Nada mais do que eu quisesse poderia ser melhor do que ter o Takahashi-san comigo. Eu o amava tanto que desde aquele dia no chão do meu apartamento, as nossas vidas mudaram completamente. Yuuta e eu tínhamos um relacionamento secreto.

Nana parecia mais irritada a cada dia que passava ao saber da minha nova condição “social”. Realmente, era deplorável, mas as tardes que passávamos juntos, nas fugas na hora do almoço, eram incríveis… Valia a pena toda aquela humilhação. O amor tinha disso, não tinha?

– Nanami, posso falar com você um minuto? – tentei me reconciliar com ela, mas às vezes eu sentia como se fosse algo inútil reestabelecer nossa amizade.

– Estou terminando esse relatório, você pode esperar até a hora do almoço? Estarei livre até lá.

Por que ela fazia aquilo se sabia que à hora do almoço eu estaria com o Takahashi? Eu sabia que ela gostava muito de mim, que fazia aquilo para tentar me persuadir de que o caminho que eu agora seguia não era saudável. Mas eu estava tão feliz! Nana, eu só queria que você compartilhasse da minha felicidade… ao menos um pouco.

Mas eu não era um homem destinado a ter finais felizes por muito tempo. Nem amizades duradouras, eu poderia viver bem de agora em diante, mesmo se a Nanami não quiser mais falar comigo. Pensei nisso e saí. Estava transtornado. Na sala do café, fiquei imaginando o que eu faria se perdesse de vez o Takahashi, mas me senti ainda pior ao pensar na sua esposa. Ela existia mesmo? Eles teriam, de fato, um casamento instável?

Por que aquelas dúvidas começaram a me torturar tão de repente? O café esfriava enquanto eu me fechava mais e mais em meus pensamentos. Nanami se aproximava de mim enquanto eu nem percebia sua presença sorrateira ao meu lado:

– Você parece preocupado. Era sobre isso que você queria conversar comigo?

– Claro que não! Por que eu iria querer conversar sobre essas coisas com você? – não havia necessidade para tratá-la daquele jeito, então por que eu andava tão tenso naquele dia?

– Entendo. Vou terminar o meu relatório agora, ah, onegai, cuide bem de você mesmo de agora em diante, ok? Kotobuki pelo seu relacionamento dos sonhos. Ja ne.

Não me senti totalmente abalado naquele momento, eu saberia superar aquilo. Era o que eu, ingenuamente, pensava naquela época. Eu não imaginava que me sentiria tão sozinho a partir daquela noite.

Assim que Nanami saíra, Takahashi aparecera na sala do café. Senti-me louco de vontade de agarrá-lo, mas me contive. Teríamos que fingir mais uma vez. Era algo tão bizarro fingir não conhecer alguém com quem você trocara carícias intensas e juras de amor. Meu café estava frio. Resolvi sair dali antes que não pudesse mais me controlar… Mas antes que eu pudesse sair, Takahashi segurou meu braço… Hesitei por um instante, estávamos no trabalho, ele não era do tipo que se arriscaria à toa. Meu coração começou a acelerar, inseguro… O que era aquilo tudo?

– Hideki… saia comigo agora.

Mas antes que eu pudesse responder qualquer coisa, ouvia-se um grande barulho vindo de fora… “Onegai, senhora, você não pode entrar assim”… Gritos e cadeiras sendo arrastadas… A porta da sala de café abrira-se de repente, podia-se perceber a fúria com a qual fora aberta… Uma mulher, aparentemente irritada, gritava e gritava sem parar:

– Você acha que pode simplesmente me abandonar grávida, Yuuta?!!

– Motosuwa-san, pode nos deixar a sós, por favor? – Takahashi sequer me olhara nos olhos naquele momento. Aquilo não me dizia respeito diretamente… mas por quê? Como o Takahashi poderia abandonar a sua esposa grávida assim? Como eu poderia continuar com aquilo tudo sabendo disso?

Corri para falar com Nanami, mas ela já havia saído para o almoço. Meu coração desesperado precisava urgentemente do conforto dela. Por que, Nanami? Por que você estava me abandonando numa hora tão difícil?

Peguei minhas coisas e saí. Não voltaria mais para o trabalho naquele dia. Mesmo que isso me custasse uma advertência, ou até minha demissão, eu não poderia encarar o Takahashi-san naquele dia. Não poderia encarar a Nanami… Não poderia me encarar. O que eu estava fazendo da minha vida? Foram bons momentos os que eu vivi com ele, mas agora… agora era hora de recolher o cacos do chão. Minha vida não passava de uma completa mentira…

A voz do Takahashi ecoava na minha cabeça: “eu não amo mais aquela mulher, Hideki… eu não tenho mais relações sexuais com ela desde que te conheci.” Estávamos naquela vida há pelo menos três meses… Como você era mentiroso, Takahashi-san… Você sempre será um desconhecido para mim? Eu que tentei o meu máximo para ser verdadeiro com você, eu que tentei ao máximo te dar todo meu amor… eu que agora caía em mim e percebia o quanto eu era um estúpido.

Eu sempre me perguntava como essas garotas tolas se deixavam enganar por homens casados, e agora o que eu era se não mais uma dessas garotas tolas que eu sempre desprezei na minha vida?