Trouble escrita por Julice Smolder


Capítulo 15
Find me in the shadows


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas, eu sei que essa vez demoramos demais, deu quase 1 mês sem atualização, mas finalmente entramos em férias, então se preparem para capítulos de trouble e fairytale. Enfim, eu agradeço pelos comentários, sério vocês são incríveis, muito obrigada mesmo.
Bom, tenham uma boa leitura.



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O quão ansioso um ser humano é capaz de ficar? Muitas pessoas costumam usar frases clichês para descrever momentos como esse em suas vidas, o problema é que nenhuma dessas frases feitas se encaixa ao momento que estou vivendo agora, nenhuma delas consegue descrever meus sentimentos ou pensamentos, o que é uma pena por que seria bom ter algo para usar como mantra durante essa longa quarta-feira, mais conhecida como “dia da consulta em dupla” sim, é por culpa dessa maldita consulta que ando tão ansiosa e nervosa. Mal consigo pensar em alguma coisa que não seja relacionada a uma pequena sala, três pessoas, assuntos tensos e 45 minutos, tudo isso reunido em um único dia, eles com certeza estão tentando me enlouquecer. Tudo que percorre minha mente são perguntas sem respostas, mas não por falta delas e sim por medo de descobri-las.

Desde que voltei da casa de minha mãe, não consigo mais dormir direito, minha cabeça fica borbulhando, fico pensando em Isobel e como está à convivência com o crápula do meu pai, fico imaginando como Jeremy está e claro a maldita consulta que é o principal motivo da minha insônia. Como a vida seria melhor se nascemos com um manual, se soubéssemos o que aconteceria a cada minuto, cada segundo da nossa vida, mas claro nada poderia ser tão fácil e somos diariamente obrigados a enfrentar nossos medos, o problema é que meus medos e segredos me assombram.

Damon ao contrario de mim, está dormindo tranquilamente, com sua cabeça repousada sobre o travesseiro fino, os cabelos negros bagunçados e no rosto a expressão serena banhando seus traços. Como ele consegue ficar tão calmo em um momento como esse? Claro, ele nunca deve ter contados seus segredos ocultos a Rebekah ou muito menos ter mencionado meu nome a ela, então é normal que ele esteja tranqüilo com a situação.

Cansada de ficar pensando e pensando sobre assuntos sem respostas, eu decido levantar-me e ir tomar um banho relaxante, sim, um banho bem quente é tudo o que eu preciso para afastar –ao menos por minutos –essas coisas da minha cabeça.

[...]

Aproximei-me de Damon que ainda estava adormecido, perdido em sonhos como Alice no país das maravilhas. Era engraçado ver como ele parecia tão vulnerável quando dormia, era facilmente confundido com uma criança de dez anos. Deixei que meus dedos gelados tocassem as suas linhas faciais. Ele me lembrava uma criança que ao ser acordada fazia birra e chorava para que a mãe o deixasse faltar aula, uma criança cheia de sonhos e desejos, que acreditava no felizes para sempre, mas com o tempo –assim como eu –os sonhos dele foram destruídos, e ninguém se importou com isso, a pessoa que ele mais amava foi arrancada bruscamente dele e ninguém se importou com seus sentimentos, no final das contas temos alguma coisa em comum, dois corações partidos tentando encontrar o curativo certo para ser concertado.

-Oi –Ele sussurrou abrindo um sorriso infantil. –Parada ai por muito tempo?

-Acordado há muito tempo? –Perguntei abrindo um sorriso travesso.

-Não muito –Resmungou passando as mãos pelos seus olhos.

-Que bom –Sorri e levantei-me do chão. –Se arrume, daqui a pouco é a consulta com Rebekah.

-Por que ela marcou isso tão cedo mesmo? –Murmurou enquanto suas mãos corriam por seus cabelos negros. Dei de ombros e caminhei em direção a minha penteadeira onde fiz um coque frouxo e passei um batom fraco em meus lábios, era apenas dez horas da manhã, não era necessário maquiagem.

Depois de devidamente arrumado, Damon pegou seu jaleco branco e estendeu o braço para que fossemos em direção a sala da Doutora Rebekah. Meu coração poderia ser facilmente confundido com uma metralhadora, ou com uma cama elástica lotada de pequenas crianças energéticas. Já o resto de meu corpo permanecia mascarado com serenidade, não queria e nem poderia demonstrar que estava totalmente nervosa com o fato de que em poucos minutos estarei dentro de uma pequena sala sendo bombardeada com perguntas e não sei se terei coragem o suficiente para respondê-las.

Entramos na sala e o cheiro de velas perfumava o local, Rebekah sempre gostará dessas coisas, incensos, velas, estatuas e coisas do tipo, ela diz que trás paz ao ambiente e quando se trabalha com problemáticos é sempre bom ter uma ajuda extra.

Minhas pernas insistiam em fraquejar, enquanto eu seguia lentamente até a poltrona branca em frente à mesa de mármore de Rebekah. Meus olhos, assim como minhas mãos, estavam inquietos, correndo do relógio a cadeira vazia de Bekah. Por Deus, onde essa loira se meteu?

Meus dedos tamborilavam sobre meu joelho, meu lábio já deveria estar uns dois tons mais vermelhos devido à pressão que meus dentes faziam sobre eles. Tentava em vão, manter minha respiração calma para que Damon não percebesse meu nervosismo exagerado. Meus olhos correram para o relógio novamente, e para minha tristeza, só tinham se passado dois minutos. Maldito seja o criador da psicologia, seria tão mais fácil se não existisse essas pessoinhas importunando pacientes vulneráveis, mas para minha total infelicidade, existe uma loira, charmosa e carinhosa que costuma tomar conta de meus problemas mais profundos e a mesma sente prazer em me ver passar vergonha na frente do meu médico favorito.

-Nós não estávamos atrasados? –Damon sussurrou em meu ouvido, arrancando-me de meus pensamentos e puxando-me para um arrepio aconchegante na espinha.

-Deve ter acontecido alguma coisa, Bekah não é de se atrasar –Falei calmamente, tentando manter minha posse de controlada.

-Ou estamos adiantados –Ele olhou para o relógio. –Não era daqui a meia-hora nossa consulta? –Perguntou erguendo uma de suas sobrancelhas.

-Lorena mandou sermos rápidos, achei que a consulta tinha sido adiantada –Dei de ombros.

-Tudo bem, então vamos aguardar –Damon falou cruzando os braços e soltando um suspiro longo.

Ficamos uns dois minutos em silencio novamente, minha cabeça insistia em me pregar peças, tentando encontrar meios para desaparecer daquela sala, tentando procurar sobre a mesa algum objeto afiado para me causar alguma dor, fazer um surto aparecer para que eu pudesse em fim sumir daquela sala e jamais voltar, mas eu sei que nem terei chance de alcançar o pote de canetas, Damon já anteciparia meus movimentos e me deteria, em seguida me abraçaria e faria um discurso que me tiraria o sono durante a noite. Então aceitando os fatos, apenas suspirei fundo e decidi puxar assunto com o homem ao meu lado.

-Tem idéia das perguntas que ela fará? –Perguntei fixando meus olhos sobre a mesa rodeada de papeis.

-Nem sei se teremos a consulta –Murmurou. –E não, Rebekah se negou a me contar sobre o que a consulta se tratava.

-Com certeza, sobre nossa convivência, se nos damos bem, se discutimos e se gosto da sua presença –Revirei os olhos.

-Então serão perguntas fáceis, responderei sim para tudo –Ele riu me puxando para o mesmo poço de graça que me arrancou boas gargalhadas.

-Eu negarei tudo, não gosto de você –Brinquei dando um soco de leve em seu braço.

-Por favor, Elena, já estamos em tempo para você admitir seus sentimentos por mim, vamos lá, diga que me ama –Ele riu e com o indicador apertou a ponta do meu nariz.

-Se acha que um dia farei isso, só está se iludindo –Soltei uma risada baixa.

-A ilusão é o primeiro de todos os prazeres –Ele sorriu orgulhoso por ter se lembrado de uma frase feita, que eu conhecia bem.

- Touché –Falei cruzando as pernas.

Damon abriu a boca para responder, mas no mesmo instante um barulho irritantemente baixo arrancou nossa atenção, puxando nossa atenção para a porta branca, sendo aberta pela pequena loira de cabelos cacheados, e lábios vermelhos que entrava pela mesma.

-Bom dia –Ela abriu um sorriso que mostrava todos seus dentes. –Desculpem-me o atraso –Falou calmamente enquanto arrumava seu jaleco sobre seu pequeno corpo.

-Tudo bem, eu acho que chegamos um pouco cedo –Damon respondeu arrumando sua postura na cadeira.

-Ah sim –Rebekah respondeu colocando sobre a mesa mais algumas pastas e papeis. –Bom, vamos começar? –Perguntou sentando-se na cadeira giratória preta.

-Começar? Com o que exatamente?

-Perguntas,é assim que a consulta funcionará. Eu farei perguntas e vocês responderão –Abriu um sorriso acolhedor. –Mas claro, antes um de vocês tem que decidir começar –Ela correu os olhos de mim para Damon e o máximo que eu consegui fazer foi encolher meus ombros, tentando em vão me fingir de invisível.

-Eu acho que posso começar –O homem ao meu lado ergueu uma de suas mãos.

Suspirei aliviadamente, estava com muito medo das perguntas e assim, ele começando antes, eu teria mais alguns minutos para me preparar psicologicamente para as próximas perguntas.

-Tudo bem –Rebekah colocou seus óculos e analisou algumas pastas antes de prosseguir com a consulta. –Damon, você pode nos contar como foram seus antigos relacionamentos? –A loira perguntou sem tirar a atenção da pasta, mas notei por alguns segundos um Damon pálido ao meu lado.

-Hm, sobre o que exatamente você quer saber? –Ele perguntou.

-Não sei, me conte qual foi seu primeiro e ultimo relacionamento, acho que assim poderemos ter uma base da sua vida amorosa, não acha? –Sorriu meigamente puxando um suspiro longo de Damon.

-Meu primeiro relacionamento, foi com dez anos, eu tinha uma melhor amiga, o nome dela era Cassie, nós conversávamos bastante, discutíamos bastante, mas no final acabamos namorando –Ele coçou a cabeça em um sinal de nervosismo e depois abriu um sorriso forçado. –Meu ultimo relacionamento, foi com Mellany, nós namoramos por dois anos e eu decidi pedi-la em casamento, mas para minha tristeza eu soube que ela me traia e bom...Não teve mais casamento –Ele soltou uma risada forçada pelo nariz, aquilo doía nele e eu podia notar isso.

-E você amava elas? –Rebekah continuou.

-Acho que sim –Deu de ombros.

-Era apaixonado por elas? –Repetiu praticamente a mesma pergunta.

-Não é a mesma coisa? –Damon questionou.

-Claro que não, amar, nós podemos amar diversas coisas, uma jóia, uma roupa, um animal ou um lugar, mas paixão, essa é outra história, você só sente com aquela pessoa, ela te deixa no espaço, tudo nela te faz bem, o sorriso, o cheiro o carinho e você só pensa nela a cada segundo do dia. –Rebekah assim que finalizou abriu um sorriso apaixonante fitando a foto sobre um porta-retrato que ficava sobre sua mesa.

-Okay, nesse caso, eu não era apaixonado por elas –Damon concluiu.

-Ótimo, agora é com você minha pequena Elena –Ela virou sua atenção totalmente para mim. –Esta tão quietinha, aconteceu alguma coisa?

-Não –Respondi rapidamente.

-Tudo bem, então Elena, me conte como foi o dia com sua mãe –Pediu cruzando as mãos sobre os papeis que cobriam a mesa.

-Foi bom, ela parece muito arrependida e a procura do perdão, então decidi dar a ela mais uma chance e enquanto isso ajudarei ela a passar pela triste separação, acho que o que ela mais precisa agora são os filhos –Falei, lembrando-me do sorriso triste e olhar distante de minha mãe, quando à vi pela ultima vez.

-Ótimo, isso é um grande passo minha querida, te ajudará muito no tratamento –Ela sorriu e piscou para mim que me obriguei a abrir um sorriso em resposta.

-Concordo com você Doutora, ela parece cada dia melhor, não minto em dizer que imagino Elena fora dessa clinica em alguns meses –Damon piscou para mim fazendo com que meu coração se enchesse de esperanças. Será mesmo que eu estava assim tão perto da liberdade?

-Pode ser que eu esteja melhor mesmo, mas isso já aconteceu outras vezes, daqui uns dias eu volto a trágica rotina de sempre –Suspirei tristemente e fitei minhas mãos entrelaçadas sobre meu colo.

-E pessimista como sempre –Damon rolou os olhos bufando alto.

-Antes realista do que iludida –Retruquei. –Eu só cansei de acreditar no impossível, milhões de pessoas já tentaram me arrancar daqui, mas ninguém conseguiu, então quais são as chances disso acontecer agora? –Ergui os olhos fitando os diamantes azuis que enchiam a minha visão, aqueles olhos tão pacientes e curiosos, repletos de carinho e cansaço, aqueles olhos que eu tanto gostava, agora me encaravam em negação.

-Eu pensei que estivesse te fazendo mudar de idéia –Damon murmurou baixinho, mais para ele mesmo do que para qualquer pessoa presa naquelas quatro paredes.

-Acho que minha cabeça é um labirinto sem saída, Doutor. –Deixei que um sorriso triste tomasse conta de meus lábios.

Esperança? Eu odeio criar esperança, de qualquer coisa, é doloroso e inútil. Quando se cria esperança passa-se a criar junto com ela um mundo imaginário no qual tudo é bom, perfeito e brilhante, é como se colocássemos uma faixa em nossos olhos e do nada ficássemos cegos, mas um dia, -infelizmente- acordamos e percebemos que nada é tão perfeito quando imaginamos, que nada daquilo que criamos em nossa mente se tornou verdade, que foi tudo uma breve e rápida ilusão que serviu para nos machucar e depois ser apenas uma lembrança insistente. Então para que criar esperança? Para que sonhar com um mundo longe da clinica quando o máximo que conseguirei é dar um passeio pelo jardim? Inútil é isso que esperança é; nada a mais, nada a menos que inútil.

-Sempre existe uma luz no fim do túnel. –Bingo, a frase clichê que procurava, talvez fosse essa que me descrevesse, ou descrevesse apenas o meu dia. Nada consegue ser tão ruim que não possa ser melhorado, certo? Talvez o pessimismo tenha feito da minha manhã péssima, mas não quer dizer que a mesma não possa melhorar e não quer dizer que Damon esteja errado, só que no momento é melhor pensar que ele está.

O tempo foi se passando, os demorados quarenta e cinco minutos correram mais rápido que o papa-léguas atrás do coiote, e de repente meu olhar voltou-se para o relógio e fim, a consulta que tanto me assustou, que me tirou o sono, finalmente acabou.

-Lena, Dam, vamos fazer isso mais vezes –Rebekah levantou-se de sua poltrona. –Por enquanto continuamos com as consultas individuais. –Sorriu.

-Tudo bem Doutora, até a amanhã. –Falei e senti a mão de Damon pousar na base da minha coluna, em segundos ele foi gentilmente me arrastando em direção a porta da sala, que em seguida foi fechada com delicadeza pela Doutora.

-Vamos tomar café da manhã? Caroline deve estar sozinha –Damon falou e ao ouvir o nome da loira um sorriso carinhoso cobriu meus lábios, resmunguei um “uhum” e novamente fui guiada por Damon.

O vento gelado que corria por entre os corredores causava leves arrepios na minha espinha, que eram acalmados pelas mãos quentes de Damon ao redor da minha cintura me guiando em direção à porta barulhenta do refeitório. Assim que entramos no ambiente lotado de doentes esfomeados, decidimos ir em direção a mesa onde uma loira estava sentada sozinha, tomando seu leite quente enquanto analisava suas unhas levemente pintadas de lilás.

-Sweet Caroline –Cantei uma doce musica que costumava ouvir durante o ultimo verão que passei longe da clinica.

-Olá Gilbert, Damon –Ela sorriu bebericando um gole de seu leite.

-Lena, eu vou buscar nosso café da manhã –Damon avisou e em passos longos se perdeu em meio a aglomeração de pessoas perto das maquinas de café.

Voltei minha atenção para a loira em minha frente. Os cabelos loiros levemente bagunçados, na boca um sorriso travesso brincava enquanto seus lindos olhos azuis estavam repletos de uma curiosidade animadora, nem precisei perguntar o que ela queria, por que a mesma já colou-se a falar:

-Como foi à consulta? –Perguntou deixando sua xícara de lado, para que sua atenção estivesse completamente voltada a mim.

-Foi boa, me preocupei por nada, apenas falamos sobre as antigas namoradas de Damon e sobre minhas chances de sair daqui –Dei de ombros. –O mesmo papo furado de sempre.

-Parece interessante. Então, quantas namoradas o bonitão já teve? –Caroline piscou e abriu um sorriso caloroso, rolei os olhos e soltei uma risada baixa.

-Klaus não ficará nem um pouco contente em saber que sua namorada tem interesse pela vida pessoal do Doutor Salvatore –Gargalhei recebendo um leve tapa em meu braço.

-Shh, eu só perguntei por curiosidade ué –A pele clara da loira agora estava uns dois tons mais vermelha e não teve como conter a gargalhada escandalosa que escapou pelos meus lábios.

-A curiosidade matou o gato –Estufei o peito e soltei mais uma gargalhada enquanto encarava Caroline que ainda tentava se recompor.

-Você é tão clichê. –Resmungou e eu dei de ombros enquanto tamborilava minhas unhas roídas sobre a madeira escura da mesa.

O barulho das vozes finas e grossas que rodavam o refeitório causava uma leve irritação em minhas orelhas, minha cabeça começara a latejar, com as mãos já soadas segurei a madeira da mesa com força enquanto sentia minha cabeça girar e minha visão ficar embaçada, com um ultimo suspiro senti meu corpo desabar e tocar uma superfície gelada antes de tudo escurecer.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Comentem e façam duas escritoras felizes.xx