Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 19
Cerne irregular




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- Ah, é você! Estive te procurando, mas achei que estaria junto com Boh. – disse aproximando-se.


As pernas de Chihiro amoleceram e ela caiu no chão. Olhando feliz para a figura que a aparava.


- Zeniba! – não conseguiu refrear a exclamação. - Você me assustou! – disse nervosa, mas no fundo estava mais calma.


Aceitou o abraço caloroso da velha.


- Por que não me deixou vê-la antes? – perguntou sem mágoa.


- Era complicado demais. Tanto para você quanto para mim, mas agora estamos juntas, não é?


Com essas palavras, Chihiro lembrou-se da situação de Boh.


- Zeniba, Boh está em perigo. Ele está enfrentando duas cópias de Sem Rosto, ele me mandou ir embora.


- Tudo bem. Lembra-se onde ele está?


A garota olhou para trás, tentando recordar o caminho por onde viera. Fez um movimento negativo com a cabeça.


- Bom, há um bocado de energia sendo gasta por ali. Talvez sejam eles. Vamos, garotinha. Se há uma coisa que aprendi com minha irmã foi me transformar num corvo, o que é muito útil.  


Zeniba transformou-se num grande animal negro de cabelos brancos puxados num coque alto em cima de sua cabeça, fazendo-a parecer severa com aqueles olhos comprimidos.


- O que está esperando? Suba logo!


A menina subiu desajeitada no dorso de Zeniba, tentando inutilmente não arrancar penas. Prendendo-se instável enquanto sobrevoavam a floresta.


- Ali! – gritou. Conseguindo observar a notável destruição à distância, as árvores engolidas por uma abundante camada sombria.


Zeniba planou naquela direção com cuidado, pousando numa área próxima. Chihiro não esperou por ela, correndo para onde estava Boh, gritando o nome dele. Estancou.


- Oh, Bou! – lamentou.


Boh estava caído de barriga para baixo, os braços estendidos ao lado do corpo, as roupas sujas de terra e de gosma, o rosto enterrado. Chihiro se aproximou, ajoelhando ao seu lado, com medo de machucá-lo. Não havia mais nenhum monstro, somente seus detritos venenosos.


- Boh. – chamou, preocupada com sua falta de movimento.


- Ele gastou energia demais. – Zeniba explicou. – Não pode fazer uma coisa dessas sem pagar um preço.


Sabendo disso, a garota lançou-se para o corpo dele, erguendo e virando-o. Aliviada pela serenidade no rosto dele, começou a limpá-lo com os dedos.


- Que imprudência! – ralhou Chihiro. – Não deveria ter feito isso.


- Fico feliz que esteja segura. – Boh disse ainda de olhos fechados.


- Você está horrível! – Zeniba interferiu.


- Obrigado, tia. A propósito, o que veio fazer aqui? – perguntou atento.


- Ajudar! – enfureceu-se Zeniba.


- Eu agradeço por isso. – falou solenemente.


- Então, devemos levantar o acampamento? – fingiu não ter ouvido a Boh. – Com o estrago que você fez, vamos ser descobertos rápido.


- Eu sei disso.


- Pegue um pouco da minha energia.


- Chihiro, isto não é...


- Ele precisa, para sairmos daqui. – argumentou. – Além disso, Boh é mais forte do que eu. Pode ajudar mais do que eu poderia. – lembrou-se subitamente do sacrifício que ele faria. Encostou sua palma no rosto dele, acariciando-o com os dedos, tentando passar-lhe segurança para que fizesse o que era preciso. Depositou um cálido beijo próximo a seus lábios, o que Zeniba viu estupefata, desviando o olhar rapidamente. – Vamos, Boh, está tudo bem.


Ele assentiu, procurando fixar o olhar no dela. Não repararam na saída de Zeniba, que lhes dera privacidade.  


- Por que você tem que tornar as coisas mais difíceis? – ele perguntou com os cantos da boca erguidos num quase sorriso.


- Porque eu me importo com você. Então faça logo o que tem que fazer, precisamos sair daqui. – respondeu, retornando para as preocupações mais urgentes.


- Desculpe. – sugou a energia dela, no inicio Chihiro não sentiu nada, mas depois um cansaço repentino se abateu por seu corpo, lutou para manter a posição em que estava. – Chihiro, você está bem? – a voz de Boh era um tanto longínqua.


- Acho que sim. – respondeu incerta.


- Acho que peguei energia demais, não sabia que estava tão cansada.


- Não importa. – tentou manter-se forte.


- Vou levá-la. – dito isso, ele se levantou erguendo-a nos braços. – Durma. – cerrou as pálpebras dela com os dedos, sentindo imediatamente o corpo em seus braços amolecer.


- O que você fez, Bou?  - Zeniba disse acusatoriamente.


- Já sabia que isso iria acontecer, tia. Não queria recriminações, não de você.


- Eu sei disso, mas mesmo assim... Sabe o que está fazendo?


- Não, mas de alguma forma ela me ama. – repetiu as palavras de Chihiro. – E é tudo que eu tenho a aproveitar.


Começou a andar, chamando a velha com um gesto de cabeça para que o acompanhasse.


- A propósito, para onde estamos indo? – perguntou ela mal-humorada.


- Há um lago aqui perto, quero ver se consigo invocar um demônio.


- Para que iria fazer isso?


- Vou abrir o Lago dos Espelhos... Entrar no mundo da morte.


- Realmente pretende fazer isto? E o que quer buscar lá?


- Vou trazer Haku de volta.


- Por que faria isso?


- Ele é o único que pode acabar com tudo isso.


- Pretende se sacrificar? Chihiro sabe disso?


- Sabe. – respondeu secamente, apertando o passo.


- E o que ela disse sobre isso?


- Pare com isso, Zeniba!


- Por favor, pense um pouco em si mesmo!


- Acha que é fácil? Eu tento todo o tempo me controlar para desistir, mas não é a mim que ela quer, eu não sou Haku!


- Viva! Só viva. – pediu Zeniba, apoiando-se num tronco para que não caísse. – Você é forte, não consegue ver isso? Por que está fazendo isso tudo?


Boh colocou Chihiro no chão, as costas recostadas numa árvore. Com os dedos, moveu a franja que teimava em cair, cobrindo-lhe os olhos. Não se virou para Zeniba para responder-lhe, engoliu a saliva e contemplou a menina por uns instantes antes de se voltar para o lago negro, repleto de detritos de Sem Rosto. Suspirou quando sentiu a presença da velha próxima a ele.


- Eu não sou ele.


Zeniba olhou-o compreendendo por fim. Toda a admiração dedicada na infância, a alegria quando conseguiu transmutar-se em dragão. A fúria e impotência que se abateu sobre ele quando seu ídolo havia morrido. Tornara-se um cerne gêmeo desigual a Haku.


 


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