Livros E Outros Sabores. escrita por Bluecats


Capítulo 1
Ainda sinto o gosto de cereja...


Notas iniciais do capítulo

Então, eu apenas precisava escrever mais sobre esses personagens e aqui está. Vai ficar um pouco mais saboroso e aquecido no próximo capítulo, eu garanto.



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Bem.  Eu estou de volta, com uma pequena seqüela da história anterior, “Escritórios, Amizades e um Pirulito de Cereja”. Ela pode ser lida sozinha, no entanto, eu acho.  Espero que gostem.

Como já disse, os personagens pertencem exclusivamente ao meu subconsciente pervertido.

*  *  *

Já haviam três semanas, desde que Jacob acordara no sofá de seu escritório, sozinho, sem roupas e ligeiramente confuso.  Levou  uma fração de segundos para que ele se desse conta do que estava acontecendo, quando ele olhou para a mesinha lateral e se deparou com um pirulito vermelho.

Passando as mãos pelos cabeços negros já costumeiramente despenteados, ele girou o corpo e se sentou.  O relógio na parede brilhava seus ponteiros, indicando oito da noite.  Ele começou a procurar suas roupas, descobrindo algumas peças em locais improváveis  - uma das meias, por exemplo, estava sobre o teclado do computador, do outro lado da sala. Uma vez vestido, Jacob pegou o telefone e discou o número, lentamente. Uma voz masculina respondeu do outro lado, com o som de uma conversa animada ao fundo:

--Hei, Jacob!  - a voz sorria através da linha e Jacob engoliu em seco. Era Michael, seu melhor amigo e – bem, dizer que Jacob sentia-se culpado era pouco.

--Mike! Como vai? – ele conseguiu dizer, a voz incerta.

--Bem. Cara, você... Aconteceu alguma coisa? Sua voz está estranha...

Pronto. Era isso, ele pensou. “ Parabéns, Jacob, você é oficialmente um grande canalha. Seu amigo, não, espere: seu melhor amigo, aquele que sabe que você não está bem só de ouvir sua voz ao telefone, está preocupado com você. Vamos lá, diga a ele que você está assim, porque duas horas atrás você e a noiva dele estavam fazendo sexo no seu escritório”...

-- Não é nada, Mike, eu estava cochilando...

-- Você trabalha demais, eu sempre te digo. Bem, agora que acordou, porque não vem pra cá? Nós vamos assistir ao jogo aqui, temos uma pequena fortuna em bebidas na geladeira... Basta ligar pra Emily, você sabe, mantenha sua esposa informada e evite problemas. Eu já estou treinando com a minha futura senhora – ele riu –Então, você vem?

Jacob sentiu seu estômago revirar de tanto remorso. Nem tinha pensado na esposa, ainda. Ele não se sentia capaz de pensar em nada, na realidade, a mente em um turbilhão, o coração perdendo uma batida a cada minuto, como se ele fosse ter um infarto a qualquer momento – ou uma crise de pânico.

Percebeu que tinha ficado em silêncio por muito tempo, e o amigo esperava uma resposta do outro lado da linha.

-- Err... sim, eu vou.  Meia hora? – “definitivamente, um canalha, é o que eu sou, indo tomar uma cerveja com meu melhor amigo, a quem eu acabei de cornear”...

-- Ok, te espero, então. Até já.

Jacob se deixou ficar ali, com o fone ainda no ouvido e o olhar perdido. ELA estava lá, com certeza, mas faltou coragem de pedir para falar com ela ao telefone. E mais, o que dizer? Ele provavelmente adormecera depois de ... bem, sua aventura pirulitodecereja-provocada, e ela resolveu ir embora.  Certamente, para encontrar com Michael. Seu melhor amigo. Noivo DELA.

Porra, como é que ele tinha ido parar naquela situação?

*  *  *

Jacob se lembrava daquela noite como se não tivesse sido real. Era como se tudo não passasse de um sonho, as imagens enevoadas e as vozes confusas. Bem, é claro que a quantidade absurda de álcool que ele havia consumido tinha alguma coisa a ver com isso, mas era mais. Desde o momento em que ele se vira em frente a porta da casa de Mike, ele tinha tentado tudo para parecer que nada de mais havia acontecido naquela tarde. Até que ele se convenceu disso, ele admitia para si. Cumprimentou os amigos, conversou animadamente, assistiu ao jogo e bebeu, como se fosse algo simples, depois de tudo. Apenas uma sensação de vazio lembrava a Jacob que algo não ia bem. Mas ele tentava tão duro se manter na normalidade e ignorar o remorso, que só muito mais tarde, a caminho de casa, ele percebeu: ela NÃO estava lá.

E todo esse tempo depois, eles ainda não haviam se visto novamente. E Jacob não conseguia mais lidar com isso..

*  *  *

Ele tivera uma longa conversa com Emily, assim que se viu novamente sóbrio. Obviamente, ocultou o nome, e as circunstâncias, mas contou da traição. Depois de alguns instantes de silêncio muito eloqüente, ela apenas se levantara e começara a arrumar suas coisas.  Enfim, ele esperava por isso, já que as coisas entre eles não iam bem há muito tempo.  Ela o deixou meia hora depois.

E agora, sozinho em seu apartamento,  vinha a pior parte, Jacob pensou. Porque, não importa o quão duro ele tentasse, não dava para ignorar o aperto em seu peito, sempre que o telefone tocava. Ou a ansiedade que o dominava todo dia, quando a tarde chegava e ele não conseguia tirar os olhos da porta do escritório, esperando ouvir o toque da campanhia.

 Ele sentia falta da voz dela, e do silêncio confortável entre os dois, e da risada dela. Ele queria caminhar com ela até o Nick’s, e pedir um vinho, e contar seu dia e seus planos e falar da nova história que escrevia, e eles iam ficar ali e depois eles iriam a pé até o prédio de Jacob e ela se despediria dele com um abraço.

E ele queria sentir aquele olhar travesso sobre ele novamente. E as mãos macias em seus cabelos, e o cheiro da pele dela, e beijar aqueles lábios de novo.

Ele queria a amiga de volta.

Não tão certo como amiga, agora. Mas antes ele precisava conseguir falar com ela.

Enquanto pensava numa maneira de conseguir isso, sentou-se de volta à frente do computador e começou a digitar a história que já começava a se formar em sua cabeça.

*  *  *

Dois meses, um divórcio e um livro escrito  em tempo recorde depois, Jacob estava sentado atrás de uma mesa numa livraria lotada de fãs, para autografar seu novo sucesso. Ele ficara hesitante quanto a publicar, porque nunca havia feito nada tão pessoal,  mas sua editora o convencera.  Ele olhou para o livro que tinha em mãos, a capa mostrando uma bela arte onde se percebia uma infinidade de doces sobre uma mesa, ao centro um pirulito vermelho. Não conseguiu evitar o sorriso. Tratava-se na realidade de um apanhado de contos em torno de um tema, algo novo para ele, mas que recebera ótima crítica. Ele manteve o sorriso. Quase tudo naquele livro era sobre ela, ou baseado numa conversa que tiveram, ou algo que ele desejava que tivesse acontecido entre eles.

Ela e Michael haviam terminado um mês antes, e por alguns dias ele tivera a esperança de que ela iria aparecer em sua porta a qualquer momento. Nada.

Ele nem mesmo sabia onde ela estava morando agora.

Isso o estava fazendo louco.

Com um suspiro, ele sinalizou para a funcionária que organizava a fila de autógrafos e os leitores começaram a chegar até a mesa. Flashes espoucavam. As meninas riam nervosamente, quando ele sorria para elas e apertava suas mãos. Por mais de uma hora, rostos desconhecidos desfilaram diante dele, enquanto Jacob fazia o possível para ser atencioso e gentil. Mas a sensação de vazio estava lá, todo o tempo.

Um rapaz se aproximou da mesa e entregou-lhe o livro, mas não esperou pelo autógrafo. Jacob ergueu a cabeça e olhou incrédulo enquanto o garoto sumia na multidão. Ele voltou os olhos para o livro à sua frente e percebeu que haviam diversas páginas dobradas. Abriu em uma aleatoriamente e seu coração disparou. Lá estava, numa caligrafia que ele reconheceu imediatamente, um trecho de um conto chamado “Escritórios” sublinhado e a pergunta ao lado:

Se Mark queria que Susan o beijasse, porque ele simplesmente não pediu a ela?”

Numa outra página, no conto “Amizades”, outro trecho sublinhado e outra pergunta:

“Como assim nada estava acontecendo entre eles? Por que você insiste em fazer Mark parecer tão estúpido?”

As sobrancelhas de Jacob se juntaram numa expressão de perplexidade. A página seguinte estava dobrada no conto principal, “Pirulito de Cereja”. Um grande trecho estava sublinhado e dessa vez não havia uma pergunta. Era uma afirmação:

“Eu sinceramente não me lembro de ter passado a língua em seu mamilo esquerdo.”

Jacob estava dividido entre dar uma gargalhada ou começar a chorar como um bebê. Uma onda de alívio percorreu seu corpo e um peso que ele nem sabia que estava carregando saiu de suas costas. Ele folheou o livro atrás de mais perguntas, mas foi só na última página que ele viu outro comentário. Esse, colocou seu coração numa corrida.

“Bom livro. Muito autobiográfico.E curto. Eu queria que houvesse mais. Mas acho que você pode conseguir mais alguma inspiração em alguns minutos.”

Os olhos de Jacob varreram a sala quase em desespero, mas não encontraram quem procuravam. A funcionária fez um sinal que significava que a sessão de autógrafos havia acabado. O escritor suspirou fundo, despediu-se de todos ali e se encaminhou para os fundos da livraria, onde tinham ficado guardadas suas coisas. Havia uma promessa naquela última anotação, e ele esperava ansioso que fosse cumprida.

Mas não achava que seria tão rápido. Quando abriu a porta da sala onde deixara sua pasta, viu-se diante de uma confusão de doces de todos os tipos, espalhados sobre uma mesa em torno de sua pasta, e ouviu o som de uma voz familiar, que ele tinha perdido tão mal.

- Pensei em testar alguns outros sabores desta vez. Pêssego ou morango?

Ele se virou e a abraçou, mergulhando o nariz na dobra de seu pescoço por um momento, antes de saborear aquela boca tão desejada... aparentemente, ela havia escolhido pêssego...

*  *  *

Certo, certo, eu sei... péssimo timing da escritora aqui, parando o conto justo agora... Mas é preciso, e eu prometo que TEM uma segunda parte – mas já vou avisando que a classificação vai subir.

Reviews?


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