O piano tocava suavemente. Santana estava a caça da carne perfeita para se fazer uma pizza de Moby Dick, até a melodia a atrair levemente. Ela conhecia aquela música, e conhecia quem estava cantando.

Seus pés a levaram para dentro do auditório aonde somente uma luz iluminava a garota que tocava fielmente as notas de uma das poucas músicas que sabia no piano.

So this is me swallowing my pride,

Standing in front of you saying

I'm sorry for that night

A voz que costumava ser firme falhou, desafinando, e demonstrando o quão embargada ela estava.

And I go back to December all the time,

It turns out freedom ain't nothing but missin' you

Wishing I'd realized what I had when you were mine

Santana somente observava. Ela não conseguia raciocinar. A sua principal razão para ter entrado em um curso de verão sobre como fazer sanduíches de hobbits se encontrava a sua frente, tão vulnerável, que a deixava sem reação.

And I go back to December, turn around

And make it all right

I go back to December all the time

Seus dedos percorreram as teclas firmemente, finalizando a música. Pulou ao ouvir palmas saindo de um dos cantos escuros do auditório. A dona delas então saiu da anonimidade, descendo as escadas com a cara irônica de sempre enquanto ainda fazia suas mãos se encontrarem escandalosamente na frente do próprio corpo.

- Perfeito Berry! - Santana bradou em alta voz, parando no meio da escada, olhando para a outra. Rachel se levantou rapidamente, ajeitando a saia que usava, tentando manter uma posição - Quase me enganou com o papinho de se arrepender o tempo inteiro.

- Eu me arrependo! - ela respondeu rapidamente.

- Tá bom... Vamos fingir que eu e todo o McKinley acredita em você! - a latina já ia se virando para retornar a sua caça pela baleia mais famosa da literatura mundial quando ouviu Rachel lhe indagar.

- O que você veio fazer aqui, Santana? - sua voz saiu alta, ecoando pelo espaço.

- Diferentemente de você, que perde seu tempo se lamentando por ter feito uma grande merda, eu estou perdendo meu tempo me deliciando com a grande idéia que eu tive para matar o seu namoradinho! - Santana então desceu mais dois degraus, ficando bem próxima ao palco, e consequentemente, a Rachel Berry.

- Ele não é meu namorado! - ela gritou, perdendo a paciência.

- E nem a Quinn é, né? - Rachel sentiu as palavras da latina atingirem a boca do seu estômago, fazendo-lhe perder o controle de suas pernas, e seus joelhos encontraram o chão - E quer saber a pior parte? - Santana subiu ao palco pela escada lateral, se pondo em frente a Rachel - A culpa é inteiramente sua. O que você fez é irremediável. Você conseguiu acabar com a única razão de felicidade na sua vida. - Rachel levou as mãos ao seu rosto. As lágrimas iam romper em cachoeira por seus olhos, ela sentia isso - Eu teria nojo de mim mesma caso fosse eu.

E elas então saíram, escorrendo por sua bochechas, algumas ficando nas palmas suas mãos. Nada ali mais tinha significado. Era verdade o que Santana havia falado. Ela havia acabado com tudo. Ela tinha nojo. Sentia ainda aquela sensação de sujeira na sua pele, mesmo depois de tanto tempo.

Ouviu passos se expandirem até sumirem. Sabia que Santana havia ido embora. Pelo menos aquilo ela respeitava. Então se entregou aos soluços e prantos silenciosos. Só aquilo lhe sobrava.

********

- Orca! Apareça se for capaz! - Santana gritou, abrindo a porta do vestiário masculino. Não demorou muito até o pedido dela ser atendido e o gigante sair dali, acompanhado de Puck.

- O que você quer agora, Santana? - ele falou impacientemente, revirando seus olhos.

- Na verdade, matar você Hudson! Mas aparentemente, você não tem coragem de me enfrentar sozinho, por isso trouxe seu guarda-costas. - ela falou apontando para Puck, que estava detrás dele - Ah, perai! Eu já entendi! É que nem o filme, né? Com a Whitney Houston...

- Do que você está falando? - dessa vez Puck se pronunciou.

- Que vocês dois são as maiores bibas enrustidas desse colégio! - ela exclamou, soltando uma risada ao ver Finn ficar vermelho de repente - Ah, que lindo! Você ficou amiguinho do Puck para ele te proteger do homens de verdade aqui dessa joça de fim de mundo, e então gostou do jeito como ele - ela apontou para o outro garoto - chupa esse dedo mindinho do pé que você tem entre as pernas, e se encontra perdidamente apaixonado no momento.

- Ok, eu não vim aqui pra ficar ouvindo isso. - Finn falou, jogando as mãos pro alto e se virando para voltar ao vestiário - Vamos Puck!

- Ah, que lindo! Chamando o namoradinho para voltarem de mãos dadas, desfilando em cima de um arco-íris duplo para a suruba que vocês garotos fazem ai dentro desse vestiário. - a latina conseguiu falar soando extremamente irônica, irritando Puck ainda mais.

Quando se viu, estava prensada contra os armários, segurada pelos ombros, o olhar irado de Noah sobre si.

- Você tem é que me agradeçer, Puck! - ela falou, retomando a seriedade - Porque é por causa desse romancezinho muito colorido entre vocês que eu vou deixar seu namoradinho viver por mais alguns dias.

Finn olhava embasbacado para cena. A falta de controle de Puck era uma surpresa, mas Santana já tinha provocado bastante. O mais alto então botou uma mão no ombro de Noah.

- Cara, deixa isso pra lá. - a voz de Finn saiu fraca - Você sabe que é mentira, pra que esse estresse?

Puck relaxou seus braços lentamente, pondo Santana de volta no chão.

- Muito bem Puckerman. Fez a escolha certa, agora vá encontrar Kurt e peça a ele uns conselhos de como se vestir apropriadamente e aonde você vai encontrar bofes melhores do que esse espantalho ai que você tem. - a latina proferiu ao ver o judeu começar a caminhar de volta para o vestiário. Puck não pensou duas vezes antes de virar seu corpo. Ele ia para cima de Santana mais uma vez se Finn não tivesse o segurado, usando duas vezes mais força do que ele realmente tinha.

A latina então se virou, e começou a desfilar no corredor, se retirando.

- Foi muito bom conversar com vocês. Me mandem o convite para as bodas de ouro! - então ela virou a esquina, entrando em outro corredor, e Finn soltou Puck, vendo que o mesmo não iria perseguir a outra.

- Dia agitado esse... - Finn falou, entrando pela porta dupla, e Puck ficou olhando o corredor, se lembrando do discurso de Santana. Garota estupida! Sua mão puxou agressivamente a porta, a fazendo ir de encontro contra a parede. Ele passou por ela, e o baque surdo detrás de si indicou que a mesma se fechou.

Assim, o corredor ficou abandonado pelo resto da tarde.

********

UMA SEMANA DEPOIS:

- Muito bem pessoal, com tudo o que tem... - O Sr. Schue começou a dar mais um de seus monólogos introdutórios sobre o tema da semana. Santana já estava totalmente entediada daquilo. Ele falava sobre a importância das seccionais, sobre como sempre tínhamos que nos esforçar o máximo no palco, que o que importava não era mais vencer, e sim se divertir.

Não que ela estivesse escutando, mas era a mesma coisa que ele sempre falava.

- Santana. - ela acordou dos seus desvaneios, olhando ao redor para tentar decifrar quem havia lhe chamado.

Finn e Puck com certeza não eram, já que eles ainda olhavam atravessado para ela. Rachel nem olhava para ela. Tina e Mike pareciam isolados em seu próprios mundo asiático e Artie conversava animado com Mercedes. Brittany olhava muito sorridente para ela para ter falado alguma coisa. Kurt trocava mensagens de texto com Blaine, Que grude!, Sam parecia finalmente ter encontrado neurônios no meio daquele monte de cabelos loiros infestados de água oxigenada, e Quinn... Bem, Quinn novamente não havia ido ao clube do coral.

- Santana. - novamente chamou, e ela percebeu que era o Sr. Schue - Você topa?

- O quê, Sr. Schue?

- Fazer um solo, nas seccionais... Você não escutou quando eu falei da primeira vez?

- Na verdade, não... - ela falou honesta, respondendo a pergunta dele - Mas eu aceito sim, fazer um solo, é maravilhoso... Mas eu vou escolher a música que quero cantar.

A expressão de Will se fechou, e ele se encontrou em dúvida se deixaria aquilo ou não: ou sairia uma coisa muito boa, ou uma grande ofensa a todos ali ao redor.

- Vamos fazer assim, você traz sua setlist, e nós escolhemos algo dali que agrade a todos, que tal? - ele falou, dando seu melhor sorriso forçado.

Santana concordou com a cabeça, mas não se sentiu confortável com aquilo. Nem um pouco.

Justo agora que eu finalmente tenho a grande oportunidade de humilhar a anã de jardim na frente de todo o público cantando uma música que mexa com o ponto fraco dela, eu não posso escolher uma música decente sem o aval do Sr. Comunidade de Gnomos na Cabeça Schuester, pensou ela.

- Muito bem, agora prosseguindo... - Will chamou a atenção de todos - temos que resolver as outras músicas da nossa set list em geral. Estava pensando em fazermos três músicas, que nem nas regionais no ano passado, quem sabe não dá certo?

- Que estilo de música você quer que nós cantemos, Sr. Schue? - Artie perguntou levantando sua mão.

- Algo novo, cheio de energia, que descreva vocês, literalmente falando...

Todas as mentes se poram a pensar. Ninguém parecia chegar a uma conclusão racional.

- Eu posso ajudar com isso. - Uma voz falou da porta, atraindo a atenção de todos.

Santana viu Brittany sair correndo para abraçar a garota parada ali, assim como também haviam feito Puck e Sam. Um sorriso escapou dos seus lábios ao ver uma risada feliz fugir dos lábios da garota.

- Quinn! - o Sr. Schue falou vendo a garota ali - Que bom que voltou!

- Sr. Schue, você precisa de mim... E, bem, eu preciso do Glee, agora mais do que nunca.

- Que bom que está de volta! Fico feliz em saber que está bem!

- Bem, está aqui a sua música! - ela entregou uma cifra pra ele - É exatamente o que você falou, algo cheio de energia, e nos descreve! Descreve ser jovem...

- Bem... - ele começou, olhando a letra - Isso é arriscado...

- E foi no arriscado que ganhamos as seccionais no seu primeiro ano como treinador, Mr. Schue. - Mercedes falou, se pondo ao lado de Quinn.

- Bem, nós podemos tentar!

Todos se explodiram em uma grande onda de alegria. Quinn estava de volta. Eles já tinham a primeira música para as seccionais, o clima já não estava mais tão pesado do que a última vez que a loira havia estado naquela sala do coral.

Então porque Santana continuava com aquela pulga atrás da orelha toda vez que olhava para Quinn naquele ambiente.

- Ok, todos se sentando! - Will falou, e todos obedeceram - Puck e Sam, eu quero vocês para essa música! Puck na letra, Sam no refrão. Podemos tentar uma vez para ver se fica bom? - ele perguntou, mas Santana não prestou atenção na resposta dos seus colegas.

Essa era a hora para perguntar aquilo que tanto lhe incomodava: Quinn estava do seu lado, olhando atenciosamente para a frente.

- Posso saber o motivo dessa visita surpreedente Q? - ela sussurrou, aproximando a sua cadeira a da loira.

- Bem, depois de uma pequena conversa com Mercedes, eu resolvi que preciso esfregar na cara do Finnútil que ele não vai me destruir. - Ela respondeu, sem tirar o sorriso do rosto - Quer minha namorada? Pode levar aquela infiel, mas minha dignidade, isso não.

- É bom te ver de volta Q! - Santana falou, pondo a mão no ombro da sua amiga, abrindo o sorriso mais sincero que ela havia dado no dia.

- É bom estar de volta S! - ambam se jogaram em uma onda de risos.

Estava tudo bem? Não, com certeza não, mas aquele já era um bom começo para melhorá-las.