Não sabia onde estava. Era tudo escuridão. Pude ouvir vozes, pareciam estar vindo de muito longe.

-...Confiança dela? –uma voz falou

-Sim, senhor. –outra voz falou

-Ótimo, o plano está correndo como esperado... –a primeira voz disse

Não conseguia distingui-las, mas não era bom... Senti o chão tremer sob meus pés e eu caí. Meu grito não saiu e quando acabou a queda, me vi na jaula de Lúcifer. Sentia minha pele queimar. Vi ele na minha frente, sorrindo.

-Logo vou sair daqui... E tudo estará acabado... –ele falou

Logo após essas palavras ele avançou em cima de mim e eu acordei num pulo. Respirava pesadamente com o pesadelo. Eu ainda tinha minhas dúvidas se eu não era a Percy Jackson do mundo sobrenatural...

Olhei para os lados e não vi Gabriel. Vi o calendário, 20 de Janeiro. Como eu fui esquecer do meu aniversário? Me vesti rápido e saí do quarto na esperança de ver minha mãe fazendo o café da manhã especial que ela fazia todo ano no meu aniversário. Senti o cheiro de Waffles e calda de caramelo. Meus preferidos.

Cheguei a sala e fui surpreendida com um abraço e alguém pulando em cima de mim.

-Feliz aniversário! –Laura falou

-Olha, 18 aninhos... Agora pode fazer com o Gabriel o que você fazia antes só que legalmente... –Stela falou

-Nossa, que coisa legal para se dizer... –falei

Gabriel apareceu por trás de mim, me abraçando.

-Feliz aniversário... –ele sussurrou no meu ouvido

Sorri. Depois que me soltei dele, fui pra cozinha e lá estavam meus Waffles douradinhos com a deliciosa calda de caramelo ao lado deles para que eu me servisse de quanta quisesse...

Meu aniversário era o dia que eu chamava de “Paraíso dos Doces”, por que eu me entupia de doces o dia todo sem ninguém reclamar.

-Feliz aniversário! –minha mãe falou e me deu um beijo na testa

-Obrigado, mãe. –falei e sentei para comer os Waffles.

-Você vai ter festa esse ano... –minha mãe falou sorrindo

Olhei para a cara dela. Nunca tinha festa no meu aniversário. Minha mãe não tinha recursos e nem eu amigos o suficiente para fazer isso.

-Como assim “festa”? –perguntei

-Sua tia resolveu fazer uma. –ela disse

-Qual tia?

-Rafaela... –minha mãe disse

A minha tia Rafaela era a mais rica da família, e agora ela ia dar uma festa pra mim... Ia ser no mínimo, perfeito!

Gabriel chegou do meu lado e ficou encarando a calda de caramelo como se fosse a coisa mais linda do mundo.

-Pode pegar um pouco, Gabriel... –falei

Ele sorriu pra mim e pegou a jarra de caramelo.

-Vai querer mais? –ele perguntou

-Não... –respondi

Ele simplesmente virou a jarra na boca e começou a beber a calda... Ainda bem que anjos não tem diabetes, por que ele estaria ferrado desse jeito.

-Pai, menos por favor... –Miles falou aparecendo na cozinha

-Se você não puxou a paixão por doces de mim, então fica quieta, por que essa calda é a melhor que eu já provei... –ele disse e voltou a tomar a calda

Minha mãe deu um sorriso orgulhosa. Eu estava com medo do Gabriel. Ele terminou com a calda e colocou a jarra na mesa limpando a boca na jaqueta.

-Fiquei com medo dele... –Laura falou rindo

-Somos duas... –disse

Terminei de comer os Waffles e fui pra sala.

-Bruna, é pra você... Sei que não é lá essas coisas, mas eu e Laura achamos que você iria gostar... –Stela falou e me entregou uma caixinha embrulhada com papel de presente

Rasguei o papel e vi o que era. Um colar de bigodinho. Morri com a fofura daquele colar.

-Obrigada! –falei e abracei as duas

-E esse é meu... –minha mãe disse me entregando um pacote

Abri e vi o que era. Era um vestido lindo. Ele era preto com pequenas bolinhas vermelhas por todo ele.

-Achei que você ia gostar de usar ele na sua festa... –minha mãe falou

Sorri e dei um abraço nela.

-Obrigado... Mas de que horas vai ser a festa? –perguntei

-A noite. –minha mãe respondeu

***

Já estava perto da hora da festa. Eu, Laura e Stela estávamos nos arrumando o mais rápido que podíamos... Ou quase...

-SAI DESSE BANHEIRO, STELA! –Laura gritou

-SAI DAÍ! SE ARRUMA AQUI FORA! –gritei também

-Não apressem a beleza... –ela falou calma ainda sem sair do banheiro

Eu e Laura nos entreolhamos. Peguei uma coisa que entrasse na droga da fechadura e comecei a tentar arrombar aquela porta. De alguma maneira eu consegui abrir e Laura e eu puxamos Stela do banheiro.

-Ei! –ela reclamou

-Acabou seu tempo. –falei e entrei trancando a porta

Tomei um banho rápido e coloquei meu vestido novo. Saí do banheiro para Laura poder entrar e fui me arrumar.

Stela já estava pronta. Ela usava um vestido preto e azul longo de um doa lados, maquiagem azul, sapatos azuis e brincos azuis... A única coisa não azul nela eram os lábios que estavam super vermelhos. 

Eu fui procurar um sapato e percebi que Laura saiu do banheiro já arrumada. Ela usava um vestido preto meio decotado, sapatilhas pretas brilhantes e uma pulseira com o nome “Love” que eu e Stela tínhamos dado a ela antes dela ir estudar em São Francisco. A maquiagem era discreta, mas bonita. Era incrível como ela era fofinha... Só na aparência, por que o caráter não era nada fofo... 

Me arrumei o mais rápido que pude. Peguei um salto alto, para disfarçar minha altura, e coloquei o colar que elas tinham me dado. Caprichei na sombra e deixei os lábios o mais vermelhos que consegui... Não ficaram iguais aos de Stela, mas davam pro gasto. 

-Stela, tu tas parecendo o passarinho do twitter de tão azul que tu tas... –Laura zoou e riu

Eu ri também. Stela gostava de chamar atenção, principalmente dos garotos.

Nós saímos do quarto e vimos todos lá embaixo, já prontos. Foi aí que eu vi a Miles. Ela estava linda. Usava um vestido azul claro com sapatilhas da mesma cor. A maquiagem era pouca e o cabelo estava solto pelos ombros dela.

Minha mãe usava um sobretudo preto, seja lá o que ela estava usando, não dava para ver. Saímos de casa e lá estava uma limusine parada na frente de casa. Dessa vez, tia Rafaela caprichou. Entramos no carro e depois de algum tempo chegamos ao local da festa. Era um local grande e luzes piscavam lá dentro... Como uma balada. Estava cheio de gente, não sabia de onde tinha vindo esse povo todo, mas tudo bem...

Saímos da limusine e entramos no local. Em dois segundos, já tinha perdido todos de vista, menos Gabriel, que estava ali me abraçando por trás.

-Isso me lembra aquele baile... –ele falou alto tentando barrar o barulho da música

-Só espero não ser levada por demônios outra vez... –falei

-Bruna! –ouvi minha tia gritar

Ela me abraçou e me deu os parabéns.

-Onde arranjou essa gente toda? –perguntei

-A maior parte da sua sala está aqui... –ela falou

-Eu nem sou amiga deles...

-Não chamei por que são seus amigos, e sim para fazer inveja a eles... –ela disse

Minha tia era maluquinha, eu ein... Igual minha mãe. Eu ri.

-Tia, qual é... –falei

-“Qual é” nada! Aquela sua “amiguinha” a Diana está a meia hora tentando achar alguma coisa que reclamar da festa... Até agora não achou! –ela falou orgulhosa

Essa era minha família... Ainda bem que puxei ao meu pai.

Depois de um tempo ela saiu e eu fui procurar um lugar para sentar.

-Não vai dançar? –Gabriel perguntou me seguindo

-Ainda não sei dançar. –respondi

A música mudou para uma mais lenta. Olhei para a cara dele.

-Que tal relembrar o baile? Só que sem o sequestro... –ele perguntou

Eu ri e fui até ele. Ele pôs a mão na minha cintura e me puxou para perto... Tive a sensação de que não era só pela dança. Por sorte não estava pisando nos pés dele.

-18 anos... –ele falou

-Tem alguma coisa contra? –perguntei

-Não, agora podemos transar legalmente. –ele disse

Eu merecia aquilo. Ri do raciocino erótico dele e continuei dançando. Olhei para as pessoas e vi Stela dançando com Dean. Laura estava com o Sam já que o Castiel tinha sumido de uma hora para outra. Numa mesa no outro lado do recinto, Miles estava me encarando. Sorri para ela e ela sorriu também.

Depois de um tempo dançando uma coisa aconteceu. Olhei para os lados não havia ninguém... Ninguém vivo. A música não tocava, estavam todos mortos no chão, uma verdadeira carnificina. O sangue deles de espalhava por todo lado. Vi Stela, Laura, Sam, Dean e Gabriel mortos num canto longe dos outros. O cenário era vermelho de sangue e eu coloquei as mãos na cabeça. Senti duas mãos me segurarem e ao olhar, vi Lúcifer sorrindo para mim. Gritei e tentei correr daquele lugar. Quando saí tudo estava como lá dentro. Pessoas mortas e ensanguentadas. O sangue delas se espalhavam por todos os lugares. Coloquei as mãos na cabeça outra vez e gritei um não.

Fechei os olhos com força e senti novamente as mãos me segurando. Novamente vi Lúcifer. Tentei recuar mas não estava dando resultado...

-Bruna... –ele falou, mas sua voz parecia vir de muito longe

Seu rosto tremulou um pouco e vi Gabriel me olhando preocupado. A música voltou a tocar, tudo estava normal. Não havia sangue, nem ninguém morto, porém eu estava apavorada.

-Ei, o que aconteceu? Bruna, fala comigo! –Gabriel falou

Comecei a chorar de medo e me abracei a ele. Ele provavelmente não estava entendendo nada, mas não disse uma palavra. Só me abraçou e tentou me fazer parar de chorar.

Esse não é exatamente um aniversário que alguém ia querer...