A Primeira Família de Esther escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 10
Assassinato


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é integralmente dedicado à Yasmim Maria, que recomendou a história. Muito obrigada, fiquei muito feliz mesmo ♥ .
E também quero agradecer à minha amiga Samara Marques, que fez a nova imagem de capa da história. A outra estava tão sem-graça... Essa nova é muito melhor. Obrigada!
Sem mais delongas, ao capítulo.



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O terror que dominou cada fibra do corpo de Ashley quando ouviu a voz pingando ironia de Esther atrás dela era algo que ela não desejaria nem para seu pior inimigo.

Sem pensar, se virou bruscamente para olhar a menina, e o que viu só serviu para aumentar ainda mais seu horror.

Esther estava vestindo uma camisola comprida, branca, cheia de babados e botões, como os de meninas daqueles filmes de terror antigos. Os que davam medo de verdade, diferentemente da maioria dos atuais. Mas apesar da semelhança, a roupa dela não teria lembrado Ashley de filmes de terror se Esther também não estivesse segurando uma faca para carne grande e bem pontuda na sua mão direita. A garota estava com os braços cruzados, mantinha o semblante sério e estava calçando luvas para frio. Assim como a faca, as luvas só assustavam mais Ashley, porque não estava frio o suficiente para Esther as estar usando por este motivo. Restava, então, o de querer esconder digitais.

Ashley quis recuar alguns passos, mas estava paralisada de medo.

— O que foi? Está surpresa porque eu não estou na minha cama? – Esther ergueu uma sobrancelha, e avançou um passo. Foi só então que a babá conseguiu recuar. E se afastou o máximo que conseguiu, até bater de costas na parede do quarto.

Por ser madrugada e o quarto não ter luz alguma, tirando a que entrava pela janela, estava difícil distinguir Esther no meio das sombras. Mas deu para ver muito bem quando ela descruzou os braços e segurou o cabo da faca como se realmente pretendesse usá-la, e não só a estivesse segurando com o intuito de ameaçar.

— Não faça isso. Por favor, Esther, não, por favor, por favor... – Ashley começou a dizer, cada vez mais alto, sacudindo a cabeça. Lágrimas começaram a lhe vir aos olhos, e logo transbordavam.

— Não fale tão alto. – Esther a censurou. Sua aparência física não estava diferente da habitual, salvo por não estar sorridente, mas ela parecia ser vários anos mais velha que Ashley naquele momento. – Você vai acordar o Leon.

Leon! Ele era a sua chance. Se Ashley gritasse bem alto, ele certamente acordaria e iria até lá.

Infelizmente, porém, Esther entendeu o plano inteiro no instante em que ela abriu a boca.

— Eu vou matar os dois se ele vier até aqui.

Ashley fechou a boca novamente. Já estava, então, chorando compulsivamente, sem conseguir pensar em uma maneira de se safar. Mas não podia estar sem saídas... Aquilo simplesmente não podia estar acontecendo...

— Esther... Esther, não faça uma bobagem, por favor...

— Você faz barulho demais.

*********

Para minha sorte, ela não gritou.

Provavelmente foi para não acordar Leon e envolvê-lo na história. Eu não estava blefando quando disse que mataria os dois se ele viesse aqui, e Ashley entendeu o recado.

Mas ela tentou fugir, passar por mim e ir para a porta, o que foi tão inconveniente tanto.

Corri para bloquear o caminho. Chegamos à porta quase ao mesmo tempo, eu apenas uma fração de segundo antes, o suficiente para trancá-la. Então Ashley tentou recuar novamente, mas eu segurei o pulso dela. Ela não conseguiu se desvencilhar – eu sou menor, mas mais forte.

Ela levou três facadas relativamente em silêncio.

Sofreu mais do que precisava. Se ela também houvesse parado de se mexer, eu podia ter terminado o serviço com uma só.

Quanto às luvas que eu calçara para esconder minhas digitais, se por acaso ficassem marcadas no corpo, elas foram uma precaução desnecessária. O sangue de Ashley escorreu, mas não respingou.

E eu estava me sentindo bem. Uma sensação de completar um objetivo me invadira.

Mas meu plano não fora concluído. Não ainda.

Destranquei a porta do quarto, largando a faca no chão na soleira. Desci para o andar térreo, e fui até a mesinha do telefone.

Peguei o aparelho e disquei o 911.

Me atenderam rapidamente:

— Polícia.

— Socorro! – Disse, com a voz atropelada e assustada. – Por favor. Um homem entrou na minha casa e matou a minha babá!

Um barulho no outro lado da linha me fez crer que a ligação foi transferida, e logo fui atendida por uma outra mulher, esta com a voz mais grave:

— Ele ainda está aí? – Ela perguntou, séria.

— Não, ele foi embora correndo! Por favor, ajude!

— Mantenha a calma. Qual é o seu nome? Onde você está?

— Eu sou Esther Sullivan. Moro em Stanford, no condado de Lincoln, em Kentucky. – Dei o resto do endereço rapidamente.

— Tem alguém aí com você?

— O meu irmão mais velho, que está dormindo.

— E seus pais?

— Estão no hospital com a minha outra irmã.

— Fez bem em ligar para a polícia primeiro. Avise seus pais também. Vamos mandar alguém imediatamente. – Ela disse, e desligou o telefone.

Eu também desliguei. E como ela recomendara, liguei para o celular de Rick em seguida.

Ele parecia cansado quando atendeu, mas a notícia de que um homem entrara em casa e matara a babá fez o cansaço virar susto instantaneamente. Rick também falou que já estava vindo para cá.

Voltei então para o meu quarto, onde guardei as luvas na gaveta, e desci de novo para o térreo, onde continuei a forjar medo.

Tinha de parecer real para quando a polícia e Rick chegassem.

*********

Os médicos do hospital já haviam garantido à Eliza e Rick que nada de grave havia acontecido com Mandy. Ela só precisaria passar a noite lá em observação, e se não piorasse eles poderiam levá-la de volta para casa no domingo.

Eles já estavam relaxados, quando Esther ligou com aquela notícia terrível.

Rick prometeu à esposa que ia ligar para ela assim que pudesse, antes de sair do hospital às pressas. Eliza também queria voltar para casa e saber direito o que estava acontecendo, mas preferiu ficar no hospital com Mandy. Queria estar do lado da filha quando ela acordasse, visto que ela não abrira os olhos desde o acidente.

Ele voltou para casa o mais rápido que pode, e só não conseguiu chegar antes da polícia. Teve de estacionar na rua adjacente à dele, porque a em que ele morava estava bloqueada por viaturas.

Ao sair do carro, dois policiais vieram em sua direção e o cercaram.

— Quem é você?

— Richard Sullivan. Eu moro naquela casa. A minha filha Esther me ligou e contou o que aconteceu.

Os policiais assentiram.

— Ela é uma menina de sorte. – Um deles comentou.

Rick concordou. Por terrível que seja imaginar isso, poderia ter sido ela a morrer, não Ashley. Em seguida, os dois homens pediram para que ele os acompanhasse para dentro da casa.

Se tudo houvesse acontecido algumas horas antes, certamente todos os vizinhos estariam na rua, observando curiosos o decorrer dos fatos. Contudo, como era quase uma hora da manhã, só um ou outro estava assistindo pela janela. Possivelmente foram acordados pelo barulho das sirenes das viaturas, quando estas chegaram.

Rick descobriu sua casa lotada de policiais, alguns revistando o local, outros parados conversando entre si ou falando em walkie-talkies, e uma conversando com Esther, que estava sentada no sofá encarando o próprio colo. Leon também estava lá, sentado perto dela, respirando com dificuldade, muito assustado. Esther, que pelo que Rick entendera, havia presenciado o assassinato de Ashley, não parecia tão assustada quanto ele, que na hora estava dormindo.

Em uma semana, ela havia assistido a duas mortes, e reagira às ambas de maneira atípica. Será que, no passado, ela passara por algo que a deixara assim? Rick já tinha pensado nisso, quando Brian morreu. Ou a convicção dela de que a pessoa iria para o céu era tão grande que ela não se importava? Esta última era a opção que mais se encaixava na personalidade tão meiga de Esther.

— Eu não consegui ver o homem direito. Foi rápido, e estava escuro. Eu tinha ido ao banheiro, e quando voltei só o vi saindo correndo do meu quarto... – Ela ia contando à policial. Se interrompeu ao ver o pai, levantou e correu para abraçá-lo. – Papai! A Mandy está bem?

— Ela está muito bem, querida. Vai voltar para casa de tarde. – Ele respondeu. – Agora eu quero saber se você está bem.

— Estou assustada. – Esther confessou.

— Sr. Sullivan, você poderia responder a algumas perguntas? – Perguntou outra policial que se aproximou deles neste instante.

— Claro. – Rick acariciava a cabeça da menina, e queria ir ver se Leon estava bem também, mas podia fazer isso mais tarde. Ele se afastou de Esther e foi com a policial até outro canto da sala.

Ela queria informações sobre o que tudo que acontecera desde que Ashley chegara, às quatro da tarde, até o momento de seu assassinato. Rick contou o que sabia, apesar de mal ter parado em casa neste tempo. Ela também queria saber a quanto tempo ela trabalhava de babá para eles, e com qual frequência. Por fim, perguntou:

— Você ou sua esposa têm um inimigo, ou alguém que possa fazer algo contra sua família?

A pergunta foi um choque para ele. Parecia que Rick estava até então cegado, pensando no homem como um assassino aleatório, ou até como um ladrão que entrara sem contar que encontraria alguém na casa.

Ele deveria ter percebido antes. Devia ter pensado nele.

— Ah, meu Deus.

— Sr. Sullivan? Isso é um sim?

— É. – Rick admitiu, levando a mão à testa, preocupado. – Essa pessoa existe sim.

— Pode contar mais sobre ela?

Rick não sabia se podia. Agora estava alterado demais para contar qualquer coisa. Respirou fundo algumas vezes, olhou ao redor, e então desabafou:

— Um paciente meu morreu algumas semanas atrás. Era um garoto de sete anos. Foi um erro médico. O pai dele, John Murray, abriu um processo contra mim, e me lançou várias ameaças, até de morte. Mas não posso acreditar que ele realmente fez algo... – Ele não se acostumava com a ideia.

— Tudo bem. Já é um começo. – Ela disse, e então se afastou para falar com outro policial.

Leon aproveitou, levantou do sofá e foi até ele.

— Pai, eu preciso falar com você. – Ele falou baixinho, lançando olhares nervosos para Esther, que voltara a conversar com a policial de antes. – É sobre a Esther.

— Leon, não é uma boa hora para assuntos...

— Eu sei o que você vai falar. Mas tem a ver sim com o que está acontecendo.

— Então, diga.

— Eu acho que ela... – Ele parou de falar no meio da frase. Em parte, porque a menina se virou neste instante e o fuzilou com o olhar. E também porque ele dividira com Ashley suas desconfianças sobre Esther, e o que aconteceu? Ela morreu. Não podia deixar que algo acontecesse a seu pai também. – N-Nada.

Leon voltou a se sentar no lugar de antes, ignorando a expressão de dúvida do pai.

Em que tipo de encrenca a família dele havia se metido?


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!