A notícia que espero não é a que ouço. Tudo está muito pior do que quando saímos de La Push. Há confusão e assassinatos por todo o mundo. Vampiros recém-criados estão fora de controle e, ao que parece, até os mais maus estão ao lado dos vegetarianos na caçada, pois o mundo inteiro está em risco. Jamais esperei por algo nesse porte. Quero ter a mão de Ben para apertar e me confortar agora, mas ele já está distante. Procuro seus olhos, mas estão focados em Garret.

- É guerra! Talvez a maior de todos os tempos. - Garret tem uma expressão maníaca no rosto, mas compreendo o que quer dizer. É guerra mesmo.

- Conversamos com Carlisle. - Kate se vira para Jacob e continua. - Ele acha que devemos nos dividir novamente. A situação não é o que pensávamos e...

- ...teremos que buscar reforços. - Jacob completa.

O olhar que vejo em meus companheiros de missão não deve ser diferente do meu. Sabemos que, por mais que tentemos e lutemos, nada será como antes. A exposição é inevitável. Eles estão por toda parte. Nem os Voltures conseguem lidar. E por falar nos Monstros Reais...

- Os Volture emitiram uma ordem, ontem. Carlisle e todo vampiro em posição de liderança de um clã deverá repartir o poder com seus confiados e seguir os rastros.

- Kate, não é o que já estavam fazendo? - eu pergunto.

- Sim, mas teremos que mudar nossa rota.

- Para onde?

- Bem, se vocês ainda apoiarem o clã de Carlisle e, bom, o de Tanya também... Suhen deverá continuar por aqui, já que é mais próximo de seu local e ele não responde a Carlisle. Mas vocês, podem ficar se quiserem, claro, porém o desejo de Carlisle... - Kate parece não saber como nos dizer algo.

- Seja direta, por favor, Kate! - Jacob está apreensivo.

- Carlisle gostaria que vocês voltassem e se reunissem para uma nova designação.

- Mas o que acontece comigo? Não terei mais apoio? Estou sozinho aqui? - Pela primeira vez, sinto algo por Suhen. Ele está sozinho e conta com nossa ajuda.

- Sim, o que acontece com as pessoas por aqui? Não tem nenhum clã são para ajudá-los por aqui. Alguém tem que ficar! - Ao dizer isso, todos me olham. Sabem que estou certa, mas estão encurralados. Ben está impassível. Como consegue? - Jacob, sigo suas ordens. Eu posso ficar!

- Estou voltando, leah. - E eu sei o porquê. Renesme. - Mas você deve ficar, explicarei aos outros. - Estou aliviada, mas um novo sentimento se instala em meu peito. Medo.

- Certo. Deixaremos vocês se resolverem e tomaremos nossas próprias decisões. - Garret se direciona para fora da casa, enquanto kate o segue e Ben me lança um daqueles olhares enigmáticos. Não consigo ler sua expressão, mas parece algo como “você está louca, mas não vou interferir já que não somos nada”. Isso dói. Muito.

Meu rosto se volta para o lado oposto e é difícil segurar a água salgada que tenta despontar em meus olhos. Odeio isso tudo. Não ter controle sobre mim. Não ter controle sobre as coisas ruins. Odeio ser uma aberração. Quero ser ignorante, por favor!

- LEAH. - Opa, não percebi que estavam falando comigo. - Você vai ficar mesmo? A decisão é sua.

- Sim, Jacob. Alguém precisa ficar e ajudar Suhen.

- Posso ficar também. - Não esperava que Paul desse a ideia, mas a surpresa é boa. Talvez ele esteja sendo apenas um bom guardião, mas talvez seja mesmo um bom amigo. Ele pisca em minha direção e eu o agradeço, mentalmente.

- Obrigado aos dois. Jamais poderei retribuir. - Suhen está mesmo emocionado, mas também muito assustado.

Então é isso: Paul e eu ficaremos ao lado de Suhen, enquanto Jacob retorna a La Push e os vampiros... não faço ideia. Droga!

Algum tempo depois, os vampiros estão de volta. Seus rostos parecem mármore esculpido e a calma forçada me incomoda. Kate nos diz que estão voltando para Washington e que de lá, tomarão novas decisões. Os Cullen já os esperam. Olho para Jacob e ele assente. Não somos os humanos ignorantes. Não há tempo para pensar. Eles voltam, nós ficamos. Simples assim.

Procuro um olhar dourado, mas encontro íris negras e indecifráveis, mas quando estou prestes a desviar o olhar, como uma menina de doze anos faria, ele me encara e sugere uma conversa, eu acho.

Sigo-o até os fundos da casa. Não acho que alguém tenha notado nossa retirada. E daí? Eu deveria estar pensando em alguém? Benjamin pára e se vira em minha direção. Quase o esbarro antes de parar completamente. Quis tanto falar com ele. Ouvir algo, qualquer coisa. Agora, o silêncio impera e não sei o que dizer. Se é que tenho algo a dizer. Não sei de mais nada. Ele me poupa quando inicia algo com uma expressiva alteração no tom de voz normal.

- Por que fez isso? - Não esperava por essa.

- Alguém precisava fazer, não? - Sinto muito por parecer insolente, mas é a verdade.

- Alguém. Você, ao menos, pensou no que significa? Sete de nós não deram conta, Leah! Como três de vocês, que nem são vampiros, dariam?

- Opa! Calminha aí, amigo! O que você sugere? Porque estamos sem opção por aqui!

- Qualquer coisa. Que eles façam qualquer coisa, desde que não fique aqui!

- Vou ficar, Ben. É minha decisão. Preciso.

Ao contrário da dureza em suas palavras dos últimos minutos, agora o Garoto Dourado tem a expressão mais doce que já vi. Ele parece mais calmo e decido agir antes que seu lado obscuro ressurja.

- Não diga que não entende, por favor. - Digo quase num sussurro.

- Sim. Entendo. Mas não gosto. Não posso me desculpar por isso.

- Tudo bem. - Eu me aproximo e lhe toco a face com as mãos. Ele responde tocando minha testa com a sua. Ficamos em silêncio por algum tempo.

- Tenho que ir agora.

- Eu sei. - Inevitavelmente, malditas lágrimas descem como uma chuva torrencial. Não sei se o verei de novo. Não sei se verei qualquer um deles de novo.

Despeço-me de Jacob, mas sei que ele ficará bem. Edward e Bella farão de tudo por sua vida. Garret e Kate sabem se virar. Ben... será um sangue suga normal de novo. Paul, Suhen e eu estamos à nossa própria sorte. Tudo bem, podemos lidar com isso.

Antes de seguir caminho, o Garoto Dourado me lança o olhar mais incandescente que já vi. Não há nada a dizer. Ou esconder. O que importa, afinal? Estou frita mesmo! Dou de ombros e quase o vejo sorrir. Não sei o que faremos agora.

- Bem, tenho decisões a tomar. Vamos? - Suhen nos chama de volta para a casa, mas espere aí, “tenho decisões a tomar”? Olho para Paul e ele retribui um olhar confuso, mas que logo se transforma em diversão. Ele sabe que não será fácil para Suhen, especialmente agora. Não temos um líder. Nem Sam nos controla agora.