Enjoy the Silence escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 38
Segundo livro. Capítulo IX - As faces do altruísmo.


Notas iniciais do capítulo

Queeeeeeem quer cena beward? Apesar de ser triste, não deixa de ser beward, certo? HAUSHAUSHU já respondi todos os reviews pendentes e estou pronta para responder mais! Então... eu peço desculpas pela demora, eu travei logo no final desse capítulo! E o outro também vai demorar um pouquinho, a razão é que eu estou terminando SDF e que o próximo capítulo precisa ser totalmente reescrito. É isso gente, desejem-me sorte porque eu vou precisar! Espero que gostem e tenham uma boa leitura! Beijos e comentem, hein? *corações* ps: DEDICADO A CHARLOTTE LEWIS QUE RECOMENDOU! Adorei demais! Obrigada, sua linda!



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Brandi Carlile — Before it breaks.

— Eu realmente gosto do seu cabelo dessa cor. — Ele disse, invadindo a minha sala e fechando a porta atrás de si.

Respirando fundo, peguei meu celular e comecei a discar os números que eu sabia decorado.

— Para quem você está ligando? — Edward perguntou.

— Para a polícia. — Eu disse. — Você está começando a me assustar de verdade invadindo a minha casa sem nenhum motivo aparente para isso.

— Falar com você não é um motivo bom o bastante?

— Talvez fosse se eu quisesse falar com você. — Mandei-lhe um olhar cortante e o vi suspirar, dando-me as costas e passando as duas mãos em seu pouco cabelo em um ato exasperado. — Saia da minha casa e eu penso sobre não falar isso para Carlisle.

— Você escutou a minha conversa com ele.

— Vocês estavam gritando.

— Estávamos falando baixo, Isabella. — Seu tom era duro e áspero e de repente o acordo sobre não socar alguém que eu havia feito comigo mesma alguns meses atrás me pareceu bobo e incoerente. — Você não costumava ser tão intrometida quando ainda estava comigo.

— E você costumava ser menos aterrorizante. — Rebati, cruzando meus braços.

Ele sorriu, mas não havia um pingo diversão em seus olhos.

— O que você quer? — Eu perguntei, inspirando profundamente antes de voltar a lhe olhar.

Você.

— Antigamente isso me faria suspirar de amores por você e eu me jogaria em seus braços sem pensar duas vezes, mas vamos ser francos aqui, Edward, eu não sou essa garota faz alguns meses.

— Você não é essa garota comigo, Bella. Eu vi como você age ao falar com o britânico no celular e é bem parecido como você era comigo.

— Pois é. — Soltei um suspiro teatralmente triste. — Oportunidades passam e a sua passou no momento em que deixou de me ligar e me deu aquela resposta humilhante quando pedi para falar com você.

— Eu realmente não queria te machucar.

— Querendo ou não, você o fez. Mas olhe só, eu estou viva e bem. Acho que apologias são um pouco desnecessárias agora que eu já superei.

Ele se aproximou e antes que eu pudesse me afastar, Edward já tinha agarrado os meus ombros em suas mãos ásperas e nada gentis.

— Você pode parar de ser tão sarcástica enquanto fala comigo, por favor? — Sacudiu-me.

— Edward — Eu falei pacientemente. — Tire suas mãos de mim nesse exato segundo ou você vai fazer isso à força e eu te juro que não vai ser nem um pouco agradável para você.

Suspirando, ele soltou meus ombros e eu sorri forçadamente para o rosto corado de Edward.

— Você poderia ser agradável como era antes? Só por alguns minutos, Bella, eu quero conversar.

— Se quer conversar, vá para um psicólogo.

Arrependi-me no segundo seguinte.

— Porra, Isabella, pare com essa porcaria de humor porque eu sei que você não é assim! — Ele explodiu. — Eu quero conversar gentilmente com você, mas sempre tem que existir esse… esse sistema de proteção ridículo que você tem em volta de si. Se eu soubesse que iria ser assim eu nunca teria vindo aqui!

— Eu nem queria que você viesse mesmo. — Dei de ombros.

Edward me olhou incredulamente por alguns segundos e depois uma risada mínima escapou de seus lábios prensados. Virei meu rosto em sua direção, o vendo rir como se eu estivesse fazendo alguma graça.

— Você ainda é a mesma de antes, apenas com alguns sentimentos raivosos direcionados a minha pessoa.

— Você se esqueceu dos sentimentos subtraídos também.

— Eu me recuso a acreditar nisso. — Ele balançou o rosto uma vez. — Uma pessoa não para de amar a outra apenas em dois meses.

— Adivinhe? Você não me conhece e não sabe do que eu sou capaz.

— Eu costumava te conhecer tão bem…

— Ainda bem que você soube conjugar o verbo no passado.

Ele bufou e me olhou raivosamente antes passar a mão por seus cabelos mais uma vez. Se ele o fizesse mais uma vez, tinha quase certeza de que quando ele olhasse para o sua mão veria tufos.

— Você pode não levar a sério, mas eu sinto sua falta, Isabella.

Como se estivesse exausto, ele se sentou na poltrona que ficava perto da escada e enfiou as duas mãos dentro de seu cabelo. Prensei meus lábios para não deixar a minha língua afiada se fazer presente mais uma vez e suspirei, dando-lhe as costas para que ele não pudesse ver meus olhos marejados. De raiva e ressentimento. Eu não era totalmente indiferente quando se tratava dele, ainda tinha aquele afeto e amizade adormecidos por sentimentos maiores. Eu ainda era a Isabella que odiava ver o Edward e qualquer outra pessoa sofrendo.

E, bom, mesmo que eu encarasse aquilo como fingimento, ele estava sofrendo. Na minha frente.

— Você pode ir…? — Eu indaguei.

— Carlisle e Alice sempre me dizem que fui eu que escolhi perder você, Bella. E talvez isso seja verdade, talvez. Mas eu…

— Eu estou feliz com William, você está feliz com Tanya e o seu bebê.

— É uma menina. — Ele falou pertinente.

—… com Tanya e sua filha. Estamos bem. Ficarmos juntos sempre foi errado e você deve reconhecer isso, algo dava errado aqui e ali… nunca foi o certo.

— Eu gostava de ser errado com você.

Minha mãe me ensinava quando eu ainda era criança que deveríamos falar olhando nos olhos da pessoa. Ela também falava que chorar na frente de outras pessoas era feio, um ato quase impraticável. Perguntava-me naquele momento qual ação eu deveria tomar já que meus olhos estavam transbordando lágrimas e se eu olhasse para o rosto de Edward com certeza estas cairiam sem muitas delongas.

— Olhe para mim. — Edward pediu.

Fechei meus olhos e passei a mão por minhas bochechas, limpando os vestígios de lágrimas.

— Eu nunca consigo te fazer ficar com o rosto seco, não é? — Sua voz era calma e quando ele fez a menção de se aproximar, eu me afastei dois passos, temerosa. — Eu sinto muito que sempre esteja te fazendo chorar, Isabella. Eu sou um idiota.

Engoli em seco.

— Mas você sempre soube que eu nunca te mereci.

Diga que acabou

Diga que estou sonhando, diga que estou melhor do que quando você me deixou.

— Eu demorei alguns meses para aceitar isso, sabia? Só aceitei hoje mais cedo quando Carlisle praticamente gritou na minha cara. A passividade de Alice nunca funcionou mesmo… — Uma sugestão de sorriso apareceu em seu rosto e discretamente limpei mais uma vez uma lágrima.

Ele hesitou e olhou para o chão, balançando em seus próprios calcanhares antes de voltar a me olhar. Toda a aspereza de seu olhar havia sumido alguns momentos atrás assim como minha vontade de estapeá-lo. Edward, apesar da aparência acabada, parecia um adolescente incerto sobre o que fazer. Eu queria que ele fosse embora, a pateticidade de minhas lágrimas não havia sido o bastante? Já estava em sua hora.

— Alice diz que eu não sou nem um pouco altruísta quando se trata de você, diz que o amor é altruísta.

— Edward…

— Juro que quando acabar vou embora. Juro. Nunca mais te procuro nem nada desse tipo, te deixo em paz pelo resto da sua vida. — Ele disparou.

Diga que você está arrependido, eu consigo aguentar

Diga que você vai esperar, diga que não vai

Diga que me ama, diga que não

Eu posso cometer meus próprios erros

Afastei-me mais uma vez até sentir meu calcanhar esbarrar na estante onde a televisão estava.

— Ela estava certa, Bella. — Ele continuou. — Eu não sou altruísta quando você está envolvida, tudo que eu penso é que eu quero mantê-la para mim para que ninguém se aproxime. Eu não penso em como você se sentirá com isso. Não penso em nada. Mas eu amo você mesmo assim, embora esteja aprendendo agora ser altruísta. Você não sabe o quanto isso é difícil… quando você está com aquele cara inglês.

Sua mão se ergueu e antes que eu pudesse evitar, ele já estava com o dedão em minha bochecha, limpando as lágrimas que não paravam de cair.

— Espero que William te faça feliz, espero que ele faça o que eu não fiz. — Edward passou a língua pelos lábios, nervoso — Se eu disser que sinto muito por te fazer sofrer, você acreditará em mim?

Olhei para o outro lado.

Ele estava errado. Eu fora feliz com ele, bem no começo quando ainda nos encontrávamos escondidos e Tanya não estava grávida. Eu fui feliz quando o encontrei sentando na porta de minha casa, esperando que eu voltasse e com aquela expressão desolada. Fui feliz quando ele falou que me amava e disse que não ficava com Tanya por aquele motivo. Fui feliz mais ainda quando ele disse, momentos antes de eu embarcar para Cambridge, ele disse que não queria me perder em hipótese alguma… eu me permiti acreditar naquilo tão cegamente!

Era bom não ter de se preocupar se tal coisa era verdade ou não. Eu acreditaria em tudo que ele dissesse.

— Vamos lá, eu não gosto de monólogos.

— Acreditarei. — Respondi.

— Que bom. — Ele sorriu. — E você tem razão… ficarmos juntos nunca foi o certo. Eu sabia desde o começo e nunca me importei de verdade para essas porcarias. Que se ferrasse o que era certo e o que era errado, eu queria ficar com você a todo custo. Sinto muito por minha imprudência, se eu soubesse que iria te machucar eu nunca teria… insistido.

Ah… eu me lembro do nosso primeiro beijo no jardim da casa de Charlie de madrugada e depois as expectativas que senti no dia seguinte. Eu fui feliz naquele momento também. Impetuosamente.

Edward se inclinou para beijar a minha testa e se afastou assim que seus lábios tocaram a minha pele. Observei-o caminhar pela a minha sala até chegar à porta. Não ousei falar nada, sentia-me abalada demais para pronunciar qualquer coisa que fosse.

— Você só está errando em uma coisa, Bella. — Ele disse, abrindo a porta para sair. — Eu posso estar tudo menos alegre com Tanya.

Eu estou bem. Não pareço estar?

Toda a minha vontade de ir nadar se esvaíra assim que eu desabei no sofá — se ele não estivesse por perto, eu teria desabado no chão mesmo. Meu rosto estava tão molhado que quando eu limpei não foi o suficiente, tive que levantar a minha blusa larga para enxugá-lo. Ou tentar. Não funcionou e eu deixei para lá, escondendo meu rosto atrás de minhas mãos como se tivesse alguém me analisando.

Chorar por Edward era tão horrível quanto.

Não tinha nenhuma certeza sobre o que eu estava me deixando chorar. Por Edward, sim, estava claro. Mas por qual motivo exatamente? Minha mente disparava em várias direções e eu não conseguia escolher qual era a pior de todas elas. Por fim, caracterizei “Perda de tempo” como um dos motivos mais fortes.

Eu tinha perdido o tempo de minhas férias inteiras com Edward quando poderia estar fazendo coisas mais produtivas como… dormindo. Tudo bem que as memórias que eu tinha dele eram ótimos argumentos, no entanto nossa relação foi… infrutífera. E ouvi-lo confirmar que não deveríamos ficar juntos só fez a ideia crescer em minha mente. Mas é desse jeito que são os relacionamentos, não é? Começam uma perfeição para se tornar pó alguns dias depois…

Todo mundo acreditava mesmo que ficaria com o objeto de desejo? Acreditavam mesmo que o relacionamento duraria para sempre ou era somente comigo que aquilo acontecia? Minha mente oscilava para uma resposta positiva para a primeira pergunta. Se as pessoas soubessem que a relação não daria nada, nunca a teria começado. Não era? Ou talvez eles só quisessem sentir o prazer de ser imprudente e não pensar em nada.

Como eu e Edward fizemos. Nós dois sabíamos que só era diversão e mesmo assim…

Abracei minhas pernas assim que me deitei na cama, logo após ter puxado o cobertor para cima de mim. Apesar de o ar-condicionado não estar ligado, meu corpo tremia em todas as oportunidades que eu tinha. Não me era uma atitude desconhecida, Renée evitava reclamar comigo por causa daquilo. Dos tremores e dos meus soluços. Agora, porém, não havia soluços. Era um choro silencioso.

Os tremores, o médico disse a minha mãe, eram causados por minha mente. Um modo de defesa. Algumas pessoas, ele ainda explicou, reagem se balançando de um lado para o outro, comendo ou gritando. Eu reagia tremendo e ele a garantiu que isso não me faria nenhum mal quando ela perguntou se poderia acarretar alguma coisa depois. Os tremores passaram quando eu tinha dez anos e eu não sabia nenhum motivo para terem voltado agora.

Eu era completamente capaz de pará-los quando queria, cerrando os dentes ou os punhos. Era só esperar alguns segundos e eu os pararia, mas… eles me acalmavam da melhor forma possível.

Fiquei quase o resto do dia deitada na cama, olhando para o meu criado-mudo de cedro que parecia bastante interessante. As lágrimas pararam depois de uma hora sem cessar. E eu não estava conseguindo dormir por longos períodos de tempo… acordando-me como se não tivesse pregado os olhos logo em seguida.

Céus, eu odiava tanto Edward por me fazer isso! Tudo estaria bem se ele não tivesse aparecido na minha porta, tentando esclarecer algumas questões que estavam bem no escuro. Era a mais covarde e confortável decisão que eu tinha tomado, mas ele nunca foi covarde… Não tanto.

Levantei-me para tomar banho e estiquei-me para tentar relaxar os meus braços e pernas.

Meu celular tocou quando eu estava enxugando o meu cabelo e eu suspirei. William não costumava me ligar de noite… Esperava que ele me trouxesse notícias boas.

— William. — Suspirei, minha voz sorrindo enquanto eu me jogava na cama mais uma vez.

— O que Edward Cullen estava fazendo na sua casa essa tarde?

Eu gemi, fechando os meus olhos.

— Onde você viu isso? — Eu sabia que não negar o enfureceu, pude escutar quando ele bufou raivosamente do outro lado da linha.

— Sabe, seu pai está com uma empresa nova por aqui, na Suíça. Então as pessoas o citam e citam você também… E, sabe, tem fotos suas e dele na sua casa… De hoje. E eu sei que não são antigas porque o seu cabelo está castanho. — Ele disparou, derrubando todas as mentiras que eu estava inventando em minha mente. — Disseram que a Herdeira Swan leva uma vida amorosa agitada.

— Que babacas. — Murmurei.

— Bella, me diga que não é o que eu estou pensando.

— Não é o que você está pensando. — Apressei-me a falar. — Nunca faria isso com você! E nem comigo. Edward só veio me entregar as chaves que eu tinha deixado com ele alguns meses atrás…

A minha mentira soou bem convincente, na verdade. E foi bem pertinente também porque Edward tinha de me entregar as chaves da minha casa mesmo.

Eu tinha de mentir para William porque eu tinha certeza de que ele não ficaria feliz em saber que Edward havia vindo aqui para esclarecer algumas coisas. Eu me coloquei em seu lugar e soube que praticamente surtaria e ficaria com raiva, mesmo ele não tendo nenhuma culpa ou feito algo de errado.

— Tenho certeza que ele fez questão de te entregar, não é?

— William. — O repreendi. — O Edward vai ter uma filha em poucos dias, não tem tempo para pensar em reconquistar algo. E, além do mais, eu deixei bem claro que eu estava com você.

— Ah, sim. — Ele não parecia mais tranquilo, no entanto. — Sinto a sua falta… Saber que você está mais próxima de Edward do que de mim não ameniza isso nem um pouco.

— Bem, eu estou com você, não estou?

William passou um bom tempo no celular comigo, falando sobe a Suíça era terrivelmente ruim comparada a Inglaterra. Quando eu o perguntei o porquê de seu desagrado, ele respondeu que não tinha nenhuma Isabella Swan na Suíça e é claro que eu não pude deixar de sorrir bobamente e desejar que ele estivesse ao alcance de meus lábios.

Entediada e chateada com toda aquela distância entre eu e William, saí da cama com poucos movimentos e caminhei silenciosamente até estar fora do quarto.

Eu não trouxera livros porque a minha mala já estava cheia demais, por isso, entrei na terceira porta do corredor que era onde ficava minha estante que não havia sido completamente esvaziada na minha ida para Cambridge. Continuava tudo no lugar, arrumados em ordem alfabética até eu notar que o meu amado exemplar de capa dura de Orgulho e Preconceito não estava lá.

Eu tinha certeza de que não o havia levado para Cambridge, levara a versão de que não era capa dura para não danificar durante a viagem. Suspirei pesadamente ao pensar que eu provavelmente não devia tê-lo colocado no lugar certo e, com preguiça de procurá-lo naquela imensa estante, peguei Emma que estava no seu devido lugar.

Eu não costumava ser muito paranoica, era até um pouco lerda para falar a verdade, mas assim que eu passei pela cama do terceiro quarto para ir à varanda, senti o inconfundível cheiro de Edward. Curiosa, aproximei-me dela com o cenho franzido. Lembrava-me bem de ter trocado os lençóis quando eu saí. Todos os dois travesseiros estavam com o cheiro de seu perfume assim como o lençol branco.

Era impossível que aquilo fosse apenas uma impressão. Eu me lembrava de ter deixado tudo limpo no quarto, sendo difícil que estivesse com o cheiro de Edward por ter saído da lavanderia. Não era um cheiro ruim, mas… como havia ido parar no lençol do terceiro quarto da minha casa? Eu não conseguia associar.

Então, claro, me lembrei de que Edward tinha limpado a minha casa — uma ideia bem incoerente já que pelo o que eu lembrava ele tinha odiava pegar em uma vassoura. Era bem… estranho pensar que Edward havia dormido na minha casa por sei lá qual motivo. Depois, racionalmente, conversaria com ele sobre isso. Se eu lembrasse e se eu estivesse com coragem no dia.

De qualquer modo, aquela situação era bastante constrangedora.

Saí para a varanda e passei boa parte da madrugada relendo o romance de Jane Austen pela trigésima vez — e talvez eu não estivesse exagerando.

Deitei-me somente quando senti meus olhos pesarem e as letras do livro ficando borradas por causa disso. Já estava amanhecendo e eu dei mais uma olhadela para a rua vazia antes de voltar para o calor do quarto. Dormi em apenas segundos, sendo acordada em o que me pareceram segundos. Meu celular gritava por atenção debaixo do meu travesseiro e eu ainda estava com os olhos fechados quando o atendi.

Era Charlie.

— Bella! — Ele exclamou. — Será que vou ter o prazer de sua companhia ou terei que esperar até suas próximas férias?

Eu sorri.

— Não sei, a minha agenda anda bem cheia… — Eu blefei levemente divertida. Não tinha planejado nada para hoje e se não fosse por Alice ter me chamado para sair de noite, passaria o dia todo dentro de casa.

— Ah… qual o próximo horário disponível? — Meu pai brincou.

— Bem, depende.

— Para um almoço…

— Acho que de doze e meia está bom para mim. — Eu disse casualmente.

— Já são doze e meia, Bella. — Ele me informou.

— Já? — Joguei o lençol para o lado e me levantei da cama rapidamente, rumando para o meu closet — Droga, em meia hora eu estou chegando por aí, tudo bem?

— Vamos para aquele restaurante que você gosta! E, ah, tenho uma coisa para te falar.

— O quê? — Indaguei ansiosamente.

— Falo quando você chegar. — Disse com mistério, deu uma risada e desligou.

Depois que perdeu Renée, Charlie estava melhor. Mil vezes melhor. Ele parou de passar o dia todo na empresa e começara a dar mais atenção para a sua esposa que queria o divórcio, mas foi tarde demais. Agora, ele estava tentando ser mais atencioso comigo e estava conseguindo facilmente. Ele sempre teve essa vocação, apenas se centrou demais no trabalho e acabou ficando rabugento.

A grande notícia que Charlie queria me dar era que ele estava namorando. Eu teria brincado ao perguntar se ainda existia aquilo naquela idade se a sua namorada não estivesse na mesa.

Era uma mulher encantadora, eu tinha de admitir, tinha mais ou menos a idade dele e longos cabelos pretos, lisos que batiam no meio de suas costas. Sue era o nome dela e sua pele era bronzeada naturalmente, seus dentes brancos sempre apareciam quando ela sorria para mim ou para Charlie. Sue Biers. Mãe de Riley Biers, somente quando ele apareceu, atrasado, para o almoço foi que eu me dei conta.

Riley estava incrivelmente mais alto e tinha deixado o cabelo crescer até não estar tão rasteiro quanto eu me lembrava. Estava mais forte também por incrível que me fosse parecer já que ele era forte antes, mas o sorriso que ele abriu ao me avistar não mudou.

— Bella! — Ele exclamou.

— Riley! — Sorri largamente e levantei-me da cadeira para abraçá-lo.

O abracei ansiosamente. Eu ainda não acreditava que tinha mesmo me esquecido de Riley por tanto tempo, ele havia sido um dos únicos amigos que eu havia tido algum tempo atrás. Que ótima pessoa eu era! Assim que encontrava alguma coisa melhor para fazer, saia esquecendo as pessoas sem nenhum pingo de consideração.

— Senti a sua falta! Quanto tempo…

— Pelo que parece Cambridge é milagrosa. Você mudou! Está mais sorridente…

Eu sorri, corei e abaixei os olhos.

— Acho que foi o tempo.

Meu pai tinha conhecido Sue no shopping e ela nem desconfiava que o homem com quem ela falava era Charlie Swan, meu pai só se apresentou como Charlie e suas roupas informais contribuíram para o seu disfarce de cidadão normal e nada famoso. Eles dois ficaram presos no elevador e foi assim que começaram a conversar, parados no segundo andar. O fato de ela ser mãe de Riley só foi uma coincidência.

Sue era modesta, recusava-se a aceitar presentes caros e meu pai não sabia o que fazer para que ela aceitasse qualquer coisa dele, pelo menos foi o que me falara com a voz brevemente desesperada. O Natal estava chegando e ele estava enfrentando dificuldades em achar um presente adequado para ela.

— Você pode me ajudar com isso? — Perguntou ele, sem jeito.

— Claro, pai! Qualquer dia está bom para mim.

Não querendo ficar sozinha por toda a tarde, chamei Riley para ir a uma livraria comigo. Ele aceitou depois de uma pequena hesitação e Charlie, é claro, o advertiu a ficar de olho em mim e principalmente no tanto que eu gastaria. Como se dinheiro fosse problema para ele. Riley apenas maneou o rosto para o lado e sorriu com a minha careta de desaprovação.

Ele era uma boa companhia, silencioso, mas com bom assunto. Eu nunca havia percebido antes porque eu não costumava falar muito, nas vezes em que eu estava com ele nos jogos de basquete, eu apenas me sentava perto e pronto. Não falava nada. Eu não tinha vontade de falar nada.

Eu percebi que tinha mudado quando eu não parei de tagarelar sobre os livros que eu planejava comprar e, quando ele conhecia o livro, ele se juntava a discussão. Percebi também naquela hora que eu havia sentido falta dele e ainda me culpava por tê-lo esquecido por tanto tempo — que grande amiga eu era!

— Bella? — Riley me chamou.

Desviei os olhos do livro que eu estava lendo para ele que tinha as duas mãos dentro dos bolsos da calça.

— Sim?

Observei com desespero a sua mão se erguer em direção em meu rosto, e eu me perguntei rapidamente em minha mente se eu o magoaria me afastando ou dizendo que eu tinha namorado. Eu esperei. Eu sempre o fazia — era sempre a melhor opção para os desencorajados. E, além do mais, Riley e eu éramos amigos… Tocar no cabelo não era tão mal, era? Concluí que não.

— Eu senti sua falta. — Disse ele baixinho.

— Eu também senti sua falta, Riley! — Respondi sorrindo amigavelmente.

Por favor, por favor, que o sentir falta dele seja somente como amigo. Por favor. Por favor, implorei mentalmente.

— Não — Ele insistiu e se aproximou. Tentei dar um passo para trás, mas aí sua mão em meu rosto cairia bruscamente e ele ficaria chateado. Céus, como era difícil agradar ambos os lados! Praticamente impossível. —, eu senti a sua falta mesmo.

— Riley — Eu ergui uma mão para tocar a dele que ainda estava em meu rosto. —, eu gosto muito de você. Muito mesmo. — Destaquei, olhando-o carinhosamente. — Mas eu tenho namorado e eu adoraria poder corresponder às suas expectativas, mas eu não posso. Eu… eu sinto muito.

Eu olhei para o lado e bem do outro lado da rua tinha um homem segurando uma câmera fotográfica. Na minha direção e na de Riley. Droga, droga, droga, droga, eu pensei.

Não precisei esperar nem cinco horas para receber a ligação exasperada de William. E, para falar a verdade, eu não estava com muita paciência também. Toda a reserva que eu tinha acabara quando percebi que nem privacidade eu tinha mais! Riley foi compreensivo comigo, ele não demonstrou ter ficado chateado nem nada disso. Ele apenas assentiu e disse que sentia muito pelo constrangimento, mas eu já estava distraída demais para articular alguma resposta.

— Sabe de uma coisa? — Foi a primeira coisa que William falou pra mim quando eu atendi o meu celular. — Eu não sei porque eu achei que essa coisa de namoro a distância fosse funcionar!

Eu sabia que as imagens pareciam bem comprometedoras — eu havia visto assim que cheguei a minha casa.

— William, eu sei o que parece. Mas não é.

Ele bufou raivosamente do outro lado da linha.

— Não é? Sério mesmo? Pareceu-me que você estava prestes a beijar aquele cara quando ainda estava notavelmente namorando comigo! — Exclamou.

— Riley é meu amigo. — Expliquei — Ele sabe que eu namoro você.

Namorava.


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Notas finais do capítulo

O William não é um idiota, ok? Ele só sente falta dela e as fotos foram o estopim para a paciência e tolerância. Imaginem-se no lugar dele... E calma que essa conversa ainda vai continuar. Comenteeeeeem



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