Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 6
Sentimentos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/32823/chapter/6

Chihiro foi para a escola como que levada a um mundo estranho, o ambiente a que estava tão acostumada não lembrava sua zona de conforto. Pela primeira vez, não sabia o que esperar de seu dia. Estava realmente olhando para as coisas ao seu redor e não só notando a presença, como algo que não a afetaria.

  Reparou no modo em que as pessoas ao seu redor se movimentavam, captou movimentos das mãos e ficou fascinada por isso. Censurou a si mesma por nunca olhar. Assistiu as aulas com um interesse renovado e não como se fosse algo enfadonho. E, apesar de não contribuir com a conversa com suas amigas, sorria muito e prestava atenção.

  Esforçou-se para continuar nesse ritmo mesmo quando queria afundar na depressão que a assaltava. Pensou em Boh mais vezes do que deveria, corando violentamente.

  Saiu da escola ao mesmo tempo feliz e aliviada. E se permitiu fechar os olhos durante alguns segundos enquanto caminhava para sua casa, respirando profundamente. Fez as tarefas atrasadas e arrumou o quarto de uma forma meticulosa, mas não demorou tanto tempo quanto ela esperava.

  Logo estava novamente impaciente. Bufou, irritada consigo mesma. Dividida entre o desejo de tentar ir até a passagem e ir até o templo para ver Boh.

  Sentou-se encolhida no sofá e logo se levantou. Não conseguia ter paz de espírito.

  - Droga!

  Ligou para o escritório da mãe e deixou uma mensagem dizendo que iria sair. Tendo o cuidado de não mencionar o local onde iria. Decidiu lidar com isso mais tarde. Imaginou uma mentira plausível rapidamente e censurou-se por fazê-lo.

  Correu para fugir daquela atmosfera opressiva. Não reparava no caminho, somente ia em frente guiada por um instinto desconhecido que a levava. Sorriu levemente ao encontrar aquelas plantas, não compreendia como pudera considerá-las hostis. Com sua nova percepção abstraía detalhes absolutamente insignificantes. Ficou durante algum tempo rodando em círculos, o sol batendo em seu rosto.

  Parou. Encarou o ser que a observava sem sorrir, seus braços largaram-se de sua posição anterior perdendo a vontade do movimento. Ergueu as sobrancelhas.

  - Sem Rosto. - foi só um murmúrio, repetido pelo farfalhar das folhas. Ou poderia ser apenas o vento... O sol pareceu esfriar e ela estreitou os braços em torno de si mesma. - Eu vou voltar?

  - Hum.

  Sumiu da mesma forma que havia aparecido. Chihiro fechou os olhos e imputou sua mente a pensar claramente. Queria acreditar que o que vira era verdade. Contudo, tinha medo de voltar; apesar de ser seu maior desejo. O que iria falar para todos eles? De certa forma ela havia escolhido o caminho de os abandonar. Não tinha mais o direito...

  Balançou a cabeça. Disse para si mesma que já havia aguentado muito por hoje; decidiu-se por ir embora.

  - Sabia que estaria aqui.

  Chihiro viu Haku. Não havia crescido, os olhos traziam aquele brilho estranho, parecendo duas bolas de gude. O sorriso contido e a magreza evidente em seus traços ainda infantis. Era a imagem mais linda que sua mente conseguia conjurar. Ficou feliz em poder admirá-la até que dissolvesse revelando Boh, que a encarava com seriedade.

  - Não parece feliz em me ver.

  A garota abaixou o rosto e quando levantou-o tinha lágrimas nos olhos. Sabia o que a inquietava tanto agora.

  - Na verdade, eu desejava te encontrar. - sorriu timidamente.

  Boh aproximou-se, deliberadamente lento, a boca retesada. Abraçou a figura pequena da garota com delicadeza, passando os dedos pelo cabelo dela.

  - Importa-se? - ele perguntou, recebendo um sinal negativo vindo do balançar da cabeça de Chihiro. 

  Ela conseguia respirar nesse momento. Suspirou, aproveitando aquele calor que emanava daquele corpo tão maior que ela. Daquela pessoa que conhecia seus sentimentos sem alguma previedade. Agarrou-se a ele e sorriu. 

  - Ninguém disse que seria fácil, Chihiro.   

  - Mas eu preciso tentar.

  Olhou sobre os ombros de Boh para a passagem intocada. Tinha o sentimento esmagador de que não iria conseguir voltar, pois o tempo passara para ela de uma forma diferente do que naquele lugar mágico.

  "Eu preciso tentar." - repetiu em sua cabeça. Encarou Boh sorrindo abertamente, voltava a sentir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!