Peça Por Favor escrita por Juliana Natelli


Capítulo 2
Lobos Solitários


Notas iniciais do capítulo

Wow! Eu fiquei muito contente com a resposta do primeiro capítulo! Preciso agradecer a Knight Beast X que me ajudou com várias sugestões nos últimos dias, as quais pretendo aproveitar (já tem até um pouco daquilo que me disse nesse capítulo se ver bem) :D Espero que curtam o segundo capítulo!



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E a tortura parecia ter apenas começado. Eu não imaginei que estar afim da Wendy seria tão incômodo como vinha sendo.

Bom, vou explicar melhor. Minha primeira decisão diante daquela nova “situação” foi tentar não ligar. É, quem sabe fingindo que os sentimentos não estavam ali, eles sumiam? Essa era minha única esperança...

Então, não deu certo. Droga, é claro que não ia dar! Como eu pude ser tão imbecil a ponto de... Ok, menos. Isso já está ficando tosco.

Eu tentei durante todas as férias de verão reprimir o que eu sentia, ou seja, foram meses de agonia. Nunca pensei que seria esse amigo sacana que estou sendo, mas, de vez em quando, eu tinha quase vontade de arrancar as mãos do Stan quando ele tocava Wendy. Preferia que fosse como antigamente, quando não conseguia controlar a ânsia de vômito ao beija-la. Agora ele fazia aquela tarefa com a maior facilidade do mundo. E eu tinha que improvisar a minha melhor expressão de “não ligo” toda vez que resolvia fazer aquilo bem na minha frente. Ugh.

Ainda que eu não fosse o melhor ator do mundo, ninguém parecia ter notado ainda. Não que eu estivesse cercado por gênios nem nada, mas se eu estivesse sendo óbvio demais, alguém já teria feito uma brincadeira idiota ou algo assim. Bem, pelo menos isso.

O que aparentou ser apenas uma visão diferente e nova em relação à Wendy naquela última semana de maio, agora era uma coisa totalmente irritante e incontrolável. E, definitivamente, não era saudável. Eu estava pirando.

Perto do início do ano escolar seguinte, fomos todos ao Whistlin' Willy's comer uma pizza, apenas zoar por aí. A maioria dos garotos do ano estava lá e mais algumas meninas também. Token veio com Red, pois os dois estavam juntos há duas semanas. Stan estava com Wendy, obviamente, Cartman trouxe seu ego enorme consigo, e para variar, Kenny estava com sua namorada da semana. O restante estava como eu, desacompanhado, ainda que não tivessem a mesma porcaria de sorte que eu tinha com relacionamentos. Até o Butters já tinha se dado melhor desde que havíamos entrado no ensino médio, para vocês verem como o negócio está foda... Porra, o Butters!

- Por que a Bebe não veio, Clyde? – perguntou Wendy ao mesmo tempo em que pegava seu copo de refrigerante e dava um gole.

Clyde deu os ombros.

- Ela acha vocês todos um bando de perdedores e diz que eu não devia andar com vocês também – ele disse com a maior naturalidade, abocanhando um pedaço de pizza.

Assim como eu, boa parte do pessoal ficou ofendido e boquiaberto.

- Diz pra sua namorada que ela é uma vaca! – Cartman falou.

Clyde terminou de mastigar e engoliu, não sendo intimidado pelo comentário de Cartman.

- Mas sabe, talvez ela tenha razão. Quer dizer, o que eu estou fazendo aqui? Eu sou capitão do time de futebol e namoro a garota mais gostosa da escola. Sei lá, olhando assim para vocês... – seu olhar passou por todos os ocupantes da mesa. – Parece que alguma coisa não se encaixa.

Um silêncio constrangedor pairou por alguns segundos.

- Cara, que porra? – perguntou Stan.

- Então - ele continuou. –, eu proponho a todos aqui que sejam legais que se levantem e me acompanhem até a saída. Está na hora de deixar as amizades de quarta série de lado e agir como estereótipos adolescentes – o moreno se pôs de pé com uma fisionomia decidida no rosto.

Clyde é um retardado, agora eu tenho certeza.

- Vamos, Tweek. Token, Jimmy, vocês também – Craig deixou sua cadeira e aqueles que ele chamou o seguiram, juntamente a Red.

- Ei, pessoal! Posso ir também? – Butters perguntou esperançoso.

- Não, Butters. Você fica – disse Cartman.

- Ah, tá bom – Butters começou a encarar o chão, decepcionado.

- A-até mais, g-ga-galera! – disse Jimmy.

Fiquei fuzilando com os olhos todos que saíram da mesa enquanto atravessavam a porta da pizzaria. Agora eu estava puto.

- Mas que droga foi essa!? – eu perguntei.

- Eu não sei! Já faz dois anos que entramos no ensino médio e ninguém tinha falado nada sobre separar os legais dos perdedores – disse Stan. – E, quer dizer, nós somos legais, não somos?

Nos entreolhamos todos e o silêncio reinou mais uma vez. Revirei os olhos.

- É claro que somos legais! Clyde, Craig e os outros que são uns imbecis – eu falei.

- Mas sabe, Kyle, acho que o que Clyde quis dizer foi que o nosso grupo não combina com os populares – dizia Cartman. – Veja bem, o Stan é atleta também, mas ele namora a Wendy, que é uma nerd pé-no-saco, então ele é excluído da lista.

- Cartman!

- Além disso, o melhor amigo dele é um judeu que tem um black power ruivo. E que é outro nerd.

- O meu cabelo ondulou na puberdade, seu idiota! E o fato de eu ser ruivo ou judeu não tem nada a ver com isso!

- Como quiser, Kyle. Continuando, o Kenny não faz nada além de olhar sites pornôs e transar com uma garota aleatória por semana.

- Kenny! Você disse que eu era especial! – a atual (agora provavelmente ex) namorada do Kenny se levantou e jogou um copo de água na cabeça dele.

O loiro agitou os braços em protesto para que ela ficasse.

- Hmph hmp hmphhmph! – Kenny até tirou o capuz. – Calma, Alicia! Vamos conversar!

- Meu nome é Prudence, seu babaca! – ela gritou e deixou a pizzaria.

Kenny afundou na cadeira, dando um suspiro cansado.

- Valeu, Cartman!

- Você pode estar zangado agora, mas vai me agradecer quando não tiver herpes genital.

- Foda-se a herpes genital! – Kenny pegou o garfo e espetou um pedaço de pizza com força e raiva.

- Por fim, temos eu, que sou um gênio incompreendido, com conhecimentos e crenças muito a frente do nosso tempo para que outras pessoas da escola sejam capazes de compreender. E é isso que nos torna lobos solitários, desgarrados do bando. Estamos fadados a não pertencer à regra, e sim à exceção – Cartman olhava para o horizonte como se enxergasse o significado da vida.

- E eu, Eric? – perguntou Butters.

- Sei lá, tô nem aí pra você, Butters! Agora vai buscar mais pizza de pepperoni pra mim.

- Ok – Butters fez como lhe foi pedido apesar de haver garçons que pudessem fazer isso por ele.

Virei-me para Cartman ainda enfurecido.

- Isso tudo é um monte de merda!

- O Kyle tem razão, não é justo sermos rotulados dessa forma – falou Wendy. Meus olhos brilharam em sua direção.

Quer dizer que a Wendy concordava comigo? Se eu ouvi bem, ela havia dito as palavras “Kyle” e “razão” na mesma frase... Ela ficava linda com aquela blusa roxa, por falar nisso. Espera, nem estávamos falando nisso.

Percebendo que eu havia começado a me dispersar, balancei a cabeça e pigarreei.

- Er, isso mesmo! Rótulos são idiotas.

Então, Wendy suspirou tristemente.

- Sabem, eu e a Bebe sempre fomos melhores amigas, mas desde que saímos do fundamental e ela virou líder de torcida, fui completamente ignorada! Pelo jeito, perdemos quase todos os interesses comuns... É tão injusto, mas acho que é isso que a escola faz com as pessoas. Ela as transforma.

Stan a envolveu com os braços, deixando que ela recostasse a cabeça em seu ombro.

- Você não deveria se importar com a Bebe – ele disse, tentando consola-la.

O ciúme atacou novamente. Eu queria ser aquele a tranquiliza-la, a dizer palavras reconfortantes... Ao contrário, eu tinha que apenas assistir a toda a cena de camarote.

- Ela é só uma vadia sem coração – disse Kenny.

- Você diz isso porque a Bebe te deu um fora na sétima série – falei, descontando a raiva no meu amigo.

Kenny ficou um pouco irritado que minha agressividade tenha ido para o seu lado, mas logo deixou para lá.

- Mesmo assim, ela ainda é uma vadia sem coração.

- Ei, Eric! – Butters retornava com uma assadeira metálica redonda e luvas antitérmicas nas mãos. – Eu trouxe a pizza de pepperoni como você pediu. Eles disseram que eu não podia entrar na cozinha, que apenas funcionários eram permitidos, então eu improvisei um sotaque italiano e me infiltrei lá.

Ele sabe que não são apenas italianos que preparam pizza, certo? Que quem trabalha aqui é de South Park?

- Obrigado, Butters – Cartman pegou a pizza e a engoliu de uma só vez, nos proporcionando uma das cenas mais grotescas do dia. Ver Stan beijar a Wendy estava perto de perder o pódio para o Cartman.

- Você é nojento, cara. – Stan comentou e resolvemos mudar o rumo da conversa pelo bem de todos.

É, o Cartman continuava basicamente o mesmo. O seu peso agora era um pouco mais proporcional a sua altura, ele ainda podia ser classificado como gordo, mas a adolescência havia ajudado bastante. Só sua personalidade que era nos mínimos detalhes tão podre quanto antes.

Sério, por que ele ainda anda com a gente?

Acho que nunca saberei.

- Olha, dane-se isso tudo. Vou pedir a conta e pagar a minha parte – Kenny fez sinal para a garçonete do outro lado do restaurante.

- Como você vai pagar? Você não tem dinheiro, Kenny – Cartman disse.

- Agora eu trabalho, se já esqueceu.

Verdade, Kenny agora tinha um emprego na loja de peças para carros local. Ele estava tentando economizar para a faculdade, ainda que provavelmente fosse apenas o suficiente para bancar uma instituição meia-boca. Isso quando ele não gastava uma parte da grana em baseados. Bom, pelo menos ele estava tentando fazer alguma coisa a respeito do futuro.

- Dinheiro ou cartão, senhor? – perguntou a garçonete loira de olhos verdes, com as curvas bem proeminentes devido ao uniforme justo ao corpo.

Kenny só faltou babar. Espera, acho que ele estava mesmo babando.

- Dinheiro – Kenny estendeu para ela todas as notas que tinha no bolso. Devia ser praticamente o salário inteiro dele.

- Certo, eu vou conferir o troco – a garota sorriu para ele e se recolheu.

- Valeu, Kenny! Você pagou tudo, inclusive a parte do Clyde e o resto – falou Cartman, lambendo os dedos um a um em busca de resquícios de pizza.

Kenny não parecia se importar, estava ainda com o olhar fixo onde a garçonete havia estado.

- Quem era ela? – ele perguntou num fio de voz.

- Ah, aquela? – Butters dizia. – É a Mercedes Jenkins, ela costumava atender no Raisins, mas não se pode trabalhar lá depois dos treze anos, então acho que ela veio pra cá.

- Fala mais! – ordenou Kenny, direcionando toda sua atenção para Butters.

- Bom, er, eu não sei muito sobre ela! Ela está no nosso ano e se não me engano já foi líder de torcida. Isso é tudo que eu sei.

Kenny deixou que um sorriso malicioso se espalhasse em seu rosto.

- Mercedes Jenkins, hein? Interessante, muito interessante...

Revirei os olhos. Mais uma para a lista do Kenny, que surpreendente...

A tal Mercedes voltou com o troco e o entregou para Kenny.

- Obrigada por virem ao Whistlin' Willy's, foi um prazer recebê-los!

- Ah não, gata, o prazer foi completamente meu – ele respondeu.

A loira o olhou com estranheza e deu um risinho, provavelmente o achando um idiota.

- Bom – Kenny dizia quando ela se afastou. –, se não é meu ainda, será em breve.

Bufei, colocando as mãos sobre a mesa e me erguendo.

- Eu vou nessa. Stan, você quer ir em casa ver aquele lance dos Broncos? É o jogo da final.

- Ah, não vai dar... – ele disse, lançando um olhar significativo para a namorada e depois para mim. Então, chegou mais perto para poder sussurrar. – A Wendy vai em casa, sabe como é. Demorei um tempão para convencê-la e é melhor aproveitar que meus pais estão passando a noite em Denver e a Shelly não mora mais com a gente.

Foi uma tarefa muito difícil, mas eu consegui esboçar um sorriso.

- Nesse caso, divirtam-se – falei para manter as aparências, quando na verdade estava querendo estrangula-lo por dentro.

- Eu pretendo – ele piscou um olho para mim e chamou Wendy.

Os dois se despediram e eu fiquei encarando a saída do restaurante por onde passaram.

Stan havia acabado de rejeitar futebol por uma noite com a Wendy. A porra era séria.

-x-x-x-x-x-

Tut. Tut. Eu escutava a linha do telefone chamar. Eu detesto usar esses telefones públicos tarde da noite, mas era pelo bem maior.

- Alô, aqui é da Polícia Local de South Park, qual é o problema?

Tossi, esforçando-me para deixar a voz mais grossa e usando um sotaque.

- Hã, alô, boa noite. Bom, er, eu... Eu gostaria de denunciar anonimamente um roubo que está acontecendo.

- Um roubo?

- Aham, acho que sim, digo, estão invadindo a casa de um vizinho meu.

- Por acaso é o Eric Cartman falando? Olha, garoto, da última vez que você nos enganou, três dos meus melhores policiais foram parar no hospital e...

- Não é a porra do Eric Cartman! – acho que me exaltei um pouco. Respirei fundo, retomando o tom de seriedade. – Afinal, será que podem vir checar?

- Onde é a ocorrência?

- Na residência dos Marsh – tossi novamente. – É melhor correrem, acho que estou ouvindo gritos! Ah meu Deus, aquilo é uma serra elétrica!?

- Estamos a caminho!

Cara, eu não deveria me sentir tão bem quanto estou me sentindo. Acho que meu problema é mesmo dos grandes.


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Notas finais do capítulo

Bom, talvez essa paixonite pela Wendy esteja mesmo consumindo o Kyle! Tento me manter fiel à personalidade de todos os personagens, mas as vezes pode sair um pouquinho, peço que relevem. Ahh, a Bebe fará sua primeira aparição no próximo capítulo e a trama vai finalmente decolar, preparem-se! Deixe-me ver o que mais... Bom, o Kyle vai se sentir traído pelos amigos por um motivo meio besta, mas que vai indigna-lo completamente haha
Acho que é só, por favor, comentem para eu saber o que está em suas mentes! Lembrando que ideias e sugestões são sempre muito bem vindas.
Bjooos!