Dias De Guerra escrita por Mereço Um Castelo, Luiza Holdford 2


Capítulo 4
Capítulo 4 - Noite Longa




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Estremeci por pensar quem podia ser aquela maldita pessoa que ficava a cada instante mais perto. Era a hora perfeita para eu dar o fora dali, mas, malditamente, minhas pernas continuavam a me manter congelado no lugar.

Era uma opção inteligente dar o fora dali logo, mas graças a minhas pernas, fugir havia deixado de ser uma opção válida.

E eis que uma voz estridente soou em uma pergunta irônica:

- Aonde as duas moças pensam que vão? – e merda, eu reconhecia aquela porcaria de voz, pois meus pelos da nuca se arrepiaram e meu estômago deu um looping pavoroso ao reconhecê-la.

Ouvi que alguns puxa-sacos estavam com ele e sorriram de sua piadinha.

Após o choque inicial, vi que o loiro, que também tentava inutilmente cobrir a luz que ia diretamente ao seu rosto, decidiu falar algo.

Embora ele não tenha percebido que eu era o mais alto aqui e talvez pudesse impor mais respeito... Bem, ele que apanhe primeiro então. Eu posso esperar alguns minutos para um novo tapa, murro, soco ou pontapé em áreas não divertidas.

- Senhor, ele já está indo para a cama... – ele disse firme, mais do que eu supus que ele pudesse estar.

- Não, ele não está indo para lugar algum, Whitlock. O senhor Salvatore, e o senhor também, pelo o que vejo, vão ter uma longa noite de trabalho pela frente. Afinal, já que estão sem sono, não é mesmo? – ele virou para os puxa-sacos, que riram da nossa desgraça. Infelizes! – Afinal, já que as moças não querem dormir, é bom que limpem tudo, não acham rapazes?



Uma nota sobre isso: nunca, nunca mesmo, em toda a sua vida chame sua tropa de “rapazes”, isso é tão “mãe” de se fazer. E, bem, mãe é mulher, logo, não é uma coisa que um homem faça. Não se ele realmente for um “homem”...

Bem, na guerra você sempre vê alguns tendenciando para o outro lado e eu fortemente acho que esse nosso “chefe” é um desses...

Embora eu estivesse divagando comigo mesmo, percebi que ele ainda falava... Aliás, ele estava sentenciando a mim e ao loiro chato, meio Stefan, que descobri chamar Whitlock, ou algo do tipo...

- Os dois irão montar guarda pelo resto da madrugada, e sem dormir por nem um instante – então o engomadinho, dessa vez em roupas de dormir, sorriu maligno para nós.

Aquilo já me parecia ruim o suficiente, mas o sorriso diabólico em seu rosto mostrava que outros planos tenebrosos surgiam naquela mente perturbadoramente maligna.

- E ao amanhecer, irão lavar as latrinas. – E os malditos que o rodeavam riram alto... Afff, quanta consideração... – Quero vê-las brilhando, como se nunca tivessem sido usadas!

Ele então voltou para a sua enorme tenda solitária, onde eu imagino que haja uma enorme e macia cama. E nós, pobres soldados, dormimos apertados e em folhas de papel no lugar de colchões, folhas com estrados pontudos e de madeira super dura, que é para acabar de vez com nossas costelas. Aliás, aposto que as camas dos soldados são presentes da União...

- Isso é culpa sua, seu infeliz! – o magricela praguejou, tentando me levantar pelo colarinho.

Ah, olhe o meu tamanho e olhe o seu cara! Temos o mesmo, como quer me levantar? Me senti infeliz falando que eu e o fracote éramos do mesmo tamanho, então fingirei que não fiz esse comentário... É melhor para o meu ego, de qualquer forma.

 - Minha culpa? Isso é culpa sua!

- Minha? Eu tentei te parar, imbecil! – ele esbravejou.

- É sua sim, por não ter me deixado fugir logo de uma vez! – reclamei, saindo de perto dele e de seus dedinhos finos que certamente intencionavam apertar de maneira forte e rude o meu pobre pescocinho indefeso.

- Ok, que seja... – ele se deu por vencido. Eu sabia que estava certo no final das contas. – Vamos logo para o posto, não há como escapar mais.

Desistir de uma fuga? Ah, ele não conhecia Damon Salvatore mesmo. Eu nunca desistiria! Decidi testar seu nível de entendimento irônico, pois é claro que agora, com tantos puxa-sacos rondando, não teríamos saída. Mas, não custa cutucar, não?

 - Podemos fugir daqui, que tal? – sugeri inocentemente

 - Não mesmo! – ele rosnou. Uia, que medo do menininho! – Eu não vou deixar, simples assim!

 - Ok, ok. Era só uma sugestão... – me defendi.

Andamos até o posto de guarda, nossa próxima morada até o turno seguinte...

Se havia uma coisa que eu odiava no exército era ficar acordado até tarde para ver se alguém nos atacaria à noite. E se atacassem? Eu ia gritar? Lutar sozinho e sem fazer barulho para não acordar os demais? Realmente, eu não entendi o que queriam que fizéssemos.

Chegando lá, para a nossa sorte, haviam duas cadeiras no posto. Ok, não eram lá grande coisa, elas estavam meios frágeis, admito, talvez por cupins, mas ao menos poderíamos sentar... Até que uma delas se quebrasse e déssemos com a bunda no chão, é claro! E eu preferia ser o que iria rir da cena ao ser o chacoteado, ok? Anote aí Senhor, aposto que você também tem que ficar aí no céu em guarda quando ficamos acordados!

O rapaz pareceu ignorar a cadeira, mas eu já fui logo sentando. Ele começou a olhar pelo horizonte e realmente parecia que ele sabia bem o que estava fazendo. Mesmo que não fizesse muita diferença para mim.

Cruzei meus braços e fui levemente para trás, dando um pequeno impulso para que a cadeira se apoiasse apenas nas pernas traseiras. Aquilo era divertido, não espero, mas divertido.

Sabe, o silêncio estava quase me fazendo capotar de vez. Mesmo naquela posição, em que normalmente nos força a ficar acordados para não cair de bunda, eu podia sentir que o sono iria me ganhar uma hora.

Logo, um bocejo se tornou inevitável e ao abrir novamente meus olhos, reparei que era observado pela cópia fiel de Stefan. Digo, observado pelo meu mais novo amigo de castigos, que em alguns pontos já me lembrava tanto meu irmão quando queria me colocar em encrencas.

 - Reparei que não sei nem mesmo o seu nome... – o loirinho comentou, agora bem mais simpático. - Sou Jasper Whitlock. Houston – ele estendeu a mão, cumprimentando.

 - Sou Damon, Damon Salvatore de Mystic Falls – retribui ao cumprimento apertando a mão dele.

Talvez eu pudesse gostar desse cara, mas só talvez. Vamos analisar bem como a coisa toda se desenvolve, antes de eu ter um novo Stefan em minha vida.

 - Mystic Falls? O que faz tão longe de casa? – ele sabia onde fica Mystic Falls? Eu definitivamente poderia gostar desse cara!

 - Hmm... Eu posso encarar como um castigo.  Não sou o soldado mais exemplar que existe... – comentei

 - Reparei... – ele me olhou torto. – Mas não entendo como pode ser assim, afinal aqui você vai servir ajudando o país... É algo tão nobre de se fazer, é uma sensação tão boa. Você é um herói ao se alistar para o exército. A propósito, se não gosta, por que se listou?

 - Eu não me alistei – dei de ombros, – eu nunca faria tamanha besteira em minha vida. Mas acontece que meu pai o fez por mim. Ou ele queria que eu fizesse algo de que ele pudesse se orgulhar, ou eu era só mais um peso morto em casa. Se meu irmão tivesse idade, garanto, ele também estaria aqui.

 - Mas me explique, por que não gosta de servir? – ele parecia curioso sobre isso, estava até sentadinho na cadeira agora e de tão debruçado que estava, eu podia jurar que ele cairia dali em breve.

Decidi começar com um fato simples e real. Ele tinha que admitir que eu estava sendo sincero e que meus motivos eram bem válidos. Isso se ele realmente parasse para analisá-los, né?

Aliás, aposto que ele passou por uma lavagem cerebral ou algo do tipo para gostar desse lugar. Quem sabe minhas respostas não façam com que ele veja a verdade dos fatos, não é?

 - O problema da guerra não é meu – dei de ombros ao falar o mais óbvio de todos os fatos, – eu nem mesmo tenho escravos! Os preocupados que se resolvam sozinhos, ora essa! – disse enfático.

Achei que Jasper diria qualquer coisa contra ou que pudesse tentar me interromper. Mas ele continuou ali calado, me ouvindo em meu discurso. Como se ele realmente pudesse estar pensando a respeito do que eu dizia e meditando sobre a veracidade daquilo que eu disse.

Então, já que surtia algum efeito, decidi prosseguir:

- A guerra só interessa aos políticos e velhos senhores de escravos, mas somos nós, os jovens, que são enviados à guerra. Além disso, não somos escravos dos superiores! Viu como aquele cara nos trata? Para ele não valemos mais que os escravos que ele mantém trabalhando em suas fazendas...

 - Com isso eu concordo. – isso aí! Ponto para mim! – Não há porque tratar-nos assim. Quer dizer, você fez algo errado, é verdade. Mas talvez não fosse para tanto, não é?

Amarrei minha cara com seu comentário. A mãe dele não o ensinou que ser sincero demais não é educado? Sabe, tanta sinceridade assim machuca às vezes...

Porém, ele pareceu não se abalar com minha feição e prosseguiu. Que insensível!

- Mas eu, por outro lado, sou inteiramente inocente nessa história toda! Eu deveria ter sido liberado do castigo.

- Liberado? Mas, quer dizer que o que eu disse não lhe fez pensar em nada?

- Na verdade, fez sim e lhe dou muita razão. Mas eu poderia falar contigo em outro momento e estar dormindo essa noite.

Cruzei meus braços zangado. Sim, ele era bem Stefan!

- Isso é hipocrisia, sabia?

- Não é não. É a lei do exército, ué. Vai dizer que você não pensaria o mesmo se fosse o contrário?

 - Ah, eu... – não Damon, não dê o braço a torcer. Mude logo de assunto! – Ora, por favor, não tem como você concordar com eles! Eles são os culpados disso, e não eu. Eu apenas não queria estar aqui, mas... Me diga, e você? Como veio parar aqui?

- Bem, foi por conta de meu pai também.

- Eu sabia! Aposto que ele também era um idiota que queria se aparecer para a cidade ao mandar o filho para a guerra – mas ele pareceu não ficar satisfeito com meu comentário.

- Meu pai não era idiota e ele nem ao menos soube que eu estava me alistando.

- Mas você disse que foi por ele, ué?! – dei de ombros, meio gaguejante. Será que o sono estava me fazendo não acompanhar seu raciocínio?

Jasper olhou para o chão, como se fosse difícil demais confessar algo. Aposto que vinha um dramalhão agora, digno de Stefan. Tenho certeza que ele achava que não havia alimentado o gado de acordo ou alguma coisinha sem importância desse tipo.

Sem dúvida, não deveria ser nada sério, mas mantive minha cara de incentivador. Afinal, desabafar é bom, certo? E ouvir uma história era o melhor que eu poderia ter para passar a noite.

E, bem, se conseguisse tirar segredos embaraçosos de Jasper, talvez eu pudesse rir um pouco. O que seria ainda melhor para se passar a noite do que em meio a bocejos e lamúrias de sono, tanto as minhas quanto as dele.


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