Cartas Do Passado escrita por Jane Timothy Freeman


Capítulo 15
Os infortúnios de George Wickham




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Não conseguiram mais se encarar naquele dia.

Não dormiram, o estresse causado por tantas emoções havia excedido todas as proporções.

Ignoraram-se na maior parte do tempo, mas Darcy, não aguentando tal situação, achou por bem ir embora.

Arrumava suas coisas quando Elizabeth bateu à porta:

– Fique.

– Não posso. Viver estas emoções uma única vez foi o bastante - e voltou a empacotar os pertences.

– Vai ficar tudo bem e...

– Não vai, Elizabeth! - A reação de Fitzwilliam foi violenta. - Consegue se manter impassível em meio a tantas recordações? Meditei sobre elas durante os últimos dez anos incansavelmente, mas não tinha que... - E parou de falar, esgotado.

– Vivenciá-las novamente comigo? - Lizzie questionou, pisando em ovos.

– Sim. Não. É muito mais complicado do que você imagina. - Respirou fundo.

– Não tem de ser, Will. - Disse a moça, propositalmente utilizando o apelido de Darcy. - Acredite em mim. Podemos passar por isso e seguir em frente.

– Não acho que...

– Não ache, não pense. Só poderemos sair dessa juntos, não vê? Precisamos costurar essa ferida. - Elizabeth olhou bem nos olhos do rapaz. - Eu preciso de você.

– Tudo bem - respondeu suspirando. - Só espero que valha a pena, porque remexer em todas essas feridas é horrível.

– É por causa dele, não é?

– De quem?

– Wickham. Chegamos à parte em que cruzou seu caminho novamente.

– Um pouco. Não consigo me perdoar por...

– Uma coisa de cada vez, não precipite as lembranças. Logo chegaremos a elas. Podemos, pelo menos, retomar de onde paramos?

Ela lhe deu a mão e o rapaz a seguiu até o local das lembranças, onde ela lhe contou a chegada de primo Collins e como conhecera Wickham.

"18 de Setembro de 2002.

No dia anterior, as meninas e seus convidados haviam encontrado sua tia no Central Park. Mulher dotada de muita simpatia, logo convidou todos a jantarem em sua casa.

As meninas Bennet não sabiam se Wickham e Denny aceitariam o convite e estavam ansiosíssimas para sabê-lo. O primo Collins se divertia muito com o entusiasmo das moças.

Ao chegarem, foram informados de que os rapazes haviam aceitado o convite, o que as deleitou por completo. Collins aproveitou para elogiar o teto, a mobília, etc, o que lhe causou o imediato abandono por parte das meninas.

Assim que o jovem Wickham veio em sua direção, Elizabeth sentiu que sua admiração por ele era completamente justificável. Rapaz de modos amáveis, diferente dos outros universitários, muito bonito... A lista de atributos era infinita. Quando ele se sentou a seu lado, Lizzie se sentiu muitíssimo feliz.

Em contraponto, o primo Collins caíra no mais completo esquecimento por parte de todos.

Após o jantar, os presentes se dividiram em mesas de jogos. Wickham e Elizabeth não se separaram. A menina Bennet estava ansiosa, mas não esperava que ele mencionasse o incidente do dia anterior.

Após algum tempo, ele perguntou:

– Há quanto tempo Fitzwilliam Darcy está na cidade?

– Há pouco mais de um mês. É primo de uma amiga.

– Sim, sim. Dizem que é um senhor muito influente. - O rapaz parou por instante. - Acho que encontrei a melhor pessoa para informar sobre o assunto, já que eu e Darcy estamos conectados desde a infância.

Elizabeth não conseguiu esconder o espanto.

– Não me admira que fique surpresa, principalmente após presenciar a frieza com que eu e Fitzwilliam nos encaramos. São íntimos?

Elizabeth corou com tamanha indiscrição, mas respondeu.

– Para o meu bem, não. Passei alguns dias na presença dele e posso afirmar que o acho muito desagradável.

– Não posso concordar ou discordar de sua opinião, pois o conheço há tempo demais para crer que meu julgamento será sensato. Como foi recebido pelos conhecidos de seu tio?

– Posso afirmar que é muito orgulhoso. Tal característica não o fez muito popular entre nós.

– Entendo, mas não posso fingir que o sinto. - Após uma pausa, prosseguiu. - Sabe por quanto tempo pretende permanecer?

– Não tenho ideia, porém espero que seus planos não sejam afetados por causa dele.

– Oh, não. Se Darcy deseja não me ver, que se afaste. Nossa relação é bastante tensa devido a um grande ressentimento do passado. O pai de Fitzwilliam, Elizabeth, foi meu grande protetor, não admirarei jamais outro homem como ele. O comportamento de seu filho, todavia, foi completamente distinto.

Falaram sobre algumas trivialidades, mas logo o rapaz retornou ao assunto.

– Minha verdadeira vocação está intimamente ligada ao curso de Direito. Como sou inglês, meu sonho era formar-me na Escola de Direito de Cambridge. E lá estaria, se não fosse por Fitzwilliam.

– Como?

– É como digo, Elizabeth. O pai de Darcy havia me deixado uma pequena herança para que concluísse meus estudos no lugar desejado. Quando morreu, porém, a herança foi destinada a outro rapaz.

– Não posso acreditar! - Exclamou Elizabeth, completamente horrorizada. - Por que não procurou a lei para que o testamento fosse cumprido?

– Não conhece Darcy como eu. É muitíssimo inteligente, de modo que nunca pude vencê-lo nisto. Usou de tantas artimanhas que me cansei de lutar. Não posso ver razão para tal comportamento, mas é certo que Darcy me odeia.

– Todos precisam saber!

– Algum dia acontecerá, mas não serei o responsável. Em memória de meu querido protetor e pai daquele algoz, jamais lhe mancharei a imagem.

Elizabeth parabenizou-o com admiração.

– Não posso deixar de questionar, Wickham, o que levou Darcy a cometer tamanha atrocidade.

– Um ciúme intenso de seu pai, que gostava mais de mim do que dele.

– Embora não o apreciasse, nunca pensei que Fitzwilliam Darcy fosse capaz de tamanha crueldade. Obrigada por mostrar o quanto estava errada. - Parou um minuto. - Agora me recordo de tê-lo ouvido professar o quanto seus ressentimentos eram implacáveis e o peso de sua boa opinião. É o ser mais detestável que existe.

– Minha posição de julgamento não é das melhores, não se guie por mim.

Elizabeth perguntou-lhe sobre a infância.

– Crescemos juntos. Meu pai era contador e, acima de tudo, homem de confiança do falecido Darcy, levando este a prometer que se encarregaria de meu futuro.

– Que homem odioso! E profundamente orgulhoso!

– Não poderia estar mais certa. O orgulho pautou a maioria das ações de Darcy. Todavia, em sociedade é o melhor dos cavalheiros. E demonstra um amor puro e forte pela irmã, Georgiana.

– Como ela é?

– Infelizmente, muito parecida com o irmão. Quando criança, era amável e me encantava o modo com que gostava de mim. Hoje, é exímia em artes e mora com uma senhora que cuida de sua educação.

– Admira-me que Darcy tenha conquistado tamanha lealdade de Bingley. Conhece?

– Nunca ouvi falar.

– É um rapaz muito amável e de modos refinados e gentis.

– Acredito que o Darcy tenha o dom de agradar quando quer. Com os ricos, mostra-se liberal, justo e amigo.

Após algumas partidas, o primo Collins veio sentar-se com eles e passou a descrever todo o esplendor de Lady Catherine.

– Seu primo conhece Catherine de Bourgh?

– Ela é sua protetora.

– Aposto que não sabia que Catherine de Bourgh e Anne Darcy eram irmãs e que, portanto, ela é tia de Darcy!

– Realmente, não sabia. Só soube da existência de Lady Catherine ontem.

– A filha herdará todo seu império no Vale do Silício. Há uma grande esperança de que Darcy e a menina unam suas fortunas.

Elizabeth sorriu com tristeza ao se lembrar do amor doentio de Caroline. Todos os esforços da moça eram em vão.

– Apesar de primo Collins elogiá-la como a uma santa, acredito que é Lady Catherine uma senhora arrogante e presunçosa.

– Acertou em cheio, Elizabeth. Nunca simpatizei com os modos irritados e afetados daquele "madame".

O anúncio da ceia fez com que se separassem."

Darcy estava furioso.

– Não consigo acreditar que aquele... aquele... idiota teve a audácia de me denegrir com tamanha injustiça!

Elizabeth pediu calma.

– Lembre-se, Darcy, de que eu estava muito propensa a lhe detestar. Wickham só me disse o que eu queria ouvir.

O rapaz se acalmou e até mesmo fez um gracejo:

– Wickham não lhe disse também que almoço criancinhas?





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