“E você acha que eu sou um problema.” Ela soltou e eu pude perceber que os boatos sobre mim tinham chegado até ela. Estávamos empatados. Não pude deixar de sorrir, despreocupadamente.

“Útil, hum? Nossas reputações nos precedem.”

“Você não sabe nada sobre mim. E eu só sei sobre a sua família. Não sei nada sobre você.”

“Você quer saber?” Perguntei mantendo meu tom de zombaria, mas estranhamente queria que ela dissesse que ‘sim’.

“Desculpe. Não sou afim de caras mais velhos.” Quando ela falou isso, um leve tom dourado riscou a sua aura negra. E eu sabia que o dourado somente surgia em auras de pessoas apaixonadas.

“Eu tenho vinte e um. Não sou tão velho.”

“Eu tenho namorado.”

“Engraçado você não ter mencionado isso antes. Não foi ele quem lhe deu esse olho roxo, foi?”

Aquilo fez seu rosto corar, mas eu sabia que não era timidez. Era raiva. Obviamente era um assinto constrangedor para ela.

“Ele não estaria vivo se ele tivesse. Eu o consegui durante... um treino. Eu quero dizer, estou treinando para ser guardiã. Nossas aulas são sempre duras.”

“Isso é bem quente,” eu falei, apagando mais um cigarro no chão. Eu estava a provocando deliberadamente. Claro, meus pensamentos não eram nada puros também.

“Eu levar um soco no olho?”

“Bem, não. É claro que não. A ideia de ficar duro é quente. Eu sou muito fã de esportes de contato.”

“Tenho certeza que você é.” Ela se sentia impaciente, mas eu gostava daquela provocação. Ela não conseguiria ir embora até que eu deixasse. Podia continuar com a aquilo por um longo tempo, de alguma forma, eu gostava da presença dela. Era calmante. Continuei soltando a compulsão que a mantinha ali, conversando comigo.

Ao mesmo tempo, eu já podia ouvir o som de passos na neve e me preparei para ver quem surgiria. Eu realmente não queria que outra pessoa nos atrapalhasse, já que eu estava adorando aquela conversa. Rose se virou logo depois que uma garota que tinha rosto de criança subiu pelas mesmas escadas que ela tinha passado há pouco.

“Hey, Mia.”

A garota parou e olhou para nós dois, parecendo indignada. “Outro cara?” Ela disse em tom de severa crítica. Eu dei um olhar para Rose de quem se sentiu animado com aquilo. Eu realmente não pensei que ela fosse uma garota fácil, mas era divertido provocá-la.

“Mia, esse é Adrian Ivashkov.”

Eu me inclinei para a garota, soltando todo meu charme. “Sempre um prazer conhecer amigos de Rose, especialmente uma tão bonita.”

“Nós não somos amigas,” Rose disse duramente. Eu já tinha percebido que elas não eram tão amigas, já que o clima entre elas era muito hostil, mas resolvi não levar isso em consideração. Duas garotas se enfrentando era algo, na maioria das vezes, muito engraçado.

“Rose só sai com caras psicopatas.” Mia disse com desdém.

“Bem, já que eu sou um cara e um psicopata, isso deve explicar porque somos bons amigos.” Provoquei.

“Eu e você não somos bons amigos.” Rose interveio rapidamente.

“Sempre bancando a difícil, hum?” Falei sorrindo.

“Ela não é tão difícil,” disse Mia, claramente chateada por algo que não estava bem claro. “Apenas pergunte a metade dos caras da nossa escola.”

“É,” Rose respondeu. “E pergunte a outra metade sobre Mia. Se você puder fazer um favor para ela, ela vai fazer vários pra você.”

“Bem,” ela disse, “pelo menos eu não faço de graça.”

Eu soltei um gemido, como se fosse um torcedor assistindo uma partida do seu time. Eu estava mesmo adorando aquele embate. Claro que eu não iria levar aquelas ofensas em consideração para traçar a personalidade de nenhuma das duas, mas não deixei de olhar entre uma e outra com muito interesse.

“Você terminou?” Rose perguntou a Mia. “Já passou da sua hora de dormir, e os adultos gostariam de conversar agora.”

Eu pude notar que aquela era uma ofensa para Mia. A garota tinha o rosto com traços ainda infantis, uma juventude verdadeiramente exagerada, que devia ser dolorosa para ela alguém que quer se mostrar madura.

“Claro,” Mia falou corando. “Eu tenho coisas melhor a fazer de qualquer forma.” Ela se virou para a porta, então parou com sua mão a segurando, e olhou para mim. “Quer saber? A mãe dela foi a responsável pelo olho roxo.” Dizendo isso, ela entrou.

Eu e Rose ficamos alguns minutos em silêncio. Ao mesmo tempo em que eu pensava em algo para falar, sentia novamente a escuridão do espírito querendo se aproximar. Eu não podia usar a compulsão com Rose por mais tempo. Eu estava quase no meu limite. Então, puxei outro cigarro e acendi. Havia algo que ela podia me dizer, mas eu ainda não sabia como chegar nesse assunto.

“Sua mãe?”

“Cala a boca.”

“Você é uma daquelas pessoas que ou tem almas gêmeas ou inimigos mortais, não é? Nenhum meio termo. Você e Vasilisa provavelmente são como irmãs, hum?” Era a deixa que eu precisava. Somente ela podia me dar informações precisas sobre Vasilisa.

“Acho que sim.”

“Como ela está?”

“Hum? Como assim?”

Eu dei de ombros, sem querer demonstrar interesse descarado, mas na verdade, eu tinha muito interesse em Vasilisa. Pelo que eu tinha ouvido, ela era uma usuária do espírito, assim como eu. A única que eu tive notícias em todos os meus anos de vida. “Eu não sei. Eu quero dizer, eu sei que vocês fugiram... e teve aquele negócio com a família dela e Victor Dashkov...”

O semblante de Rose endureceu e sua aura se tornou ainda mais negra. Eu tive a impressão que ela poderia partir para o ataque a qualquer momento. “E?”

“Não sei. Apenas imaginei que fosse muito para ela, você sabe, lidar.”

Ela me avaliou de forma muito desconfiada, seus olhos me varreram calmamente. Era como se ela soubesse onde eu queria chegar e visse isso como uma ameaça. Muito esperta mesmo.

“Eu tenho que ir.” Ela disse diretamente, ignorando por completo o que eu tinha falado.

“Você tem certeza?” Eu falei desapontado. “Eu pensei que fosse a hora dos adultos conversarem. Há muitas coisas de adultos que eu gostaria de conversar.”

“Está tarde, estou cansada, e seus cigarros estão me dando dor de cabeça,” ela disse curtamente.

“Eu suponho que isso seja justo.” Agora era minha vez de ignorar o que ela tinha falado. Eu dei mais uma tragada e deixei a fumaça sair lentamente. “Algumas mulheres acham que ele me faz parecer sexy.”

“Eu acho que você fuma eles para você ter o que fazer enquanto pensa na sua próxima cantada.”

Aquela tirada dela me fez rir, mas como eu tinha acabado de dar uma tragada, eu acabei me engasgando com a fumaça. “Rose Hathaway, não posso esperar pra ver você de novo. Se você tão charmosa assim quando esta casada e irritada e tão linda machucada e com roupas de ski, você deve ser devastadora quando está bem.”

“Se por ‘devastadora’ você quer dizer que deveria temer pela sua vida, então sim. Você está certo.” Ela disparou e abriu a porta, mas parou, se voltando para mim. “Boa noite, Adrian.”

“Vejo você logo mais.” Eu disse, já pensando que ela não se livraria assim tão fácil de mim.

“Dificilmente. Eu disse a você, não sou a fim de caras mais velhos.”

Novamente sua aura foi riscada em dourado. Essa garota tinha alguém em sua vida. Alguém que era sim ‘mais velho’.

Ela entrou, mas antes que as portas fechassem, eu disse, refletindo o que eu pensava e via em volta dela. “Claro, que você não é.”

Eu dei uma ultima tragada de cigarro e olhei em volta. Estranhamente, estar ali sozinho me incomodou. Há pouco tempo solidão era o que eu queria, mas agora não. Eu queria estar mais tempo com Rose e algo me dizia que esta vontade seria permanentemente.