Trouble escrita por Julice Smolder


Capítulo 14
People can change?


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas, mais um cap para vocês, espero que gostem, podem comentar e fazer perguntas prometo responder todas ♥
Boa Leitura.



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It's not like you to say sorry, I was waiting on a different story

Fitava minha imagem distorcida no pequeno pedaço de espelho do meu banheiro, na clinica não podíamos nos dar o luxo de ter nada pontiagudo, então depois do chilique que uma paciente da ala B teve semana passada, todos os espelhos foram substituídos para pequenos pedaços de espelhos que mais pareciam plásticos de tão estranha que nossa imagem ficava refletida neles. Em meu corpo estava um pedaço de tecido branco com algumas flores cor-de-rosa que minha mãe havia me dado há alguns anos, incrível como o vestido ainda servia, em meus pés saltos cor bege, meu cabelo com grande parte preso com uma presilha e o resto solto em cachos, minha maquiagem –que Lorena fez –estava perfeita, eu parecia realmente uma boneca de porcelana, se a maquiagem que eu havia passado conseguisse esconder as cicatrizes fundas que preenchiam meus braços. Respirei fundo e sai do banheiro voltando ao quarto e encontrando um Damon lindo, de calças jeans escuras, jaqueta de couro preta e por baixo uma camiseta branca e os cabelos levemente bagunçados. Abri um sorriso tímido ao sentir minhas bochechas corarem ao perceber que estava o observando tão descaradamente.

-Lor avisou que sua mãe já chegou –Ele passou a mão pelos cabelos em um gesto nervoso.

-Ótimo, vamos acabar logo com isso. –Respirei fundo e passei por ele sentindo seu cheiro já tão familiar adentrar em minhas narinas e abraçar meus pulmões.

[...]

Saindo da clinica passamos pela pequena lanchonete próxima a clinica onde era distante o bastante para que ninguém reconhecesse Isobel, comemos nosso lanche e em seguida fomos interrompidos pelo celular de minha mãe que em momento algum parava de tocar, depois de atendê-lo ela parecia levemente chateada, mas abriu um sorriso convincente e desligou o aparelho barulhento. Depois de Isobel pagar a conta fomos todos em direção a minha antiga casa, não nego que minha barriga rodopiava a cada segundo que se passava dentro daquele pequeno carro, Damon tentava sorrir ou fazer piadinhas sobre meu estado, mas nada conseguia varrer para longe a ansiedade que a cada minuto tomava mais conta de meu corpo.

Assim que o carro estacionou em frente à grande casa branca, com portões dourados e um lindo jardim florido, me permiti soltar um suspiro aliviado, ao menos o cheiro de rosas não tinha desaparecido. Saímos do carro e seguimos até a porta da casa, onde Meredith nossa empregada –e minha antiga baba –nos esperava com um lindo sorriso cobrindo seu rosto. Respirei fundo e passando por ela entramos na grande mansão que eu era acostumada chamar de lar há alguns anos atrás.

O cheiro aconchegante ainda cobria o ambiente, a mobília continuava praticamente a mesma, era como se eu nunca tivesse deixado aquela casa, como se esses quatro anos na verdade eram apenas quatro minutos, era incrível como tudo estava no seu devido lugar. Abri um sorriso esperançoso e sentei-me no sofá de couro preto que ficava no centro da sala.

-Não mechemos em nada desde que saiu –Isobel mencionou.

-É como se eu ainda morasse aqui –Corri meus dedos pelo tecido duro do sofá e abri um sorriso triste. –Posso ver meu quarto? –Perguntei.

-Claro, enquanto isso eu irei pedir para Meredith preparar um chá –Isobel sorriu e saiu em passos longos até a cozinha.

Levantei do sofá e encarei Damon que parecia perdido em meio aos luxos da minha casa, abri um sorriso bobo e o cutuquei chamando sua atenção.

-Vamos? –Estendi a mão para o moreno que pegou de muito bom grado.

-Elena, eu não imaginava que você era tão... Rica –Ele falou de boca aberta enquanto corria os olhos pelos corredores iluminados da mansão.

-Eu não sou, isso tudo é de Isobel e John, tudo o que eu tenho esta naquela clinica –Parei em frente a porta pintada de rosa bebe que eu tanto conhecia, abri um sorriso e junto com ele a porta do quarto, no mesmo instante fui puxada por uma onda de nostalgia que fez todo meu corpo tremer. Meus olhos marejaram ao notar que meu quarto continuava intocado, exatamente do jeito que eu havia deixado há quatro anos, os ursos espalhados sobre a cama, meus desenhos colados nos murais e minhas muitas fotos espalhadas pelas cômodas, o cheiro doce que eu tanto me lembrava e a cor rosa que preenchia cada canto daquele cômodo.

-Esse é o seu quarto? –Damon falou virando a cabeça para que pudesse ver cada mínimo detalhe do local. Não falei nada, apenas resmunguei um “uhum” enquanto caminhava em direção a minha cama. Corri os dedos pelo colchão achando o buraco onde eu costumava esconder minhas lâminas, sem vergonha eu as retirei de lá e as encarei, aqueles objetos foram meus companheiros por anos, foram os responsáveis pelas marcas que nunca sairão dos meus pulsos, foram tudo o que eu tive durante minha pior época, mas agora a única coisa que eu sentia a olhá-los, era raiva, repulsa, eu não os queria mais, meu corpo não ansiava mais por eles, mas ainda assim eu não tinha a coragem de jogá-los fora.

-Lena o que é isso? –Damon perguntou se aproximando, não respondi, apenas continuei fitando os objetos. –Era isso que usava para se machucar? –Pediu e eu apenas assenti. –Você não precisa mais disso, me de aqui –Ele estendeu a mão e eu levantei meus olhos para encará-lo através dos cílios.

-E-Eu não consigo jogar fora –Gaguejei enquanto segurava entre meus dedos trêmulos as placas duras de metal. –Me ajuda? –Supliquei e Damon respirou fundo logo após assentir. –Joga isso fora? Não quero mais ver isso –Falei e fechando os olhos coloquei as laminas sobre suas mãos geladas.

Ouvi barulho de passos se distanciarem e depois de alguns minutos senti as mãos de Damon em meu rosto, abri um sorriso carinhoso e continuei de olhos fechados apreciando o momento.

-Pronto, abre os olhos, eu não vou deixar você se machucar mais –Ele sorriu acariciando meu rosto com suas mãos. –Isso é um grande passo, se desapegou das coisas que já te causaram tanta dor.

-Eu acho que não, eu estou aqui certo? –Falei ironicamente e ele rolou os olhos.

-Ela está tentado Lena, vamos dar uma trégua? –Perguntou.

-Vou tentar, mas qualquer coisa quero que me leve para a clinica novamente –Coloquei minhas mãos sobre as dele.

-Pode deixar –Damon beijou o topo da minha cabeça, eu fechei os olhos para aproveitar daquele momento, que durou poucos minutos pois logo foi quebrando por Meredith que nos chamou para o chá.

Descemos as escadas e fomos até o jardim de verão onde Isobel estava sentada na mesa, concentrada demais em seu chá para notar nossa presença. Puxei uma cadeira e me sentei ao lado de Damon, Isobel ergueu os olhos e sorriu. Lembrei do que havia dito ao Damon minutos atrás e retribui seu sorriso enquanto me servia de um pedaço de bolo de chocolate.

-Foram ver seu quarto? –Isobel quebrou o silencio.

-Sim, parece que ninguém abriu aquela porta durante quatro anos –Comentei enquanto adoçava meu chá.

-Realmente evitamos abrir aquela porta, sou a única que entro lá, às vezes gosto de ficar olhando suas fotos ou cuidando de seus ursos, faz parecer que você ainda está ali –Ela abaixou o olhar e um sorriso triste brotou em seus lábios. –Sabe Lena, você pode me culpar por tudo o que aconteceu, eu mesma me culpo, mas eu sinto muito, em momento algum que quis lhe causar dor, eu sempre desejei ser uma boa mãe, mas acho que fui completamente o contrario disso, eu achei que lhe enchendo de presentes iria suprir a necessidade que você tinha de ter uma mãe, mas não, eu só lhe causei tudo isso, e agora quatro anos depois eu tomei coragem de ir até a clinica que eu tanto evitava para implorar pelo seu perdão e eu entendo se você falar que não é fácil, eu mesma não me perdoaria, mas por favor não me odeie –Eu notava as lágrimas escorrendo por suas bochechas deixando rastros pretos por onde passavam, suas mãos estavam tremulas segurando a xícara de porcelana entre seus dedos.

Eu ainda tentava compreender todas as suas palavras, nem em meus sonhos mais loucos eu sonhei em ver Isobel arrependida do jeito que ela estava, eu nunca pensei que ela se sentisse assim, ou que ela sonhava em ser uma boa mãe pra mim, mas acabou por fracassar, eu acho que realmente não conhecia a mulher que odiei durante anos, mas mesmo assim é muito difícil perdoá-la, ela poderia ter evitado o problema, ela me viu adoecendo e ignorou completamente os sinais, tudo o que ela queria era dinheiro e fama, eu nunca vi ela se preocupar com uma gripe ou nota baixa que eu tirei, então não é por que agora ela quer meu perdão que eu o darei de mão beijada, ela teria que me conquistar e mesmo se eu perdoasse a dor ainda ficaria presa em mim, impossível de ser esquecida.

-Fala alguma coisa –Ela murmurou arrancando-me de meus devaneios.

-Eu não sei o que dizer, mas eu não irei te perdoar fácil, desculpe, mas se me chamou aqui apenas por isso perdeu seu tempo, as dores que me causou ficarão marcadas em mim para sempre e não são palavras carinhosas ou um chá que me fará curá-las, desculpa, mas eu não consigo fazer isso –Com lágrimas nos olhos levantei-me da cadeira e assim que eu ia virar de costas sinto uma mão pequena agarrar meu pulso, uma corrente elétrica passou pelo meu corpo e eu estremeci.

-Não vá, eu não a chamei só por isso, eu entendo seu lado, eu sabia que não seria fácil, mas eu estou pronta para tentar, eu não vou mais ficar longe de você –Ela falou e eu senti meu coração se encher de um carinho desconhecido, pela primeira vez em anos ela está sendo a pessoa que eu tanto precisei. –Senta, eu quero passar um tempo com você. –A obedece e sentei-me ao lado de Dam novamente.

Não sei por que, mas alguma coisa nos olhos de Isobel me dizia que não era apenas isso que ela queria, eu conseguia ver nos olhos dela a confusão e desespero, o que é irônico vindo dela, mas decidi esperar para tentar descobrir e talvez ajudá-la a resolver esse tal problema que tanto aflige minha mãe.

Damon levantou da mesa e foi atender seu telefone que tocava descontroladamente, puxei minha cadeira para perto de Isobel e sussurrei:

-Agora fala o assunto delicado e sério que queria tratar comigo –Passei a mão nos meus cabelos enquanto fitava a morena em minha frente respirar fundo diversas vezes.

-Vou me separar de John –Isobel murmura mantendo seus olhos castanhos presos ao tecido fino da toalha que cobria a mesa.

-O que? Por quê? –Pergunto um tanto alterada.

-Isso mesmo, eu decidi isso ano passado, mas só agora tomei coragem de levar isso adiante –Explicou ainda de cabeça baixa. –Eu precisava falar isso para você –Agora seus olhos estavam colados aos meus, abaixei minha cabeça e tentei controlar meu coração que a essa hora já batia aceleradamente.

Eu não conseguia entender o porquê disso logo agora, afinal de onde eu sei minha mãe daria a vida por John, mas agora ela simplesmente decide se separar? E se ela pensou nisso há um ano por que só agora tomou iniciativa? Não conseguia entender nada, minha cabeça está girando sem parar e eu nem sei o que pensar.

-Mas por que só decidiu isso agora? –Sussurrei massageando minhas pálpebras.

-Ano passado John me levou a uma festa de caridade, me apresentou para varias de suas colegas de trabalhos, uma delas em especial se aproximou de mim, se fez de amiga e depois de meses eu soube que ela e John se encontravam as escondidas, ele me traia com a mulher que eu trouxe para dentro de casa e chamei de amiga –Respirou fundo mantendo os olhos baixos, era obvio que isso doía muito nela. –A uns meses eu voltei a conversar com Jeremy, ele nunca guardou rancor de mim e decidiu me apoiar em minha decisão, tanto que será meu advogado –Ela abriu um meio sorriso orgulhoso. –E Jer me contou o que John fez a você a alguns meses, e digamos que essa foi a gota da água, eu precisava me comunicar com você e me separar o mais rápido possível de John. –Cruzou os braços respirando fundo e me fitando com curiosidade, com certeza querendo desvendar qual seria minha reação.

-Eu não sei o que dizer –Falei baixinho, evitando olhar nos olhos de Isobel.

-Não precisa dizer nada minha querida, só queria que soubesse, assim que eu me separar de John e você melhorar irei te levar para morar comigo em nossa casa em Miami, não quero mais ver ele te agredindo ou lhe ameaçando. –Comentou e eu suspirei profundamente lembrando-me do ocorrido a alguns meses quando John foi me visitar na clinica.

-Eu gostaria de ajudar, em qualquer coisa, se precisar pode pedir, faço o que estiver no meu alcance –Decidi dizer, afinal ela não deve estar passando por uma fase fácil e eu não posso simplesmente virar as costas para minha mãe, mesmo que ela tenha feito isso comigo.

-No momento você não precisa dizer nada, só quando melhorar e sair da clinica que vai ter que dizer ao juiz que quer ficar comigo –Isobel explicou com tal paciência que me espantou.

-Mas e a clinica? E se depois disso John decidir não pagar mais meus gastos? –Perguntei roendo minhas unhas levemente pintadas de rosa.

-Ele tem que continuar pagando, o juiz exige, porém se ele não quiser pagar não é obrigado, entende? –Disse erguendo uma de suas sobrancelhas.

-Mais ou menos, e se ele decidir não pagar?

-Não se preocupe, eu tenho dinheiro e posso pagar sem ele, isso não é problema algum –Abriu um pequeno sorriso me reconfortando.

-Tudo bem, e se depois da separação ele decidir ir até a clinica brigar comigo? –Eu tinha que tirar todas minhas duvidas agora, ou mais tarde não teria a quem perguntar.

-Depois do divorcio se você quiser eu posso proibir a entrada dele na clinica –Deu de ombros relaxando a postura em sua cadeira.

-Eu acho que vou querer sim –Ri nervosa.

-Então está tudo resolvido –Sorriu suspirando aliviadamente. –Podemos tomar nosso chá? –Perguntou apontando para as xícaras quase intocadas.

-Claro –Assenti e segurei a xícara entre meus dedos.

Isobel continuava falando sobre nossa casa em Miami, mas eu estava com o pensamento muito distante para prestar atenção em alguma coisa. Pergunto-me por quantos anos John traiu minha mãe embaixo dos meus olhos e eu não notei, ou por quantas vezes ele deixou Isobel sozinha em casa para sair com suas vadias. Como será que Isobel reagiu ao ver John a traindo? Ela não tinha ninguém, nem filhos ou amigos para ficar ao seu lado nesse momento, e ela continuava ali em minha frente com um sorriso no rosto explicando como seriamos felizes daqui uns anos, quando tudo passasse e estivéssemos juntos na casa de Miami. Respirei fundo percebendo que tinha que dar uma chance a ela, porém não posso a deixar saber disso, será como um teste, se ela me decepcionar dessa vez eu nunca mais volto atrás, não olho mais para ela e vou fingir que ela nunca existiu, mas por enquanto eu estou abrindo uma nova porta para ela, tomara que ela saiba valorizar isso.

-Elena? –A voz de Damon arrancou-me de meus devaneios. –Lorena ligou e perguntou se demoraremos muito

-Não sei, iremos assim que Isobel decidir nos levar –Sorri ao depositar minha xícara sobre a mesa.

-Se quiserem, podemos ir –Isobel explicou.

-Por mim tudo bem –Dei de ombros. –Foi bom passar uma tarde aqui, estava com saudades de tudo isso –Sorri.

-Que bom, podemos fazer isso mais vezes então? –Isobel pediu.

-Com a permissão de Lorena, não vejo problemas –Olhei de Isobel para Damon que estavam sorrindo abertamente.

O dia com Isobel tinha sido realmente bom, não menti quando disse que poderíamos repetir a dose, claro com certa calma afinal não posso sair da clinica quando bem entender, mas quero estar perto de minha mãe durante esse passo da separação, não deve estar sendo fácil para ela passar por tudo isso praticamente sozinha, ter que agüentar John todas as noites sabendo que aquele homem que ela tanto amou a traia sem dó, saber que perdeu os filhos para o dinheiro e que agora tudo o que ela tem é sua fama, poder e a vontade louca de reconquistar tudo que antes foi tirado dela. Isobel realmente me surpreendeu, não pensei que ela fosse tão forte a esse ponto, eu diferente dela sou uma fraca, se um dia isso acontecesse comigo com certeza pensaria em suicídio ou sentiria vontade de me mutilar novamente...


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Comentem, recomendem e façam duas escritoras felizes.
Lembrando que podem fazer perguntas sobre a fic eu estarei respondendo, até o próximo, xx.