Capítulo 8

A FESTA

A festa estava correndo incrivelmente bem. A casa estava cheia, e a música bombava de um jeito viciante. Os convidados – clientes da empresa – recebiam três adesivos logo na entrada, com os quais sinalizavam o que estavam procurando (o verde significava “Aberto a relacionamentos”; amarelo, “Analisando o produto”; e vermelho, “Fisgado”). Preciso confessar que a ideia genial de Edward estava dando certo. Todos pareciam se divertir com isso.

Nota mental: parar de elogiar os trabalhos do Edward.

Eu estava responsável pelos casais já formados. Havia um espaço do salão reservado a eles: luz negra, várias almofadas e sofás confortáveis, música lenta, champanhe e morangos – o clima romântico perfeito. Minha missão era caçar esses casais e encaminhá-los para um sofá vago.

Eu mal via os outros funcionários pelo salão. Uma vez ou outra, Alice vinha falar comigo, me pedindo conselhos sobre o que tocar e o que servir na festa. Ela estava elegante em seu vestido vermelho frente-única, com saltos altos e cabelos presos. Eu duvidava muito que ela sairia solteira dessa festa. Talvez assim ela esquecesse aquele hippie esquisito...

- Bella! – ouvi alguém me chamar. Era Emmett.

Estupidamente, como uma criança, ajeitei meu vestido e meus cabelos e me virei para ele. Meu queixo caiu. Ele estava lindo de morrer! A camisa preta social marcava seus contornos, os dois primeiros botões estavam abertos, mostrando o início do seu peitoral, e as mangas estavam dobradas pra cima, até perto dos cotovelos.

Sim, eu acho isso sexy!

E a calça dele... Ah, meu Deus, a calça social... Nem preciso falar do que achei quando vi aquele plano de fundo...

Limpa a baba, Bella!

- Olá, Emmett – cumprimentei polidamente – Está muito elegante hoje.

- Vamos deixar a formalidade de lado, por favor – ele sorriu, fazendo meu coração acelerar – E você está... absurdamente deslumbrante!

Eu corei, mas resolvi provocar.

- Não íamos deixar a formalidade de lado? – perguntei. Ele riu.

- Claro, me desculpe – ele me olhou de cima a baixo – Tá gata, Bella!

Nós dois rimos.

- Bella, eu gostaria de te perguntar uma coisa...

Sim! Eu aceito! Eu aceito!

- Sabe onde está Rosalie? – ele completou. Torci para que meu rosto não estivesse demonstrando a decepção que sofri – Preciso que ela me ajude na entrada, temos um problema com a lista...

- Algo em que eu possa ajudar? – perguntei, as sobrancelhas franzidas. Rosalie e eu havíamos conferido a lista de convidados cinco vezes antes da festa.

- Não, infelizmente é só com ela. Se a vir, pode dizer que estou procurando por ela?

NÃO!

- Claro! – forjei um sorriso – Fique tranqüilo.

- Obrigado, Bella... – ele se virou para ir embora, mas parou no meio do caminho e se virou para mim novamente – Hmm... Você gostaria de dançar?

Meu coração deu cambalhotas. Com certeza teria ganhado uma medalha de ouro nas Olimpíadas artísticas. Mas, antes que eu pudesse sequer abrir a boca, ele fez um sinal com a mão.

- Ah, esquece – ele emendou – Não quero atrapalhar seu trabalho. Você está se saindo maravilhosamente bem aqui.

Eu não sabia se começava xingando a mãe dele ou a sua falta de cavalheirismo. Decidi pelo mais apropriado:

- Obrigada, Emmett.

Ele se afastou ao mesmo tempo em que um casal se atracava ao meu lado. Minha vontade era de jogar um balde de água fria neles e gritar que o rapaz a ignoraria no dia seguinte, mas eu não podia descontar minhas frustrações amorosas no trabalho. Não agora.

Por volta da meia noite, o DJ anunciou a hora da valsa – a dança especial que durava quase dez minutos, onde os convidados aproveitavam para conversar mais, ou continuar se beijando. Como sempre acontecia, muitos ficaram de fora, e era nossa obrigação tentar fazer os tímidos se juntarem à dança.

Alguns minutos depois, enquanto eu observava os casais rodopiando pelo salão, senti alguém se postar ao meu lado. Edward, em sua camisa social branca, já bagunçada pelo trabalho, também observava a pista tranquilamente. Seus olhos desceram para meu rosto quando eu o olhei. Desviei os olhos, corando.

Por que diabos eu fiz isso?!

- Você está linda – ele disse baixinho, perto do meu ouvido. Não pude evitar ficar arrepiada.

- Obrigada – respondi, engolindo em seco – Você também está muito elegante. Apesar do cabelo e das roupas bagunçadas...

Ah, que mentira, você está incrivelmente sexy com esse cabelo desarrumado!

Sua voz de sinos ecoou numa risada, e eu ergui meus olhos em tempo de ver um sorriso torto se formar em seus lábios. Aquele sorriso torto... Balancei a cabeça, desviando os pensamentos, e voltei a encarar a pista de dança.

- Já resolveram o problema com a lista? – perguntei.

- Problema? – ele franziu as sobrancelhas – Que problema?

Eu o encarei, confusa.

- Emmett disse que havia um problema com a lista de convidados... Estava procurando por Rosalie há alguns minutos.

Seu rosto se iluminou em compreensão, mas não entendi o outro sentimento que ele demonstrava. Raiva?

- Não havia problemas com a lista – ele respondeu – Emmett provavelmente se enganou.

Fiquei em silêncio, digerindo a informação. Emmett nunca se atrapalhava com coisas tão bobas. Talvez ele estivesse trabalhando demais... Isso explicaria seu comportamento nos últimos dias.

- Quer dançar? – Edward perguntou de repente, me sobressaltando.

- Estou trabalhando – respondi seca, lembrando-me das palavras de Emmett.

Ele avançou alguns passos e parou na minha frente. Colocou um dos pés ligeiramente para trás, curvou-se e estendeu uma mão em minha direção.

- Me dê essa honra – ele pediu novamente, olhando profundamente em meus olhos.

Eu fiquei hipnotizada pelo mar de esmeraldas.

- Você é minha convidada, não se esqueça – ele riu, e sua voz me despertou do transe – Me deve uma dança, Senhorita Swan.

- Edward, eu não posso – bufei – Eu estou...

Mas antes que eu terminasse a frase, me vi sendo puxada para o meio da pista de dança. Ninguém nos notou ali – cada um estava focado demais em seu parceiro. Edward me girou até que eu ficasse de frente para ele. Sua mão livre segurou minha cintura, enquanto a outra colocava minha mão na parte de trás de seu pescoço. Esse movimento fez a distancia entre nós encurtar.

- Eu não sei dançar, Edward! – murmurei agoniada, enquanto tentava acompanhar o ritmo da música.

- Apenas siga o som! – ele respondeu. Suas mãos, antes em minha cintura, agora estavam na parte de trás de minhas costas, encurtando ainda mais a distância. Sua boca estava a centímetros da minha e seus olhos verdes perfuravam os meus com tal força que era impossível me livrar dali.

“Eu gosto de você, Bella...”

As palavras de Edward rodavam por minha cabeça, e a música fazia com que elas parecessem ainda mais reais do que eram.

“Gosto como... Como nunca gostei de ninguém.”

Edward foi baixando o rosto lentamente, sem tirar os olhos dos meus. Meus lábios se separaram automaticamente, e eu senti seu hálito de menta em minha língua. Seus olhos estavam se fechando, enquanto ele se aproximava mais e mais...

“Como nunca gostei de ninguém...”

No último segundo, desviei o rosto e encostei minha cabeça em seu ombro. Ouvi seu suspiro disfarçado de frustração, mas ele continuou tão carinhoso como se eu o tivesse beijado.

Mas o que eu estava fazendo? Onde estava meu amor próprio? Como podia me deixar enganar por um homem tão mesquinho e egoísta, como Edward Cullen? Por que seus olhos e sua boca me hipnotizavam daquela maneira, quando meu coração pertencia somente a Emmett?

Eu nunca estive tão confusa quanto estava agora. Por sorte, a música acabou sob um mar de aplausos, e eu tive uma desculpa para me soltar dos braços de Edward. Antes que ele pudesse dizer algo constrangedor, me afastei do centro da pista e procurei por Alice, que estava pedindo ao DJ que voltasse com a música eletrônica.

- Bata em mim – sussurrei, metaforicamente, chegando perto dela.

Ela me deu um tapa no meio da testa.

- Ai! – gritei, devolvendo o tapa – Alice!

- O que foi?! – ela estava assustada – Foi você quem pediu!

Eu revirei os olhos.

- Era modo de falar, sua louca! Agora me escute – respirei fundo – Fiz uma coisa idiota. Aliás, quase fiz uma coisa idiota...

- Você quase beijou Edward? – ela disse calmamente, como se estivesse confirmando a reunião de sexta-feira.

- Como você sabe? – arregalei os olhos.

- Eu vi vocês na pista de dança! – ela deu pulinhos de felicidade – Acho que vocês formam um lindo casal.

Dei-lhe outro tapa na testa.

- Não diga isso! Eu estava esperando você me chamar de louca, psicótica, retardada!

- Sua louca, psicótica, retardada! – ela gritou, e depois sorriu – Mas eu ainda acho que vocês formam um belo casal...

- Argh, Alice!

Resolvi sair dali – Alice não estava ajudando em nada. Segui para a mesa do Buffet antes de voltar ao trabalho. Talvez eu devesse beber alguma coisa pra me acalmar...

No caminho, passei perto do banheiro masculino e ouvi duas vozes discutindo. Parei subitamente. Se havia alguém arrumando confusão, eu devia impedir. Tudo pelo zelo ao nome da Love Secret. Quando cheguei mais perto, descobri a quem as vozes pertenciam.

-... caindo fora – Edward dizia, parecendo chateado.

- Caindo fora?! – Emmett quase gritou, contrariado – Você não pode cair fora!

- Posso, e vou! Não quero mais fazer isso, Emmett...

Se isso era um pedido de demissão, eu devia estar feliz. Então por que eu não estava?

- Não, Edward! Justo agora que eu ia ganhar essa grana!

- Ia? Quando? – Edward disse sarcasticamente – Onde você estava na hora da dança, quando podia ter ganhado de uma vez?

- Com a Rosalie, claro! – ele respondeu, e meu coração deu uma fisgada – Ou você acha que eu iria desperdiçar esse momento perfeito com a Bella-sem-sal-Swan?

Eu petrifiquei.

O quê?!

- Você é um idiota. Eu podia ter ganhado hoje, mas não o fiz. Esqueça essa aposta, Emmett. Pra mim já deu.

Aposta? Eu estava ouvindo direito?

- Vai desistir da Bella, Edward? – Emmett riu, e o som me causou um estranho nojo – Muito melhor assim. Assim fica mais fácil ter uma noite de prazer com ela.

- E depois...?

- O que, quer casamento agora? Isso não fazia parte da aposta! O combinado era uma noite com a Bella, só isso. E eu estava perto de conseguir...

As lágrimas chegaram até meus olhos, e minhas pernas tremiam. Então era tudo uma aposta? Esse tempo todo? Todas as gentilezas, os jantares, os presentes e as palavras carinhosas... Tudo falso?!

Encontrei forças de repente para correr para fora do salão. Só parei quando cheguei ao estacionamento e me tranquei em meu carro. Grudei as mãos no volante e me permiti chorar descontroladamente, sem vergonha de ser vista.

Eu sabia que Edward não era uma pessoa confiável! Eu deveria ter percebido que tudo não passava de uma brincadeira infantil e escrota, onde dois homens estúpidos brincavam com o coração de uma mulher, e apostavam uma noite de sexo com ela, como se ela fosse o brinquedinho brilhante na loja de videogames!

Eu estava cansada de tentar procurar alguém ideal, algum príncipe encantado que se encaixasse perfeitamente nos meus sonhos, alguém que me faria sempre feliz! Talvez esse cara nem existisse, ou talvez estivesse muito longe daqui, esperando eu me desfazer desse amor estúpido por dois idiotas.

Encostei a cabeça no banco e chorei. Chorei como não fazia há anos.