O Livro Da Bruxa escrita por Vega Sage


Capítulo 6
Interpretações


Notas iniciais do capítulo

A realidade nada mais é do que um reflexo de nossa imaginação então imaginem um mundo melhor



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Fui para casa pensando em tudo que havíamos conversado.Ela mudara por completo meu conceito de envelhecer.Se eu chegasse a uma idade avançada,gostaria de estar tão ativo quanto ela.

Talvez,como ela sugerira,não existissem coisas boas nem ruins.Lembrei-me de um padre do colégio em que estudei."Temos de fazer como as plantas:quando caírem porcarias sobre nós,devemos transformá-las em adubo e usá-lo para crescermos ainda mais fortes",ele sempre repetia.

Lembrei-me também de uma situação engraçada que acontecera com um amigo.

Certa vez sua esposa precisou sair durante a tarde de um domingo e deixou-o tomando conta dos filhos,uma menina de 5 anos e um menino de 4 anos.Dois pequenos furacões,com toda aquela energia inesgotável da idade.Era uma missão desafiadora,pois ele nunca tinha assumido tal encargo sozinho.Para complicar,a decisão do campeonato de futebol ia ser transmitida pela TV,e ele pretendia assisti-la a qualquer custo.

Meia hora após a saída da esposa,ele já se sentia totalmente esgotado.As crianças corriam pela casa,subiam e desciam as escadas,espalhavam brinquedos e gritavam.Um verdadeiro terremoto de grandes proporções.Claro que el tentou estabelecer acordos,mas seu esforço de paz foi devidamente ignorado.

A partida de futebol estava começando,e o garotinho,não satisfeito com a anarquia já instalada,decidiu ligar o equipamento de som num volume altíssimo.

Buscando resolver a situação sem violência,meu amigo tentou convencê-lo a diminuir o volume.Foi em vão.Testando os limites do pai,o garoto aumentou ainda mais o volume e riu sadicamente.

Vendo-se arrastado pela catástrofe,o pai perdeu a paciência e fez algo que nunca fizera antes.Levantou-se irritado do sofá e pôs o filho de castigo.Colocou uma cadeira de frente para a parede e mandou-o ficar sentado lá,em silêncio absoluto.

O menino obedeceu sem reagir e sentou-se ainda segurando um carrinho de plástico na mão.

Depois disso,a casa ficou um sossego,e meu amigo pôde assistir ao jogo sem mais problemas.

Entretanto,a paz foi tanta,e o futebol,tão emocionante,que ele se esqueceu do filho no castigo.Só se lembrou do fato no fim do intervalo,quase uma hora depois.

Quando isso aconteceu,ele pulou do sofá como se um alarme tivesse disparado em sua cabeça e correu arrependido para o local onde deixara o filho confinado havia tanto tempo.

O menino estava lá,quieto e concentrado em seu carrinho de plástico.

O diálogo que se seguiu foi mais ou menos o seguinte.

–Pronto,você já pode sair do castigo agora-disse o pai,tentando manter a autoridade,mas sentindo um aperto no coração pela punição exagerada.

E o menino,ainda entretido com o carrinho,respondeu:

–Ah,pai.Quero brincar mais um pouquinho aqui.

O mais engraçado foi que a irmãzinha,ouvindo o que estava acontecendo,pediu para participar.

–Pai,posso brincar no castigo?Eu também quero brincar de castigo!-exigiu,já arrastando outra cadeira de frente para a parede e sentando-se ao lado do irmão.

Quando ouvi a história,achei-a brilhante.O menino havia transformado uma situação desfavorável num divertida brincadeira.

Ao relembrá-la,percebi que era um exemplo perfeito da lição que a bruxa tentava me mostrar.Podemos transformar nossa vida apenas alternando a perspectiva pela qual encaramos nossos problemas.Convertendo situações aparentemente ruins em bom adubo.

Os alquimistas sempre buscaram um método para transformar metais comuns em ouro.Mas talvez a grande obra seja essa nossa capacidade de transformar as situações desfavoráveis em momentos preciosos,inspiradores e divertidos.

Naquela noite comecei a sentir o ranger de algumas portas da minha alma,havia tanto tempo fechadas,se abrindo.


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Notas finais do capítulo

Simplesmente eu adorei mesmo esse capitulo,espero que gostem tbm.



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