Depois do aniversário de Annabelle, Rick não havia mais aparecido por aqui. Por um lado, me senti aliviada, mas por outro fiquei preocupada, pois Maria ou Marcos podia ter feito algo com ele, e Rick não merecia nada que Maria pudesse fazer com uma pessoa.

            Depois de muito pensar, resolvi ir até a casa de Rick, ele havia me dito uma vez. Avisei para Annabelle que iria sair bem rápido, e tinha mesmo que ser muito rápido, senão Maria poderia aparecer, e eu não queria nem pensar no que podia acontecer caso eu não estivesse em casa.

            Bati na porta algumas vezes antes de uma garota abrir.

–                    - Quem é você? - Ela me perguntou com certo nojo na voz.

–                    - Aqui é a casa do Rick, não é? - Ela me olhava dos pés até a cabeça.

–                    - Por que quer saber? - Perguntou levando uma das mãos até a cintura.

–                    - Por favor, eu não posso demorar. - Falei calmamente. - Meu nome é Melissa, e eu preciso muito falar com o Rick.

–                    - Ah! Você é a Melissa... Ele não quer falar com você agora, tenta depois. - Ela fechou a porta e eu fiquei ali observando o pedaço de madeira em minha frente.

            Por que ele não queria falar comigo? Eu não havia feito nada de ruim, não pelo que eu me lembre, ou que eu saiba. Maria deveria estar metida nessa confusão, mas eu tinha que comprovar. Iria perguntar eu mesma.

            Uma vez, Rick havia me dito que a janela de seu quarto ficava de frente para uma arvore nos fundos da casa, e havia me dito também, que adorava aquela arvore, porque era através dela que ele podia sair de casa quando a mãe o proibia de sair, logo, seu quarto era no segundo andar. Aquelas informações eram perfeitas, melhores impossíveis.

            Andei sem fazer barulho até a parte de trás da casa, tomando cuidado ao passar pelas janelas que tinham na lateral. Ao me deparar com a arvore, me dei conta de que aquela não seria uma tarefa fácil, pois na minha imaginação, a arvore não passaria de dois metros de altura, mas eu estava completamente enganada. Era uma arvore grande como uma mangueira. Fiz duas tentativas inúteis de subir naquela arvore. Suspirei alto, e na terceira vez eu estava realmente decidida a me agarrar naquela arvore sem medo de me machucar. Apoiei meu pé numa raiz alta que tinha ali e dei impulso jogando meu corpo para cima, abracei o tronco da arvore, e senti meu corpo se arrastar para baixo, maldita gravidade! Em pouco segundos meus pé já estava no chão novamente e eu sentia meu rosto arder, provavelmente por conta de um machucado.

            Deixei de lado a dor do corte em meu rosto, e fui novamente tentar subir na maldita arvore, desta vez eu já sabia que teria de ser rápida o bastante para depois que ar o impulso com meu pé, abraçar a arvore com os braços e as pernas. Tive mais duas tentativas falhas, que me fizeram cair de costas no gramado.

            Já frustrada com toda aquelas tentativas inúteis, resolvi tentar pela ultima vez, e surpreendentemente consegui permanecer abraçada a arvore. Sorri sozinha para comemorar, mas logo me dei conta de que eu ainda teria que subir até, pelo menos, metade da arvore para chegar na janela de Rick. Fiquei ali parada durante alguns minutos, tomando folego, e superando as pequenas dores localizada, provavelmente machucados, que haviam em meu corpo.

            Comecei a me movimentar para cima, demorei para conseguir sair do lugar, mas quando consegui fazê-lo foi bem rápido chegar até o galho da janela da Rick. Claro que antes de chegar la, eu ganhei mais alguma machucados, mas nada que eu não pudesse aguentar. Me sentei no galho, e fui arrastando meu corpo até a ponta. Minha sorte era que o galho era grosso o suficiente para não quebrar. Segurei num galho que estava sobre mim e me levantei, respirei fundo algumas vezes, antes de começar a entrar desajeitadamente no quarto de Rick.

–                    - O que você está fazendo? - Ouve a voz de Rick atrás de mim, e caí no chão. Droga! Minha entrada estava sendo perfeita, até Rick me assustar. - Isso é crime, sabia?

–                    - Eu sei, pode chamar a policia se quiser... - Rick me ajudou a levantar do chão, eu arrumei minha roupa e chequei meu estado físico no espelho. - Mas eu precisava falar com você.

–                    - O que você quer? - Ele perguntou com desprezo.

–                    - Por que não quer falar comigo? Achei que fossemos amigos.

–                    - Amigos... - Ele sussurrou mais para si do que para mim. - Talvez sejamos isso mesmo... Mas eu gosto de você Melissa, eu gosto de você de verdade. E quando eu vi você... - Ele suspirou.

–                    - Você viu o que?

–                    - Eu te vi fazendo sexo com aquela garota... - Fiquei observando-o, esperando ele dizer algo. Eu sentia todo meu corpo queimar de vergonha, minhas mãos suavam e tremiam. - Mas você está certa, somos somente amigos. Eu não tinha direito nenhum de parar de falar com você sem dar nenhuma explicação. Foi totalmente infantil de minha parte. - Eu ainda o observava sem dizer nada. Se ele tivesse reconhecido Annabelle? Tudo iria por água abaixo...

–                    - Ok... - Foi a única palavra que consegui dizer. - Melhor eu ir. - Disse indo em direção a janela. Rick segurou meu braço a fim de me fazer encará-lo, mas eu continuei olhando para a janela.

–                    - Eu... Ela é Annabelle... A filha do senador... não é? - Continuei encarando a janela. Minhas mãos tremiam cada vez mais. - E você é filha de Carmem Thompson, Melissa Thompson, você devia estar na reabilitação, e tudo o que você me falou era mentira, certo?

–                    - Melhor eu ir... - Repeti minhas palavras puxando meu braço e fazendo Rick me soltar.

–                    - Você pode ir pela frente - Rick e eu ainda permanecíamos no mesmo lugar, eu queria ir, mas ao mesmo tempo tinha medo do que Rick podia fazer, caso ele contasse algo para a mídia, eu e ele sofreríamos nas mãos de Maria.

             -  Você não pode falar nada pra ninguém, Rick.. - Disse num tom baixo. Rick se aproximou de mim e levou sua mão pra perto de minha bochecha, afastei meu rosto antes que ele me tocasse, pois senti a dor de seu toque em meu ferimento antes mesmo de acontecer. -

              -  Temos que cuidar disso.. - Rick disse e em seguida virou-se, abriu uma de suas gavetas e retirou de uma caixa onde se lia primeiros socorros.

            Depois de Rick cuidar dos ferimentos em meus braços, pernas e em meu rosto, fui embora pela porta da frente, como ele havia insistido. Ao passar pela sala, aquela mesma garota que havia me atendido na porta lançou-me o mesmo olhar de antes, mas agora eu podia sentir que ela estava surpresa de me ver ali, ou surpresa pela quantidade de machucados que eu havia criado num curto espaço de tempo.

            Entrei em casa e ouvi as batidas na porta do quarto de Annabelle, imediatamente a abri e ela se jogou em meus braços me fazendo gemer de dor.

            - O que aconteceu com você? - Ela me analisou, e por fim vi que ela estava com um pouco de pena. - Ele te bateu?

            - Não! Ele disse para me falarem que não queria falar comigo, então eu subi numa árvore que tinha em frente ao quarto dele... Confesso que se tivesse que ter descido pela mesma árvore, agora estaria num estado bem pior. - Dito isso, Annabelle distribuiu vários beijos onde não tinham machucados.

            Alguns segundos depois me lembrei de que Rick sabia que Annabelle estava sequestrada e ele tinha outra informação muito valiosa: eu era a sequestradora.

            - Algum problema?

            - Ele sabe sobre você estar sequestrada, sabe sobre toda a mentira que Margot e minha mãe tem falado na TV..

            - Então ele pode nos ajudar a fugir!

–                    - Não! Se nós fugirmos... Ela vai... E... Não podemos fugir, Annabelle... - Annabelle me encarou perplexa, me empurrou e entrou no quarto batendo a porta logo em seguida.