O Coração De Eçabará escrita por Will Matos


Capítulo 2
Segunda Parte




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Passou-se um tempo, e ninguém na tribo tinha coragem suficiente para pegar o coração com a deusa Yara. Eçabará foi envelhecendo, à ponto de não mais sair de sua choupana. Por alguns anos, fingiram que haviam esquecido, e nos anos seguintes trataram de esquecê-lo de verdade.

Nesse meio tempo, alguns morreram e outros vieram ao mundo; e entre os últimos, uma pequena curumim despertava o medo e ao mesmo tempo o carinho dos índios da tribo. Era Moema, menina curiosa, cheia de perguntas e brincadeiras; porém, com um problema – Moema era cega. No começo, isso aguçava o temor da tribo, levando à crer que se trava de alguma maldição; porém o bom pajé deixou bem claro que era apenas um espírito que veio ao mundo para sorrir, não para ver.

Moema podia caminhar sozinha pela aldeia, contanto que sua mãe, a velha Cunhaporã, estivesse por perto. Certa vez, Cunhaporã se distraiu, permitindo que Moema entrasse sem querer na velha choupana assombrada. A choupana de Eçabará. Ao entrar, Moema perguntou por alguém, mas não ouviu resposta. Sentiu um calafrio forte, mas era destemida. Ouvia uma respiração ofegante, triste. E apalpando o entorno, sentiu um corpo rijo feito pedra, porém velho. Era magro e áspero. Eçabará estava vivo, esquecido por todos. Ao colocar as mãos por sobre o peito do velho índio, Moema percebeu que não havia coração ali dentro. Cunhaporã, ao sair de sua distração, gritou desesperada por Moema, e ela, sem querer assustar a mãe, saiu às pressas da choupana.

Antes de se deitar, Cunhaporã contou com remorso a história de Eçabará, e Moema não conseguiu dormir, pensando na dor de não se ter um coração.

Corajosa como era, Moema decidiu pedir o coração à Yara. Por mais que fosse cega, bastava ouvir o murmurinho das águas para que conseguisse encontrar o rio; e assim fez.

  - O que quer numa madrugada fria como essa? - Perguntou a deusa, com olhar materno.

 - Eu vim pegar o coração do índio Eçabará.

A menina era corajosa, Yara percebia isso em sua presença, ganhando em determinação o que lhe faltava nos olhos. A deusa também sabia que uma criança era amor puro, e que a jóia não iria evaporar em suas mãos. Sendo assim, foi até a margem e entregou o colar nas mãos da menina. Ordenou também à um grande jacaré que a protegesse na volta pra aldeia, e assim foi feito.

Assim que chegou, Moema encontrou a velha choupana e, lá, com todo carinho e alegria que lhe eram característicos, colocou o colar no velho Eçabará. Este, ao ter o coração de volta, sentiu um fogo lhe preenchendo por dentro. Chorou e rio como nunca! Em agradecimento à Moema, tirou seus olhos e entregou a menina. Sendo guiado por ela, o velho e alegre Eçabará abraçou e pediu desculpas ao Pajé, seus amigos, e finalmente à Cunhaporã.

- Ame essa sua filha com um amor grande feito uma montanha. O coração dela é uma pedrinha dessas de beira-rio, mas cabe todo o mundo nessa pedrinha.

Enfim, Eçabará pôde morrer em paz.


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Notas finais do capítulo

Obrigado pela leitura!



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