Quando mais jovem, era comum Hugh entrar em discussões com Rosa por causa das suas diferenças de altura. Ele ficava muito irritado sempre que ela alcançava algo que ele não podia, como quando ele queria pegar algum livro na estante e precisava ficar nas pontas dos pés, enquanto ela podia fazer isso normalmente, ou quando eles subiam na árvore do quintal e ela conseguia alcançar os galhos mais altos, rápida como um Pansage.

Então, o pequeno Hugh sempre desejou poder crescer e se tornar mais alto que a amiga. E, dia após dia, ele tomava um copo de Moomoo Milk, com a máxima disciplina, como se aquilo fosse algum tipo de tônico que lhe concederia o poder para resolver seus problemas.

E, de fato, o dia em que ele conseguiu alcançar aquela estante chegou, e mais tempo se passou até ele superar sua amiga Rosa em altura.

–E sem contar com a altura do cabelo, viu? – ele se gabaria. Agora, o pequeno Hugh sorriria triunfante e provocaria sua amiga, assim como ela fizera quando era ele quem estava no “nível” mais baixo.

Mas o que o Hugh daquela época não imaginava é que, na mesma medida em que sua altura fosse aumentando, a garota teria obtido outras “vantagens” sobre ele. Assim como ele foi crescendo e ficando mais parecido com um homem, sua amiga também crescera e estava mais parecida com uma mulher. A primeira vez que ele teve esse pensamento o deixou bem desconcertado.

–Essa é a Rosa! A Rosa idiota que te apelidou de cabelo de Qwilfish, a mesma Rosa que colocou Spelon Berries no seu lanche e te fez cuspir fogo!– Ele repetiu mentalmente. Ela poderia estar num corpo crescido agora, mas definitivamente ainda era a garotinha de antes.

Ou ao menos foi isso foi o que ele tinha pensado antes de vê-la batalhando com o Team Plasma com a determinação de uma adulta, e, depois disso, na porta dos Pokéstar Studios, cercada por fãs que conquistou. E, com o passar do tempo, Rosa o provou muitas vezes que já era mais do que aquela garotinha que conheceu em sua infância em Aspertia City. E ele foi se convencendo, pouco a pouco, de que ela já não era mais tão criança assim. ...E nem ele era.

Hugh percebeu isso quando Rosa lhe disse que ele tinha se tornado mais forte e, que ela não sabia explicar, mas ele tinha se tornado mais solidário também. Na hora, ele não soube o que responder. Ele mesmo tinha começado a notar algumas mudanças quando tomou atitudes que não imaginava tomar, surpreendendo a si mesmo; mas, ouvir aquilo de Rosa realmente tinha um sabor especial. E ele sentiu que realmente estava crescendo, não só na altura.

Quando ela começou a treinar para a liga, os encontros entre eles se tornaram mais raros e ele não pôde evitar sentir sua falta e querer vê-la. Então, quando ele finalmente conseguiu encontrá-la de novo, sentiu uma intensa ansiedade e nostalgia. Isso foi algo que ele não entendeu muito bem no momento.

E essa sensação só piorou quando Rosa o abraçou, fazendo calafrios percorrerem seu corpo. Ele ficou tão nervoso e confuso com aquilo que acabou dando uma bronca na garota. Porém, quando ela reclamou que eles não se viam faz tempo e ela tinha ficado com saudades dele, então ela não podia evitar querer abraçá-lo, ele foi pego de surpresa, e ficou completamente desarmado.

Mais tarde naquele dia, depois de uma batalha, eles relaxavam sentados em um banco, enquanto Rosa falava sem parar sobre tudo que ela tinha feito nos últimos dias: sobre as pessoas com quem tinha batalhado, os pokémon que ela tinha encontrado e muitas outras coisas que escapavam aos ouvidos de Hugh. Ele não a escutava; sua mente completamente capturada pela bela visão de sua amiga despenteada pelo vento, com o pôr-do-sol ao fundo. O que antes lhe pareciam cabelos estranhamente arrumados em forma de donuts, agora lhe pareciam atraentes, emoldurando o rosto da menina. E, quem diria que um dia ele pensaria isso, mas aquele estilo tão único dela até que era ...meigo.

Naquele momento, ele sentiu uma estranha vontade de tocá-la e aproximou-se inconscientemente. A garota emudeceu, surpresa com o súbito encurtamento da distância entre eles. Felizmente, sua consciência não o traiu completamente e o chamou à realidade momentos antes de fazer algo de que pudesse se arrepender.

–Tem uma folha presa em um dos seus donuts... – ele disse, fingindo tirar algo do cabelo da menina.

E, logo em seguida, inventou uma desculpa para sair rapidamente da presença dela. Aquele comportamento estranho o deixou assustado consigo mesmo e ele precisava clarear sua mente. A garota, sem entender ao certo a situação, apenas o encarou partir e, inconscientemente, levou uma das mãos à região em que antes ele tinha lhe tocado.

Depois daquele dia, ele passou a ter sonhos com Rosa, e todos eles, de alguma forma, terminavam em alguma espécie de contato físico. O último, ainda bem vivo em sua memória, tinha terminado em um beijo...

Romance? Beijo? Quando mais novo ele simplesmente faria uma cara de nojo à simples menção dessas palavras. E ele passou a se perguntar quando foi que a garota passou a ter um significado diferente para ele. Sim, ela já não era mais apenas sua amiga de infância.

Ele fechou os olhos e pensou na amiga. Ultimamente nenhum detalhe passava despercebido por seus olhos. Seu cabelo suave como seda, seus cílios longos, a coloração rosada de suas bochechas, sua pele e ...seus lábios. Eles pareciam tão convidativos...

E ele se perguntava: quando foi que ver o sorriso dela passou a ser o objetivo de suas conversas? Quando foi que seus olhos começaram a parecer tão brilhantes? E... ela sempre tinha cheirado a rosas? Ele não sabia a resposta para nenhuma dessas perguntas.

O garoto suspirou fundo. Seus pensamentos sobre ela não lhe davam trégua e isso estava começando a preocupá-lo seriamente. Ele começou a cometer deslizes em batalhas e a gota d’água foi quando conseguiu a proeza de perder uma batalha para um Audino selvagem. Ele precisava tomar uma atitude! Não podia deixar aquilo afetar seu rendimento! Foi então, que ele resolveu pedir a opinião de um amigo.

–Então você fica facilmente perdido em pensamentos sobre ela e não consegue se livrar deles? – Nate tinha uma mão sob o queixo, analisando a situação.

Hugh acenou a cabeça afirmativamente. O outro garoto refletiu por um tempo.

–Hm... O caso parece sério mesmo... Visto que você está nesse estágio, – ele falava como se estivesse diagnosticando algum tipo de doença - só há uma solução!

Hugh olhou ansiosamente para ele.

–Qual é? Eu faço qualquer coisa para voltar ao normal! – ele estava visivelmente desesperado.

–Você só está estressado assim por guardar tudo para si. – Ele disse, relaxando a cabeça nos braços - Para acabar com isso, você tem que contar a ela como se sente. Só assim, você vai se livrar desse fardo. – ele encarou seriamente o amigo.

–V-você diz que eu tenho que me d-declarar? – Hugh começou a suar frio.

–Ah, cara, não é tão complicado assim. Você só tem que bolar um plano e seguir passo a passo. Nunca falha. – ele falava como se fosse experiente no assunto.

Hugh não pareceu se tranquilizar com aquilo; ainda pensava em como encaixar declaração e ele no mesmo contexto.

–Não fique tenso, eu vou te ajudar! – ele se aproximou e deu tapinhas amigáveis no ombro do outro - Comigo ajudando, não tem como dar errado! – ele piscou confiantemente para o amigo. - E o pior que pode acontecer é ela dizer não. Mas como vocês são amigos de infância, isso não deve ser grande problema. Você só vai ter que aprender a conviver com a Friendzone...

O jovem não tinha tanta certeza se seria capaz de realizar aquele feito, muito menos se poderia lidar bem com uma eterna frienzone, mas seria melhor tentar resolver do que continuar assim, como estava. Além disso, o seu amigo parecia confiante... E sempre dizem que quem não arrisca não petisca, não é? Ele torcia para que a resposta fosse sim.