O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 22
III.4 O refúgio nas montanhas.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado na primeira pessoa.



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O sol baixava no horizonte, atrás das montanhas que de verde tinham passado a negro, e no céu espalhava-se um mar cor de fogo. Com o fim do dia vinha um vento frio que me deixava ainda mais enjoada e desconfortável.

Viajava pelos céus com Trunks, ao nosso lado Son Goten.

No início, tinha sido divertido. Deixara o Palácio Celestial a voar e nunca tinha voado na vida. Bem, não considerava aquela vez com o demónio, porque aquilo fora mais uma queda do que um voo, tinha desmaiado no início e não vira nada.

A primeira sensação fora aflitiva, mas também de deslumbramento. A suprema liberdade. O rosto, batido pelo vento agreste das alturas, enchendo-se de luz. O corpo em arrepios incontrolados. A segunda sensação fora de um medo atroz. Estava em segurança, todavia, tinha o braço de Trunks na minha cintura, cingindo-me contra si. Mas para me sentir ainda mais segura, agarrei-me a ele com toda a força. Depois de ter visto o interior do céu, escondi a cara na curva do ombro dele e fechei os olhos.

A velocidade com que voávamos calava qualquer tentativa de conversa e, por isso, não se falou nada. Depois de alguns minutos em que parecíamos balas a trespassar o ar, abrandámos e o voo tornou-se lento, quase como se estivéssemos a ser transportados pela brisa. Deduzi, porque não cheguei a perguntar, que Trunks e Goten utilizavam pouca energia para não sermos detetados. Afinal, iríamos para um local secreto.

Assim, o que começara como uma viagem excitante de montanha russa, acabara por ser um acontecimento tão monótono como uma travessia do deserto através de uma estrada esburacada, a bordo de um autocarro apinhado de gente e sem ar condicionado.

O dia acabava e eu estava moída, os braços e as pernas dormentes por estarem há horas na mesma posição. Tinha a impressão que já devíamos ter chegado, mas que andávamos às voltas para despistar qualquer tentativa de seguir o nosso rasto. Sobrevoávamos uma floresta densa que cobria umas montanhas que pareciam infindáveis. Ou seriam as mesmas montanhas de há três horas atrás. Ou seria eu que já não aguentava mais estar ali pendurada em Trunks.

Quando o sol desapareceu e o céu se tornou violeta, baixámos até à floresta. Goten aterrou suavemente e Trunks aterrou logo atrás. Afrouxou o abraço e pousei aliviada os pés em chão sólido.

Diante de nós estava uma cabana pequena, encostada a duas árvores de troncos grossos. Na fachada tosca recortava-se uma porta e uma janela. O telhado, pontiagudo, era feito de ramos entrelaçados, coberto de folhagem.

- Chegámos – anunciou Goten.

- É isto? – Perguntou Trunks.

- Hum-hum… Sei que tem um aspeto horrível, mas é só uma moradia temporária.

Trunks abriu um rasgado sorriso.

- É perfeita!

Avançou, Goten seguiu-o. Olhei em redor, apertei os braços. Fazia frio nas montanhas. Estava uma escuridão medonha e os animais noturnos começavam a movimentar-se, escutava-se um restolhar distante, pios e guinchos. Fui atrás dos dois rapazes, entrei na cabana.

Tinha apenas um compartimento, decorado com um baú poeirento, um par de prateleiras por cima deste e um colchão, fino e largo, tapado com diversos cobertores. Havia ainda uma bacia junto ao colchão.

- Bem, espero que seja do vosso agrado, caros hóspedes – começou Trunks zombeteiro, sorrindo.

- Devia ser eu a dizer isso, não? Afinal, a casa é do meu pai.

- Concordo. Então, meu caro anfitrião – prosseguiu no mesmo tom, a voz cómica, voltando-se para Goten –, o que tens para nos oferecer?

- Eh… Dormida?

Goten apontou para o colchão. Acrescentou, o dedo apontando para o baú:

- Ali estão roupas que pudemos usar Eu irei precisar, de certeza. Tenho o dogi todo rasgado.

- E comida?

- Teremos de nos alimentar com o que existe na montanha. Frutos silvestres… Sei que há macieiras selvagens.

- Ótimo! Estou cheio de fome. Não tens fome?

Os olhos de Goten brilharam na penumbra.

- Hai, Trunks-kun! Também precisava comer qualquer coisa.

- Também tens fome, Ana?

Era a primeira vez que Trunks falava comigo. Foi estranho, diferente, quase trivial. A película daquela dimensão que nos transformava em animações insufladas de vida filtrava os acontecimentos, como se fosse tudo novo, como se o que já tivesse acontecido não importasse. Senti a distância entre mim e Trunks como algo sólido. Respondi:

- Hai, também tenho fome…

- Goten, vamos buscar qualquer coisa para comer.

- E a Ana?

- Ela fica aqui.

- Não a devíamos deixar sozinha, Trunks-kun.

- Apenas alguns minutos… Seremos mais rápidos se formos só os dois. – Olhou para mim. – Não te importas, pois não? De ficar aqui alguns minutos?

Abanei a cabeça.

- Não.

Teria a viagem entre as dimensões apagado a memória? Ou os sentimentos e as promessas? A dúvida incomodou-me, como uma picada de um bicho.

- Vamos, Goten. Quanto mais depressa formos, mais depressa regressamos.

- Hai.

Encostaram a porta depois de saírem. Escureceu dentro da cabana.

- Estou a ouvir o teu estômago a roncar.

- É que estou mesmo com fome, Trunks-kun!

- Mas não estiveste a curar-te, estes dias todos?

- Estive.

- Então, não devias ter fome. As tuas energias foram repostas na totalidade.

- Talvez tivesse sido da viagem.

- O que é que sugeres, anfitrião? Que iguarias nos reservas para o banquete desta noite?

- Não brinques, Trunks-kun. Não conheço assim tão bem este sítio… Só estive cá uma vez! Vamos ver o que é que conseguimos encontrar.

- E sem tropeçar em nenhum animal…

- Com a fome que tenho, até me apetecia tropeçar num animal. Um javali ou coisa do género.

- Terias de o comer cru. Não podemos atear fogo, ou seremos descobertos.

- Cru?! Nem penses!

Gargalhadas. As vozes deles perderam-se ao longe, levadas por uma rajada de vento.

Sentei-me no colchão. Atirei-me para trás, braços estirados ao longo da cabeça. Estava escuro e havia silêncio. Perfeito. Fechei os olhos. Cansada, adormeci pouco depois.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
A bola de dragão de três estrelas.



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