Os Códigos Romênicos - A Descoberta Do Poder escrita por Luke Theon


Capítulo 3
Capítulo 2




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Rio de Janeiro, Brasil, 2010

As luzes dos inúmeros prédios da cidade do Rio de Janeiro brilhavam como estrelas no céu escuro, quando desembarcamos no Aeroporto Santos Dumont. Pela enorme janela do hall de desembarque era possível ver a Enseada de Botafogo apinhada de barcos. Mais a frente levantava-se majestosamente o Corcovado coroado pelo Cristo Redentor. Cesar se virou e provavelmente viu minha expressão de deslumbramento.

— E você ainda não queria vir.

Atravessamos o terminal de desembarque e seguimos em direção a um homenzinho de uniforme e quepe azul-marinho. O homem acenou para que o seguíssemos e nos conduziu até a saída do aeroporto em direção a um carro de luxo preto. Soltei um assovio.

— Você precisa ver os outros. E o hobby do meu pai, colecionar carros. Um pouco exagerado, em minha opinião. Precisava ver a fortuna que ele pagou em um Rolls Royce 1952. Bonito só pra ele mesmo. — Cesar comentou mais para ele mesmo. — Prefiro as motocicletas. Se estivéssemos em São Paulo eu as mostrava pra você. Mas enquanto reformam nossa casa aqui, tudo foi transferido pra lá.

— Reforma? Se sua casa está sendo reformada, onde é que vamos ficar?

— Você vai ver.

Assenti, de forma a deixar claro que tinha entendido tudo, ao que não adiantou. Cesar disparou a falar sem parar, sobre tudo. Disfarcei fingindo prestar atenção à história que ele contava. Mas minha cabeça estava em outro lugar.

Pela janela do carro, via os quiosques coloridos se estendendo pela praia, enquanto o mar formava grandes ondas que se transformavam em espuma ao encontrar a areia da praia. Tudo emoldurado pelo céu escuro, quase preto. As estrelas eram pontos brancos que competiam pelo maior brilho com os prédios iluminados pelas janelas ou por letreiros brilhantes. Uma voz me tirou do torpor.

— Senhor, chegamos. — o motorista estava de pé e se dirigia a mim. Cesar já estava do lado de fora do carro.

— Vamos cara. — Cesar gesticulou para que eu o seguisse e se encaminhou até as portas do hotel.

Sai do carro e avistei o enorme prédio do hotel. Peguei minha pequena bagagem e segui em direção à escadaria que levava as portas da edificação. Apesar do costumeiro calor do Rio de Janeiro, um vento frio começou a soprar do mar. Entramos no hotel e perdi o fôlego assim que avistei o hall de entrada do saguão. Tinha o pé direito alto, repleto de pilares que seguravam o teto arqueado.

Na recepção um casal — uma mulher esguia de cabelo louro e um homem alto de terno e cabelo preto com alguns fios grisalhos, os pais de Cesar — nos esperavam. A mãe de Cesar se adiantou e com um gesto o puxou em um abraço. Tentei conter o riso, enquanto meu amigo tentava se desvencilhar do abraço da mãe.

— Olá, você deve ser o André. — ela agora se dirigia a mim.

— Sim. E um prazer conhecê-la senhora Albuquerque. — Estendi a mão para cumprimentá-la, mas assim como Cesar, ela também me puxou para um abraço, me deixando mais que desconfortável. Foi à vez de Cesar rir de mim.

— Ora, por favor. Me chamar de Lívia.

Assenti e me dirigi ao pai de Cesar, que terminava de falar com o recepcionista.

— Olá André. Prazer em conhecê-lo. Pode me chamar de Augusto. — Desta vez o cumprimento foi um forte aperto de mãos

Os pais de Cesar finalizaram o check-in e me entregaram a chave do meu quarto. Cesar ficou conversando com seus pais, e inventando uma desculpa qualquer, segui em direção aos elevadores, que subiu até o nono andar, onde estava meu quarto. Ao abrir a porta, joguei a mochila em um canto e me encaminhei até as janelas do quarto e abri as cortinas. Do lado de fora, a noite carioca me recepcionou com uma bela visão do mar que se estendia majestoso até se misturar com o céu. Dois gigantes azuis que se encontravam no horizonte.

Deitei na cama e fiquei observando as estrelas brilharem no penúltimo dia do ano. Já estava quase adormecendo quando ouvi alguém bater na porta do quarto. Antes que pudesse me levantar ouvi a voz de Cesar do corredor.

— Arrume-se. Jantar em cinco minutos no restaurante. E nada de recusar.

Suspirei profundamente, e respondi relutante:

— Já desço.

Após um banho rápido e vestir jeans e camiseta, já a caminho do elevador, me arrependi de não perguntar sobre o estilo do traje. Em um instante as portas do elevador se abriram para um salão suntuoso apinhado de gente. Respirei aliviado quando vi que Cesar trajava roupas no mesmo estilo que as minhas. Com a diferença dos jeans rasgados nos joelhos.

A caminho da mesa onde os pais de Cesar indicavam para nos sentarmos, pude observar melhor o lugar. O salão assim como os outros ambientes sociais do hotel, era luxuoso e também de pé direito alto. O teto abobadado era coberto de pinturas em estilo renascentista, — do alto, anjos pareciam cochichar — nas paredes, murais em alto-relevo. Percebi que o lugar cheirava a frutos do mar e lavanda. O cheiro não me agradou.

Quando chegamos à mesa, percebi que já haviam pessoas sentadas nela. O pai de Cesar se encaminhou e indicou-os a nós.

— Cesar; não sei se você já conhece, mas quero lhes apresentar a alguns amigos.

Quatro pessoas estavam à mesa. Um homem, uma mulher e duas garotas — que deveriam ter entre dezoito e dezenove anos — que com certeza eram gêmeas. Augusto indicou os lugares e se sentando apresento a nós as pessoas da mesa.

— Este e um velho amigo meu, Afonso Martelli, sua esposa Marisa e suas filhas Olívia e Diana.

— Prazer em conhecê-los. — respondi prontamente.

Feitas as apresentações, seguiu-se uma conversa animada entre os pais de Cesar e de Olívia e Diana. Cesar me cutucou e deu uma piscadela como quem diz: “Essa já está no papo”.

Ele então se virou para as meninas e começou a puxar conversa. Apenas observei.

— Então meninas. Como estão? Já nos vimos alguma vez? — Cesar perguntou, finalizando com um risinho de meia boca — Porque tenho a impressão de que já as conheço.

Olívia que parecia entediada e contornava com os dedos os desenhos bordados na toalha de mesa distraidamente não respondeu a pergunta. Diana olhou para a irmã e revirando os olhos com um suspiro, respondeu:

— Minha mãe trabalhou junto a sua mãe no MASP. Certamente você deve se lembrar de nós de alguma exposição. Se é que já foi em alguma, é claro.

Assustei com a resposta da garota, que estava mais para ofensa. Se Cesar escutou a ofensa, fez que não, permanecendo como estava sem reagir. Observei então, a expressão que tomou o rosto de Diana assim que terminou de falar, como se ela claramente tivesse se arrependido do que tinha dito. Ele se ajeitou desconfortavelmente na cadeira e fechando a boca, mordeu o lábio, como se não pudesse controlar o que dizia e prosseguiu com a fala, enquanto o rosto corava.

— E bem, eu me lembro do meu pai falar sobre uma negociação em uma conferência do Mercosul. Seu pai participou da comitiva brasileira.

Cesar ouvia tudo, mas com certeza não prestava atenção. Ele parecia estar hipnotizado pelas duas irmãs e apenas acenou com a cabeça. Dei uma cutucada nele e tentei prosseguir com a conversa.

Até entendia o porquê do pai de Cesar estar em uma negociação de uma conferência tão importante. Ele era general da Força Aérea. Mas o porquê o pai delas também estar lá?

— Conferência do Mercosul? Negociação? O que o pai de vocês fazem?

— Nosso pai e diplomata.

Diplomata? O pai delas era diplomata? Incrível.

— Que incrível. — falei, transparecendo empolgação mais do que queria.

— Você gosta desse tipo de assunto? — Diana perguntou.

Cesar respondeu antes que pudesse dizer alguma coisa.

— Se ele gosta? Ele faz Relações Internacionais. Está sempre bolando novos estudos de estratégias e acordos. Quando empolga, não há quem o faça parar.

Lancei um olhar duro para Cesar e torci para que ele entendesse o significado: que já bastava. Mas para meu azar, o pai das garotas já havia ouvido a conversa e olhou para mim.

— Você faz Relações Internacionais? Garoto esperto. Carreira brilhante.

Diana mais uma vez revirou os olhos e virando-se para mim e Cesar, cochichou:

— Hora de ele empolgar.

O pai de Diana abriu a boca para falar novamente, mas foi cortado pelo pai de Cesar.

— Carreira brilhante é? E o que me diz do serviço militar. — percebi o tom ríspido e autoritário em sua voz, apesar de ele soar como uma brincadeira. Cesar também percebeu, pois balbuciou:

— Lá vem; se depender dele daqui a pouco isso aqui vira uma guerra.

Vi que Cesar tinha razão. Os dois homens começaram uma discussão acalorada tentando impor um ao outro através de argumentos, qual carreira era a melhor. Suas posturas leves não combinavam com os olhares faiscantes que um lançava ao outro. Parecia que a qualquer momento eles começariam a se engalfinharem, e pela forma como as esposas ignoravam a discussão, deduzi que não era a primeira vez que acontecia aquela situação, e mesmo que aquilo fosse comum entre eles, me senti desconfortável e mentindo uma dor de cabeça me despedi de todos e subi para meu quarto.

Entrei no elevador e imerso em pensamentos nem percebi quando as portas se abriram para o meu andar. Caminhei pelo corredor e mal vi quando cheguei à porta do quarto. Entrei e me jogando na casa adormeci quase que instantaneamente.

*****

Não saia daí. ─ ele ouve gritos e sons de explosões. Há fumaça por toda parte. Ele não enxerga nada, apenas escuta a gritaria sucedida dos estrondos ensurdecedores.

Começa a ficar sem fôlego pela fumaça inalada, quando a silhueta o puxa para fora.

Então ele desmaia.


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