Spirited Away 2 escrita por otempora
- Ah, é você! Estive te procurando, mas achei que estaria junto com Boh. – disse aproximando-se.
As pernas de Chihiro amoleceram e ela caiu no chão. Olhando feliz para a figura que a aparava.
- Zeniba! – não conseguiu refrear a exclamação. - Você me assustou! – disse nervosa, mas no fundo estava mais calma.
Aceitou o abraço caloroso da velha.
- Por que não me deixou vê-la antes? – perguntou sem mágoa.
- Era complicado demais. Tanto para você quanto para mim, mas agora estamos juntas, não é?
Com essas palavras, Chihiro lembrou-se da situação de Boh.
- Zeniba, Boh está em perigo. Ele está enfrentando duas cópias de Sem Rosto, ele me mandou ir embora.
- Tudo bem. Lembra-se onde ele está?
A garota olhou para trás, tentando recordar o caminho por onde viera. Fez um movimento negativo com a cabeça.
- Bom, há um bocado de energia sendo gasta por ali. Talvez sejam eles. Vamos, garotinha. Se há uma coisa que aprendi com minha irmã foi me transformar num corvo, o que é muito útil.
Zeniba transformou-se num grande animal negro de cabelos brancos puxados num coque alto em cima de sua cabeça, fazendo-a parecer severa com aqueles olhos comprimidos.
- O que está esperando? Suba logo!
A menina subiu desajeitada no dorso de Zeniba, tentando inutilmente não arrancar penas. Prendendo-se instável enquanto sobrevoavam a floresta.
- Ali! – gritou. Conseguindo observar a notável destruição à distância, as árvores engolidas por uma abundante camada sombria.
Zeniba planou naquela direção com cuidado, pousando numa área próxima. Chihiro não esperou por ela, correndo para onde estava Boh, gritando o nome dele. Estancou.
- Oh, Bou! – lamentou.
Boh estava caído de barriga para baixo, os braços estendidos ao lado do corpo, as roupas sujas de terra e de gosma, o rosto enterrado. Chihiro se aproximou, ajoelhando ao seu lado, com medo de machucá-lo. Não havia mais nenhum monstro, somente seus detritos venenosos.
- Boh. – chamou, preocupada com sua falta de movimento.
- Ele gastou energia demais. – Zeniba explicou. – Não pode fazer uma coisa dessas sem pagar um preço.
Sabendo disso, a garota lançou-se para o corpo dele, erguendo e virando-o. Aliviada pela serenidade no rosto dele, começou a limpá-lo com os dedos.
- Que imprudência! – ralhou Chihiro. – Não deveria ter feito isso.
- Fico feliz que esteja segura. – Boh disse ainda de olhos fechados.
- Você está horrível! – Zeniba interferiu.
- Obrigado, tia. A propósito, o que veio fazer aqui? – perguntou atento.
- Ajudar! – enfureceu-se Zeniba.
- Eu agradeço por isso. – falou solenemente.
- Então, devemos levantar o acampamento? – fingiu não ter ouvido a Boh. – Com o estrago que você fez, vamos ser descobertos rápido.
- Eu sei disso.
- Pegue um pouco da minha energia.
- Chihiro, isto não é...
- Ele precisa, para sairmos daqui. – argumentou. – Além disso, Boh é mais forte do que eu. Pode ajudar mais do que eu poderia. – lembrou-se subitamente do sacrifício que ele faria. Encostou sua palma no rosto dele, acariciando-o com os dedos, tentando passar-lhe segurança para que fizesse o que era preciso. Depositou um cálido beijo próximo a seus lábios, o que Zeniba viu estupefata, desviando o olhar rapidamente. – Vamos, Boh, está tudo bem.
Ele assentiu, procurando fixar o olhar no dela. Não repararam na saída de Zeniba, que lhes dera privacidade.
- Por que você tem que tornar as coisas mais difíceis? – ele perguntou com os cantos da boca erguidos num quase sorriso.
- Porque eu me importo com você. Então faça logo o que tem que fazer, precisamos sair daqui. – respondeu, retornando para as preocupações mais urgentes.
- Desculpe. – sugou a energia dela, no inicio Chihiro não sentiu nada, mas depois um cansaço repentino se abateu por seu corpo, lutou para manter a posição em que estava. – Chihiro, você está bem? – a voz de Boh era um tanto longínqua.
- Acho que sim. – respondeu incerta.
- Acho que peguei energia demais, não sabia que estava tão cansada.
- Não importa. – tentou manter-se forte.
- Vou levá-la. – dito isso, ele se levantou erguendo-a nos braços. – Durma. – cerrou as pálpebras dela com os dedos, sentindo imediatamente o corpo em seus braços amolecer.
- O que você fez, Bou? - Zeniba disse acusatoriamente.
- Já sabia que isso iria acontecer, tia. Não queria recriminações, não de você.
- Eu sei disso, mas mesmo assim... Sabe o que está fazendo?
- Não, mas de alguma forma ela me ama. – repetiu as palavras de Chihiro. – E é tudo que eu tenho a aproveitar.
Começou a andar, chamando a velha com um gesto de cabeça para que o acompanhasse.
- A propósito, para onde estamos indo? – perguntou ela mal-humorada.
- Há um lago aqui perto, quero ver se consigo invocar um demônio.
- Para que iria fazer isso?
- Vou abrir o Lago dos Espelhos... Entrar no mundo da morte.
- Realmente pretende fazer isto? E o que quer buscar lá?
- Vou trazer Haku de volta.
- Por que faria isso?
- Ele é o único que pode acabar com tudo isso.
- Pretende se sacrificar? Chihiro sabe disso?
- Sabe. – respondeu secamente, apertando o passo.
- E o que ela disse sobre isso?
- Pare com isso, Zeniba!
- Por favor, pense um pouco em si mesmo!
- Acha que é fácil? Eu tento todo o tempo me controlar para desistir, mas não é a mim que ela quer, eu não sou Haku!
- Viva! Só viva. – pediu Zeniba, apoiando-se num tronco para que não caísse. – Você é forte, não consegue ver isso? Por que está fazendo isso tudo?
Boh colocou Chihiro no chão, as costas recostadas numa árvore. Com os dedos, moveu a franja que teimava em cair, cobrindo-lhe os olhos. Não se virou para Zeniba para responder-lhe, engoliu a saliva e contemplou a menina por uns instantes antes de se voltar para o lago negro, repleto de detritos de Sem Rosto. Suspirou quando sentiu a presença da velha próxima a ele.
- Eu não sou ele.
Zeniba olhou-o compreendendo por fim. Toda a admiração dedicada na infância, a alegria quando conseguiu transmutar-se em dragão. A fúria e impotência que se abateu sobre ele quando seu ídolo havia morrido. Tornara-se um cerne gêmeo desigual a Haku.
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