Sarah escrita por AnaCarol


Capítulo 19
Devolução




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  -Você pode até faltar, mas não prometo nenhuma grana enquanto isso. – Wereo me informa.

  Eu sorrio e pisco algumas vezes em sua direção, olhando dele para o pote de sopa repetidamente.

  -Só que a danada sabe que ganha sopa quando me ajuda! – Ele diz, jogando as mãos para cima e deixando que eu me sirva de mais uma colher da água com batatas que nós gostamos de chamar de sopa.

  Eu solto uma risadinha.

  -Não acredito que está toda melosa para cima de uma menininha. – O velho persiste. - Achei que você fosse forte!

  -Não estou indo vê-la, estou indo devolver a mulher! – Eu me defendo. - Já te contei a história!

  -Não me subestime, garota! – Ele replica. – Nós dois sabemos que você vai acabar encontrando essa garotinha de novo... Então ela vai piscar pra você do jeito que você pisca pra mim, e lá se foi a Sarah, sendo a mamãe dela.

  -Caramba, quando você ficou tão chato? – Eu reclamo. – Mesmo com todo esse seu tempo de vida você não teve nenhum filho?

  Ele se engraça com meu deboche.

  -Só se forem filhos de vadias.

  Abro a boca, horrorizada. Não é raro se trombar com uma prostituta a vaguear pelas noites na periferia, portanto já estou acostumada, mas de qualquer jeito não é nada agradável ver uma mulher parindo no meio da rua. Ainda mais quando você a viu acompanhada, nove meses atrás.

  -Wereo! – Eu exclamo, afinal.

  Ele remexe os ombros e sorri, o que me faz revirar os olhos...

  Horas depois eu volto para casa, no escuro da noite abafada pelos gritos do ringue, e carrego com muita dificuldade o corpo da mulher – que minha mãe desacordou novamente – até os fundos da escola.

  Estranho como já fui até o final do Distrito, mas nunca estive nos fundos da minha própria escola. Mas bem, eu não gosto muito daqui mesmo...

  Várias caixas de madeira se empilham perto da parede, algumas mais velhas formando musgo sobre elas. A luz branca da lua chega mal às costas da construção, onde a tinta é mal acabada e descasca. Grama cresce no chão, mas morre também lá.

  Deixo-me cair no chão e respiro ofegante. A mulher, apesar de não ser muito grande, é muito pesada.

  Não sei por quanto tempo descanso sobre a terra, mas posso perceber que minha mãe fez um bom trabalho mantendo-a desmaiada. Torço para que não a tenha matado.

  Reconheço que passei muito tempo fazendo nada, então me ponho a andar apressada.

  Puxo-a pelas pernas até o passo número quarenta, onde hesitante carrego-a no colo para fazer menos barulho. Mesmo assim, me surpreendo com o que encontro no passo cinquenta: uma construção antiga e bege com uma placa suja.

  “Orfanato Oficial do Décimo Distrito de Panem”.


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