Mitsuko POV’S ON

Ouço uma voz me chamar, simplesmente a ignoro e volto aos meus devaneios, até que sinto algo me tocar meu braço de modo delicado e tornar a falar. Desisti de meu sono e abri os olhos com certa preguiça, me deparando com L olhando atentamente para mim:

–Bom dia Mitsuko. – ele disse calmo. Esse é o L que conheço? –Dormiu bem? – perguntou. Questionei-me se isso era mais uma de suas brincadeiras, mas o sono ainda estava atrapalhando minha linha de raciocínio.

–Bom dia Ryuuzaki. – levantei meu corpo e pus-me sentada em frente a ele – Sim, dormi muito bem. – minha voz estava serena, havia de fato dormido bem. Foi uma noite sem pesadelos, sem preocupações, sem nada. –Está tão calmo hoje, aconteceu algo? – ele está diferente, e quero saber qual o motivo.

–Não. É só porque está tudo na sua perfeita ordem. Os preparos para hoje não poderiam estar melhores. E...não sei, sinto de alguma forma que tudo está em seu lugar.

–Em seu lugar? Ryuuzaki, eu estou no seu quarto, minha irmã que nem deveria estar aqui se encontra trancada no andar de cima...Perfeita ordem? Duvido muito. – falei ainda sentada. Ele deu um sorriso de canto e cruzou seus braços antes de dizer:

–Mas, é isso mesmo. De alguma forma, eu sinto que tudo está onde deve. – o fitei, esperando mais explicações. –É como se quando eu tirasse algo do lugar, o equilíbrio se perdesse.

–Entendo. Você falou que está tudo pronto para hoje, a que horas começamos? – perguntei fugindo do assunto. –Alias... que horas são?

–São 10h00min. – ele falou –Começaremos depois do meio dia. Porem, quase tudo está pronto.

–Mas... está tarde. Por que não me acordou?

–Não sei... não me parecia certo lhe acordar, você estava cansada demais, merecia um descanso.

–Muito... obrigada Ryuuzaki. Isso me fez muito bem. – levantei da cama e fui de encontro ao banheiro –Vou tomar um banho quente, daqui a 20 minutos desço para começar o trabalho, certo?

–Não precisa agradecer Mitsuko... – ele dizia envergonhado, dei um sorriso terno –Irei lhe esperar na sala de controle. – ele foi caminhando, abriu a porta e antes de ir, acenou e sorriu. Eu retribui seu sorriso e fui tomar banho.

Tudo parecia melhor naquela manhã, desde a água caindo em meu corpo até os raios de sol que estão, nesse momento, sendo escondidos por nuvens brancas e harmônicas. E não sei por que motivo estava vendo o lado bom de tudo e de todos, é como se uma tranquilidade tivesse se espalhado pelo meu corpo e eu sonhasse para que esse momento durasse toda a eternidade. Saí do chuveiro com uma toalha enrolada em meu corpo e outra em meus cabelos. Fui à busca de minha troca de roupa, porem me recordei de que não estava em meu quarto.

–E...agora? – disse em voz alta para mim mesma. Abri a porta do banheiro esperançosa de que uma muda de roupa brotasse da terra, e ao olhar em cima da cama, havia uma calça jeans escura, uma blusa social violeta e um all star de couro preto. –Ainda bem! Minhas preces foram atendidas! Mas...como? – vesti as roupas e notei algo no bolso da calça, pus minha mão dentro e puxei de lá um papel, uma espécie de bilhete, o abro, e noto uma caligrafia cuidadosa, que dizia:

“Mitsuko, dei a você essas roupas, pois sabia que estava sem nenhuma disponível, já que está em meu quarto. Não quis mexer em suas coisas, pois seria invasão de minha parte. Depois de vesti-las, vá para sala de controle, para trabalharmos.

Ass: Ryuuzaki”

Fiquei sem ação por um momento, eu já percebi que L estava estranho nessa manhã, mas...Não esperava por isso. Meu coração estava mais acelerado do que de costume, minhas mãos suavam um pouco e sentia-me estranhamente feliz. Peguei o bilhete, e encostei a ponta de meu nariz levemente. Pude exalar um cheiro semelhante a café, afastei-me do papel e notei uma mancha sobre ele. Viro minha atenção para o espelho que se encontra em minha frente, dou uma sorriso de esgueira, aquelas roupas eram tão simples, porem especiais...Não sei explicar. Passo minhas mãos lentamente pelo tecido da blusa, mergulhando de cabeça em meus pensamentos...Por que ele fez um ato tão nobre? Será que há algum motivo por trás disso tudo? O que ele pretende? Por que sinto-me tão realizada nessas simples roupas que me envolvem? Eram perguntas demais e tempo de menos. Resolvi deixar essas questões para mais tarde e sair de meus devaneios. Já estava um pouco tarde, caminho até a porta da sala de controle, pego a maçaneta e giro cuidadosamente. Todos estavam concentrados no trabalho. Cada um em sua tela, em seu mundo. Um grito estridente quebra o silencio da sala, viro-me e dou de cara com Misa, indo ao meu encontro:

–Mitsuko! Já estava entediada de ficar aqui só... – ela veio correndo e me abraçou –Hum...Que blusa linda, adorei. Combina com seus olhos. – ressaltou, segurando de leve a ponta de meu queixo.

–Bom dia Misa. – disse com calma –Sabe me dizer por onde anda Ryuuzaki? – perguntei curiosa. Ela arqueou uma das sobrancelhas e disse:

–É assim então? Mal fala com as amigas agora que tem um namorado...

–Misa! – corei –Ele não é meu... – uma voz atrás me interrompe, dizendo:

–Já voltou Mitsuko? Oh, vejo que está com as roupas que te dei. Ficaram ótimas em você. – L estava adentrando a sala enquanto falava –Bom dia senhorita Amane.

–Bom dia Ryuuzaki! – sua voz estava eufórica e seu olhar direcionado para mim foi como se ela dissesse “eu já sabia” –A Mit-chan ficou linda, não é? Você tem bom gosto.

–O...obrigado senhorita Amane. E sim, ela está linda. – ele me direcionou um sorriso terno, estava muito envergonhada, afinal cadê o L de sempre? Não que eu não esteja gostando do atual, ele tem até um charme a mais e...Por quê estou pensando nisso? Só queria dizer que ele está um pouco diferente...Mas eu estou adorando. Q...quer dizer, não! –Vamos ao trabalho? – ele disse naturalmente. Apenas afirmei e sentamos em nossas cadeiras.

Mitsuko POV’S OFF

L POV’S ON

Eu estou meio estranho essa manhã. Desde que acordei venho fazendo de tudo para ver Mitsuko sorrir, e sinto-me bem com isso. Vê-la dormir daquela maneira... Tão linda e...Espera, no que estou pensando? Acho que aqueles cabelos negros bagunçados acabam entrando em meus pensamentos...E quando ela dá aquele sorriso de canto? É irresistível...Eu estou com problemas! Não é possível.

–Ryuuzaki!! – Mitsuko berrou –Daqui a meia hora nós já vamos nos posicionar. Ok?

–Oh, claro Mitsuko. – respondi ainda perturbado por meus pensamentos. Ela notou minha expressão, sorrio e disse:

–Ryuuzaki. Não se preocupe muito, viu? Tudo irá ocorrer como você planejou. Tente relaxar um pouco. Vamos para copa tomar um pouco de sorvete, assim você se acalma mais. – assenti e fomos. Depois Mitsuko subiu para se trocar e eu fiquei na sala de controle, tomando conta dos últimos preparativos. Kira não irá escapar!

Depois de alguns minutos, os outros já estavam em seus postos. Misa já havia ligado para Higuchi, e confirmado o encontro deles.

–Só está faltando a Mit-chan. – Misa disse com manha –Por quê ela está demorando tanto?

–Já estou aqui Misa. – disse Mitsuko adentrando a sala. Ela vestia um traje preto e uma bota de couro da mesma cor. Seus cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo perfeito o que dava destaque aos seus olhos violeta. –Podemos dar início ao processo.

–Com certeza. Todos aos seus postos. – exclamei por fim. Misa Foi levada por Mogi a um local próximo a onde Higuchi combinou de encontra-la. Mitsuko foi logo atrás, e, montada em uma moto igualmente preta, seu papel seria seguir o mais discretamente possível o carro onde Higuchi e Misa estarão para acompanhar todo o processo. Antes dela sair, puxei seu braço, dizendo –Tente não morrer.

–Claro que não morrerei. Ainda tenho muito a lhe irritar. – ela disse sorrindo. Soltou-se do meu aperto e antes de sair da sala, me mandou um “boa sorte” praticamente inaudível. Lhe respondi com um “igualmente”. E foi assim que o plano se deu início.

L POV’S OFF

Mitsuko POV’S ON

Estava seguindo o carro de Higuchi como planejado. Ele parou em frente ao local combinado, pegou Misa, e seguiu seu curso, rumo ao restaurante combinado. Seria lá onde ele receberia voz de prisão, e estou aqui para garantir que tudo dará certo.

Já estávamos perto do restaurante, mas ele não desacelerou. Continuou a seguir seu curso, com cada vez mais velocidade. Fiquei confusa, afinal era para ele ter parado...Ah não ser que...Sim! Ele havia planejado isso. Tenho plena convicção de que era um plano para fazer de Misa Amane sua prisioneira. Preciso entrar em contato com Ryuuzaki imediatamente. Acionei minha escuta:

–Ryuuzaki? – falei procurando um rastro de sua voz do outro lado.

–Mitsuko? Porquê não parou no restaurante combinado? O rastreador indica que vocês continuaram a andar e agora se encontram longe do local. – ele respondeu com um pouco de preocupação.

–Também não tenho ideia. Ele não parou, e optei por continuar seguindo-os, assim não os perco de vista. Desde quando Eu tenho um rastreador?

–Boa decisão. Ah! Eu coloquei no canto superior do seu traje. – ele falou com normalidade –Agora, como faremos para o levar até a rua principal?

–Não sei por que isso não me surpreende... – suspirei –Eu acho que consigo dar um jeito. Você irá concentrar a polícia ali?

–Sim, claro. Assim podemos o encurralar. Entendeu? – pude ouvir pela escuta, o barulho da colher se chocando a xícara.

–Entendi. Farei o possível para... – um tiro passou de raspão pelo meu braço direito enquanto eu finalizava a frase. Mergulhei com a moto para minha esquerda, a fim de me livrar do perigo –Ele me descobriu! Mas que droga!

–Mitsuko? Saia daí agora. Você pode acabar se machucando. – L me advertiu.

–Não dá mais. Essa é a oportunidade perfeita para atrai-lo. – disse enquanto desviava de outro tiro. –Desculpe-me Ryuuzaki. – com o término dessa pequena sentença, joguei ao vento minha escuta, que com a velocidade se quebrou em segundos. Estou por conta própria. E preciso que tudo dê certo.

Mitsuko POV’S OFF

L POV’S ON

–Mitsuko? Mitsuko! – exclamei quando sua conexão foi cortada. O que ela pensa que está fazendo? Não sabe que pode acabar morta? Fui na sala de Watari –Watari? Perdi o contato com Mitsuko. Ela está no meio de um tiroteio por parte de Higuchi. Ainda temos o rastreador acionado? – falei com rapidez.

–Ryuuzaki? Sim, temos o rastreador. Se acalme um pouco. Ela sabe o que está fazendo. – Watari disse com o propósito de me acalmar

–Me acalmar? E se ela se machucar? E se ela morrer? Me diga. Não posso me acalmar!

–Ela só está fazendo o que você sempre fez. Se entregando de corpo e alma ao trabalho. Não era isso que você queria que fizessem?

–Mas...Watari. Eu não quero vê-la correr nenhum risco...Não suporto. – falei cabisbaixa. Ele me deu um abraço terno enquanto falava:

–Oh meu filho... Tente se acalmar um pouco. O máximo que podemos fazer é acompanhar pelo rastreador. Não irá demorar, daqui a pouco ela estará em seus braços novamente. – enrubesci. Em meus braços?

L POV’S OFF

Mitsuko POV’S ON

Acelerei a moto, e me pus ao lado esquerdo do carro onde Higuchi e Misa estavam. Peguei meu revolver, e desferi alguns tiros em sua lataria, o que iria fazê-lo me seguir para vingar-se. Dito e feito. Quando pus meu pé no acelerador, fazendo disparar a quilometragem em segundos, pude ver que ele fazia o mesmo. Já havia o pegado. Agora só precisava leva-lo até a rua principal. Já estava quase no limite de velocidade e ainda não era o bastante, a todo o momento, estava atenta as balas que vinham em minha direção, desviando e devolvendo com o dobro de tiros.

Pelos meus cálculos mentais...Faltam um pouco menos de 5 km para rua principal. Estou mais tranquila sem Ryuuzaki me atormentando. Acho que posso conseguir.

De repente, sinto uma pressão imensa, seguida de uma queimação na região da minha perna esquerda. Olho de relance, e percebo que acabei de receber um tiro. A queimação está cada vez pior, minha perna lateja, mesmo assim não posso desistir. Preciso provar que sou de bom uso para essa investigação.

Pensando nisso, devolvi o tiro dele, com um desferido no para-brisa do carro de luxo, que por minha sorte não era blindado, e fez um estrago considerável em sua frente. Continuei a atirar em sua lataria frontal, já que estava à frente de seu veículo. Tive o mínimo cuidado para não atingir Misa, já que isso só me traria dores de cabeça mais tarde. Voltei um pouco de minha atenção para a estrada, tendo de desviar de alguns carros para ganhar mais velocidade e chegar o mais rápido possível a meu destino. Faltavam somente 3 km, se meus cálculos estiverem corretos. Só preciso mantê-lo preso a mim por mais esse tempo. Quando sentia que ele estava ficando menos irritado e diminuindo a velocidade, como se estivesse desistindo de perseguir-me, atirava algumas vezes em sua lataria, como se falasse “venha me pegar, eu estou aqui”, o que estava funcionando por hora.

Finalmente... Só está faltando 1 km para completar minha missão. Estou a contar cada segundo como se fosse o último de minha vida...E pode ser que seja. Joguei esses pensamentos ao alto, quando tive de desviar de um caminhão que estava a centímetros de me atingir. Como passei esse tempo para tentar recuperar minha direção, foi a brecha perfeita para ele atirar novamente. Desviei da primeira, segunda, mais a terceira atingiu em cheio meu braço...Que recebeu um impacto maior que o primeiro, fazendo minha visão ficar turva e minha cabeça começar a latejar. Estava tudo ficando preto, a dor ficava cada vez mais intensa, o mesmo poderia ser dito pela queimação contínua, que estava pior devido ao esforço que eu exercia nos músculos afetados. Antes de apagar completamente, vi inúmeras luzes piscando em minha direção, e senti uma corrente de ar muito forte, seguido de um barulho de hélices. Concluo que é um helicóptero. Antes de apagar completamente, pude sentir os braços de alguém me envolverem, e no meio das reclamações que o dono deles me dizia, só consegui processar uma frase:

–Você está imensamente encrencada.