O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 62
VII.9 Prisioneira.




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O espectro de Babidi, com as mãos azuladas e minúsculas coladas no vidro da bola que o aprisionava, contemplava a explosão de fúria de Zephir.

- Os kucris!

A cena de histeria contrastava com a atitude imaculada que o feiticeiro gostava de exibir. Babidi revirou os olhos, aborrecido. Debaixo da capa de uma indiferença arrogante, Zephir era um desvairado de sangue quente que perdia facilmente o controlo. Já se tinha arrependido de o ter escolhido como seu instrumento para a conquista do Universo.

- Roubaram-me o livro e partiram o vaso dos kucris! Acabaram com os meus preciosos ajudantes… Já não vão nascer mais kucris. Mas quem ousou entrar sorrateiramente no Templo da Lua e fazer esses estragos irreparáveis?

Zephir volveu os olhos inflamados para Babidi, que flutuava dentro da bola. Apontou-lhe um dedo esquelético, agitando a larga manga do hábito cinzento.

- Foi obra tua, maldito?

- Não deves estar a falar a sério, meu caro Zephir. Achas que sou capaz de fazer alguma coisa dentro desta prisão? Além do mais, pareces esquecer que sou apenas uma alma do Outro Mundo, sem um corpo palpável. Que posso eu fazer? Se tivesse esses poderes que tu pensas que tenho, utilizava-os em meu proveito, para sair desta bola, por exemplo, e não nalgum esquema mirabolante para me vingar de ti.

- O livro desapareceu do altar. O teu livro! – Bradou.

- Era o meu livro, certo, mas és tu quem o usas.

- O livro era a coisa mais valiosa que possuía. Era o meu passaporte para o trono do Universo. Tu sabias disso, Babidi! Só tu conhecias o meu segredo. – E apontou para o espaço vazio do altar, entre as duas velas.

O espectro encolheu os ombros.

- Não tenho nada a ver com o que aconteceu.

Num acesso de raiva, Zephir atirou a bola à parede. O vidro era especial, criado através da magia, e não se partiu. Quando esta rebolou pelo chão, Babidi atordoado rebolou com a bola, aos encontrões dentro desta. Zephir voltava-se para o altar, punhos apoiados neste.

- Foi aquele maldito rapaz. Foi ele – disse com uma voz seca, acalmando-se aos poucos. – Ele é o teu precioso Majin Bu. Entraste dentro da mente dele, convenceste-o a ajudar-te. Sabotou os kucris, escondeu o livro. Faz o que tu lhe pedes, não o que eu lhe ordeno. Há quase um dia que o enviei à procura da rapariga da Dimensão Real e da outra metade do Medalhão de Mu e ainda não regressou.

Babidi levantou-se dentro da bola, agarrado à cabeça tonta.

- Estive sempre contigo, ando sempre contigo. Como podia fazer isso de que me acusas?

- Sabes que preciso daquele livro. Sem ele, não conseguirei fazer o conjuro para criar o altar onde se utilizará o Medalhão de Mu que me transformará num deus. Queres fazer chantagem comigo… – Rosnou furibundo: – A tua liberdade em troca do livro.

Os olhitos de Babidi arregalaram-se.

- Pensas mesmo que fui eu! Admito que seria uma excelente ideia… mas que não me ocorreu. Juro-te!

Zephir puxou a bola até à altura do rosto lívido. Desenhou um sorriso pérfido e disse pausadamente:

- Já nem quero saber se foste tu, ou não. Vou acabar contigo. Estou farto da tua presença, Babidi. Não passas de um espírito insignificante. E mais insignificante ficarás quando eu convocar as trevas dos Infernos para desfazer essa tua alminha de nada, até que não sobre nada de ti. Nem a recordação! Até nunca, Babidi!

- Olha que te podes arrepender – implorou o espectro com um guincho.

- Eu nunca me arrependo de nada!

Os dedos do feiticeiro, que alçou sobre a bola, cobriram-se com uma névoa intermitente avermelhada. O espectro tornou a guinchar, falando muito depressa:

- Lembra-te que o livro de magia chama-se “Livro de Babidi”. Eu sou Babidi! Sei o meu livro de cor e salteado. Todos os conjuros e todas as magias foram criados por mim, foram reunidos por mim. Posso ajudar-te. Não tens o livro, mas tens-me a mim.

Zephir exclamou siderado:

- Mais chantagem?!

- É a única chantagem.

Passos junto à porta do santuário.

- Sensei?

Kumis apareceu. Zephir detestou ser interrompido e gritou ao insolente:

- Demónio, fora daqui! Estou ocupado!

- Mas isto vai interessar-lhe, sensei.

E entrou no santuário, empurrando-a, exibindo-a como se fosse um troféu, presa por um braço. Zephir ficou boquiaberto a olhar atarantado para a miúda que o encarava sem mostrar uma nesga de medo, apesar dos gritos, do demónio e de ter o braço esmagado. Respirou fundo, recolheu a energia avermelhada, ocultou as mãos dentro das mangas do hábito, perguntou sem qualquer emoção:

- E o que vem a ser isto?

Keilo postou-se na entrada do santuário, a observar a cena.

- Encontrei-a no templo, sensei. Vinha com uma amiga que fugiu. Não sei para onde foi a outra, mas esta foi fácil de agarrar.

Zephir estreitou os olhos.

- Outra miúda?

- Hai, sensei. Fugiu… Eh… Atacou-me e conseguiu fugir.

Keilo desatou a rir. Mas Zephir continuou sério.

- Hum… Temos meninas guerreiras no Templo da Lua? – Inclinou-se ameaçador, mas ela continuou a enfrentá-lo corajosa, sem sequer piscar os olhos azuis. – Não vale a pena perguntar-te nada, pois não, minha querida? Não me irias responder. Mas não preciso das tuas respostas para saber quem és, de onde vens e o que queres do Templo da Lua, menina guerreira.

Num gesto repentino pousou a mão gelada sobre a testa dela, pressionou ligeiramente e a miúda reagiu com um gemido e um safanão. Sorriu deliciado. Finalmente, incutira-lhe medo.

O processo não foi muito demorado. A mente era simples e pouco treinada. Bastaram duas palavras, pouco menos de cinco segundos e a excitação da vitória acendeu-lhe o olhar maléfico. Retirou a mão gelada e a miúda caiu de joelhos desmaiada, pendurada na manápula de Kumis.

- Foi um prazer conhecer-te, Bra – disse Zephir calmamente. Voltou-se para o demónio: – Kumis, leva-a para um sítio seguro, vamos precisar dela nas próximas horas. Estás proibido de fazer mal à filha de Vegeta.

Surpreendido, Keilo descruzou os braços. Nunca imaginara que aquela pirralha pudesse ser tão especial. Ela tinha o sangue real dos saiya-jin a correr nas veias!

- Hai, sensei.

Kumis fez uma vénia e foi pelos corredores levando Bra debaixo do braço. Keilo seguiu o demónio com curiosidade.

Zephir elevou a bola de vidro e sorriu.

- Agora entendo que não tiveste nada que ver com os recentes acontecimentos, Babidi.

O espectro não lhe respondeu. Cruzou os braços, baixou os olhos amuado.

O feiticeiro sentiu-se triunfante, apesar dos últimos reveses. Permitiu-se um ligeiro suspiro de alegria. Podia ter perdido o seu precioso livro de magia, podia ter perdido o vaso dos kucris, mas com a menina guerreira ganhara a imortalidade.

Largou a bola de vidro e chamou por Ubo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
A troca.



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