O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 82
IX.9 Adeus à lenda.




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Goku arfava. O confronto fora breve, Keilo arrastava-se pateticamente pela terra a procurar levantar-se. O saiya-jin de Zephir perdera o primeiro assalto.

Uma das lições que aprendera com Keilo fora a de nunca menosprezá-lo. Com Keilo teria de dar tudo por tudo nos primeiros golpes. Não podiam haver brincadeiras, nem aquecimentos fictícios, nem cortesias de guerreiros de deixar o adversário atacar primeiro. Quanto mais tempo demorasse o combate, maior seria a vantagem de Keilo. Por isso, entrara a matar naquela luta.

- Vais-me pagar a ousadia, Kakaroto! – Rugiu.

Goku apertou os punhos. Levantou o queixo, olhou Keilo com desprezo. Os longos cabelos loiros caindo em grandes cachos roçaram-lhe nas costas. O seu cérebro funcionava de forma diferente quando estava transformado em super saiya-jin, nível três. Todo o seu sangue saiya-jin fervilhava nas veias e não havia nada mais que isso: sangue saiya-jin. A luxúria dos combates!

Keilo levantou-se, limpou o nariz ferido.

- Não queria chegar a este ponto, mas já vi que me consegues superar no nível três dos super saiya-jin.

A energia de Goku lançava centelhas brilhantes para a atmosfera. Keilo prosseguiu:

- Não quero que penses que me consegues derrotar. Muito bem, concedo-te a primeira vitória… Mas a guerra será vencida por mim. Porque eu, meu caro Kakaroto, ainda tenho muitos recursos.

Goku desconfiou. Novamente a bazófia dos saiya-jin, ou a realidade pura e simples? Talvez a última hipótese, pois Keilo estava a falar a sério. Não teria nada a perder, naquele momento. Zephir estava desesperado e exigira-lhe uma vitória. Prosseguiu indiferente:

- Foste um bom adversário, conseguiste sempre igualar o meu poder. Mas eu sou a lenda, o maior mito do meu povo. Vegeta foi bem claro nessa afirmação. E achas que a lenda se resume a isto? – Abriu os braços, exibindo o seu corpo esculpido no terceiro nível dos super saiya-jin. – Não, Kakaroto! Existe mais, muito mais… E vou mostrar-to. E depois… vais morrer.

O instinto ordenou-lhe que se colocasse em posição de defesa e Goku obedeceu ao seu instinto.

O que se seguiu deixou-o estarrecido.

Keilo cruzou os braços sobre a cara, enrolou-se numa bola. O chão debaixo dele tremia sem parar. Os seus grossos cabelos loiros começaram a encolher, a perder volume, a escurecer, a tomar uma forma desgrenhada. A energia do saiya-jin subia, subia, subia e parecia não ter limite. Nas suas costas uma forma peluda e comprida ondulava: uma cauda! Endireitou o corpo, esticou os braços para o alto, gritou com todas as suas forças. A energia desprendeu-se numa onda avassaladora que gerou um furacão.

Goku olhou para Keilo e ficou boquiaberto.

Keilo atingia outro nível de poder! Keilo atingia o nível quatro dos super saiya-jin!

Estava perdido, teve medo. Keilo tinha razão, ele ia morrer. Não seria capaz de anular aquele poder gigantesco, era mais do que conseguiria fazer. Teria de se resignar.

Apertou os maxilares, não queria desistir. Não podia… Por todos aqueles que amava, pelo planeta, pelo Universo. Só uma vez tinha desistido, mas nessa altura fizera-o porque tinha a solução para o problema – sabia que não estava à altura de Cell, mas Gohan estava e fora o filho mais velho que derrotara o monstro e acabara por salvá-los a todos.

Mas ali… era o mais absoluto desespero.

A capa dourada que o envolvia cintilou, Goku gritou a plenos pulmões.

Iria morrer, mas fá-lo-ia apenas depois de esgotar todas as possibilidades.

Também não era a primeira vez que enfrentava um inimigo superior.

Uma explosão luminosa brotou do Templo da Lua. O terramoto que se seguiu foi avassalador, violento, fraturante. Desequilibrou-se, caiu, apoiou um joelho no solo onde se rasgavam enormes fendas. A luz era tão brilhante que deixou-o momentaneamente cego e perdeu o contacto visual com Keilo. Passou a senti-lo, seguindo-lhe os movimentos, percebendo o ki gigantesco. Também ele estava surpreendido com o que estava a acontecer e ficara providencialmente quieto.

Uma pausa que permitiu a Goku pensar na estratégia que iria adotar naquele combate.

Nisto, o ki de Keilo sofreu uma alteração brusca. Goku ouviu primeiro um grito, depois alguém a ofegar aflito, mais gritos e silêncio. A luz que o templo vomitara tão impetuosamente e que banhara tudo em redor num maremoto ofuscante, diluía-se gradualmente. Concentrou-se, estendeu os sentidos para lugares mais afastados, mas era como se Keilo… tivesse ido embora.

- Nani?

Estranhou. A energia do saiya-jin tinha desaparecido completamente, levado pela luz. De um momento para o outro, evaporara-se para lado nenhum. Nem com a Shunkan Idou ele conseguia fazer uma coisa daquelas.

Contudo, não estava sozinho. Havia uma energia, mais fraca, ali com ele. Ergueu-se, abriu os olhos e descobriu um homem ruivo com uma expressão desnorteada no rosto suado. Vestia as mesma roupas de Keilo, mas era mais alto, pelo que as mangas tinham ficado curtas e as calças estavam acima dos tornozelos. Parecia uma caricatura de Keilo e Goku entreabriu um sorriso. O homem balbuciou:

- Son… Goku?

Já não tinha necessidade de manter aquele nível de poder ante o homem que tinha um ki maior que a maioria das pessoas da Terra, mas, mesmo assim, bastante inferior para ser um adversário temível e Goku abandonou o nível três dos super saiya-jin. Até porque também lhe sugava as energias com voracidade, não conseguia manter aquele estado por mais de meia hora sem ficar com as forças totalmente drenadas. Ao presenciar o fenómeno, o homem deu um salto para trás e gritou assombrado. Goku perguntou inocente:

- Onde é que está Keilo?

O homem insistiu:

- Son Goku…?

Seria melhor responder-lhe.

- Hai, sou eu. Conheces-me?

O homem arrojou-se aos pés dele e foi a vez de Goku saltar para trás. O outro disse a embrulhar as palavras:

- Ah! É uma honra conhecer o mais poderoso dos guerreiros da Terra. Nunca pensei que nasceria o dia em que finalmente te encontraria. Ai, eu não sou digno de estar no mesmo sítio que vós, meu herói.

Goku gaguejou, atrapalhado com a deferência:

- M-mas… O que é que estás a fazer? Levanta-te…

- Não posso! Não sou digno de o fazer. Tu és uma lenda! O exemplo que eu persigo, o que me motiva a ultrapassar os meus limites, o que me torna um melhor lutador. Admiro-te.

Goku corou, coçou a cabeça. Bem, Keilo é que se intitulava uma lenda e realmente era-o, concordava, nunca tinha conhecido um saiya-jin tão poderoso.

- Está bem… Mas, olha, queria só saber quem tu és. E se sabes onde se enfiou Keilo.

O homem respondeu, permanecendo com a testa colada no chão:

- Chamo-me Kang Lo. Vivia nas montanhas até conhecer o maldito feiticeiro que me desgraçou.

- Conheceste Zephir?

- Hai. Enfeitiçou-me com a terrível magia do Makai e desde esse dia tenho vivido um pesadelo. Via os meus atos hediondos, mas não conseguia evitar o que fazia. Foi horrível, Son Goku. Horrível! Peço que me perdoes.

- Não sei do que tenho que te perdoar, Kang Lo.

O homem encarou-o, começou a chorar, confessou agitado:

- Fui eu que ajudei Zephir a conquistar o Templo da Lua. Fui eu que assassinei todos os monges e todos os sacerdotes. Depois de conquistar o templo, Zephir ganhou mais poder e colocou a Terra e todo o Universo em perigo… Graças a mim e à minha habilidade. Depois, usou o meu corpo para fazer aparecer o super saiya-jin lendário.

- Ah… Então tu eras Keilo…?

- Hai! Mas agora libertaram-me da prisão. O espírito amaldiçoado do saiya-jin desapareceu e consegui recuperar o meu corpo, pois apesar de o feiticeiro ter tentado assassinar o meu espírito, consegui resistir e aninhei-me num canto, à espera da oportunidade de recuperar o que sempre me pertenceu. Oh, grande Son Goku… Perdoa-me!

Ao fundo, depois do lago de águas calmas e límpidas, os edifícios destruídos do Templo da Lua estavam sossegados, imersos na luz cinzenta do início da noite. As primeiras estrelas surgiam no firmamento. Goku semicerrou os olhos, analisando o espaço minuciosamente. Já não havia criaturas das trevas, nem kucris, nem os demónios Julep e Kumis, também já não havia Keilo. E Ubo voltava a ser Ubo.

A vitória era deles. Zephir fora derrotado.

O homem lamentava-se, o rosto molhado de lágrimas:

- Oh, perdoa-me! Perdoa-me, Son Goku…

Goku ordenou com firmeza:

- Levanta-te, Kang Lo.

O homem obedeceu. Porque era necessário, para sossegar o pobre lutador alucinado, disse-lhe:

- Eu perdoo-te.

O rosto do homem iluminou-se de felicidade.

- E não sintas remorsos por teres assassinado os monges e os sacerdotes do Templo da Lua. Todos foram ressuscitados pelo poder de Shenron e das bolas de dragão.

- Shenron? Bolas de dragão?

- Pelo poder do kami-sama – corrigiu, para que o homem entendesse.

- Honto?!

- Hai. Não te ia mentir, pois não? – Piscou-lhe o olho e o homem pestanejou confuso. – Podes partir em paz, Kang Lo. Estás livre da magia de Zephir.

O homem acenou com a cabeça.

- Irei, por agora. Mas voltarei. Quando o Templo da Lua estiver reconstruído, virei até aqui para me tornar monge. Quero servir a Deusa Suprema da Noite.

Goku cruzou os braços, perguntou admirado:

- Mas não me disseste que eras um lutador?

- Hai. Treinava-me todos os dias para ser o maior lutador do mundo. Para te conhecer… Já te conheci. Cheguei a lutar contigo. Mesmo que te tivesses enfrentado a Keilo, eu também lá estava, aninhado no tal canto. – Abriu um sorriso rasgado e sincero. – É fantástico lutar contigo! O teu poder é imenso. Jamais o esquecerei… Por isso, o meu caminho como lutador terminou. Preciso de dar paz ao meu espírito…

Olhou na direção do templo.

- Sei que Zephir era um homem cheio de maldade, mas os monges e os sacerdotes ensinados nos mistérios da lua não o eram. Gostaria de conhecer um pouco mais do culto, saber de coisas de magia… Son Goku, depois desta experiência, preciso realmente de dar paz ao meu espírito.

Despediu-se com uma vénia. Goku devolveu-lhe o cumprimento e também se dobrou diante de Kang Lo.

- Até sempre.

- Até sempre, Son Goku – gaguejou o lutador com os olhos marejados de lágrimas, sensibilizado com o gesto daquele que admirava tanto.

A seguir, deu meia volta, meteu-se pela floresta e foi-se embora.

Goku voou para o Templo da Lua para se encontrar com os seus amigos. Procurou por eles no meio dos escombros e da destruição, alcançando-os com o seu ki. Sentiu que estavam todos bem. Até a Ana.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Encerramento.



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