– Lizzie, devemos abrir o outro envelope.

A moça sacudiu o papel.

– Este é leve - e o abriu.

Era um CD. Em sua superfície era possível ler a letra curvilínea de Charlotte:

"Carrie" - Europe.

– Somente Charlotte para se lembrar de algo assim - e os dois riram, mas a eletricidade era palpável no ar.

"19 de Setembro de 2002.

Elizabeth contou a Jane sobre Wickham e o odioso Darcy, mas a irmã não pôde acreditar. Wickham não era mentiroso e nem Darcy seria capaz de algo assim. Tal indecisão deixou Lizzie muito incomodada.

Mais tarde, receberam uma ilustre visita.

– Meninas, meninas, é Charles Bingley! - a Senhora Bennet ficou estarrecida em ver o rapaz.

Bingley trazia uma rosa branca para cada moça e um buquê para Jane, que ficou muito encabulada com o gesto.

– Venho convidá-las para a festa na casa de meu tio neste sábado!

Kitty e Lydia mal podiam conter o entusiasmo.

– Convide os universitários! Convide, Charles!

– Lydia! - ralhou Mary.

– Está tudo bem, já o fiz. Seus amigos Wickham e Denny confirmaram a presença.

As duas moças saíram pulando pela casa e foram para o quarto, planejando quais seriam suas vestes, cabelo, etc.

– Desculpe a impertinência de minhas irmãs, Charles - pediu Lizzie, visto que Jane ainda não conseguia falar. - Deve ter sido difícil convencer Caroline.

– Oh, não se preocupe. Minha irmã mudou de ideia quando Darcy, sem motivo aparente, decidiu ir - e deu uma olhadela para Elizabeth.

Conversaram mais algumas trivialidades, mas logo Bingley teve de ir, havia muitos convites a entregar.

Elizabeth só podia pensar em danças com George e desmascarar Fitzwilliam Darcy, o idiota!

21 de Setembro de 2002.

Assim que chegaram ao local da festa, Lizzie passou a procurar Wickham, mas sem sucesso. Havia muitas pessoas e estava escuro. Além disso, tinha certeza de que o rapaz apareceria, visto o que conversaram anteriormente.

Procurando por mais algum tempo, Elizabeth decidiu questionar Lydia e Kitty, que se divertiam com Denny.

– Meninas - disse, puxando-as para um canto. - Viram Wickham por aí?

– Claro que não, sua tonta! Ele não veio. - Lydia deu-lhe um peteleco na cabeça. - O que sabemos é que teve uma reunião de urgência com seu orientador.

– Mas Denny acha que este motivo não seria nada se não fosse a presença de outro rapaz.

E voltaram para sua companhia.

Aquelas palavras passaram despercebidas para as Bennet mais novas, porém Elizabeth soube quem era o real motivo daquilo e sentiu raiva dentro de si.

Darcy tentou compartilhar algumas palavras com ela, mas não conseguiu. A moça estava irredutível.

De mau humor, Lizzie decidiu conversar com Charlotte, a quem não via há algum tempo. Todavia, o primo Collins requisitou sua atenção nas músicas eletrônicas, querendo demonstrar seus "novos passos de dança".

Passado o tormento, Elizabeth dançou com outro universitário e pôde saber mais sobre Wickham. A moça estava certa, todos o admiravam muito.

Conseguiu voltar para perto de Charlotte, mas alguns minutos depois o DJ anunciou o momento 'balada romântica das antigas", um pretexto para aproximar os casais e conferir nostalgia à festa.

Nos primeiros acordes de "Carrie", Elizabeth viu Fitzwilliam se aproximar.

– Gostaria que dançasse comigo, Lizzie.

A moça quis recusar, mas a pressão do ambiente fez com que aceitasse. Pensou melhor e decidiu aproveitar aquele momento para confrontá-lo.

A sensação foi imediata. Todos conheciam a arrogância de Darcy e sentiam pena de Elizabeth por ser alvo de sua atenção.

O rapaz envolveu-lhe a cintura com um dos braços enquanto segurava a mão da moça com a outra. Longe o suficiente para ser considerado adequado, perto o bastante para que ambos sentissem o calor do outro.

When lights go down

Quando as luzes se apagarem

I see no reason for you to cry

Eu não vejo motivos para você chorar

– Essa música é realmente muito... agradável.

– Completamente. Europe é uma das melhores bandas que já existiram.

E o silêncio se instalou entre eles.

We've been through this before

Nós passamos por isto antes

Após algum tempo, Elizabeth retomou a fala:

– Darcy, já iniciei a conversa com um comentário sobre a música. Agora deve fazer outro sobre a festa, a decoração ou o público.

– Direi o que quiser que eu diga, Elizabeth - e sorriu para a moça.

In every time, in every season

A qualquer hora, em qualquer estação

God knows I've tried

Deus sabe que eu tentei

So please don't ask for more.

Então por favor não peça mais

– Por enquanto, esta resposta basta. É hora de ficarmos em silêncio. - e foram rodopiando lentamente pela pista.

– Quer dizer que conversar enquanto dança é uma regra?

– Absolutamente. Deve-se conversar com par o mínimo que seja - "como eu desejo fazer com você."

Can't you see it in my eyes

Você não pode ver isto em meus olhos?

That this might be our last goodbye

Isto talvez seja nosso último "adeus"

– Diz isto baseando-se em sua própria conduta ou acredita ser a minha?

– Nas duas - respondeu Elizabeth, a malícia estampada no olhar. - Percebi uma certa semelhança em nosso jeito de pensar, somos ambos insociáveis e taciturnos.

– Não posso concordar ou, ao menos, deixar de dizer que esta característica não se encaixa em você.

Novamente mergulharam no silêncio.

Carrie! Carrie!

Things they change, my friend

As coisas mudaram, minha amiga

– Quando nos encontrou outro dia, acabávamos de fazer um novo amigo.

A atenção de Darcy foi-lhe direcionada imediatamente. Uma sombra passou por suas feições, mas o rapaz não se pronunciou, tampouco Elizabeth o fez.

Carrie! Carrie!

Maybe we'll meet again somewhere again

Talvez nos encontremos novamente em algum lugar, novamente

Depois de algum tempo, porém, Darcy respondeu:

– George Wickham possui a amável habilidade de fazer novos amigos quando lhe convém. Não posso dizer o mesmo de sua capacidade de conservar as amizades.

– É notável que ele perdeu sua boa opinião e amargará tal injúria pelo resto da vida.

Darcy se calou, ansioso por mudar de assunto. O tio passou por eles e elogiou sua dança, assim como a de Bingley e Jane. O rapaz olhou seriamente para o casal por algum tempo, mas pareceu recuperar sua serenidade em seguida.

I read your mind

Eu leio sua mente,

With no intentions of being unkind

Sem intenção de ser cruel

– Com a interrupção de meu tio, esqueci o que conversávamos.

– Não acredito que estivéssemos conversando, Darcy. Não poderia interromper outro casal que tivesse menos a conversar: tentamos 3 assuntos, mas nenhum deles vingou.

I wish I could explain

Eu queria poder explicar,

Darcy queria falar de trivialidades, mas Elizabeth chegou ao ponto que queria:

– Outro dia conversamos sobre como seu julgamento é implacável. Acredita que nesta situação ele seja justo?

– Completamente.

– E que nenhum tipo de emoção o influenciaria?

– Jamais.

– Que assim seja.

It all takes time, a whole lot of patience

Isto leva tempo com muita paciência

– Quando sua opinião não muda, há a certeza de acertar um julgamento de primeira. Posso saber a razão de tantas perguntas? - perguntou o rapaz.

– Quero entender seu caráter.

If it's a crime, how come I feel no pain?

Se isto é um crime, como é que eu não sinto nenhuma dor?

– E o que conseguiu?

– Quase nada. As opiniões a seu respeito são tão diferentes que me sinto confusa.

Can't you see it in my eyes

That this might be our last goodbye

– Peço, então, que não tente entender meu caráter agora.

– Se não o fizer, pode ser que a oportunidade jamais reapareça.

Carrie! Carrie!

Things they change my friend

– Não quero estragar seu divertimento - respondeu ele com rancor.

E voltaram a dançar em silêncio.

Carrie! Carrie!

Maybe we'll meet again

Elizabeth não percebera, mas os dois estavam em um dos cantos mais escuros da festa. Tudo o que conseguia ver era o brilho dos olhos do rapaz, que a fitavam intensamente.

Can't you see it in my eyes

That this might be our last goodbye

Carrie! Carrie!

Things they change, Carrie, Carrie, Carrie

Carrie! Carrie!

Maybe we'll meet again, oh somewhere again

When lights go down...

Assim que a dança acabou, separaram-se sem mais nenhuma palavra a acrescentar.

Após este momento terrível, Lizzie teve de aguentar Caroline fazendo chacota sobre seu aparente interesse em George Wickham. A felicidade e o sarcasmo da outra deixaram a moça Bennet enojada.

Elizabeth e Charlotte se esconderam pelo resto da noite, conversando bobagens. No intervalo entre danças, Lizzie tinha a esperança de saber algo através de Jane, que perguntara a Charles sobre Wickham. Suas esperanças foram frustradas, pois o rapaz nada sabia.

Ao final da festa, teve de aguentar primo Collins tentando fazer amizade com o sobrinho de sua amada protetora e Mary arriscando as notas de uma ária famosa, comportamentos que a humilharam perante todos naquele ambiente "moderno".

Lizzie foi dormir com a maior enxaqueca de sua vida. "

Darcy e ela estavam envergonhados.

– Relembrando tudo o que se passou, parece que iríamos nos degladiar!

– Bem que eu queria - Elizabeth confessou. - Estava com vontade de esganá-lo!

O rapaz riu, suas bochechas se ruborizaram.

– Que tal começarmos e terminarmos esta dança como ela deveria ter acontecido? Pelos velhos tempos.

Elizabeth aceitou o convite e os dois bailaram em silêncio ao som do passado.