Sarah escrita por AnaCarol


Capítulo 16
Despedida "amigável"


Notas iniciais do capítulo

"You went back to what you knew / So far removed from all that we went through" (Back to Black - Amy Winehouse)



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  Acordo sentido as pálpebras pesadas e o calor dos raios de Sol entrando pela minha janela. Algum pássaro perdido canta sobre os telhados, e quando eu finalmente me levanto – com os joelhos reclamando da luta da tarde anterior – posso ver um céu sem nuvens de chuva.

  Mas apesar da aparência pacífica da manhã, só são precisos cinco segundos para eu me agitar e bagunçar tudo de novo. Estou atrasada para a aula! E muito! Olho para a Igreja a alguns quarteirões; há homens escalando até seu sino, e é possível decifrar que eles tentam concertar algo de errado com ele. Praguejo. Sem o sino, eu perco a noção do tempo.

  Troco de roupas de qualquer jeito, partindo rapidamente para a bacia de água no banheiro e lavando o rosto. Em meu caminho para fora de casa, agarro minha sacola de materiais e logo já estou na rua, com o rosto ainda molhado por não ter tempo para secá-lo.

  Mas é tarde demais, pois quando chego à entrada da escola, todos já estão saindo. Mordo os lábios, frustrada, enquanto largo meu corpo em um banco aos arredores... Não demora muito tempo para que eu veja sua silhueta deixando o colégio.

  -Preciso falar com você. – Eu intercepto seu caminho, forçando-o a falar comigo.

  -Por quê? – Ele retruca claramente bravo. – Não conseguiu falar com Alex?

  Robb praticamente cospe o nome de Alex, e sua atitude me deixa irritada.

  -Que piada legal, a sua. – Eu comento sarcástica.

  -O que você quer? – Ele revira os olhos como os meninos populares metidos, o que me deixa ainda mais raivosa. Eu bufo.

  -Desculpas. – Admito, apesar de quase me arrepender graças ao seu tom de voz. – Foi injusto eu ter brigado com você ontem. Você estava certo.

  Um meio sorriso surge em seus lábios. Mas sei que ele não está feliz, e nem eu desculpada.

  -É um começo. – Ele diz, dando de ombros. – Mas ainda não é o melhor pedido de desculpas que eu já ouvi.

  Eu cerro os dentes, me perguntando como alguém pode se tornar tão mesquinho de um dia para o outro. Levanto uma sobrancelha, como se o desafiasse e exigir que eu implorasse por desculpas. Isso o faz rir.

  -Não se preocupe, eu não quero que você se ajoelhe. – Ele continua de um jeito mais liberal, e eu arrisco um sorriso. Porém ele não dura muito, por que Robb completa: - Eu só quero que você me conte o que está acontecendo.

  Até mesmo um cego poderia perceber minha mudança de humor. E já que Robb tem a visão em bom estado, ele bufa, e sua postura se reprime um pouco.

  -O que foi? – Ele replica.

  Eu solto um suspiro.

  -Eu não posso contar...

  -Por que não?! – Ele volta a elevar a voz. – Me diz, Sarah, por que diabos não?

  -Eu prometi a alguém que não ia fazê-lo.

  Ele leva as mãos ao rosto, visivelmente frustrado.

  -Sarah. – Ele diz, forçando uma calmaria em sua voz. – Você chega atrasada às aulas quase todos os dias. Com machucados diversos, um diferente do outro, mas um novo todos os dias. Você sai correndo da escola quando acabam as aulas, e ninguém te vê o resto do dia inteiro. Mas mesmo assim, não faz a lição de casa, nem estuda para as provas.

  -Eu sei, eu sei! – Eu digo, sentindo o desespero crescer em meu peito. – Mas não é por querer, tá legal? Eu tenho chegado atrasada porque o sino da igreja está com algum problema, e ele é meu único relógio.

  -Ele só deu problema hoje! – Robb argumenta. – Para de mentir pra mim!

  -Eu não posso! – Exclamo, pensando nas inúmeras vezes em que Wereo reforçou o fato de que “se meu namoradinho pisasse um só pé no ringue dele, eu sairia pra sempre”. E não posso deixar o ringue; é a única forma no distrito de ganhar dinheiro ilegal que não é punida com pena de morte. Contenho uma lágrima ao morder o interior de minha bochecha. – Não dá...

  Com isso, Robb reprime os lábios e engole em seco. Respira fundo, antes de proclamar:

  -Está bem... Eu tenho que ir.

  -Certo. – Eu digo, procurando por minha dignidade ao aprumar o corpo.

  -Tenho que encontrar Becky daqui a pouco. – Ele me conta, e eu sinto como se levasse uma bofetada na cara; Becky Vennon, de todas as meninas horríveis da escola, é a que eu mais odeio. Eu nunca digo isso em voz alta, mas meus olhos se reviram e tenho vontade de vomitar a cada vez que ouço seu nome. Mas não desta vez: não vou deixar Robb ter a satisfação de me magoar.

  -Faça o que quiser. – Eu sibilo, sem me mover.

  Nessa hora, Becky passa por nós, observando a cena como uma ameaça e chacoalhando seus grandes seios para chamar atenção (Becky Vennon mais para Becky Veneno). Assim que a visão de Robb a alcança, ele acena para ela. Virando-se de volta para mim – como se me dando uma última chance, ele diz:

  -Tchau, Sarah. – Percebo certo pesar em sua voz, mas acredito que é apenas minha mente tentando aliviar a situação.

  -Robb! – Num desespero, eu agarro seu pulso enquanto ele se vira. Seus olhos castanhos encontram os meus, refletindo em surpresa. Mas isso logo some, junto com meu suspiro. – Eu realmente não posso te contar. Mas por favor...

  A última palavra fica entalada em minha garganta: Fique.

  -Farei o que eu quiser. – Ele diz, zombando de minha frase anterior. Faço questão de cravar minha unha em seu pulso, enquanto busco por uma resposta. A melhor que me vem à mente é:

  -Neste caso, não faria mal nenhum se você fosse para o inferno! – Eu replico, imitando sua frase anterior e jogando seu pulso com força para longe de mim.

  Viro as costas para ele e para o colégio inteiro, e dou passadas largas e barulhentas. Meus punhos estão cerrados, e tenho que lutar contra todos os meus instintos de soca-lo quando ele grita, atrás de mim:

  -Pelo contrário, estou indo para o céu! Que é bem longe de você!

  Deixo uma lágrima pular de meu olho e trilhar seu caminho até meu queixo, enquanto começo a mover as pernas mais rapidamente para longe dele, e juro para mim mesma que aquelas seriam as últimas palavras que ouviria de Robb Huns.


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