Os Vingadores: Blackout escrita por Tenebris


Capítulo 4
Explosão




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Capítulo 4: Explosão

Anne ficou daquele jeito por um tempo indeterminado.

As dores se propagando, as lágrimas escorrendo, e a incapacidade de articular algum pensamento decente.

A dor não sumiu de imediato. Pelo contrário, foi sumindo aos poucos, de modo que quando ela começou a suavizar, Anne já conseguia pensar com mais racionalidade. Chegara a duvidar de si mesma porque, de fato, ter sobrevivido àquele choque era impossível. Mas ela sobrevivera de alguma forma e, se queria qualquer tipo de resposta, deveria procurar sozinha, porque nenhum de seus irmãos acreditava nela.

E ela não poderia culpá-los. Se estivesse no lugar deles, também não acreditaria. O problema era que, naquele momento, Anne tivera provas físicas e dolorosas de que o choque realmente ocorrera e que deixara seqüelas.

Foi nesse momento que Andrew entrou no quarto de Anne, pulando e fazendo a maior bagunça:

- Vamos, senhorita Elektra, o jantar está na mesa!

Anne sorriu e descobriu que esse ato lhe causava dores agudas de cabeça.

O jantar transcorreu bem, a exceção de que fora anormalmente quieto. Anne, em geral alegre e comunicativa, ficara quieta e encolhida em seu lugar, comendo preguiçosamente um pouco de comida. O silêncio era quebrado por piadas ocasionais de Andrew e pelo murmúrio da televisão. Alexander olhava o tempo todo para Anne, mantendo-a sob constante vigilância.

Quando o jantar terminou, Anne foi até o banheiro preparar-se para dormir. Sentia-se como uma bomba relógio. Não sabia quando outra dor de cabeça poderia surgir e essa perspectiva a assustava, porque, de uma forma ou de outra, sabia que a dor viria. Só não sabia quando. Era como viver sabendo que a qualquer momento algo terrível poderia acontecer. De fato, ela era como uma bomba relógio.

Enquanto penteava os cabelos, tentando manter a mente desocupada, a dor reaparecera.

Anne repetiu o gesto: Levara as mãos à cabeça, lentamente sentindo que perdia também os movimentos do corpo. Foi agachando-se lentamente, apoiada na parede, até estar sentada no chão, chorando e gemendo. Subitamente, alguém bateu freneticamente à porta do banheiro. Era Alexander:

- Anne! O que aconteceu? Você está bem?

Anne permitiu-se tentar acalmar. Começou tirando as mãos da cabeça e respirando profundamente.

- Eu... Eu estou bem. Apenas derrubei o pente no chão. – Informou ela, sabendo que o barulho deveria ter soado bem pior do que isso.

Anne concentrou-se em fazer a dor passar e ficou lá sentada no chão por mais cinco minutos. Quando sentiu que poderia levantar-se, o fez. Foi para seu quarto lentamente, sem fazer alarde. Fechou a porta e andou depressa para a cama, com se um sono tranquilo fosse a única alternativa para seus problemas: Fechas os olhos durante um bom tempo.

Porém, Alexander encontrava-se sentado na cama, pegando Anne de surpresa:

- Anne. É nítido que você não está bem. Quero que me conte sobre esse tal choque... – Pediu Alexander, sério.

Mesmo com o quarto escuro palidamente iluminado pelas luzes da rua, era possível ver a expressão preocupada, até relutante, de Alexander.

- Que choque? – Disfarçou Anne, mas sabia que o irmão a desmascararia na hora. – Não teve choque nenhum, Alex. Eu provavelmente imaginei.

Naquele momento, Anne desejou que de fato tivesse sido somente sua imaginação. Diferentemente de antes, agora queria acreditar que tudo fora ilusão. Que o choque não ocorrera, porque as dores de cabeça não deixavam ela se esquecer do que tinha acontecido. Além disso, Anne não contaria nada a ninguém. Mesmo com Alex disposto a ouvi-la, decidiu ignorar o choque. Não valia a pena, pelo menos por enquanto, ficar retomando esse assunto.

- Sei... – Comentou Alexander, incrédulo. – Se precisar de ajuda, ou se precisar conversar, saiba que tem um irmão mais velho sempre disposto a ajudar a irmã desastrada.

Anne sorriu e abraçou Alexander.

Mesmo com a escuridão, era possível observar o semblante novamente preocupado de Alexander, que agora acariciava os cabelos da irmã.

- Fique bem, irmã...

- Vou ficar... – Confirmou Anne, agarrando-se ao conselho do irmão como se sua vida dependesse disso.

E outro dia se iniciou.

Anne abriu os olhos, temendo encarar a realidade de sua vida. Hesitou, hesitou, e se levantou, feliz por nenhuma dor de cabeça ter aparecido. Até aquele momento, tivera apenas duas. Ela se arrumou, preparou café para os irmãos, e juntos eles seguiram para mais um dia nova-iorquino.

Dessa vez, quem dirigiu foi Anne, pois Alexander resolvia alguns projetos em seu notebook no banco da frente, ao lado dela. Ela deixou Andrew na faculdade e seguiu com Alex para o escritório. Porém, nada fora tão tranquilo quando parecia.

Alguns indícios de dores de cabeça apareceram em Anne, de modo que ela se sobressaltou e logo tratou de tomar um comprimido de paracetamol. Alexander percebeu e não parou de fazer perguntas excessivamente preocupadas a ela. Esse era Alexander... Sempre observador. Anne não precisava sequer falar ou demonstrar, que ele já saberia decifrá-la por inteiro. Isso tinha seus pontos positivos e negativos.

Mas, quando Alexander saiu para resolver alguns problemas no banco, outra dor de cabeça forte como as anteriores apareceu. Anne seguiu seu ritual de sempre, mas sentiu que cada vez mais as dores eram frequentes e demoravam a passar. Sentiu que elas se prolongavam e tinham durações cada vez maiores e perturbadoras. Chegaria um ponto em que Anne não poderia mais agüentar.

E foi assim durante uma semana após o choque.

Elas apareciam mais ou menos de quatro a cinco vezes por dia, em horários diferentes e imprevisíveis. Anne tentou calcular, mas cada dia o padrão das dores mudava. Ela tentou esconder dos irmãos o máximo que pôde, mas Alexander já estava começando a perceber que o paracetamol estava diminuindo surpreendentemente rápido. Anne tentou enganá-los durante um tempo, mas não evitou que Alexander marcasse um neurologista para ela dali a alguns dias.

Obviamente, ao descrever a dor, ela atenuara sua intensidade drasticamente. Dizia que era coisa pouca, do tipo que passa rápido e sem dramas. E agora, além de Alexander desconfiar, Andrew também passara a fazer isso.

Anne, sempre que conseguia pensar com clareza, tentava articular planos. Sem dúvida, consultar um médico era bom. Ficou feliz por Alex ter marcado uma consulta para ela. O problema era que um médico, em sã capacidade de exercer sua profissão, riria da cara dela de imediato quando ela contasse o que sofrera. Não via alternativas claras. Achava, no início, que a dor passaria. Mas isso não acontecia. Agora, precisava prestar devida atenção a ela. O máximo que conseguiu planejar foi uma mera consulta médica... Não via mais o que fazer... Talvez contar aos irmãos... Mas isso ainda não tivera seu momento certo, quem sabe depois...

E, assim, depois de uma semana do acidente, Anne estava fechando o escritório. Alexander tinha saído antes para buscar Andrew na biblioteca, de modo que Anne ficara sozinha no escritório ao fim do horário comercial.

Ela já tinha tido seis crises no dia.

Nunca tivera tantas em um único dia, de modo que ficou aturdida. Ou não teria mais nenhuma crise naquele dia, ou teria uma crise de proporções avassaladoras. Nessa última possibilidade, ela não queria nem pensar. A ideia de uma crise ainda pior e mais intensa a dava náuseas: Não sabia se suportaria outra dessas.

Anne permitiu-se lavar o rosto com água gelada e a ingerir mais paracetamol. Não comera o dia todo. Estava cansada e suando frio. Assim, suas mãos tremeram quando ela trancou as portas do escritório, lembrando-a do que ela mais queria esquecer.

Como Alexander estava com o carro, Anne iria a pé. Apesar de cansada, ficou grata pelo ar fresco de começo de noite. Aquilo a mantinha em condições de continuar andando.

Assim, depois de dez minutos caminhando, Anne percebeu que passava em frente à famosa Torre Stark. Ela parou, observando aquela edificação futurista com o nome STARK em luzes brilhantes. Era, indubitavelmente, um marco da arquitetura mundial. Lembrou-se então dos Vingadores... Pessoas que lutavam porque ainda acreditavam na salvação da humanidade. Talvez piegas demais, mas era um pensamento bonito.

E, enquanto olhava aquele prédio imenso, aconteceu. Anne não agüentaria mais. Aquela provavelmente seria a última vez.

E a pior crise de todas atravessou Anne fugazmente. Mil vezes pior e mais intensa que as anteriores. Anne soltou um berro aterrorizante, mas não se importou com os olhares curiosos alheios. Ela deixou que sua bolsa caísse no chão, levando as mãos à cabeça e revirando os cabelos. Ela gritou mais um pouco, mas o som do seu grito fazia sua dor pior ainda mais. Ela vacilou, sentindo que caía no chão. Não teve forças para pensar em nada, nem para fazer algo.

A única coisa que captava com exatidão era o som aterrador do seu grito. Isso a incomodava, mas ela não conseguiu parar de berrar e soluçar. Já não conseguia ver nada com nitidez. Tudo eram vislumbres coloridos e sem forma. Apenas captou, com alguma curiosidade, que o ritmo do seu grito acompanhava o ritmo da luz da Torre Stark. Quanto mais ela gritava, mais podia perceber: A Torre ia ficando sem luz. Imersa na mais completa escuridão


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