O tempo correu. O garoto passou muitos anos no mar, ele cresceu desbravando com o pai os mares nunca antes explorados, o menino se tornou um homem sem nunca esquecer uma tal promessa que fizera, há muito tempo, para uma garotinha com quem ele costumava apostar corrida nos bosques de Narnia, ou nadar na cachoeira.

À medida que foi amadurecendo, ele percebeu que aquelas palavras que prometiam, mesmo ele tendo usado o coração para proferi-las, saíram da boca de uma criança para os ouvidos de outra, e ele duvidava que depois de tantos anos ela sequer se lembraria dele.

Enquanto isso, em terra firme, a menina que antes costumava correr sem parar apostando corridas pelos bosques, trocara a lama e os banhos de cachoeira pela vida doméstica, ajudando a mãe a cuidar da casa; as fitas no cabelo deram lugar as joias, as bonecas aos vestidos e sapatos e a infância à juventude.

A menina se tornara uma moça bonita que atraía olhares por onde passava, mas nenhum deles lhe interessava. Toda vez que sua mente se sentia atraída por algum rapaz de belo porte, seu coração a lembrava do colar pendurado em seu pescoço, escondido dentro do vestido, mas ainda assim, presente.

Ele fora posto ali por alguém que ela não via desde pequena, de quem ela não falava muito. Aquele colar era o símbolo da sua promessa àquele menino que partiu para o mar e nunca mais voltou, aquele quem ela prometeu esperar, mas que a cada dia parecia estar mais longe dela.

Sua mente era confusa com relação a esse assunto. De um lado ela se mantinha fiel a sua promessa e de outro se criticava por que podia estar deixando sua vida passar. Certamente ele não lembrava mais dela, afinal, o que era ela comparada com as aventuras e as diversas mulheres que ele deve ter encontrado, mais bonitas do que ela. Mas seu coração protestava toda vez que ela pensava assim.

Ela nunca admitira, mas seu coração se enchia toda vez que pensava nele. Então a notícia.

- Querida, venha, seu pai chegou. – chamou sua mãe da porta da cozinha.

- Já vou. – respondeu a moça, parando de cortar os tomates, lavando as mãos, secando-as e seguindo para a sala de estar. Lá viu o pai sorridente. – Olá, pai. – ela o abraçou. – O que aconteceu para lhe deixar tão contente?

- Seu pai recebeu uma notícia maravilhosa pelo visto. – disse sua mãe sorrindo, sendo contagiada pela visível alegria do marido.

- Hoje chegou a noticia ao rei, lá no palácio – começou o pai – Adivinhem?! – não houve tempo de nenhuma das duas dar alguma sugestão, ele foi logo respondendo a própria pergunta. – O Peregrino da Alvorada concluiu sua missão com sucesso! O navio vai aportar amanhã pela manhã!

O coração da moça vacilou.

Então ele está voltando...?

- Oh, mais que noticia maravilhosa! – comemorou sua mãe. – Então todos esses anos valeram a pena?!

- Valeram sim, Helen – concordou o marido. – Nem acredito que vou ver Tirian novamente, faz tantos anos que não vejo meu amigo, e não só ele, mas o filho dele também, nossa menina e o filho de Tirian eram muito amigos, não é Helen?

- Claro, lembro-me dos dois correndo juntos todos sujos de lama – riu a mãe e a moça se obrigou a regular os batimentos e dar uma leve risada.

- Você se lembra do filho de Tirian, não lembra, querida? – seu pai perguntou.

- Aham. – ela assentiu, despertando de sua rápida distração.

- Vou até o porto recepcioná-los amanhã. – disse seu pai, antes de comemorar novamente.

[...]

- Então ele chega amanhã?! – sua amiga de grandes olhos azuis esverdeados e cabelos de um tom castanho avermelhado, jogou-se em sua cama. – Oh, mal dá para acreditar...! Mas... Você não parece muito animada com o retorno dele... – notou.

- Minha ficha apenas ainda não caiu. – respondeu. – Eu esperei por ele tanto tempo... E agora ele está, aí, de volta.

- Oh, eu entendo... Mas pense pelo lado bom. – tentou animá-la.

- Que lado bom?

- Se me lembro bem, ele era muito bonito quando criança, imagina agora já homem feito, deve estar espetacular! – gargalhou fazendo a outra rir também, jogando-lhe uma almofada.

[...]

Depois que sua amiga foi embora para casa, ela decidiu que já era hora de dormir, mesmo estando cedo e ela sem sono algum. Na verdade, ela estava ansiosa e feliz por finalmente revê-lo, mas ao mesmo tempo nervosa. Ela não sabia o que fazer quando o visse novamente. Começou a se perguntar como ele estaria... Como havia ficado já grande... E foi pensando a respeito que acabou pegando no sono.