Capítulo 03: Protegida

   Suspirei, me encostando à parede do corredor que levava ao salão principal do Café. Não estava nem próximo do horário do fim do expediente ainda, e eu já estava cansada de olhar para a cara dele.

   E não, ele não estava lá sentado bebendo chazinho e comendo bolinhos como todos os dias desses últimos dois meses. A cozinheira do Café estava doente, então Esme teve a BRILHANTE e MAGNÍFICA ideia de colocar aquele Alien Pervertido para trabalhar como cozinheiro do Café.

   Primeiro: segundo uma das “regras” dos Cafés de Maids, apenas mulheres trabalhavam no estabelecimento. Homens só como clientes.

   Segundo: “Alien Pervertido” é o apelido carinhoso que eu dei a ele. Alien porque ele sempre aparece onde eu estou, do nada, quando eu preciso (e irritantemente quando eu menos preciso também) e Pervertido vocês sabem por que.

   Parece que piora a cada dia.

   Bufei, e ouvi o barulhinho do sininho vindo da cozinha. Os pedidos estavam prontos. Assim que adentrei o local, senti o cheiro maravilhoso de doce. Edward incrivelmente era um ótimo cozinheiro, o que surpreendeu a todas.

    E graças a esse talento ele era agora o meu colega de trabalho.

- Quer provar? – ouvi o Cullen perguntar, o corpo muito próximo ao meu, e levando uma colher de doce em direção aos meus lábios.

   Virei o rosto, peguei a bandeja e o ignorei, saindo da cozinha. Ainda pude ouvi-lo rir, e isso me irritou ainda mais.

- Você ouviu sobre os ataques a Cafés pelas redondezas? – ouvi Jéssica dizer à Ângela.

- Sim, são sempre à noite. Parece que uma maid já foi até violentada. – Ângela disse, com aparente preocupação na voz.

   Ataques a Cafés? Esses caras não tinham mais o que fazer?

   Ouvi o barulho de algo metálico cair no chão, e vi que havia sido um talher de um dos clientes. Rapidamente peguei o objeto.

- Me desculpe, Bell! – o homem disse.

   Balancei a cabeça, sorrindo levemente.

- Tudo bem, Mestre! Eu trarei outro para você! – falei, me retirando rapidamente.

   Logo eu voltei com um talher limpo para ele, que me olhava com um sorriso. Senti um frio passar em minha espinha, e engoli em seco, sorrindo de volta para ele e ignorando a sensação.

   Logo os clientes foram indo embora, um por um, e eu percebi que já ia dar seis horas da tarde. Hora de fechar.

   As meninas e ajudaram a trancar o Café e foram trocar de roupa. Assim que eu me preparava para fazer o mesmo, Esme me parou com olhar suplicantes.

- O que foi? – perguntei, estranhando sua expressão.

- Bella, eu tenho uma reunião importantíssima amanhã, portanto não poderei vir. Eu queria saber se você pode ficar responsável pelo Café até eu chegar, de noite, por volta das sete horas. Eu posso até te levar em casa depois! – pediu.

- Mas... E as outras meninas?

- Ângela tem outro trabalho, Lauren tem as aulas da faculdade e Jéssica disse que tem outro compromisso.

   Sei bem que compromisso Jéssica tem. E ele inclui uma cama e com um cara pelado em cima.

   Suspirei e sorri levemente para Esme, assentindo. Ela sorriu radiante.

- Obrigada! Eu sabia que poderia contar com você! Mas peço que tenha cuidado, Bella. Já ouviu sobre os ataques...? – perguntou.

- Sim, mas não se preocupe. Pratico judô há dois anos, portanto sei me defender bem! – falei tentando tranquiliza-la.

   Esme sorriu mais tranquila, e logo foi trancar o Café. Eu ia em direção ao vestiário quando fui parada pelo Cullen no caminho. Ele estava encostado à parede, de braços cruzados, e me observava sério.

- Você e sua mania de achar que pode resolver tudo sozinha. – falou.

   Revirei os olhos.

- Eu posso resolver tudo sozinha. – falei, passando reto por ele.

   Edward me pegou pelo braço e me puxou, me prensando na parede em seguida. Desviei o olhar do seu, mas ele segurou meu rosto e me obrigou a olhá-lo.

- Não acho que seja uma boa ideia você ficar aqui sozinha. – falou, parecendo realmente preocupado.

   O que ele tinha a ver com isso, afinal? NADA!

- E eu não acho que seja uma boa você ficar ouvindo a conversa dos outros. Ainda mais quando ela não lhe diz respeito! – falei, empurrando-o para longe de mim.

   Edward me olhou e bufou.

- Eu ficarei aqui com você, então. – falou.

   Revirei os olhos.

- Amanhã a cozinheira voltará. Portanto você não poderá ficar. – falei, e ele pareceu murchar.

   O deixei lá sozinho e fui me trocar para ir para casa.

(...)

-... E ele é tão lindo! Sua voz é perfeita, e ele é um fofo com todas as fãs! – Alice dizia sonhadora.

- De quem ela está falando? – cochichei para Rose, que olhava para Alice com a mesma cara de paisagem que eu.

- Eu não sei. – ela cochichou de volta.

- Ai, ai... Jasper... – Alice murmurou, se jogando sobre o gramado do pátio.

- Alice, quando será esse show mesmo? – perguntei.

- Ah, será nesse fim de semana! – falou animada. – Eu já comprei nossos ingressos, vamos ficar em frente ao palco!

- Que divertido. – Rose disse, com a expressão séria.

   Alice tascou um biscoito na cara de Rose, que riu.

- Vocês verão com seus próprios olhinhos o quanto eles são perfeitos! – a fadinha disse, cheia de certeza.

- E qual é o nome deles? – perguntei. – Você sabe, para eu ter o que gritar caso precise fingir que sou um fã enlouquecido se alguma garota desconfiar que eu nem sei quem são e tentar me matar.

   Alice e Rose riram.

- Tem o Jasper, que é o vocalista e guitarrista. O Laurent, que é o baterista. O Riley, que é o tecladista e o Emmett, que o baixista! – Alice falou.

- É tanto “ista” que está dando curto-circuito no meu cérebro. – Rose murmurou, recebendo outro biscoito na cara.

   Ri das duas e Alice voltou a contar sobre o quanto a banda era perfeita, e os garotos eram perfeitos, e sobre o tal Jasper que seria o pai de seus filhos.

   Eu apenas ria de Alice, e me juntava à Rose na hora de zoar da cara dela. Era bom passar um tempo assim com elas duas... Eu não era tão eufórica quanto Alice, mas me permitia ser quando estava com ela. Era impossível segurar o riso com aquelas duas!

   E todo momento eu me sentia ser observada. Olhei ao redor, um pouco alheia ao que Alice dizia, e não vi ninguém. Apenas alguns grupos de alunos espalhados, conversando entre si, e alguns garotos jogando na quadra. Suspirei.

   Eu estou ficando paranoica.

(...)

- Bella, nós já vamos! – Ângela disse, me olhando preocupada.

   Eu sorri para ela, Lauren e Jéssica, tentando tranquiliza-las.

- Tem certeza que ficará bem, Bellinha? – Lauren perguntou.

- Ficarei sim, não se preocupem! Esme disse que chegará logo, eu ficarei bem! – falei.

   Elas me abraçaram e me desejaram boa noite, indo embora em seguida. Eu ainda usava o uniforme, e suspirei ao começar a sentir o local esquentar. Estava tudo escuro, e eu rapidamente fui para o segundo andar. Havia outro local para clientes lá, onde também ficavam as máquinas de jogos onde eles obtinham os pontos para tirar fotos com as maids. Havia uma enorme parede de vidro que dava para a rua em frente ao Café, e a porta na mesma que levava para uma pequena varandinha. Fui até lá, para fechar a porta, mas parei quando senti a brisa fresca. Fechei os olhos, suspirando. Ouvi um barulho estranho e, quando olhei para trás, vi que uma das máquinas de jogo estava ainda ligada. Rapidamente fui desliga-la, mas tive que me abaixar no chão já que a tomada era debaixo dela. Com esforço consegui desligar a bendita. Suspirei e, quando me preparava para ficar de pé, senti dois braços rodeando fortemente a minha cintura e um pano ser colocado contra os meus lábios.

   Arregalei os olhos, tentando me soltar, mas quem me prendia me prendeu ainda mais forte.

- É tão linda. – o estranho sussurrou próximo ao meu ouvido.

- Mal posso esperar para ver como fica sem essa roupinha de maid! – outra voz disse, e os dois riram.

   Engoli em seco, tentando controlar o desespero. Deixei que me prendessem nos pulsos com uma algema, e fiquei quieta.

   Eu esperaria a melhor hora para agir.

   Eles me colocaram sentada em um canto, de costas para a parede de vidro. Apenas a luz prateada da Lua cheia iluminava parcialmente o local, me dando uma visão fraca do rosto deles. Mas vi que o que havia me prendido era o mais baixo, e gordo. Usava óculos. O outro, um pouco mais alto, era magro e usava um casaco quase maior do que ele. Seus cabelos iam até a nuca, negros.

   Nem um pouco ameaçadores ao meu ver.

   Mas, ao observar melhor, percebi que eles... Eles eram clientes do Café! Eles sempre vinham, e pediam para ser atendidos por mim! O mais baixo e gordo era o mesmo que havia deixado o talher cair hoje!

   Reprimi a vontade de voar no pescoço deles.

- O que irão fazer? – perguntei entredentes.

   Eles sorriram, se agachando até ficar na minha altura. O mais magro levou uma das mãos ao meu rosto, e eu tentei me afastar, mas sem sucesso.

- Você será nossa, Bell. – ele disse, rindo. – Apenas nossa! Isso não é maravilhoso?!

- E vamos começar tirando esse pedaço de pano inútil, apesar de que você fica linda nele... – o mais gordo disse, puxando a barra do meu vestido e a levantando.

   Eu me remexi, tentando me afastar deles, mas o mais magro me segurou fortemente pelos ombros e me manteve no lugar, enquanto o outro levantava a minha roupa. Senti minha respiração descompassada, e quando me preparei para ir para cima deles, mesmo com as mãos algemadas, um estrondo pôde ser ouvido e estilhaços de vidro voaram para todos os lados.

   Olhei para trás assustada, mas apenas um vulto passou pelos meus olhos. Ouvi gritos, e quando voltei a olhar para os homens, vi os dois sendo golpeados. O gordo já estava estatelado no chão, gemendo de dor, e o magro caiu num baque surdo e jurei ter ouvido o barulho de um osso quebrando.

   Arfei, meu coração batendo fortemente em meu peito. Meu corpo estava trêmulo, e só então pude me permitir abaixar a cabeça.

   Tentei normalizar a respiração, e senti mãos tocarem as minhas atrás das costas. Tentei me afastar novamente, sobressaltada, mas ouvi um “shhh”.

- Sou eu, fique calma. – a voz tão conhecida disse.

   Mordi o lábio inferior, enquanto ele tirava as algemas de mim. Meus braços caíram ao lado do meu corpo, moles, e eu permaneci com o rosto abaixado. Seus braços rodearam meus ombros, seu queixo encostado no topo da minha cabeça. Encostei meu rosto em seu peito e seus braços me envolveram com mais força.

- Eu disse que era perigoso, por que não me ouviu? – ele perguntou. – Céus, eu pensei que você... Se eu tivesse demorado mais...

   Eu ouvia suas palavras em silêncio, mas logo não pude me conter. Quando menos percebi, as lágrimas rolavam pelo meu rosto, e eu estava agarrada em sua blusa. Edward murmurou palavras para tranquilizar, enquanto me apertava contra seu peito. Molhei toda a sua blusa, e logo consegui me acalmar.

   Ouvi os gemidos de dor dos dois desconhecidos, eles ainda estavam largados no chão. Edward pegou seu celular no bolso e ligou para alguém. Pelo pouco que entendi, era para a polícia.

   Minutos depois a viatura chegou, e eu já estava mais recomposta. Edward mantinha seu braço ao redor dos meus ombros, enquanto eu contava o que havia acontecido ao policial. Logo pudemos ver Esme chegando afoita. Contamos tudo o que havia acontecido, novamente, e o policial nos garantiu que ficaria tudo bem.

   Esme agradeceu a Edward, e se me pediu mil desculpas. Eu a tranquilizei, afinal, a culpa fora minha. Eu realmente fui descuidada. Esme rapidamente entrou no Café e eu me virei para Edward.

- Será que ela vai surtar quando ver a parede de vidro toda destruída? – perguntei.

    Edward sorriu torto.

- Eu dou meu jeito de acalmá-la. – falou.

   Crispei os olhos diante de seu tom de voz. Ele era mesmo um pervertido.

   Revirei os olhos e suspirei.

- Bom... Obrigada. Mais uma vez. – falei.

    Edward me olhou com um olhar estranho, e se aproximou, beijando a minha testa.

- Disponha. – sussurrou.

(...)

- EU NÃO ACREDITO, EU ESTOU TÃO PERTO DELES! PERTO DO JASPER, OMG, ALGUÉM ME SEGURA! NÃO, NÃO ME SEGURA PORQUE EU PRECISO ENCOSTAR NELE E...

- ALICE, SE CONTROLE! – Rose gritou.

   Alice se calou rapidamente, fazendo um biquinho. Suspirei, massageando as minhas têmporas. Desde que chegamos ao local do show, tudo o que Alice fez foi gritar.

   Logo as luzes azuis e negras começaram a iluminar o palco, e uma névoa subiu no mesmo. Eu e Rose nos entreolhamos, enquanto Alice quicava no lugar, com um sorriso maior que a cara, ansiosa.

- Devemos ter medo? – Rose cochichou.

- Acho que... Sempre. – cochichei de volta.

   Logo 4 figuras apareceram no palco, e um deles em frente ao microfone, bem na frente do palco. Bem na frente de onde nós estávamos. Uma luz mais clara os iluminou mais, e pudemos ver a cara dos cidadãos. Pelo o que Alice dissera na escola, o que estava mais próximo de nós, em frente ao microfone, provavelmente era Jasper, o vocalista. Laurent, o baterista, estava ao fundo. Riley, o tecladista, estava do lado esquerdo do palco e o Emmett, que era baixista, estava do lado direito do palco, mais próximo de nós.

- Boa noite, galera! – o tal Jasper disse, animado.

   Logo ele desatou a agradecer a presença de todos. Alice parecia encantada com tudo aquilo e Rose me cutucou.

- Eles não parecem aqueles caras de trinta anos que se fazem de garotões para pegar as menininhas bobinhas, tipo Alice? – ela disse.

   Ri alto, assentindo. Devido ao barulho que aquelas fãs histéricas faziam, tínhamos que falar uma no ouvido da outra, se não ninguém escutava nada.

- Só aquele baterista que parece ser novinho! – falei, e Rose concordou.

- Mas aquele baixista ali... – ela murmurou, olhando para Emmett.

- Opa! Rosalie Hale está achando um cara bonito? O que aconteceu?! – perguntei risonha.

   Ela sorriu timidamente e me deu um tapinha no braço.

- Não achou nenhum bonito? – ela perguntou.

   Olhei para o rosto de cada um, e nenhum me agradou.

   Talvez se tivessem olhos verdes, ou cabelos acobreados... E um sorriso torto...

   Espera aí, o que eu estou pensando?!

   Afastei meus pensamentos e prestei atenção na roupa que usavam. A julgar por todo o clima do show, aquelas luzes azuis e negras e as roupas que usavam, talvez o som deles seja algo tipo Linkin Park, ou algo assim. Se for, pelo menos algo bom sai disso tudo...

- Será que eles cantam rock? – perguntei para Rose. – Pelo menos algo bom...

   Rose me olhou prendendo um riso. Ela balançou a cabeça, rindo, e eu não entendi nada.

- Espera para ver. – ela falou.

- Por quê?

   Rose suspirou, ainda rindo de mim, mas não falou nada. E logo eu entendi o porquê do riso dela.

Tonight Tonight – Hot Chelle Rae:

(http://www.youtube.com/watch?v=_8hL2JiNEos)

   Arregalei os olhos quando a música começou a tocar e o tal Jasper soltou a voz. Olhei para Rose, e ela riu alto de mim.

- Sabia que você ia fazer essa cara! – falou.

- Mas o quê... – eu a perguntar o que era aquilo, quando Alice me interrompeu aos berros.

   Estava chegando no refrão... Ai meu deus.

- LA, LA, LA, WHATEVER! LA, LA, LA, IT DOESN’T MATTER! – ela gritava junto com todas aquelas meninas enlouquecidas, pulando e balançando os braços.

   Aquelas pessoas estavam quase empurrando eu e Rose para o chão para ter mais espaço para pular... Em cima da gente. Eu e Rose nos agarramos uma na outra, e Rose ria de tudo aquilo.

    Acho que nunca a vi rir tanto.

   E acho que nunca vi tanta gente gritando assim.

   No fim da música, vi que Jasper olhou em nossa direção, mais especificamente para Alice. E sorriu. E piscou. E logo voltaram a tocar outra música.

   Rose também pareceu perceber o que havia acontecido e, quando olhamos para Alice para ver se ela havia notado, ela estava estática e de olhos arregalados olhando para o palco.

- Alice, você está...

   E o corpo dela foi ao chão.

   Ela, literalmente, desmaiou de emoção.