Desperto com o crepúsculo, e ao contrário da manhã, Ben ainda está comigo. Sei que não devo estar com minha melhor cara, mas não importa. Não quando ele está tão perto. Seus olhos reluzem, mesmo com a pouca luz a nossa volta. Me impulsiono para uma posição sentada e, imediatamente, ele está me rodeando com pernas e braços. Seu rosto está colado ao meu, vindo de trás e logo arrepios me dominam, assim que ouço sua voz rouca sussurrar:

- Não quer dormir mais um pouquinho?

- Não. Estou muito bem, eu diria.

- Nenhuma dor? - ele estranha.

- Por que, deveria?

- Não sei, é que... você sabe como são as coisas... vampiros, garotas humanas... enfim.

- Há! Que piada é essa? Desde quando sou uma garota humana?

Ele relaxa assim que deixo claro que a única coisa que estou sentindo é um contentamento absurdo. Ficamos mais alguns minutos juntinhos, trocando carícias, mas as coisas se intensificam de forma que, quando a lua cheia aponta no céu, já estamos sem roupas, como se fôssemos um só. Ele me beija em lugares que nunca pensei que pudessem ser beijáveis. Sinto arrepios, perco as forças e quero gritar, mas ele não para em nenhum momento. É tudo tão intenso, tão doce e tão diferente. Reconheço que ontem não foi assim tão bom. Não quando uma dor incômoda foi despertada... mas hoje, tudo está diferente. Estou pronta para ele e não sinto nada que não seja bom e delicioso. Apesar da energia que parece emanar de nossos corpos, uma leve agulha parece despertar em minha consciência que deveríamos estar fazendo outra coisa agora. Só não sei o quê.

- Acho que... deveríamos seguir caminho. É tarde... - tento dizer sem tremer a voz, mas Ben entende o recado, deixando-me livre para me acalmar.

- É... vamos acabar com isso.

Em menos de dez minutos estamos vestidos e prontos para a caminhada. A noite está clara e a lua maravilhosa. Se eu fosse um lobisomem, estaria uivando em sua direção. Rio com a piada mental que acabo de fazer comigo mesma, mas logo me distraio com a pessoa que caminha ao meu lado. Como posso ter conseguido algo assim? Por que demorei tanto para aceitar que o meu destino não eram os lobos? O mundo não é preto no branco, e eu sempre soube disso. Não temos que nos contentar com tradições quando temos tantos seres incríveis por aí. Pena que alguns mereçam uma morte dolorosa.

- Ei, Garoto Dourado. - ele me olha com aqueles olhos... - onde marcamos de encontrar o pessoal mesmo?

- Huhm... não marcamos. Ou melhor, vamos nos encontrar no momento certo, tenho certeza. Além disso, tenho um celular.

Ótimo. Terei mais alguns dias com ele, espero. Andamos por cerca de seis horas até que meus pés já estão acabados e a exaustão parece se fazer presente até nos fios do meu cabelo. Certo, estou exagerando. Mas você também estaria se estivesse louca para parar em um lugar ermo e agarrar seu vampiro perfeito...

- Cansada? - Ben para, assim que fico para trás, apoiando as mãos nos joelhos e me fingindo de ofegante.

- Bastante. Acho que é hora de tirar uma soneca, não?

- Se você precisa... - ele sorri. - eu também preciso de uma soneca. - e então ele faz algo engraçado. Ele pisca com aqueles olhos dourados com manchas escuras.

Em menos de um segundo trocamos DNA e outras coisas mais, totalmente alheios à natureza a nossa volta. Unidos como se nunca mais pudéssemos estar juntos de novo. Infelizmente, parece que estou mesmo cansada, no fim das contas, pois não consigo dar o melhor de mim por muito tempo. Tão exausta que me afasto dele, virando de costas e deitando na relva, mesmo sem roupas. Entendendo a mensagem, ele faz uma conchinha a minha volta e descansa comigo, mesmo sem estar cansado.

Algumas horas depois, acordo, novamente com o sol batendo em meu rosto. Desta vez, Ben está sentado, próximo, mexendo na mochila. Quando vê que estou acordada, vem em minha direção e me dá um beijo estalado na testa.

- Pronta para voltar à realidade?

- Não. Como seu tivesse escolha...

- Consegui um jipe para nos levar à cidade que parece ser nossa última parada.

- Anh? Como assim? Onde conseguiu? Espera... última parada? Quer dizer que...

- Sim, Paul e Tia ligaram cedo, vão nos esperar no final do dia. Acho que teremos a chance de acabar com isso amanhã.

- Ótimo. - estou estupefata, mas só de pensar que tudo pode estar no fim, um ânimo me atinge com força.

Seguimos a trilha que leva ao jipe que Ben conseguiu. Quando pergunto como conseguiu, de novo. Ele apenas sorri e algo me diz que o tal jipe sempre esteve lá...