Faço minha higiene pessoal, e vou tomar café. Meus pais ainda não haviam acordado. Sei que estava cedo, pois ainda estava escuro. Vou para o único lugar que me vem à mente. A floresta. É proibido, mas gosto de atirar facas lá. Sinto-me bem. Depois de um tempo, percebo que passei horas treinando, pois já estava amanhecendo. Quando percebi já era tarde demais. Ele com certeza me viu treinando horas. Cato tinha um dom de ninguém nota-lo, principalmente de ouvi-lo. Acho que fiquei tão concentrada que nem o notei ali me olhando. Ele estava com um sorriso que me deixou corada.

– Você sabia que é proibido estar aqui, não sabe? – disse Cato, num tom sarcástico.

– Você também sabe que aqui é proibido estar aqui, não sabe? – falei no mesmo tom.

–Vim pra cá relaxar, e você?

– Atirar minhas facas.

–Você nunca relaxa, não? – pergunta Cato.

– Agora não.

– Vem cá, então. – me puxo

Andamos pela floresta conversando. Se nos entendemos? Sim. Discutimos? Claro. Apostamos uma corrida até a cerca, e eu ganho, claro. Depois, deitamos na grama e ficamos em silêncio.

– Sabe, gosto de passar o tempo com você – disse Cato, quebrando o silêncio.

– Estou começando a gostar também. Sabe, você não é tão chato assim – rimos.

– Sabe, eu.. – o corto no mesmo instante.

– Cato, que horas são? Devemos estar atrasados para aula! – falo me levantando e puxando-o. – Vamos!

Depois de corrermos, chegamos na escola. Por sorte, chegamos a tempo. Todos estão nos olhando.  Então, percebo que estou de mão dadas com ele, mas não as solto. Avisto Alicia, que me olha confusa. Eu e Cato passamos por todos, sem nos importamos. Não demorou muito, e o sinal bateu. Despedi-me de Cato, pois não erámos da mesma sala. Até que tentei prestar atenção na aula, mas era meio que impossível... Será que Cato também se sentia assim? Acho que não. Ele era o mais popular da escola, tinha amigos, as garotas todas caiam nele.. Falando em amigos, percebo que Alicia esta falando comigo:

– Ei, o que tá rolando entre você e o Cato?

– Nada.

– Como assim nada? Vocês chegaram de mãos dadas hoje! – falou ela, meio irritada.

– Foi porque pensei que estávamos atrasados. Tive que puxa-lo.

– Só isso, Clo? Jura?

– Juro. – minto – Agora me empresta aí seu caderno que não copiei nada.

– Pensando em Cato? – disse ela, depois deu uma risada forçada.

Ela é minha melhor amiga, mas não posso contar a ela que tenho uma quedinha, ou talvez um penhasco por Cato. Todos me conhecem por ser durona, ignorante. Muitos têm medo de mim, por isso só tenho Alicia de amiga. Perdida em meus pensamentos, nem vejo quando bate o sinal avisando o final da aula. Arrumo meu material, e saio de sala. Vejo Cato esperando alguém  na porta da escola

– Esperando alguém, grandão? – pergunto

– Você, baixinha. – Percebo meu rosto esquentar. Cato me leva até em casa e ficamos conversando sobre os Jogos. Depois de 20min andando, chegamos a minha casa.

– Obrigada por me trazer aqui – digo, dando um beijo em sua bochecha.

– As ordens, baixinha.

Entro e o observo ir embora, com um sorriso no rosto. Ele olha para trás me vê. Depois do almoço, tomo banho e faço a lição de casa. Matemática, por que tão difícil? Me arrumo e vou para o treino. Ao chegar lá, vejo Alicia, arremessando machados com um sorriso no rosto. Assim que percebe minha presença, vem falar comigo.

– Clo! Tudo bem?  – pergunta ela, mais sorridente que o normal.

– Tudo e com você? – tento retribuir o sorriso.

– Também. O que você fez depois da escola? Todos te viram ir embora com o Cato..

– Nada. Ele só foi me deixar em casa. Vou treinar, depois conversamos.

Fui para estação de facas. Não vi Cato na academia, fiquei preocupada. Quando deu exatamente 18h, uma mulher apita, encerrando o treino. Vou para casa, tomo banho e corro para a floresta. Ao chegar lá, escuto vozes. Chego mais perto e vejo duas pessoas. Dois rostos conhecidos. E uma única palavra me vem à mente: traição.

Não por Alicia, mas sim por Cato. Como ele pode fazer isso comigo? Pensei que tínhamos alguma coisa! O jeito que eu corava quando ele me elogiava... Será que ele não percebeu? Chego mais perto, e vejo que acenderam uma fogueira. Então era por isso que Alicia estava tão sorridente no treino hoje?

– Sabe Cato, me sinto mal pela Clo.. – diz Alicia.

– Calma, ela nunca vai saber que nós tivemos um encontro... – diz Cato.

– Então isso é um encontro? – consigo perceber o sorriso na voz dela.

– Claro docinho. – responde Cato, e eles começam a rir.

– Irônia tipo nível máximo – diz Alicia e eles começam a rir mais ainda.

Filho da mãe! penso. Quando tento chegar mais perto, tropeço em um galho e faço barulho. Saio correndo sem olhar para trás, tentando não fazer barulho. Corro para casa, sentindo as lágrimas caírem. Esqueci que não moro sozinha, e quando entro, logo vejo minha mãe.

– Querida, o que houve?

– Nada, me deixa em paz! – subo correndo as escadas.

Tranco a porta do meu quarto, e claro, começo a chorar. Soco o travesseiro imaginando ser Cato. Depois de 1h, o telefone toca. Me recomponho e atendo.

– Alô?

– Oi Clo, é Alicia.

– Ah, oi “amiga”.

– Olha, amanhã temos que conversar.

– Tudo bem. – digo e desligo o telefone, sabendo que não tenho mais nada para ouvir.

A noite vem, e minha mãe me chama para jantar. Não desço, pois esses acontecimentos me deixaram sem fome. Amanhã é sábado, então não terei que olhar para a linda cara de Cato. Mas Alicia ia vir para minha casa.