance do banho frio é uma ótima tática para se acalmar. Pelo que me contou ela parecia bem afim também. Se você acha que é cedo demais, evite ser intenso demais quando estiverem juntos e se acontecer de novo evite que ela perceba.

— Eu quero que aconteça. Deus sabe como eu quero. Afinal antes de tudo eu sou de carne e osso. Só não quero ofendê-la, não quero que ela ache que isso é tudo que eu quero com ela.

— Ela é mesmo importante não é?

— O suficiente para eu estar aqui, tendo essa conversa com você, mesmo que isso me faça querer enterrar a cabeça no chão por uma eternidade.

— Não seja melodramático. Somos irmãos, pode conversar comigo sempre que precisar.

— Só, por favor, não conta nada pro Gabriel.

— Sinto muito, mas se eu não contar, ele nunca vai me perdoar.

— Eu agradeço a ajuda e tudo mais, mas eu odeio vocês.

A conversa tinha me aliviado um pouco, mas ainda estava meio nervoso. Acabei voltando para a aula de natação, pensando em enrolar por lá até depois do jantar. Sem responder o olhar questionador do treinador, tirei a roupa e saltei numa raia vazia. Nadei submerso tanto quanto meu fôlego permitiu. O esforço físico contribuindo para manter a mente ocupada. Apoiei numa borda para respirar um pouco. Vi os outros já fora da água, conversando e se secando. Era o fim da aula. Dei algumas braçadas agora treinando nado crawl. Enquanto nadava, esqueci de todas as minhas preocupações. Bem mais tarde, saí da água, tomei banho, me vesti e saí do ginásio. Estava mais tarde do que imaginei. Já havia anoitecido completamente. Decidi ir conversar com a Kamilla, talvez pedir desculpas por ter fugido mais cedo.Estava passando ao lado do cercado onde os cavalos corriam quando pressenti o perigo.

Foi tarde demais, levei um golpe na cabeça e tudo ficou preto.


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Notas finais do capítulo

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