Truques Mortais escrita por Anna Evans


Capítulo 3
Capítulo 3 - A chama do demônio


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora...
Mas acontece que tudo da errado de uma vez só, mouse ficou ruim, teclado nem se fala. Enfim, tive que comprar outros e quando finalmente aconteceu recebi uma visita super interessante que tomou um dia e meio do meu tempo. Mas é isso... Vim aqui hoje para postar o capítulo, espero que gostem.



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— Mas o que está acontecendo? — Holly pergunta ao se aproximar de Jennifer.

Já próximas ao cais as garotas, juntas de Scott, observam o grande salão de portas abertas. As luzes piscando lá dentro, um som alto agitando a festa. Pessoas saindo e entrando aleatoriamente.

Porém a atenção de Holly estava apenas nas máscaras, um monte delas dentro de uma caixa de papelão na entrada do salão. Algumas pessoas já ás usavam.

— Essa era a surpresa. — Jennifer disse por fim.

Juliet e Scott se aproximaram.

— Então... — Holly começou — A surpresa pra festa dos novatos será isso? Um baile de máscaras?

— Basicamente … — Jennifer puxou Scott pelo braço.

— O que foi? — Ele perguntou confuso.

— Escolha uma dessas máscaras. — Jennifer apontou para a caixa de papelão — Coloque-a no rosto. Só a retire quando for avisado por mim.

— Sim, senhora! — Scott sorriu se virando para as máscaras.

Holly suspirou um tanto desanimada seguindo para a caixa... Ela pôs as mãos em uma, mas Jennifer a fez soltar.

— Só os novatos vão usar máscaras, Holly.

Holly franziu a testa, mas logo sorriu.

— Não sei o que planejaram suas diabinhas — Holly falou — Mas estou começando a me interessar.

Jennifer sorriu dando de ombros.

Scott se virou com a máscara nas mãos.

— Acho que irei usar essa... — Ele a levanta para que as meninas possam olhar.

Holly ri.

— Tem certeza? — Juliet pergunta — Talvez deva pegar aquela ali...

Jennifer da um pequeno esbarrão no ombro de Juliet, como se ela estivesse falando demais.

— Juliet — Jennifer começa — Para ser sincera... Acho que essa máscara combina terrivelmente com ele.

— Mas essa máscara é de um... Diabinho. — Juliet une as sobrancelhas ao encarar a máscara vermelha nas mãos de Scott. Tinha feições sombreadas em preto, chifres e até mesmo as beiradas inferiores pontiagudas.

— Não chame de diabinho. — Scott pediu colocando a máscara no rosto.

— E do que devo chamar? — Juliet o questionou.

— De demônio. — Scott sorriu. Os pequenos olhos castanhos repuxados por de trás da máscara, o sorriso largo o deixava assustador por usar aquilo.

Jennifer riu.

— Ficou ótimo... — Holly opinou o encarando por um tempo.

— Realmente... Me identifiquei bastante com essa máscara. — Scott falou olhando para Jennifer. — Está certa, ela realmente combina comigo.

Juliet olhou para Scott e em seguida para Jennifer que apenas arqueou uma sobrancelha.

— Isso é ótimo — Logo em seguida ela sorriu.

— Ahn... Será que alguém se lembra que está rolando uma festa incrível lá dentro? — Holly perguntou próxima à entrada.

Scott deu um passo a frente e esperou que as meninas entrassem primeiro.

— Não precisa disso... Sei que não é tão gentil assim — Jennifer disse ao passar por Scott.

— Na verdade — Ele falou a fazendo parar — Você não sabe nada sobre mim... Mas um dia talvez...

— Talvez o que?

Ele deu de ombros.

— Não sei... — Ele falou — Vai depender de você. Tenho muitos lados, Jennifer... Vai depender de você qual irá conhecer.

— Também tenho muitos lados... Mas não posso garantir que algum deles seja bom o suficiente.

— Estou ansioso para ver o pior deles...

— Porque logo o pior? — Jennifer pergunta.

— Porque nada que é bom é tão verdadeiro quanto o ruim... — Ele falou — E digamos que eu sou uma pessoa muito verdadeira... Não minta para mim... Que não mentirei para você.

Scott sorri e logo em seguida passa à frente de Jennifer, sem esperar que ela responda. Deixando claro o que ela o disse antes sobre ser educado.

— Jennifer! — Holly e Juliet a gritavam próximas à uma escada que ia diretamente para um pequeno palco redondo.

Jennifer se apressou para encontra-las. Juntas, elas subiram as escadas. A música parou e os holofotes do palco foram em direção a elas.... As pessoas as observavam, novatos, veteranos e até mesmo alguns intrusos que nem sequer faziam parte da universidade, mas que compareceram a festa.

Silêncio.

Jennifer agora tinha um microfone nas mãos, Juliet a entregara assim que subiram.

Jennifer suspirou e logo expôs sua voz para aquele amontoado de gente a encarando.

— Antes de qualquer outra coisa — Jennifer pronunciou. A voz soando em cada caixa amplificada espalhada pelo grande salão escuro — Sejam todos bem vindos. Não pensem que esse lugar é incrível e interessante. Ele realmente é uma droga... Por tanto... Aproveitem ao máximo essa festa, ela será a única deste tipo.

— Desse tipo? Mas como assim? — Um dos garotos do ano passado gritou perto ao palco.

Jennifer sorriu. Ela o conhecia... Jason Kennedy. Ela saiu com ele algumas vezes, mas no final acabaram por ser amigos. Ele era um cara legal, mas não tinha nem uma gota de auto-controle em seu sangue.

— De que tipo? — Jennifer perguntou — Bom, a bebida está liberada, não precisam esconde-la, vocês agora são maiores de idade, não precisam fazer nada escondido... pelo menos não hoje. Afinal, consegui com muito esforço me desfazer de todos os nossos superiores da universidade... Hoje, vocês tomarão conta uns dos outros. Não temos regras, não temos castigos, mas também... Não temos compromisso.

Uma multidão inteira começou a gritar. Principalmente os novos alunos, estes mascarados. O que fez Jennifer lembrar que havia mais uma coisa a dizer.

— Mas agora... Antes de começarmos... Temos que fazer o que já é óbvio para vocês, novatos. — Jennifer falou retomando o comando novamente.

Os alunos que já estudavam ali se empolgaram. Mas não se podia dizer isso dos novatos, que se mantinham quietos agora.

— Como vocês já devem ter notado — Jennifer continuou — Apenas vocês usam máscaras. Isso faz parte do nosso querido trote.

Murmúrios tomaram conta do salão.

— Porém! — Jennifer elevou a voz — Alguns de vocês terão sorte... Nem toda penitência é rezar o pai nosso... Nem todo trote é ruim. Mas para a igreja, depende do pecado. Aqui, depende do pecador e da sua sorte. Quero que retirem as máscaras. Olhem o lado interno delas com atenção. Irão ver um número marcado com caneta esferográfica de 1 a 10...

Todos retiraram ás máscaras enquanto Jennifer esperava.

— Todos acharam? — Jennifer perguntou tendo uma resposta positiva da maioria ali. — Bom... Podem colocar as máscaras novamente. Nós, veteranos, selecionamos alguns dos alunos para buscarem vocês, novatos. Eu realmente ficarei comovida com a primeira vítima.

Jennifer esperou no palco junto de Holly e Juliet que estavam animadas para verem o trote.

Não demorou muito para que Liza Johnson subisse ao palco com um dos novatos. Liza tinha recebido os alunos no ano anterior... Fora ela que fizera as honras de jogar a tinta fluorecente em Jennifer, Juliet e Holly. Hoje, ela estava lá mais uma vez... Apenas arrastando os novatos para o palco, para que pudessem ficar envergonhados o suficiente. Só havia uma diferença... Dessa vez era Jennifer que escolhia, era Jennifer que fazia as honras. Jennifer não precisava mais receber ordens. Jennifer podia dar ordens. Algo ela fizera certo para ter essa arma poderosa. Mas ela ainda não sabia o que.

— Qual o seu nome? — Jennfier perguntou passando o microfone para o garoto. Sua máscara era azul escura.

— Josh — Ele respondeu acenando acanhado para o pessoal da festa.

— Muito bem, Josh. — Jennifer o encarou — Qual o número da sua máscara?

— Três. — Ele respondeu.

Jennifer olhou para Juliet que já sabia o que fazer.

— O número três. — Jennifer sorriu — Desculpe Josh, mas parece que a sua sorte não te acompanhou hoje.

O garoto ficou duvidoso, mas mesmo assim tentou sorrir.

Juliet chegou perto dele com uma pequena bolsa de plástico nas mãos.

Josh a encarou confuso.

— Me dê seu celular, identidade... Qualquer coisa importante que tenha nos seus bolsos.

Josh encarou Juliet e depois Jennifer.

— Vamos lá, entregue logo.

Josh retirou suas coisas e colocou dentro da bolsa de plástico nas mãos de Juliet, que deu um passo para trás.

Dois meninos se aproximaram arrastando um barril. Dentro havia água e grandes pedras de gelo.

Os garotos sorriram e encheram dois baldes.

Os veteranos gritavam animados. Josh tentara descer do palco algumas vezes, mas fora impedido pelo pessoal em volta.

— Podem tacar. — Jennifer falou.

Com o sinal, os dois garotos tacaram o balde cheio de água fria em Josh bem no meio do palco. Josh ficou encharcado e tremendo.

— Seja bem vindo, Josh. — Jennifer falou. Juliet entregou as coisas dele novamente.

Muitos alunos subiram ao palco. Uns tiveram sorte, outros o azar. Os de número um apenas tinham que escolher um veterano para acompanhar na festa inteira. Os de número dois tinham que dançar uma música. Haviam muitas outras coisas.

Agora Liza subia com alguém em especial. Jennifer não pode deixar de sorrir assim que encontrara a gravata de cetim vermelho sangue. Scott ainda estava com sua máscara. Ele parou na frente das meninas e sorriu.

— Seu nome... — Jennifer entregou o microfone.

— Scott.

— Scott, qual o seu número? — Lá atrás Holly riu junto de Juliet.

— Número oito. — Ele deu de ombros.

— Já sabe o que fazer, não é mesmo? — Jennifer perguntou.

Scott deu de ombros e logo soltou um sorriso.

Uns dez alunos já haviam subido ao palco com o mesmo número que Scott. O número oito deveria subir ao palco e fazer uma apresentação... Qualquer coisa. O dever era impressionar quem assistia, mas se o aluno não conseguisse teria que sofrer a mesma consequência que Jennifer no ano anterior... Um banho de tinta fluorescente.

— Posso chamar um candidato? — Scott perguntou a procura da garota que vira um pouco antes de chegar ao salão.

— Não. — Jennifer encarou Scott — A consequência é sua... Não de outra pessoa.

Scott fechou as mãos com força.

— Tudo bem, Jennifer. — Ele suspirou — Saiba que preciso apenas de um pano, qualquer tecido, desde que seja grande. Um esqueiro... E só.

Jennifer deu de ombros enquanto Holly e Juliet iam providenciar a toalha e o esqueiro.

Scott permaneceu parado, as mãos ainda fechadas e o olhar fixo no chão. Estava pensativo e um pouco preocupado. Perdido em uma lembrança, talvez.

Quando as meninas chegaram, entregaram a Jennifer uma grande toalha branca e um esqueiro.

— Toalha de mesa? — Scott perguntou, a voz baixa.

— Foi a única que encontramos. É da mesa de aperitivos. — Holly explicou.

Scott encarou a toalha como se a desprezasse.

— Você pediu a toalha... Agora pegue. — Jennifer estendeu a mão esperando que ele pegasse a toalha.

Scott apertou as mãos com mais força em punhos. Esticou um de seus braços.

— Enrole a toalha no meu braço e depois envolva ela em meu pescoço. — Scott pediu.

Jennifer franziu a testa confusa.

— O que?

— Vamos acabar logo com isso... — Scott pediu.

— Acho mais fácil você aceitar o banho de tinta.

— Faça o que eu pedi.

Jennifer passou a toalha pelo braço estendido de Scott. O que sobrara do pano ela colocou em volta de seu pescoço, como combinado.

Com a mão esquerda estendida, ele levantou a direita e pediu o esqueiro. Juliet não quis entregar, mas ele gritou com ela.

Scott acendeu o esqueiro. A pequena chama se balançava calmamente de um lado para o outro. Ele a encarava fascinado. Como se ela fosse especial, ou talvez monstruosa. Ele aproximou o esqueiro aceso do toalha de mesa enrolada em seu braço.

Esperou.

O fogo finalmente tocara o tecido. A pequena chama escurecia aos poucos a toalha branca. Para que o fogo se espalhasse mais rápido, Scott pôs o esqueiro em um local diferente, depois em outro e em outro.

Até que seu braço estava completamente em chamas. O fogo agora subia em direção ao pescoço. Passando pelos ombros, queimando. Destruindo o tecido.

— Você ficou louco? — Jennifer perguntou olhando a cena.

As pessoas que assistiam viam-se nervosas, algumas até apavoradas. Outras pediam para que jogassem água no braço do rapaz em cima do palco.

Mas e Scott? Ele não as ouvia. Estava fitando aquela pequena chama se tornar tão grande. Estava vendo a fumaça se espalhar tão suavemente pelo ar. Ele quase podia enxergar um garoto de 14 anos. Triste, rebelde. Incompreendido ao lado de um homem de expressão vazia... Ele podia sentir a dor se alastrar por seu corpo. Tão rápido quanto as chamas... Ele podia...

Scott piscou. As pessoas se agitavam, gritavam vendo o fogo em seu corpo. Alguns garotos vinham com um balde d'água para apagar as chamas. Scott deu um passo para trás e pediu para que parassem... E olhassem.

Juliet fechara os olhos, estava nervosa. Holly permaneceu do lado dela, nem um pouco diferente. Já Jennifer... Ela queria entender. Ela queria entender o que o levara afazer aquilo... Ele estava louco? E isso... Ele ia se queimar... Seria culpa dela?

Seria... Ela o mandara fazer algo impressionante. Ela...

Jennifer esfregou os olhos querendo acreditar no que via, mas ainda assim... Não podia.

Aos poucos a toalha branca apenas foi virando cinzas. Caindo aos pés de Scott. O seu braço, ombro ou pescoço... Nada fora afetado, as cinzas deslizavam caindo ao chão, deixando a visão clara do perfeito tecido de sua roupa de festa... Apenas um pouco sujos por conta das cinzas. Mas e seu braço? A manga estava dobrada... Mas mesmo assim, nem uma queimadura... Nem sequer uma marca vermelha.

Scott abaixou o braço e abriu a mão. Ela ardia, estava vermelha. Ele apertara seus dedos com muita força.

Os alunos, tanto os novatos quanto os veteranos, estavam em choque... Não sabiam o que fazer. Impressionados, talvez.

— Bom... Acho que fiz o que pedia. — Scott falou sacudindo o pó da manga de sua camisa. — Não preciso de tinta, preciso?

Jennifer o encarou por um tempo...

— Não — Ela falou ainda olhando para seu braço a procura de uma queimadura.

— Muito bem.

— Você... Você está bem? — Juliet veio na direção dele. — Quer dizer... Você...

— Estou bem, Juliet — Scott sorriu — Isso é apenas um truque barato que aprendi há muito tempo atrás com meu pai. Talvez eu te ensine algum dia... É como esconder uma moeda, vai gostar.

Scott pôs novamente as mãos nos bolsos e sorriu.

Juliet deixou de encarar e sorriu também.

— Tudo bem...

— Não deveria dizer algo no microfone? — Scott perguntou olhando Jennifer.

Jennifer uniu as sobrancelhas.

— Seja bem vindo, Scott. — Ele falou para ela virando as costas para descer do palco.

— Seja bem vindo... Scott. — Ela falou ouvindo os aplausos e gritos dos alunos.

Faltava poucos novatos para subir ao palco, logo a festa iria começar.

Scott passou pelos outros na multidão, ouvindo elogios e recebendo tapinhas nas costas. Ele ignorou. Seguiu a procura de um banheiro. Precisava ficar longe dos outros... Estava cansado, e agora... Completamente sem ânimo.

Depois de alguns minutos ele finalmente encontrou... Estava vazio. Era um banheiro pequeno, mas não tão ruim assim. Pelo menos estava limpo... Por enquanto. A festa ainda não havia começado.

Ele pôs as mãos na pia de mármore gelada. Retirou a máscara e encarou o espelho na sua frente. Seus olhos escuros examinando seu reflexo... Estava incomodado.

Scott afrouxou a gravata vermelha e abriu os dois primeiros botões de sua camisa branca, sem retirar o colete. Ele puxou a gola e examinou com desgosto seu ombro direito. Uma cicatriz... A marca de uma faca afiada. Ele a tinha desde os nove anos e isso era definitivamente a prova de quem ele era. Era a marca de que as coisas nunca seriam do jeito que ele esperava que fossem. Ele novamente apertou as mãos... Olhou novamente para seu reflexo... Era como se pudesse ver... Como se pudesse ver seu passado novamente. Estava sufocado.

Abriu a torneira e molhou o rosto... Se afastando de lembranças desgastantes.

Ele respirou fundo e ajeitou sua blusa e gravata. Com um suspiro pesado, ele voltou a por a máscara e saiu do banheiro.

Podia ouvir a voz de Jennifer ecoando pelo salão, ainda falando ao microfone. Ele voltou a ir de encontro a multidão. Não era confortável, mas ele precisava se distrair...

Seus olhos passavam de um lado para o outro, sem interesse...

Mas então ele parou... Lá estava ela... Próxima a mesa de bebidas com umas amigas. A garota de antes da festa... Ele então não pensou em mais nada. O foco mudou... E ele seguiu em sua direção.


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