Dias De Guerra escrita por Mereço Um Castelo, Luiza Holdford 2


Capítulo 3
Capítulo 3 - Maldita Luz




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Eu queria correr, mas ia adiantar o quê, né?

Ainda de costas e mesmo que temesse um tiro ou um chute, levantei minhas mãos ao alto. Mas não me contive, rolei os olhos e bufei, aproveitando que ele não via meu rosto ainda.

Me virei lentamente, como se isso fosse fazer alguma diferença... Droga, eu ia apanhar feito gato no saco de novo! Já podia até sentir os chutes, pontapés e tapas de antemão. Infelizmente, meu corpo estava aprendendo a “prever” essas coisas com uma facilidade incrível de antecedência.

Mas, quando percebi quem havia me parado, me senti aliviado, aquele não era nenhum dos chefões da máfia... Digo, do quartel! Talvez eu pudesse barganhar uma fuga conjunta com o indivíduo! Do nada a esperança renasceu em meu coração.

 - Ora essa, o que está fazendo aqui? – mas aquilo foi uma pergunta retórica, já que ele não me deu tempo para respondê-la e voltou a falar. – Volte para o alojamento! Seremos punidos se nos veem aqui!



A verdade é que aquele rapaz, loiro, magrinho que quase podia me lembrar o Stefan de longe, tinha uma cara de sono terrível. Acho que ele tinha o sono leve e minha fuga o acordou...

Nota mental: sorte ele não ser o Stefan ou nem na cozinha eu poderia ir sozinho à noite. Sorri irônico e decidi dar-lhe a primeira resposta, mesmo que ele não a quisesse de fato. Seria divertido conversar um pouco com o sósia de meu irmão.

- Acredita se eu disser que só estava tomando um ar? – respondi com o melhor ar de desentendido do mundo, até dando de ombros para parecer mais real.

- Tem muito ar lá dentro do alojamento também, sabia? – ele respondeu na mesma moeda. O garoto aprende rápido.

Sorri. Ele poderia ser bom em ironias, mas pelo menos não era um superior, certo? Eu ainda teria chances de escapar se o convencesse logo e também, assim, eu teria alguém para conversar comigo durante o retorno à civilização!

Eu cheguei perto dele e peguei seu pulso, embora o mais sensato fosse tentar trazê-lo ao meu lado com uma boa conversa antes de arrastá-lo, ali não era o lugar certo para isso. Qualquer um que saísse de uma das cabanas nos veria em meio ao pátio banhado pela luz da lua “papeando”.

O tempo era curto demais para ser perdido com aquilo.

- Vamos cara, temos que sair desse inferno!

Embora ele quisesse resistir, eu o puxei para as sombras onde poderia tentar convencê-lo a partir comigo com mais tranquilidade. Aliás, coisa essa que eu não esperava levar mais de alguns minutos. Afinal, ninguém é idiota o suficiente para querer ficar nesse inferno, certo?

Sem contar que, se eu não tentasse levá-lo, vai que ele fica ressentido, corre e me denuncia amanhã, né? Nunca se sabe quando uma pessoa vai parecer o Stefan em todos os aspectos. Inclusive nas atitudes infantis de me delatar a quem tem o poder no local.

Porque, sejam sinceros, tem pessoa que mais gosta de me delatar e me ver em maus lençóis que meu irmãozinho caçula? Era assim desde pequenininho, sempre gostou de ser o bonzinho, o queridinho do papai.

E o Damon aqui, ah, era a peste, o demoniozinho... Talvez seja por isso que eu tenha vindo parar aqui, foi tudo vingança do meu pai pela minha divertida infância... Ele deve ter sido um Stefan quando menor.

Esse, a propósito, é o verdadeiro culpado da minha estadia no inferno. Não se pode culpar um garoto por ele querer se divertir!

E, bem, esse risco de ser delatado eu não posso correr. Tenho que voltar para Katherine o quanto antes!

Mas ele era insistente como uma mula e me parou no meio do caminho. Mas que inferno esse rapaz, já cedo querendo bancar a criança? Não pode esperar chegar no breuzinho não? Tínhamos mesmo que conversar tão... No ar livre? Prontos para todos nos verem?

Eu não queria anunciar minha fuga assim não! Tantos soldados querendo ir, tantos podiam ser os chefões daqui!

- Você é maluco! É melhor voltar para o alojamento agora! E isso é sério! Não é bom comprar briga no seu primeiro dia por aqui, sabia?

- Como sabe que é meu primeiro dia aqui? – eu estreitei meus olhos, mas desisti de pressioná-lo no minuto seguinte.

Afinal, a resposta era óbvia demais: é claro que ele sabia por que havia me visto apanhado em praça pública, bem em frente a todos. Que humilhação...

- Ah, esquece, rapaz. Eu estou de saída, isso sim. Eu não volto para o alojamento por nada.

- Por nada? Está brincando, não é? – quem devia estar brincando era ele, ou esse cabelo enrolado na verdade eram parafusos soltando da cabeça!

- Claro que não! Isso aqui é um inferno, somos escravizados. Um bando de escravos brancos, aliás! Sem contar que os motivos e a maior parte das coisas que nos mandam fazer são estúpidas! – eu cruzei meu braço zangado, não era possível que aquilo não era óbvio pra ele também.

- Coisas estúpidas?

- Sim, estúpidas! Diga-me, gênio, onde um espanador e uma vassoura vai me ajudar a ganhar a guerra? Vamos é limpar o inimigo, é? Porque até onde ouvi a União está ganhando e eu acho que estamos é do lado dos perdedores, só para te manter a par da situação.

 - Ajuda a ter disciplina, palhaço. Coisa que parece não existir na sua cidade. – Ora, quem esse moleque pensa que é?

Mas logo ele cortou meus pensamentos e continuou a falar.

- E não estamos perdendo nada! Você não teria como saber nada disso sendo um soldado raso, ora essa! Francamente – ele cruzou os braços, – até parece que vamos perder para eles...

Dei de ombros. Gente desinformada é fogo... Não tinha jornais aqui? Estávamos perdendo feio para a União!

Na verdade, eu tinha uma dúvida: para quê mesmo lutávamos? Em prol da permanência da escravidão? Eu experimentei um pouquinho aqui e posso dizer... É horrível!

Ninguém deveria ser obrigado a trabalhar forçado assim. Não queria lutar por algo que eu não acredito ou defendo. Eu não batalharia por essa causa. Me manter aqui era burrice, não quero defender a honra do Sul.

Eu não estou nem aí para o Sul, ele que se ferre! Quero mesmo é minha cama de volta, meu colchãozinho macio e uma boa noite de sono!

Ah, e também quero Katherine. Seu perfume maravilhoso e seus braços ao meu redor. E se esse povo quer é brigar, que se dane, eu quero é “amar” aquela mulher e o mundo que acabe... Desde que ela esteja comigo, claro.

Aliás, pensar em Katherine fez minha vontade de partir voltar com força total. Então, que me despedisse logo.

- Você quem sabe, porque eu estou indo. E minha cidade tem gente chata, mas os Salvatore pelo menos são honestos! – Eu não poderia partir sem defender minha honra, certo?

- Ah sei, e são tão corajosos que fogem, certo? – ele me olhou com uma petulância enorme, que dava para ser sentida de longe.

Merda! Ele estava me desafiando a ficar, é? Era isso?

- Que seja! Somos todos uns mal educados medrosos então – eu dei de ombros, não estava para conversa, ele só estava me atrasando.

Já que ele gosta tanto assim dessa tortura, ele que fique aí, porque eu vou embora para a minha querida Mystic Falls dos sem educação! Lá, pelo menos, eu vivo bem!

- Mas... – eu o cortei, não ia dar mais brechas para desafios tolos.

 - Fique aqui se gosta tanto.  Eu vou embora!

Voltei ao meu caminho, mas ele me alcançou e me pegou pelo pulso, tentando me impedir de prosseguir. Eita moleque chato!

 - Nada disso, volte para a sua cama, e sem fazer muito barulho.


- “Volte para sua cama, e sem fazer barulho!” – eu anasalei a voz para imitá-lo, decido a provocá-lo mais.

A cara de incredulidade que ele fez foi tão hilária, que eu não podia perder a chance de provocá-lo mais. Afinal, cá entre nós, essa estava sendo a única coisa divertida para se fazer desde que cheguei aqui.

 - Pó, pó, franguinho! Eu tenho medo dos babacas de farda, pô pô! Olhem para mim, como eu sou medrosinho! – comecei a rodeá-lo batendo meus braços em volta do corpo, como se imitasse asas de galinha.

O loiro se estressou, me pegou pela farda e empurrou contra a parede. Ai, doeu sabia? Seu sem graça...

- Escuta aqui, você acha que isso é festa, não é? Não vai querer pagar as consequências dessa sua palhaçada depois. Isso eu tenho certeza!

Eu o empurrei. Quem o pirralho pensa que é para me pegar assim?

- Não vou pagar consequência alguma, porque não vou ficar aqui esperando mais nada! E se não tem mais nada útil para dizer... – eu disse esfregando minha farda para tirar o pós de suas mãozinhas sem graças e arrumar o amassado que ele deixou em minha roupa. Não dava para fugir feito um jeca, certo? – Eu vou embora!

Eu estava pronto para sair dali quando uma luz foi acessa em nossa frente. Ela me cegava e eu me difamava interiormente por ter perdido tanto tempo ali com aquele filhinho de papai mimado.

Porém, uma coisa era inevitável, o maldito que havia acendido aquela luz poderia ser um dos chefes da porcada e... Se era, eu estava ferrado. Dessa vez, eu não seria só agredido em praça pública...

Quem sabe, na “pior das hipóteses”, não decidissem me deportar para Mystic Falls, hein? Afinal, pensem bem, eu sou um mau exemplo horas! Me tirar daqui seria uma ótima para os superiores. Assim, eu não poderia “influenciar negativamente” nenhum dos outros pobres soldados, que não eram inteligentes como eu para fugir logo.

Apesar de que, tirando os de alto escalão mesmo, ninguém deve gostar dessa porcaria de exército.

Eu queria rir com aquele pensamento, mas engoli em seco, porque na verdade eu imaginava o oposto daquilo, uma verdadeira boas vindas ao inferno... E, desta vez, sem a possibilidade de sair tão cedo aqui.

Que droga...

Aposto que meu querido irmãozinho, Stefan, deve estar lá aproveitando sua liberdade e eu aqui, prestes a ser linchado. Como a vida é injusta, não?

Embora eu quase começasse a rezar internamente para que a luz apagasse e tivesse sido apenas um relâmpago... Teria sido um dos mais sacanas, admito, mas seria meu melhor do que eu já poderia esperar de antemão.

E a luz, ah luz, ela não apagou.

Mas logo virei meu rosto e vi que o soldadinho “Stefan dois” também estava tentando ver através dela, com seus olhos estreitos e sem conseguir se mover. Aposto que o medo parou ele também... Bem, eu não o culpo.

Logo, passos podiam ser ouvidos e eles vinham de trás da luz. E, como em um pesadelo, uma silhueta grande começou a surgir na frente daquela luz.

Como estava de costas para o clarão, não podíamos ainda ver quem era, mas não deveria ser papai Noel... Isso eu garanto!

A figura chegava mais perto e sua sombra diminuía... Ainda parecia gordo para ser chamado de soldado, mas... Ok, aposto que era um dos gordos mal amados do grande escalão.

Droga, quem eu quero enganar?

Eu me ferrei de novo... Literalmente.

Já sentia as futuras chibatadas em meu lombo e soltei um chiado de dor sussurrado.

- Sabe Stefan, devíamos mesmo ter ido.

O meu “parceiro de chibatadas da vez” parou de encarar a luz e me olhou.

- Não sou Stefan, eu sou...

Eu levantei minha mão para que ele se calasse e deu certo.

- Acho que podemos deixar a cerimônia de apresentação para depois, não?

E voltamos a olhar para a figura que caminhava em nossa direção.

- Talvez se sobrevivermos... Quem sabe.
 


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Notas finais do capítulo

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