Missão A Dois escrita por Sarah Colins


Capítulo 21
Capítulo 20 - Inferno


Notas iniciais do capítulo

Olá amigos, tudo bem?! ^^
Espero que tenham visto meu aviso no facebook falando que semana passada não pude postar capítulo novo :/ Peço desculpas de novo, não tive tempo mesmo de escrever.
Mas agora já estou de volta com capítulo fresquinho pra vocês, terminei de escrever ele hoje mesmo :D
Espero que gostem ;)



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Eu achava que já sabia o que era o inferno. Afinal já havia estado no lugar mais sombrio e profundo dele anos atrás. Mas comparado àquelas últimas semanas de minha vida, o tártaro já não parecia tão ruim assim. Eu já não sabia mais o que era ter um relacionamento. O que Percy e eu fazíamos basicamente, era dividir a mesma cama a noite. Enquanto eu ainda estava com o curativo na cabeça, ele ainda se mostrou prestativo e atencioso comigo. Mas assim que eu me recuperei totalmente da ferida, ele passou a me ignorar completamente. E dessa vez não era só porque ele não tinha tempo. Eu percebia claramente, que ele estava me evitando de propósito.

Não era só paranoia da minha cabeça. Percy realmente estava chegando em casa bem mais tarde do que de costume e saindo bem mais cedo. Devia estar sendo realmente difícil para ele me encarar. Não sei como ele conseguia manter essa rotina. Eu simplesmente desisti de tentar espera-lo acordada depois de alguns dias, quando ficou óbvio que ele não queria isso. Eu não o via mais durante a semana. Só sabia que havia voltado para casa por causa de seu lado da cama desarrumado. Não nos falávamos mais pelo telefone nem mandávamos mais mensagem de texto durante o dia. Eu só queria saber como ele estava e nem isso eu podia.

Nos fins de semana, havia sempre uma desculpa para Percy ficar o mais longe possível de mim. Ele saía para comprar alguma coisa, ou então dizia que ia ver um amigo. Nas vezes que eu tentei tocar no assunto “Nathan” não tive nenhum sucesso. Ele desconversava, evitando discutir o assunto. Eu já não sabia mais o que fazer. Ter que ir até a agência de modelos e encarar as câmeras tornava tudo pior. Nem o fato de eu ter sido chamada para participar da campanha de duas grandes marcas de roupas havia conseguido me animar. E eu seguia perguntando constantemente quando minhas fotos seriam publicadas, para que eu pudesse impedir Percy de vê-las. Até o momento, ninguém havia me confirmado quando os ensaios sairiam nas revistas e outdoors por ai.

Como sempre, meu único momento de paz eram as horas que eu passava na faculdade. Poder estudar arquitetura e estar com meus amigos mortais era a melhor forma de me desligar dos meus problemas. Ficava bem a maior parte do tempo em que estava na Cornell. Exceto é claro quando eu avistava Nathan pelos corredores. Só de vê-lo eu me lembrava do quanto havia sido idiota por ter aceitado sair com ele e ainda mais por ter escondido isso de Percy. Nathan tentara vir falar comigo algumas vezes, mas eu tentei evita-lo ao máximo. Até que outra atividade juntou nossas turmas e eu tive que enfim encará-lo. Não pude lutar contra a popularidade e influência do veterano que facilmente conseguiu ficar no mesmo grupo que eu durante o trabalho.

- Sabe que cedo ou tarde terá que falar comigo - disse Nathan do nada enquanto os outros alunos do grupo estavam concentrados lendo o texto que o professor tinha passado.

- Não sei do que está falando - tentei me fazer de desentendida.

- Sabe muito bem do que estou falando! - insistiu ele - Sei que causei um problemão pra você e pro Percy. Acredite, essa era a última coisa que eu queria. Nunca tive a intenção de ter nada além de amizade com você. Pelo menos não depois de saber que tinha namorado. E muito menos depois de saber que seu namorado era meu amigo...

- Nathan - interrompi sua explicação, que estava ficando pior a cada segundo - Por favor, não tem necessidade de dizer nada disso. Ambos sabemos o que aconteceu. E nada que dissermos ou fizermos vai mudar isso.

- Mas será que posso ao menos pedir desculpas? - tentou ainda o belo rapaz.

- Ok, já pediu - respondi da forma mais direta possível para ver se ele se contentava. Eu devia ter imaginado que não, ele não se contentaria.

 - E você me desculpa, ou não?

- A verdade é que não há o que desculpar Nathan - seria mais fácil ter dito que o desculpava, é claro. Mas a minha razão e sensatez não me deixaram ser tão prática. Não sabendo que aquilo não era o certo - Quem errou nessa história fui eu. Jamais deveria ter deixado que você se aproximasse tanto. E eu não quero parecer mal educada, mas eu acharia melhor que daqui pra frente nós não nos falássemos mais. A não ser que seja extremamente necessário ou sobre assuntos da faculdade.

- Ok - respondeu Nathan.

Ele parecia triste e profundamente magoado com o que eu havia dito. Mas ele não reclamou nem tentou me convencer do contrário. Cheguei a sentir uma certa compaixão por ele. Mesmo que eu soubesse que Nathan não merecia aquilo, não tinha outra escolha. Se eu queria ter alguma chance de me acertar com Percy algum dia, tinha que ser assim. Foi difícil continuar o trabalho depois daquilo, mas fizemos o possível. O nosso bom entrosamento em grupo e excelente domínio da matéria, ajudou bastante. Pelo menos enquanto a aula durou, consegui concentrar minha mente em outras coisas.

Voltei para casa naquele dia sentindo que carregava o peso do céu nos ombros no lugar de Atlas novamente. Eu não estava mais aguentando aquela situação. Precisava dar um jeito de resolver as coisas com Percy de uma vez por todas! Durante o almoço pensei muito sobre o assunto. Aos poucos um plano ia se formando em minha cabeça. Sai mais cedo do que o comum de casa, precisava passar em um lugar antes do trabalho. Depois de todo aquele tempo e de todas aquelas sessões fotográficas, eu havia conseguido juntar um bom dinheiro. E como Percy não estava falando comigo, eu resolvi ir até o banco pagar todas as nossas dívidas. Não importava o que ele fosse dizer, eu precisava fazer aquilo. Depois eu me preocuparia em explicar tudo. Paguei as contas atrasadas, a fatura do cartão de crédito, e até depositei uma boa quantia para repor o grande rombo que havia em nossa conta bancária.

Me senti aliviada ao deixar a agência bancária. Era muito bom me ver livre daquele problema. Mesmo que ao solucioná-lo, outros tantos surgissem. Fui para o Sally’s Café e passei o restante do dia aperfeiçoando o meu plano de acertar as coisas com Percy. As horas se arrastaram. Parecia que o deus do tempo estava de onda com a minha cara, fazendo os ponteiros do relógio andarem mais devagar. Nem tinha mais o diário de Percy para poder me distrair. Ainda não conseguia acreditar que toda aquela história de amor improvável não passou de um encantamento de uma filha de Afrodite. De certa forma fiquei aliviada. Percy não tinha realmente amado ninguém antes de mim. Pelo menos era isso que eu tinha entendido. Não havíamos tido oportunidade de conversar depois que ele me contara a história. Eu havia cavado minha própria cova momentos depois contando a Percy sobre Nathan. Em meio a esses devaneios me veio uma lembrança muito triste. Acontecera há duas semanas atrás durante uma tarde chuvosa...

- Você ainda não devolveu isso? - perguntei a Percy, me referindo a televisão que Nathan nos dera de presente. Àquela altura eu já estava farta de ser cautelosa e gentil com ele. Mesmo sabendo que eu estava errada e que a culpa de toda a briga era minha. O gelo de Percy começava a me irritar cada vez mais.

- Já disse que não vou devolver - respondeu ele sem emoção.

- Bom, então eu irei fazer isso - afirmei com convicção. Eu não ia tolerar mais aquilo. Nós não éramos nenhum casal de necessitados para ficar aceitando caridade dos outros. Muito menos de uma pessoa que já nem era amigo de nenhum dos dois.

- Não pode fazer isso - ele discutia comigo, mas permanecia impassível. Nem sequer olhava pra mim. Continuava sentado no sofá, lendo uma revista de esporte e ouvindo o jogo que passava na tevê - O presente foi para mim, então só eu posso devolver.

- Nós podemos comprar uma tevê nova sozinhos, Percy. Não tem porque você querer ficar com isso, além do mais... - parei por ai. Não tinha completar essa frase. O que eu ia dizer? Que era constrangedor ter um aparelho no meio da sala que me fazia lembrar do grande erro que eu havia cometido?

- Além do mais nada. Eu gosto dessa tevê, quero que ela fique aqui. Me faz lembrar de como se pode ficar cego quando se está apaixonado... - falou Percy dando por encerrada a discussão.

Me segurei para não chorar enquanto ele cruzava a sala e saia do apartamento. Era sempre assim. Toda vez que eu tentava tocar no assunto de alguma forma, ou ele desconversava, ou lançava uma dessas indiretas duras e cruéis. Quando cheguei até minha cama, não pude mais controlar as lágrimas. Deixei a fronha do meu travesseiro ensopada enquanto soluçava. Mesmo assim, ainda achava aquilo melhor do que ser ignorada. As “bofetadas” ao menos me faziam ver que Percy ainda estava ferido e magoado comigo. O que significava que ainda me amava. Saber disso era o que conseguia me manter forte e confiante apesar de tudo. Mantinha a esperança de que tudo se resolveria viva dentro de mim.

Despertei do meu sonho acordado quando um cliente mal humorado me chamou no balcão. O atendi de cara fechada, mesmo sabendo que estava errada. O pobre moço já devia ter tentado me chamar no mínimo umas três vezes antes de ter que levantar a voz. A verdade era que desde que eu havia começado a ganhar meus pagamentos pelos trabalhos de modelo já não via mais porque continuar no Café. Todas as coisas que até então eu conseguia lidar bem, começaram a parecer insuportáveis. O salário que eu recebia para estar ali já não era suficiente para compensar isso. Eu sei que não tinha como comparar as duas coisas. Posar para fotos durante algumas horas e ganhar o equivalente ao trabalho de um mês como atendente. Não era à toa que eu já não aguentasse mais ficar ali.

Tudo ficou pior quando enfim descobriram quem havia roubado o caixa. A pessoa que eu menos desconfiaria: Hanna. Ela mesma confessou o roubo e pediu as contas uma semana atrás. Fiquei espantada e decepcionada. Mais acima de tudo, sentia falta dela. O garoto que colocaram em seu lugar não era nem de longe tão legal e divertido como Hanna. Ele era daquele tipo tímido e reservado demais, que parece ter medo de garotas, sabe? Simplesmente não consegui manter uma conversa de mais de três frases até agora com ele.

Queria pedir demissão e sair dali correndo o quanto antes. Mas eu sabia que não podia. O único motivo por eu ainda estar lá era manter minha mentira intacta. Se eu saísse do Café, Percy desconfiaria. E eu ainda não tinha nem cogitado a hipótese de contar a ele que estava trabalhando de modelo. Por mim eu jamais contaria a verdade. Mas claro que eu também sabia que isso não era possível. De uma forma ou de outra ele acabaria descobrindo. E era melhor que fosse por mim do que por um outdoor. Por enquanto só me restava continuar escondendo tudo e ir criando coragem para quando a hora chegasse. Antes disso porém, eu tinha outros problemas para resolver.

Deixei o trabalho antes do meu horário de saída. Não estava ligando muito para o que iam dizer. Se me demitissem, estariam me fazendo um favor. Fui para casa e comecei a colocar em prática o plano que eu havia arquitetado durante o dia. Fui até o armário e comecei a procurar o meu melhor vestido. Me deparei com uma das roupas que havia ganhado da marca para qual eu estava trabalhando. Eles haviam me dado de presente por que disseram que a peça ficara perfeita em mim. E pelo menos naquela vez eu tive que concordar. Mesmo o vestido sendo mais curto do que os que eu costumava usar, ele era lindo. Também seria perfeito para o que eu tinha em mente.

Quando terminei de me arrumar, peguei o telefone e chamei um taxi. Esperei até que o porteiro me avisa-se pelo interfone que minha condução havia chegado para poder descer. O motorista me olhou com estranheza quando eu lhe disse para onde estávamos indo. Certamente pela roupa que eu estava vestindo ele esperava qualquer outra coisa e não um posto de gasolina. Felizmente ele não fez mais perguntas e começou a dirigir. Eu teria explicado a ele que estava indo ao encontro do meu amado, mas achei melhor assim. Quando chegamos lá eu fiquei um pouco insegura. O lugar era um pouco diferente do que eu pensava. Cheguei até a achar que estávamos no posto errado.

O pior de tudo era que estava quase tudo deserto. Fora alguns frentistas perto das bombas de gasolina, não havia mais ninguém, nenhum carro para abastecer, nenhum cliente na loja de conveniência, ninguém! Respirei fundo e segui o meu plano. Pedi para o taxista estacionar o carro alguns metros depois e me esperar. Desci no calçamento irregular que levava até o posto e fui caminhando até lá. Comecei a achar que fora uma péssima ideia ter escolhido usar salto alto bem aquele dia. Mas fiz um esforço tremendo para não cair.

Atravessei o posto procurando a área das oficinas, que era onde eu sabia que Percy ficava. No meio do caminho tive que ouvir alguns comentários indecentes dos homens que trabalhavam ali. Minha vontade era de acabar com todos eles, mas tentei me controlar. Meu objetivo ali era outro. Contornei a loja de conveniência e lá atrás avistei um lugar que só podia ser uma oficina mecânica. Pneus e peças de carro para todo lado. Haviam vários compartimentos grandes, parecidos com garagens, onde provavelmente os carros entravam para serem arrumados. Fui passando na frente de cada uma delas até que reconheci de longe Percy em seu macacão sujo de graxa. Ele estava apoiado no batente de uma das portas das garagens com um boné e um pano saindo do bolso de trás do macacão. Extremamente sexy.

Quando cheguei mais perto, porém percebi que ele não estava sozinho. Havia uma garota conversando com ele. Ela estava vestida de forma quase idêntica a Percy. E eu tinha que admitir que mesmo assim ela ficava irritantemente bonita. Então quer dizer que Percy tinha uma amiga em seu novo trabalho? Por que ele não havia me contado isso? Lembrei a mim mesma que não estava em posição de exigir nada. Eu fizera muito pior. Tentei dizer a mim mesma para não sentir ciúmes, que aquilo não tinha nada demais. Obviamente não consegui. Me aproximei deles sorrateiramente e me escondi em uma das garagens que estava mais próxima. Fui na ponta dos pés para não fazer barulho quando estava já a poucos metros dos dois. Inevitavelmente comecei a ouvir o que conversavam.

- Na boa, Emily, vá procurar outro idiota que acredite nessas suas histórias - dizia Percy de forma descontraída em meio a risadas de ambos. Me senti bem e mal ao mesmo tempo. Era bom ouvi-lo rir depois de tanto tempo, mas me doía que não fosse comigo.

- Estou falando sério, Jackson! - a menina o chamava pelo sobrenome, como muitos dos amigos de Percy faziam. Isso queria dizer que eram apenas amigos, mas ao mesmo tempo queria dizer que já eram bem próximos, o que não me deixava mais feliz - Tenho fotos para provar, se você quiser ver!

- Não, obrigado! Acho que não seria legal ver uma foto do seu irmão com uma mordida de jacaré no braço - respondeu ele ainda rindo.

Ficou um silêncio momentâneo enquanto os dois terminavam de recuperar o fôlego depois das risadas. Eu prendi a respiração para não fazer nenhum ruído sequer. Então eles voltaram a falar. Dessa vez comentaram sobre o trabalho. Um assunto muito chato, diga-se de passagem. Mas ao que parecia, Percy gostava daquilo. Ele parecia empolgado ao falar do último carro que consertara. Não sabia que ele entendia tanto de motores e etc. Dessa vez me senti bem por ouvi-lo tão empolgado em relação a alguma coisa. O que eu vinha vendo em casa nas últimas semanas não era nada parecido com aquilo. Mas se meu plano desse certo aquilo estava prestes a mudar. Achei que era um momento oportuno para aparecer quando eles mudaram o rumo da conversa.

- Você não acha que Annabeth desconfia... você sabe, do seu segredo? - perguntou a garota chamada Emily. Meu sensor de problemas foi acionado e eu fiquei em alerta, prestando atenção aos mínimos detalhes do que disseram a seguir.

- Acho que não - respondeu Percy como se aquilo não tivesse importância. Mas do que diabos eles estavam falando?

- Bom, espero que não - Emily parecia aliviada. Aquilo não era bom. Queria dizer que o segredo de Percy tinha a ver com ela! E minhas suspeitas sobre o que seria estavam me matando.

- Relaxa, ela não vai descobrir - Percy ainda parecia bem relaxado e despreocupado ao falar do assunto. O que me deixava magoada e furiosa ao mesmo tempo.

- Acho bom mesmo. Se não vai perder toda a graça!

Não sei se foi a forma como ela falou que me fez sentir um ímpeto assassino. Ou se foi por causa da constatação imediata que eu tive sobre o que eles falavam. Ou então se foi pura estupidez da minha parte. Consegui bater o braço em uma pilha de calotas que estava ao meu lado e a mesma desmoronou, fazendo um tremendo barulho. Me xinguei em todas as línguas que conhecia e ao mesmo tempo rezei para acontecer um milagre. 


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Notas finais do capítulo

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beijos ;*
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