Cheguei no meu quarto, me sentei na cama e comecei a pensar em tudo aquilo que tava acontesendo. Eu não entendia nada e não tinha ninguém com quem eu pudesse conversar, quero dizer, eu tinha os meus pais (todos eles, os dez) que não iam se opor se eu quisesse conversar com eles, mas para começo de história isso era que me confundia mais.

Eu cobri o meu rosto com as mãos e respirei fundo. Procurei na minha mente, tentei achar alguém ali que pudesse me entender. Entender que eu não queria estar ali, que eu já tinha uma vida lá em cima, que era o suficiente para mim.Pencei no meu tio o João, mas logo discartei essa possibilidade. Ele com certeza iria correndo contar para os meus pais o que quer que eu diga a ele.Pensei mais um pouco e encontrei a Brenda, ela tinha sido a única que eu tinha tido um pouco de empatia, tirando o tio João é claro. Mas a Brenda não podia me visitar, não sem receber um castigo, e depois eu não sabia se ela iria me compreender, ela parecia muito feliz naquele lugar. Então me veio a cabeça o chato do Filipe, ele tava totalmente fora de cogitação , ele era quem mais me fazia lembrar aquele lugar.

Descobri os olhos e dei uma olhada ao redor. Aquele quarto se parecia tanto com o meu que ficava lá em cima, eu simplesmente podia fingir que nada daquilo tinha acontecido e ficar ali para sempre, mesmo sabendo que não iam deixar.Olhei mais um pouco e encontrei o pedaço de papel que continha a minha senha do armário, quero dizer, que tinha uma charada para eu descobrir a senha do meu armário. Eu peguei e o li novamente:"Quando inicia a primavera o tempo esquenta,Quando o verão acontece o tempo ferve,O outono sempre começa quente,Mas no inverno sempre esfria.” O que isso queria dizer? A senha não eram as primeiras letras da estações, porque as senhas dos armários eram numéricas, mas então que números podiam ser?

Me sentei na cadeira em frente a minha escrivaninha e fique observando a charada, então me lembrei o que o Filipe tinha comentado sobre a senha dele, que eram as datas de nascimento de pessoas importantes. Olhei por cima do papel que eu segurava e vi o calendário, ai eu pensei: a minha senha pode ser os dias que essas estações começam.

Peguei o calendário e procurei o início das estações, mas as datas eram quase todas repetidas não faria sentido. Observei mais um pouco e vi que, obviamente, eram em meses diferentes e os meses também são marcados por números, mas qual seria a sequencia certa? Li a charada de novo:

"Quando inicia a primavera o tempo esquenta,

Quando o verão acontece o tempo ferve

O outono sempre começa quente,

Mas no inverno sempre esfria.”

Tava na minha cara, cada linha era um número. A primeira linha falava da primavera, então era só eu descobrir qual era o mês que começava a primavera. Procurei no calendário a data certa e achei, a primavera começa em setembro logo o primeiro número seria '09'.

Continue a busca, a segunda linha falava do verão e o verão começa em dezembro, segundo número: '12'. A terceira linha citava o outono que tem inicio no mês de março: número '03'. E por fim a última linha que mencionava o inverno, que se inicia no mês de junho: número final '06'.

Minha senha ficou assim no final: 09 12 03 06. Fiquei satisfeita comigo mesma por ter discoberto a senha, que foi até rápido se lembrarmos que o Filipe demorou cerca de uma semana para descobrir o dele.

Enquanto eu escrevia a minha senha no papel logo abaixo da charada alguém bateu na minha porta. Me levantei e fui atender, quando eu abri a porta mal pude ver quem era, porque a pessoa invadiu o meu quarto me empurrando para o lado para poder entrar. Quando a pessoa fechou a porta atrás de si foi quando eu reconheci quem era: a Brenda.

_ O que você ta fazendo aqui? _ eu perguntei meio atorduada.

_ Eu vim aqui falar com você rapidinho _ ela respondeu com urgência na voz _ antes que sua mãe perceba que eu to aqui.

_ O que foi?_ Eu só quero saber por que você não vai no torneio radical?Eu não respondi nada só me virei e sentei de volta na cadeira.

_ Suzan se você não for o Filipe não vai poder ir _ ela disse com um tom desesperado _ o Felipe quer muito competir, se ele não aparecer ele vai perder.

_ A vida é assim mesmo _ eu disse _ as vezes a gente perde, ele supere isso _ completei.

_ Sim _ a Brenda concordou _ mas só que seria mais facil de superar quando a gente perder competindo, não porque não pode comparecer.

Fiquei calada a Brenda continuou:

_ Suzan não faz isso, o Filipe é tão legal, apesar das coisas terriveis que ele conta que passou no orfanato que ele morava. Todo mundo aqui gosta dele.

Continuei calada olhando para ela.

_ Você ainda tá com raiva dele porque ele te atropelou com o skate aque dia? _ ela perguntou, continuei sem falar nada _ Eu te garanto que ele nao fez isso de propósito, ele não é de fazer esse tipo de coisa, ele nem consegui falar um palavrão direito.

Eu me levantei da cadeira e me sentei na cama ainda calada. A Brenda suspiro e abaixou a cabeça em sinal de derrota.

_ Sabe Suzan _ ela começou ainda de cabeça baixa _ quando a gente sai do cubículo somos quase que imediatamente apresentados aos nossos parceiros, mas não foi o que aconteceu com o Filipe _ ela ergueu a cabeça _ explicaram a ele que o parceiro dele ainda iria chegar, ele ficou muito ansioso com a chegada do dito parceiro _ ela me encarou _ o Filipe ficou muito preocupado quando disseram que o o parceiro dele estava no hospital com sei lá o que na cabeça, ele queria até ir visitar a pessoa, mas não deixaram. _ ela suspirou _ o Felipe ficou muito feliz quando você estava chegando... Você sabe quantas pessoas queriam ser parceiro dele?

Ela saiu do quarto sem dizer mais nada. Beleza, eu não sei ouvir que eu sou culpada por fazer alguém se sentir mal e não fazer nada. Eu sempre perdia as brigas com a Linda por conta disso. Que ódio eu senti de mim quando eu me levantei e fui bater no quarto do Filipe.