- E então? A mesma coisa?

- Eu sou uma burra!

- Você não tem culpa Jú

- Claro que tenho, fico falando a noite, que merda!

Desde a noite passada, Pietro andava pensativo e distante do restante do grupo. Todos iriam embora dentro de quase quatro horas e então aproveitam a cachoeira e brincavam de briga de galo.

Juliana estava conversando com Bruno, afastada um pouco dos demais. Culpava-se por deixar palavras que não deveriam ser dita, principalmente quando quem escutara, era justamente quem não deveria.

Pietro andava por uma trilha não muito longe dali. Pensativo e confuso, relembrava a imagem da noite retrasada, quando Juliana falava que ele era adotado. Não sabia o porquê, mas algo o incomodou dentro de si, e ele não consegui tirar da cabeça a hipótese de que tanto sua mãe, como Juliana estava mentindo pra ele.

- Hey cara - Bruno o encontrou - Estamos esperando por você

- Ja vamos?

- Sim - respondeu - Alguma coisa errada?

- Só pensando em uma coisa que esta me intrigando desde noite passada

- Quer falar sobre isso?

- Não sei se tem algo a ser dito, mas queria perguntar uma coisa a você. É mais um conselho do que uma pergunta, pra falar a verdade

- O quê? - Bruno perguntou já sabendo mais ou menos o referente daquela conversa

-Você acha que se a Juliana soubesse de algo muito importante- por exemplo, sobre mim - ela esconderia ? Por mais que fosse algo que pudesse mudar minha vida?

Bruno ficou olhando para o amigo pensando na resposta. Se falasse que não, estaria mentindo. Se falasse sim, estaria colocando Juliana em más lençóis e não só ela, como ele, pois também sabia dessa coisa importante.

- Se ela sabe e ainda não contou, é porque isso não é tarefa dela Pietro - depois dessas palavras Bruno se virou e começou a caminhar de volta ao local onde estava os outros.

Pietro viu o amigo se distanciar e repensou nas palavras que Bruno dissera. Fazia sentindo. Juliana não era de se intrometer nos assuntos que não era de sua conta. Sempre ficava distante ou calada, ate demais. Foi ai que sua ficha começou a cair. O jeito que Juliana agira nas ultimas semanas todas as vezes que eles ficavam sozinhos. Calada, sem animo, pensativa e algumas vezes com olhos lacrimejados. Tudo fazia sentindo pra ele agora. Durante todo esse tempo, sua mãe mentiu pra ele. Juliana mentiu pra ele. Bruno mentiu pra ele.

- Então é verdade, não é? - Pietro disse nervoso e em um tom bastante alto ao se aproximar de Juliana

- Do que está falando? - perguntou confusa

- De tudo Juliana. Não se faça de idiota

- Quem você pensa que é pra ficar gritando comigo dessa forma ? - Juliana alterou a voz também

- Alguém que foi traído pela própria mãe, pelo próprio amigo e pela pessoa que ele pensava que poderia confiar

-Você está tirando conclusões precipitadas

- Ah me poupe Juliana ! Você é uma mentirosa. Como pode fazer isso comigo? Por que não em contou toda a verdade?

Todos permaneciam calados, apenas olhando a cena. Bruno estava ao lado de Juliana, porém não disse nada.

- Pietro se acalma, o que está acontecendo? - John disse se aproximando do próprio

- Não se intrometa John!

- Me intrometo sim, porque não vou permitir que grite dessa forma com a Jujuba - John, pela primeira vez em muito tempo, dizia serio e firme

- Ela é uma mentirosa!

- Cala a boca idiota! - Juliana gritou já sentindo suas lagrimas molharem seu rosto - Você não sabe o que eu passei por esconder isso. Eu juro que queria contar, mas isso não é dever meu. Não é da minha conta.

- Pouco me importa o que você passou, eu tinha o direito de saber

- E eu não tenho esse direito de contar! - ela retrucou - Posso ter errado, mas não admito que você venha aqui e grite comigo dessa forma como se fosse meu pai.

- Eu não sei se já disse isso, mas ainda bem que não sou. Você seria um desgosto como filha

Depois de praticamente cuspir essas palavras para Juliana, Pietro percebeu o peso que elas teriam em Juliana, e mesmo estando morrendo de raiva de tudo aquilo, desejou nunca ter dito.

- Eu. Te. Odeio - Juliana disse pausadamente  e saiu correndo da onde estava.

- Você é um otário Pietro - John disse e começou a correr atrás de Juliana, que sumira pela mata. - Ju, espera!

Ninguém sabia o que estava acontecendo. O motivo daquilo tudo apenas Pietro, Juliana e Bruno conhecera. Depois que Juliana saiu correndo dali, Pietro se odiou ainda mais. Por ter gritado com ela, por ter acreditado nela e por ter dito aquelas palavras para ela.

-Pietro - Bruno disse se aproximando - Cara, eu sinto muito...

- Cala a boca Bruno

- Eu ate admito que você grite comigo, mas não podia ter dito aquelas coisas a Juliana. Ela não tem culpa de nada, a não ser gostar de você

- Ela mentiu pra mim, você mentiu, minha mãe...

- Pra onde será que a garota foi ? - um dos amigos perguntou depois que o  silencio tomou de conta do lugar

- Não se preocupe - Bruno disse - John está com ela

Juliana saiu correndo do local onde estava todos, indo pra qualquer direção. Ela poderia estar errada, mas Pietro não tinha direito de ter dito aquilo. Ele sabia o que ela passava todas as noites. Ela contara a ela sobre a discussão no carro naquele dia do acidente e ele repetiu as mesmas palavras do pai.

- Ju! - John gritou e logo alcançou a garota - Hey, aonde você vai ?

- Me deixa só John

- De jeito nenhum, você é louca?

- Eu quero sumir daqui

- Sih!  - John puxou a menina pra um abraço forte - Se eu pudesse , tiraria você daqui agora, mas não posso. Sinto muito - sua voz era com um tom de decepção e ao mesmo tempo tristeza

- Eu tenho certeza que sim - ela levou seu olhar até o dele e forçou um sorriso, que não saiu

- Odeio ver minha esposa assim - ele comentou e ela deu uma risada fraca e abafada pelo abraço de John

- Ele não podia te dito aquilo, não podia – Juliana disse com um pouco de dificuldade – Ele sabia que...

- Ele está com raiva Ju, por algum motivo que eu não sei e que nem quero saber, mas aposto que ele esta se odiando por ter dito

- Mesmo assim, eu o odeio

- Sei que não – John abraçou a menina com mais força e a escutou chorar.

Ficaram assim por alguns minutos. John não disse nada e nem precisava. Não sabia o porquê daquela confusão, e também não iria perguntar justamente agora.

- John?

- Sim?

- Obrigada- Juliana partiu o abraço e o encarou – Mesmo te tratando como um idiota, eu gosto de você - John riu e abraçou de novo

- Eu também gosto de você Jujuba, e acredite, adoraria que fossemos um casal

-John...

- Mas você gosta do Pietro e eu gosto da Larissa – ele admitiu e Juliana ficou boquiaberta, abriu a boca pra responder, mas as palavras não vieram – É , eu sei , isso é maluco

- Mas você nunca demonstrou nada em relação a ela, sempre ficava no meu  pé e...

- Eu sei que ela nunca vai querer nada comigo, então tentei gostar de você – ele riu fraco- Mas isso não importa, não mais

- Claro que importa John!

- Esquece isso Ju, eu já sou casado, lembra?

-John...

-Vamos embora? Daqui a pouco partimos

John estendeu a mão para a garota e sorriu. Juliana segurou sua mão e começaram a caminhar de volta para onde estavam todos. Ao se aproximarem, viram que as barracas já estavam desfeitas e todos já estavam colocando as coisas no carro.

- John, será que um desses seus amigos me deixaria em casa ? – Juliana perguntou

- Não sei Ju. Fazemos trajetos diferentes

- Não custa tentar né?! – Juliana soltou-se de John e foi até um deles.

- Com licença – ela disse e todos voltaram sua atenção para Juliana – Posso pedir um favor?

-Claro Juliana – ele respondeu – O que quer?

Juliana fez um sinal para que fossem para mais distante, ele obedeceu.

- Isso é meio idiota, mas você viu o clima que está aqui

-Percebemos

- Pietro me magoou com aquelas palavras e eu não queria ter que voltar com ele

- E você quer ir com a gente – ele completou

- Se não tiver problemas

Ele encarou Juliana por um tempo. Sabia que o trajeto era completamente diferente, mas não custava ajudar. Enquanto ele pensava na resposta, Juliana o observou bem pela primeira vez. Era alto, cabelos cacheados, olhos verdes, simplesmente lindo.

-Bom , eu posso ajudá-la – ele respondeu , Juliana sorriu e ele também , foi ai que ela percebeu suas covinhas

- Obrigada

Eles voltaram para os demais e Juliana foi em direção ao carro de Pietro. Pegou suas coisas e passou pelos amigos sem dizer nenhuma palavra.

- Foi boa a viagem pessoal – o menino de cachos disse – Espero fazer outra em breve

- Iremos fazer – Guilherme respondeu

- Vamos Ju? – Bruno a chamou

- Não vou com vocês

- E vai com quem?

- Ela vai comigo – cachos respondendo- Tem espaço de sobra aqui, afinal vim sozinho

- Negativo. Você veio com a gente, então vai voltar – Pietro disse

- Não vou! Não sou obrigada

- Ótimo então! Evita ir com uma mentirosa

- E eu com um idiota, egoísta e hipócrita – Juliana o encarou com raiva e se virou, indo em direção ao carro do garoto de cachos.

Pietro a olhava indo embora, e por mais que estivesse com raiva daquilo tudo, odiava ver Juliana com outro garoto. Estava com ciúmes. Vai saber o que ele poderia fazer com sua garota.

Durante toda a viagem, Juliana e Adam – ela finalmente perguntou o nome dele, já que não conversaram muito durante o final de semana- ficaram conversando. Ele perguntou se ela queria desabafar, mas ela respondeu que não. Não havia o que contar. E sempre que ela conversava sobre seus pais ou Pietro, sentia vontade de chorar.

Adam era o tipo de menino que toda garota gostaria de ter ao seu lado, inclusive Juliana. Era um bom ouvinte e sempre falava o que você teria ou gostaria de ouvir. Um perfeito cavalheiro. Sem falar que tinha um humor fantástico. Fazia faculdade de fotografia e logo abriria um estúdio. Foi tanta conversa, que Juliana havia esquecido o que lhe esperava em casa, quando estacionaram de frente a casa, e ela viu o carro de Pietro já estacionado

- Obrigada e desculpa pela volta que você teve que dar

- Não precisa se desculpar Juliana, foi bom conversar com você

- Digo o mesmo. Você é um rapaz diferente

- E você também, um diferente incrível – ele sorriu de forma galanteadora, fazendo a menina corar

- Tchau

- Tchau Juliana

 A menina pegou suas coisas e viu Adam virar a esquina logo depois. Respirou fundo ao encarar a porta e quando girou a maçaneta, viu Pietro e sua tia sentados. Graça chorava e Pietro estava calado encarando um copo. Ao ouvirem Juliana entrar pela porta, voltaram sua atenção para a menina.

- Você não podia ter contando Juliana – Graça disparou, levantando-se e indo ate a menina – Não era seu dever

- Mas eu não disse nada tia

- A culpa disso é sua – Graça disse alto e firme. Juliana podia ver a raiva e tristeza nos olhos de sua tia – Você não tinha o direito de mexer onde não devia

- Eu já pedi desculpas por aquilo e achei que a senhora tivesse me perdoado

- Não interessa mais , você e sua curiosidade estragaram minha família

Juliana encarou sua tia e as lagrimas já escorriam pelo seu rosto. Olhou para Pietro, que se levantou e subiu para o quarto, como um foguete. Olhou de novo para sua tia e apenas sussurrou

- Desculpa