Quero Ser Um Cavaleiro escrita por Maia Sorovar


Capítulo 4
Briga no refeitório


Notas iniciais do capítulo

Saint Seiya pertence a Masami Kurumada e Toei Company Animation - todos os direitos reservados.



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Enquanto Kiki ia buscar suas coisas na casa de Áries, Sara arrumou-se, amarrando uma faixa nos seios, mantendo o peito razoavelmente liso e uniforme às vistas alheias. Satisfeita com o resultado, pôs uma roupa de treino, amarrou os longos cabelos numa trança e procurou uma cozinha na residência. Depois de muita pesquisa finalmente achou algo que se assemelhava ao cômodo que procurava, tinha até uma geladeira. Um fogão a lenha, uma despensa de tamanho razoável e uma mesa modesta eram os outros móveis locais.

- Ah, finalmente, estou morrendo de fome! - E correu para a caixa gelada. Qual foi seu desapontamento ao constatar que nada havia ali dentro. Procurou então no armário e sobre o fogão e nada. Não havia comida na casa de Libra.

- ARGH! Que droga! O que vou fazer? - Dizendo isso se sentou à mesa e ficou matutando uma maneira de arrumar o que comer. Normalmente era seu irmão quem caçava ou matava animais, para ela sobrava preparar a refeição e cuidar da horta. Pensava se ali não haveria uma vendinha e então se lembrou do tal refeitório. Saiu correndo do templo e subiu a escadaria a sua frente. Quando passava pelo salão de Sagitário porém sentiu uma energia imensa lhe tirar o fôlego e desfaleceu no chão frio. Recuperou rapidamente os sentidos e levantou a cabeça, tendo como visão imediata a sola de um sapato. Esta veio em direção a seu rosto, esmagando-o com força contra o solo.

- AI, ISSO DÓI! - Reclamou tentando se levantar e se livrar da agressão.

- Eu sei, é para doer mesmo. Como ousa adentrar o reduto de meu mestre? - Ela reconheceu a voz gélida e autoritária do aprendiz da casa.

- Eu só quero ir ao refeitório! Por acaso isso é proibido? - Retorquiu com sarcasmo; a pressão do pé aumentou.

- Rickertt, já chega! - De súbito o sapato foi retirado de sua face e ela viu Aioros se aproximando e lhe estendendo a mão. - Você está bem?

- No cômbito geral, sim... - Disse enquanto massageava a bochecha suja e com uma mancha roxa. - Desculpe o atrevimento, eu não conhecia outro caminho parar ir a esse refeitório.

- Está desculpado. E peça perdão também, Rickertt.

- Perdão. - Ele falou mecanicamente, sem emoção. Parecia realmente um soldado. Aioros suspirou.

- Agora leve o jovem Daniel até onde ele possa se alimentar e mostre-lhe o caminho secreto que ensinei ontem.

- Senhor, sim senhor! - Bateu continência, virou-se e seguiu marchando pela casa. Sara sorriu agradecida ao mestre de Sagitário e seguiu o colega. Este saiu da morada e seguiu por um caminho estreito e tortuoso, que terminava num grande galpão.

- É aqui? - Ela perguntou; ele assentiu com a cabeça e partiu, sem ao menos se despedir. - Ah, tchau para você também, Rickertt querido!

O rapaz parou de súbito e a mirou com os olhos faiscando, fazendo um esforço tremendo para se segurar. A menina sorriu e ainda lhe mandou um beijo, entrando correndo pelo galpão.

Encontrou a sua frente um enorme espaço, com seis mesas compridas dispostas em fileiras, onde diversos homens comiam e conversavam animadamente. Sara foi andando tranqüila pelo local, parecia que ninguém a notava, e chegou sem surpresas ao balcão onde estavam os alimentos. Pegou um prato e andou pela fila, três homens mal encarados serviam a todos. O primeiro deu-lhe uma romã um pouco passada, o segundo um pão seco e duro, sem recheios, e por fim, o último despejou no prato uma generosa quantidade de algo semelhante a um mingau de aveia. A garota olhou toda aquela comida de aspecto nada apetitoso mas estava com tanta fome que antes mesmo de  chegar a uma mesa já tinha devorado o pão e atacava a romã. Sentou-se tomou calmamente o mingau insosso, sem notar os olhares que traía para perto de si. Os homens do local tinham parado de comer e a observavam com curiosidade, cochichando uns com os outros. Quem seria? Era novato? E por que mais aprecia uma menina que um garoto?

Sara terminou calmamente sua refeição mas como ainda sentia um certo vazio interior tornou a  entrar na fila e servir-se novamente. Já ia sentar-se quando uma muralha de músculos impediu-lhe a passagem.

- Olá, jovem Daniel, pelo que vejo está faminto? - Aldebaran gargalhou com gosto e aproveitou a surpresa do rapaz para bagunçar-lhe os cabelos.

- É, um pouco... Meu mestre não deixou comida em casa.

- Ah, coisas do Dohko. Mas logo, logo, ele vai estar aí pra matar essa fome de leão! Sente-se aqui comigo!

A menina sorriu e sentou-se em frente ao grande cavaleiro. Este por sinal comia uma porção cinco vezes maior do que a que tinha no prato.

- Hum, mestre de Touro... - Ela começou mas foi interrompida.

- Não, fora dos treinos é só Aldebaran está bem? Ou Deba, como preferir. Somos compatriotas sabia? Devemos nos ajudar!

- Não! - A morena ficou surpresa. Mas era bom saber que uma pessoa de sua terra estava ali para apóiá-la sempre que precisasse. - Bom, Deba... Como fazem para se sustentar aqui?

- A senhorita Saori disponibiliza tudo o que precisamos. Também ganhamos um pequeno salário para supérfluos. - Respondeu com a boca cheia, fazendo a garota rir.

- Ah tá.  Aqui por perto tem alguma cidade?

- Tem um vilarejo nas redondezas. Podemos ir para lá sempre que quisermos mas nunca deixar as casas sagradas desprotegidas. Por hora, como não conhece o caminho, eu aconselho a não se aventurar por lá.

Ela assentiu com a cabeça e voltou sua atenção à pobre refeição; entretanto um perfume adocicado preencheu-lhe as narinas. Procurou de onde vinha e viu olhos azuis muito límpidos ao lado de Aldebaran, observando-a. Encantada, nem notou quando o dono lhe estendeu a mão.

- Bom diz, aprendiz de Libra. - Cumprimentava Afrodite. - Ainda está dormindo? - Rindo de leve.

- Ah, bem, não! - Exclamou Sara, sobressaltada, saindo de seus devaneios e apertando com força a mão do cavaleiro.

- Bom aperto! Tomara que seja tão forte quanto aparenta.

- Eu? - Ela se surpreendeu. - Ah, sim, sou forte sim! - Ela tentou consertar a mancada. Na verdade a brasileira só tinha alguma força graças ao trabalho na lavoura de casa. Por mais que tentasse convencer a mãe de que era capaz, as tarefas mais pesadas sempre ficavam a cargo do irmão. Suspirou de tristeza com a lembrança, fato que não passou despercebido ao belo cavaleiro.

- Algo o preocupa?

- Não, foi só uma coisa ruim que lembrei.

- Coisa ruim? Você não sabe o que é isso! Imagine então ter que treinar com algo que odeia? - Uma voz irritada postou-se ao seu lado, sentando-se. A garota levantou a vista e observou um Floriano extremamente emburrado devorar sua refeição.

- Ainda reclamando? Caro aluno, não se esqueça que terá que aprender as minhas técnicas para possuir a Armadura de Peixes. Só depois estará autorizado a criar suas próprias técnicas. - Respondeu pacientemente Afrodite.

- Mas mestre, eu não suporto flores!

Aldebaran encarou o jovem surpreso e não conseguiu suprimir o riso. Isso só serviu para irritar Gustav, que se levantou e saiu do refeitório sem nem se despedir.

- Acho que vou falar com ele. - Disse Deba, indo atrás do colega. Floriano deixou o ar escapar dos pulmões pesadamente.

- Afinal, o que aconteceu aqui? - Perguntou Shan, que chegava.

- Sabe que ele usa para lutar? ROSAS! Todos os golpes do meu tutor são baseados em rosas! E eu odeio flores. - Tornou a repetir o aprendiz de Peixes.

- Não deveria, já que tem um nome com esse significado e ainda por cima parece com uma. - Ouviram uma voz gentil atrás deles e se voltaram, encontrando mais três aprendizes. - Estou errado? - Questionou Damien, sorrindo.

- Não, quanto a parte do nome! - Retorquiu Ugo, aparentemente irritado com o comentário traiçoeiro.

- Ora, vai me dizer que esse belo rosto sem cicatrizes não deva ser comparado a uma pétala? - Dizendo isso se aproximou e alisou com as costas dos dedos a face de Floriano, que ficou rubro de cólera. Fato que só serviu para alargar o sorriso do francês e fazer o grego que o acompanhava rir.

- Damien, pare com isso, não vê que nossa flor está ficando envergonhada? - Provocava Adonis.

- EU VOU MATAR VOCÊS! - Num pulo o aprendiz de cabelos azuis estava com as mãos grudadas no pescoço do colega de Câncer e apertava sua garganta sem parar.

- FLORIANO, NÃO! - Com isso, Sara pulou nas costas do aprendiz e tentava a todo custo o fazer desistir da tentativa de assassinato. - AJUDEM AQUI!

O pisciano atirou-a no chão sacudindo violentamente o dorso mas sem largar sua presa. Shan tentou soltar o colega e recebeu um chute na barriga de volta. Os belos olhos violeta ficavam cada vez mais injetados de sangue quando de repente seu dono sentiu um dor lancinante na face e o sangue espirrar pelo nariz. Largou no ato o francês e olhou em volta, sentindo um gosto de ferro na boca.

- Quer brigar, florzinha? Então vamos ver quem agüenta mais! - E Adonis partiu para um novo soco que foi rapidamente desviado pelo adversário. Logo estavam trocando uma seqüência de murros e chutes, com alguns erros e acertos, ambos tornando-se cada vez mais machucados.

- O que está acontecendo agora? - Sara ouviu o sotaque espanhol de Basílio e viu-o entrando com os aprendizes que faltavam.

- Aqueles dois se amam, não pude evitar uma discussão entre o casal. - Respondeu Damien com sarcasmo.

- Ora, a culpa foi sua! Provocou o cara e agora tem outro lá te defendendo! - Disse Ugo avançando ferozmente para o colega. Mas foi detido por Alexius.

- Opa, mais briga! Essa eu quero ver! - Exclamava Adoh, que só faltava dar pulinhos de felicidade.

- Senhores, senhores, por favor contenham-se. Não devemos nos sujeitar a tais atos de selvageria. - Ponderava Francis, tentando evitar um novo confronto.

- Ah, fica na tua almofadinha! - Falou o ruivo. O que este não esperava era o soco em seu estômago.

- Quer ver confusão? Vamos nessa! - E o inglês atirou-se contra o irlandês sem dó nem piedade, dando-lhe os golpes mais baixos possíveis. Foi a deixa para Alexius soltar Ugo e apartar mais essa briga; porém, ao se ver livre, o italiano não deixou por menos e atracou-se com o francês. Nesta dupla era Yuji quem tentava separá-los. Basílio, Shan e Enos a tudo assistiam, o primeiro entediado, o segundo assombrado e o terceiro avaliando a capacidade de seus colegas.

Horrorizada com a cena diante de seus olhos, todos os colegas tentando se matar simultaneamente, Sara novamente se levantou e ia fazer uma outra tentativa de acabar com aquilo quando dois braços fortes a enlaçaram pela cintura e começaram a esmagá-la sem dó.

- Me solte! Estou sem ar! - Ela se sacudia sem parar e olhou para trás, dando de cara com olhos acinzentados e cruéis. Rickertt apertava-a e ria de sua tentativa frustrada de se livrar.

- Você ouviu que os fracos não duram aqui! E agora vai me pagar por aquilo!

Sem nem pensar no que fazia, já quase sem forças, a morena deu uma cotovelada no rosto do colega, acertando-lhe o nariz. Com a dor, os braços de aço a largaram de volta ao solo e ela pôde correr até o balcão de comida. Antes que um dos cozinheiros pudesse impedi-la, a brasileira agarrou a panela de mingau e jogou-o no chão com toda a força que tinha, na direção das brigas. O líquido viscoso e escorregadio logo se esparramou pelo salão e os homens que lá estavam começaram a perder o equilíbrio e cair como sacos de batata. O mesmo aconteceu com Rickertt que tornara a persegui-la. Este porém não se deu por vencido e mesmo patinando ia a seu encontro. Sara não teve dúvidas e atirou nele todas as romãs que havia no balcão, até algumas podres. O garoto tentava em vão se defender e um cheiro putrefato logo encheu o ar.

- Isso é para você aprender a não atacar alguém pelas costas! - Disse a garota passando a jogar os pães velhos.

Subitamente um silêncio tomou conta do ambiente. O único som ouvido era o barulho das bisnagas acertando o aprendiz. Sentindo que algo estava errado, todos pararam o que faziam e seguiram os olhares dos presentes.

- MAS O QUE SIGNIFICA ISSO? - A voz poderosa do Grande Mestre ressoou pelo salão. Todos os aprendizes olharam-se assustados, pensando freneticamente numa maneira de sair correndo dali. - Pelo visto acho que os autores desta baderna já se acusaram! - Afirmou Shion, olhando com dureza para todos. - Quero todos no 13º templo. E RÁPIDO! - Virou-se e saiu.

 


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