Cartas a Alguém que se Foi escrita por xQ


Capítulo 11
Ths is my path, it's lonely


Notas iniciais do capítulo

Está grande, mas é necessário xD



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“Eu sabia que já tinha ouvido aquilo em algum lugar: This is my path, it’s lonely. Sempre achei que Sarah tinha me dito isso apenas porque estava se despedindo. Depois de meses, descobri que havia algo mais. Esta é uma frase de uma música.

Fui mais uma vez à casa dela (a qual sua mãe se recusara a vender ou alugar) e peguei um cd do After Forever. Ao abrir tive uma surpresa. Tinha um papel branco, dobrado e preso ali junto ao encarte.

Sarah me deixara uma carta.”

 

 

Lisa,

 

Sei que não estarei mais aqui quando você ler isso. Acredito que você se lembrará daquela música, você gostava de ouvi-la também.

Você merece uma explicação. Perdoe-me pela demora.

Quando o meu pai se foi eu me senti realmente sozinha. Apesar de ter superado o trauma, ainda carrego marcas comigo. Nunca recebi alta da terapia por causa delas. Essas marcas, de vez em quando, interferem na minha vida. Acho que você percebeu muito bem algumas dessas vezes, pois você sempre me carregou quando não pude caminhar. Você sempre foi forte e prática. Sempre te admirei por isso. Com o passar dos anos, você se tornou a minha força. Estou te dizendo isso para que entenda o porque de eu ter feito tudo o que fiz e para que talvez me perdoe por não ter dito nada. Até agora.

Eu nunca tive amigos, nunca me aproximei muito das pessoas por causa do medo que tinha de perdê-las. Você sempre foi a minha única amiga. Nunca me aproximei o suficiente dos outros nem deixei que o fizessem, então nunca me dei uma chance de ter amigos. Você nunca foi igual aos outros e sempre ignorou barreiras, graças a isso eu pude conhecer a amizade. Aos poucos você foi me mudando e me ensinando coisas sobre o mundo. Coisas que jamais aprenderia sozinha.

Por toda a minha vida, sempre me contive, nunca apareci, quis ser invisível. Eu só era verdadeiramente livre quando estava com você. Por sua causa conheci o Max e me apaixonei pela primeira vez. Você me ensinava a viver e, aos poucos, eu fui aprendendo.

Quando minha mãe foi para Londres, as minhas marcas cresceram e continuaram a crescer. Eu soube, no momento em que seu vôo partiu, que também a perdera. Eu sei que é bobagem, mas eu me senti como se estivesse perdendo o meu pai outra vez. Fiquei muito mal. Pior do que já estive em muitos anos. E então o Max não me suportou por muito tempo, o perdi também.

Eu queria morrer, Lisa. O médico aconselhou-me a passar um tempo em uma clínica. Concordei com ele. Eu não queria te contar, não queria que você parasse o seu mundo mais uma vez para me carregar. Tive medo do peso que você teria que suportar. Era tão pesado que até o Max desistira. Eu te subestimei. Hoje vejo o erro que cometi, o quanto te magoei.

Quando me mudei lá do apartamento, na realidade, estava indo para a clínica. Entre idas e voltas, fiquei lá por quase seis semanas. Você estava tão magoada, eu não tinha o direito de voltar para o apartamento depois do que fizera contigo. Mas eu pensei que o tempo nos ajudaria a retomar a nossa amizade. Tentei pedir desculpas inúmeras vezes, mas nunca fui eficaz. Sua mágoa era tão grande, me doía tanto pensar no quanto te fizera mal. A verdade é que eu não mereço a sua amizade. De todas as coisas que perdi nesse último ano, você foi a mais importante e a que eu nunca esperei que perderia algum dia.

As pessoas que têm medo de perder pessoas, na realidade, temem a solidão.

Perdi meu pai, perdi a minha mãe, perdi o Max e perdi você. Neste exato momento estou só, não tenho ninguém. Eu poderia sair daqui e ir morar em Londres, mas só seria um estorvo para a minha mãe que está tão ocupada por lá. Estou só, Lisa. E a culpa é minha.

A vida inteira temi estar sozinha. Não no sentido de não ter ninguém por perto, mas no sentido de não ter ninguém com que eu possa contar, ninguém que me importe e  que se importe comigo. Não preciso de qualquer pessoa perto de mim, apenas as especiais. Eu consegui perder todos que importavam.

Já provei para mim mesma que clínicas não funcionam, nem remédios. Lisa, eu tentei. Mas fiz muitas coisas erradas. Eu não tenho a sua força. Só me resta agora a rendição. Não consigo fazer mais nada.

Você vê agora o quanto sou fraca e covarde? Você vê o quanto sou estúpida?

Saiba que você foi a melhor pessoa que conheci. Desculpe-me por tudo. Você nunca mereceu nada disso. Eu sei que você se abalará com a minha morte, mas você é forte, não se esqueça disso. Viva, Lisa. Eu sei que é injusto pedir isso, mas viva por mim. Eu morri há muito tempo atrás, mas você me ensinou a viver novamente, você tem esse dom. Então viva!

Espero que um dia você me perdoe por tudo o que aconteceu.

Obrigada pelas doses diárias de vida que você me deu por todos esses anos.

 

Se cuida.

 

Sarah Miller

 


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Notas finais do capítulo

Acredito que a próxima será a última, estou trabalhando nela. Tava/tô cheia de provas e isso tá me atrapalhando, não quero que fique mal feita.



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