Diário De Um Sobrevivente escrita por Allann Sousa


Capítulo 23
O vislumbre do plano maior


Notas iniciais do capítulo

Queira eu um dia viver para escrever, aqueles que lerem as minhas histórias nesses dias vão espantar-se ao comparar com estas..



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Testemunho de Johan

O meu amigo da marinha me abraçou com um sorriso alegre no rosto, mas ainda havia algo que eu não entendia.

— Almirante Roger, por que seus subordinados estão apontando armas para mim e meus amigos? — perguntei indicando os dois homens que apontavam os fuzis para mim e Laylor e ainda outros, que não consegui contar, mirando a van da qual ninguém tinha saído e que ainda tinha as portas traseiras abertas.

Ele se aproximou de mim novamente e sussurrou no meu ouvido.

— Desculpe pelo incomodo, alguns desses homens não são meus subordinados e, depois de tudo que aconteceu, ficou difícil comanda até mesmo os meus homens, todos tem inteligência, sabem lidar com armas e encontrar suprimentos, então, você sabe, eles não tem medo de ficar sozinhos e por isso não temem a ninguém.

— Não tem problema, não culpo você — respondi, batendo no ombro dele. — Vocês não precisam apontar essas armas para nós, nem temos armas de fogo. — Eu ergui minhas mãos com o machado na direita para eles verem.

— Mas seus amigos têm — respondeu um homem mirrado de uniforme, carregando uma AK-74u.

— Isso mesmo — concordou um homem mais robusto, que parecia ter uns dois metros e vestia uma calça jeans do exército e uma camiseta branca. — Além disso vocês trouxeram os zumbis para cá, devíamos dá-los à eles, para acalmá-los.

— Se é assim que você pensa, por que você não vai lá fora acalmá-los? — indaguei, deixando-o sem palavras. — Escutem bonecas, nós já matamos dezenas de zumbis e temos um exército aqui, se fizermos turnos...

— Temos? Escuta aqui soldadinho de chumbo, o meu grupo e o seu não resulta em nós, não temos motivos para confiar em vocês e ao que parece vocês só causam problemas.

— Espera aí Carlos! Eu ouvi você dizer o seu grupo? — o homem caucasiano com chapéu da marinha e emblema no peito se intrometeu. — Lembre-se de que eu e meus soldados ajudamos vocês e demos um lugar para ficar, além de comida, por isso você obedece a mim e à meus soldados.

— Então você vai ajudar o homem que trouxe a desgraça à esse lugar? — perguntou ele furioso.

— Ele é meu amigo e se não fosse por ele, não teríamos esse lugar, então mande seus homens abaixarem as armas!

— Você ouviu o que ele disse — todos ouviram uma voz de mulher saindo da van.

Amélia saía da van com um revólver apontando para a cabeça do homem grande chamado Carlos, que inevitavelmente me fez lembrar-me do meu amigo que morrera pelas mãos de uma oficial do exército. Amélia tinha os olhos vermelhos de tanto chorar e a arma tremia.

— Amélia, não se meta nisso! Volte para a van! — pedi meio nervoso. Desde que eu fui resgatar George daquela cidade, Amélia tinha demonstrado uma instabilidade estranha e incontrolável.

— Não! Esse homem é mal.

Carlos soltou uma sonora gargalhada, combinando com seu tamanho.

— Tudo bem, eu não mato mulheres, ainda mais se forem tão bonitas e inseguras — respondeu ele fazendo um sinal para que seis homens sem fardas abaixassem as armas.

— Seu idiota — ela estava prestes a apertar o gatilho, aparentemente sem razão, mas eu me aproximei enquanto Carlos falava e segurei sua mão.

— Pense mais no que você vai fazer Amélia! Você precisa estar aqui quando George voltar — eu tirei a arma da mão dela e ela debruçou o rosto no meu peito, soltando mais lágrimas.

Os homens fardados abaixaram as armas ao sinal de Roger e ele veio até nós.

— Vocês precisam descansar um pouco, vou organizar um grupo para limpar a área em frente à porta e depois será a vez de vocês, talvez amanhã.

— Obrigado Roger. Precisamos conversar, amigo.

— Depois, por enquanto temos muito trabalho a fazer.

Alguns homens nos disseram que não tinham mais cobertores nem colchões para nós, só nos indicaram um canto para nos deitarmos, mas isso não era problema por que nós tínhamos nossas coisas.

Quando nos arrumamos num canto distante dos marinheiros e dos outros caras para os quais não tínhamos uma nomenclatura, Laylor parecia querer ficar próxima de alguém, ao contrário do que acontecia sempre, quando dormíamos a céu aberto ela sempre se isolava. A garota ficou de pé em frente aos sacos de dormir, onde estavam Tyreese abraçado com Alexya e Sahsa ao lado deles, e depois foi até a parede onde estendem seu cobertor e se deitou.

Em contraposição ao evidente sentimento de insegurança de Sasha, Amélia se afastou de mim e deitou-se sozinha do outro lado do grupo, à um metro de distância de Bernard. Sem pensar duas vezes eu fui até ela.

— Amélia, o que houve? — perguntei ao seu ouvido me sentando ao lado dela.

Ela não respondeu.

— Eu temo pela sua segurança, acho que você ficaria melhor do meu lado — falei lentamente, escolhendo as palavras com cuidado.

— Se esse lugar não é seguro por que nos trouxe pra cá? — perguntou ela incisivamente.

— A minha ideia era a segurança dos mares, aparentemente algo deu errado por que até o almirante está sem seu barco, amanhã conversarei com meu amigo sobre esse assunto, por enquanto fique calma, vou cuidar de todos desse grupo, garanto que estão todos em segurança.

— E o meu filho? — sua pergunta tirou momentaneamente meu chão. — Sinto falta do George, preciso encontrá-lo. E se ele não estiver mais vivo? Ai meu Deus! — ela caiu em prantos mais uma vez.

Eu passei os braços sobre os ombros dela e permiti que chorasse, também sentia falta de George, mas pensei que verbalizá-la não diminuiria a dor dela, então fiquei calado, apenas segurando-a forte e dando-lhe um lago seguro aonde desaguar suas mágoas.

No outro dia acordei bem cedo, até mais cedo do que os outros, pois estava ansioso para saber por que o meu amigo do mar estava em terra. Fiquei perambulando de um lado a outro e perguntando para alguns ignorantes onde o almirante estava, até finalmente descobrir que ele estava na plataforma superior. Antes de subir percebi que os zumbis ainda batiam no portão.

— Almirante Roger — chamei ao me aproximar e encontrá-lo em frente a uma mesa conversando com dois homens, um marinheiro e outro não.

— Ah, Johan, estávamos discutindo as funções dos soldados para o dia de hoje e os planos sobre tirar os zumbis daquele portão.

— É fácil fazer isso — respondi, com simplicidade.

— Então nos diga — pediu o homem vestido à paisana.

— Vocês devem ter varas nos fundos, prendam lâminas às pontas e furem as cabeças deles, outra maneira, mais arriscada e que causaria uma sujeira nesse lugar, é de levantar o portão o suficiente para passar um corpo, puxem essas coisas pelas pernas e furem as cabeças, melhor fazer isso em duplas — parei para tomar fôlego. — Vocês dois podem levar essas ideias ao resto dos homens e discuti-las?

O homem de farda assentiu, o outro permaneceu encarando-me com um olhar inquisidor, depois seguiu à frente.

— Por que você fez isso? — indagou o almirante quando eles se foram.

— Preciso saber o que o fez perder a autoridade diante deles, além de seus barcos.

— Eu não poderei lhe contar se você tirar o pouco de autoridade que me resta.

— Se você não percebeu, esses homens que parecem vagabundos estão prestes a fazer uma rebelião — sussurrei. — Você já devia saber que a única coisa necessária para liderar num apocalipse é ser o mais forte, esses homens parecem não aceitar que existem homens mais forte do que eles e cada um deve pensar assim, cada um acha que sobreviveria sozinho. Quando você me disse isso ao chegar, supus que você tivesse essa noção.

— Certo, certo. Vou lhe contar o que aconteceu.

— Estou ouvindo.

— Sente-se — ele indicou uma cadeira de alumínio. Depois que eu sentei ele começou a falar. — Foi no dia seguinte ao seu aviso, estávamos de prontidão, alguns com a família, preparados para sair em vários barcos, alguns consideravam isso um crime, tinham medo, mas iríamos partir e aparentemente não havia nada que pudesse nos impedir, só aparentemente. No início da tarde vários homens chegaram em carros comuns, tinham roupas comuns, mas lutavam como soldados. Antes de começarem a atirar, Várias bombas foram lançadas contra os portos ao longo da orla, depois de trocarmos alguns tiros eles simplesmente recuaram, o que, depois dos brados de vitória nos pareceu estranho. Eles nos pegaram de surpresa, poderiam ter nos matado, mas simplesmente partiram. Após esse acontecimento incomum, alguns dos homens fugiram com suas famílias, outros ficaram, buscando ajuda do restante da marinha, mas ao fim do dia aquelas coisas começaram a surgir e nos abrigamos aqui. Depois de alguns meses sobrevivendo e procurando comida e munição, esses homens apareceram, pareciam bem amigáveis à principio, e foram assim até aquela mulher chegar.

A menção sobre uma mulher me fez aprumar na cadeira.

— Mulher? — perguntei curioso.

— Sim, uma mulher bem atraente por falar nisso, ela tinha uma tropa de soldados bem fortes da Filadélfia.

— Espera! Filadélfia? — meu coração batia forte e acelerava a cada palavra.

— Eu sei que é o seu estado — disse Roger rindo meio sem jeito.

— Não é isso — gritei sem conseguir me conter. — Como era essa mulher?

— Gostosa... eu já disse — respondeu ele meio amedrontado e a meu olhar ele tentou pensar em mais detalhes. — Loira, com uma franja enorme, uma cicatriz enorme... do lado... direito... do rosto — ele foi falando mais lentamente ao ver meus olhos se arregalando, como se tivesse medo de que eu batesse nele.

— E o que ela queria?

— Ela veio em paz, pediu que alguns homens fossem com ela, disse que tinha um lugar seguro em que poderíamos ficar, que expandiriam seu forte para que todos pudéssemos ir para lá um dia. Pensando bem nisso, já faz tempo demais que aconteceu.

— Como vocês escolheram quem deveria ir?

— Esse foi o problema, a dificuldade em saber quem deveria ir. Ao ver a confusão armada, ela informou ter um pequeno acampamento nas redondezas, disse que nos daria um dia para que pensássemos. Houve muita briga até que escolhêssemos as pessoas, no fim deixamos ir as crianças, as mulheres e alguns dos soldados mais fortes para ajudá-los. A confusão entre nós começou daí, os meus soldados não acharam boa a ideia de eu permitir que alguns desses homens ainda estranhos fossem ao invés de somente marinheiros, e ao saberem disso, esses homens também ficaram com raiva de mim por eu não ter me imposto, foi então que perdi minha autoridade quase totalmente.

— Ela levou as crianças, as mulheres e os homens mais fortes? — meus olhos deviam estar aterrorizantes, pois ao encará-los Roger recuou um pouco.

— Sim — gaguejou ele se afastando mais ao me ver puxar os cabelos.

Ele tinha razão em ter medo de mim, pois de fato meu cérebro não estava em seu funcionamento normal naquele momento. Eu começava a ver claramente o plano diabólico do alto escalão do estado da Filadélfia, unindo uma pesquisa trivial de um vírus, a estratégia quase perfeito do exército dos EUA e mentes psicopatas com uma ambição ridiculamente estranha. A ideia do alto escalão do exército do estado ao qual eu tinha orgulho em servir era sinistramente perfeita.



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Notas finais do capítulo

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