Ao chegar ao templo de Libra, Sara correu por toda a residência procurando um lugar para esconder, acabando por se enfiar no primeiro quarto que encontrou. Desabou na cama, sentindo muita vontade de chorar mas se controlando. Estava exausta. Acabou adormecendo com a mesma roupa com que chegara.

Acordou no dia seguinte com a aurora, sentindo todos os músculos entorpecidos e o estômago roncar. Não comia há várias e várias horas e estava faminta. Mas primeiro devia colocar-se apresentável. Andando pelos corredores descobriu um banheiro e tomou um banho. Sentia-se revigorada embaixo d’água, adorava nadar, nem ligava se a temperatura do líquido estava gélida, na Grécia era melhor assim. Afinal, ali conseguia ser mais quente que sua terra natal. Ao terminar, enxugou bem os longos cabelos e enrolou-se na toalha, indo para o quarto colocar uma roupa. Mal chegou lá, contudo:

- Oi, eu sou o Kiki! - Um garotinho de cabelos ruivos, olhos violetas e pintas da mesma iguais as de Mu na testa olhava-a sentado na cama, sorrindo.

- AAAAAAHHHHHHH! - Ela deu um grito de susto e deixou a toalha cair no chão sem querer. O menino arregalou os olhos, estupefato.

- EI! Você é uma garota! UMA GAROTA! - Gritava ele tão aterrado quanto ela.

Vendo que nada a cobria, Sara pulou para a cama e se escondeu embaixo do lençol.

- Quem é você? O que faz aqui? E o que quer de mim? - Ela tremia e o olhava assustada.

- Eu já disse que sou o Kiki! E o que VOCÊ faz aqui? Onde está o Daniel? O aprendiz de Libra?

- Eu sou o aprendiz de Libra... - Ela respondeu com a voz vacilante.

- Mas não pode! Uma garota não pode ser um cavaleiro.

- E por que não? - Disse a brasileira sentando-se e desafiando-o com o olhar, sem perceber os seios desnudos. O ruivo corou no ato e desviou a vista.

- Porque... Porque não pode. Nunca pôde ué?

- Isso é injusto não é?

- I-isso... É, pode ser... - Ainda com vergonha da moça.

- Olha, vou me trocar e aí conversamos direto tá? - Ela se levantou e colocou rapidamente uma roupa. Virou-se para Kiki e notou que ele permanecia sentado no colchão com os olhos pregados na janela.

- Pode virar. - Ele o fez devagar e suspirou de alívio.

- Mestre Mu me mataria se soubesse que espiei uma garota sem roupa.

- NÃO! Mestre Mu não pode saber que sou mulher! - A morena agarrou-o pelos braços e olhou-o suplicante. - Por favor...

- Ai, isso machuca! - Ela afrouxou a pressão. - E por que então está aqui? E cadê o Daniel?

- Ele é meu irmão. Não podia vir em treinamento porque estava muito doente. O cavaleiro que foi nos avisar da convocação dele disse que se o Dan não viesse minha família seria desonrada e nosso vilarejo seria jogado às traças. Por isso eu vim em seu lugar!

 - E qual seu nome?

- Sara.

 - Sabe que está numa encrenca danada? Se eles descobrirem...

- Mas não vão descobrir. Por favor, não conte a eles! - Ela se ajoelhou e implorou ao menino. - Por favor...

- Não vou contar, eu prometo. - Disse ele apiedando-se da garota. Ela tinha olhos negros e profundos, tão límpidos que ele sentia toda a bondade do mundo se esconder ali. - Mas com uma condição.

- Qual?

- Posso morar aqui com você? Desde que o novo aluno do Mestre Mu chegou, perdi meu quarto, meu mestre acha que eu devia morar sozinho já... - Disse ele com tristeza.

- Ah, claro que pode! Foi por isso que veio aqui?

- Sim, eu ouvi do Seiya que a casa de Libra só tinha uma pessoa morando, aí vim ver se o aprendiz daqui podia me hospedar.

 - Tá, trato feito! Aí você me ajuda a me livrar dos curiosos.