Lá estávamos Júlia e eu. Esperando o grupo de Exorcistas chegarem a filial sul-americana. Nos últimos meses, a América tinha se tornado o novo alvo do Conde para criação e ataque de Akumas, principalmente a América Centra e do Sul, com isso havia sido decidido que a sede da Ordem seria transferida temporariamente para a filial sul-americana. Como eu e Júlia éramos uma das poucas Exorcistas nativas da América Latina, tínhamos que receber o grupo de Exorcistas. A filial sul-americana era uma base subterrânea enorme que era situada nos arredores do Rio de Janeiro, na Mata Atlântica. Júlia lia a lista das pessoas do grupo de Exorcistas, o cabelo castanho curto liso dela estava preso em um rabo de cavalo e seus olhos castanhos brilhavam com a intensa luz do sol da manhã.

 - Kanda, Allen, Lenalee... - ela suspirou e me deu (jogou) a lista. – Não vou ler isso.

            A entrada para a filial era muito escondida, diferente das outras filias. Para chegar lá você precisaria de um guia. A entrada para a filial era algo semelhante a uma toca, porém, se você entrasse lá, daria de cara com um elevador. A “toca” era rodeada por árvores e pedras. Nós vestíamos a jaqueta preta que nos identificava como Exorcistas (o que nos deixava com a sensação de parecermos fornos ambulantes com a agradável temperatura). A arma anti-akuma de Júlia em forma de adaga, estava na bainha dela que ficava presa na perna. Eu coloquei minha arma anti-akuma, um par de luvas pretas. Pude ouvir os passos do grupo e os galhos quebrando.

 - Parece que eles vieram aqui para fazer o portal da Arca. – eu disse, ajeitando o meu cabelo liso e castanho. – Se eu não engano, eu acho que é um menino chamado Allen.

 - Ele só é dois anos mais novo que nós. – ela suspirou e olhou o horizonte. – Eles estão chegando. – Júlia respondeu. Nós estávamos lado a lado, juntas a “toca”. – Eu odeio apresentações e essa jaqueta está me matando de calor, eu quero entrar logo.

            Eu sorri. Pude ver de relance as roupas pretas com detalhes vermelhos a uns vinte metros em meio às árvores, era um grupo pequeno. Eu olhei para Júlia e suspirei. Coloquei os braços para atrás e ergui a coluna, seguindo o exemplo de Júlia. Depois de uns dois minutos o grupo chegou até nós. Eu reconheci as pessoas nas fotos da lista. Eles pareciam ter corrido uma maratona, eu não fiquei nem um pouco surpresa, o caminho para a filial era terrível. Eles haviam se organizado em fila. Quem ia na frente era o guia, um Finder. Eu perguntei para ele:

 - Estão todos aqui? – ele assentiu. – Ótimo. Vai ser você que vai guiar eles, né? – ele sacudiu a cabeça e eu suspirei. – Ótimo também. – eu olhei para Júlia. – Júlia, nós que vamos guia-los.

 - Maravilhoso... Eu vou preparar o elevador.

             Antes que eu pudesse protestar. ela sumiu de minha vista. Eu fiz um gesto para o Finder segui-la. A pessoa que veio depois foi o supervisor da sede, Komui. Eu fiz uma leve reverência a Komui.

 - Olá, Komui-kun. – eu sorri. – Finalmente vocês chegaram. Eu sou Samantha, a Exorcista nativa daqui...

 - Samantha-san! – ele me interrompeu, segurou minha mão, começou a balança-la rapidamente e quase levou meu ombro junto. – Foi uma enorme dificuldade para chegarmos aqui, levamos umas três horas subindo pedras e atravessando riachos, estamos muito felizes por finalmente encontrar a filial e... – ele encarou a abertura deformada na rocha, que seria a entrada para a filial. – Isso é a filial?

 - É. – eu disse, coçando a nuca com a outra mão. – Você troux alguém além desses Exorcistas, Komui-kun?

 - Não. – respondeu ele, soltando minha mão. – Só os Exorcistas, Kanda, Lenalee, Lavi e Allen Walker. – ele ficou com uma expressão séria. – Onde está Cade-san? Ela está aqui, certo?

- Como sempre, Komui-san. Um momento. – eu disse, ajeitando minhas botas. – Enquanto você discute com ela sobre a estadia dos Exorcistas aqui, eu vou deixa-los no centro de treinamento à espera de suas ordens, certo?

 - Certo. – ele sorriu. – Bem, você sabe onde fica a sala dela?

 - Pedirei a Júlia que o guie para o escritório dela. – sorri de volta. – Bem vamos entrando, eu acho que ela já preparou o elevador.

            Guiei Komui até o elevador. Ele levou os Exorcistas junto a nós. O elevador da Base (não me pergunte o porquê de chamar a filial assim, nós apenas chamávamos ela assim) era uma plataforma de metal. Fui até o lado de Júlia e avisei que ela guiaria Komui. Ela suspirou e foi para o lado dele sem hesitar. Komui avisou a todos para me seguirem. Paramos em um andar e Júlia e Komui saíram do elevador e desapareceram de nossas vistas nos corredores subterrâneos da Base. Eu fui até o painel e cliquei no botão que indicava o terceiro andar. Enquanto o elevador descia, eu olhei de relance os rostos de cada um dos Exorcistas presentes lá. Um cara de cabelo longo azul-marinho, que estava preso em um rabo-de-cavalo, pela foto da lista, aquele deveria ser Kanda Yu. Reconheci Lavi, Lenalee e o que deveria ser o Allen. Porém, eu não cheguei a cumprimenta-los. Eu os guiei pelos corredores escuros do terceiro andar da Base até chegar a uma porta de metal branco com uma plaquinha escrito sala de treinamento. Era uma sala enorme com alvos, bonecos, pequenos círculos para duelos e toneladas de armas dos mais diversos tipos.

 - Uau. – murmurou Lavi. – Isso é legal.

 - Não é? – eu dei um sorriso. – Eu sou Samantha, prazer.

 - WOOW! – ele fechou o punho, como se tivesse acabado de ganhar algo. – STRIKE!

 - Huh? – pisquei. Eu quase podia me ver num quadrinho de mangá com uma interrogação na cabeça. – S-strike...?

 - Sabia. – resmungou o garoto que eu julgava ser Allen . Ele suspirou e me estendeu sua mão, com um sorriso estampado em seu rosto. – Allen Walker, prazer.

            Eu sorri de volta e apertei sua mão. Ele parecia ser legal.

- Samantha. – eu soltei a mão dele e apontei de leve para Lavi. – Esse ai é o Junior, né...?

 - Para você eu sou Lavi. – ele piscou para mim e estendeu-me sua mão.

 - ..Tá bom. Lavi... – sorri e apertei sua mão. – Prazer.

 - Eae? – gritou uma voz. –

 - Essa voz... – suspirei, enquanto soltava a mão de Lavi. – Olá, Bia-chan.

 - Se divertindo? – ela começou a correr na minha direção. – Espero que esteja. Eu não queria ter vindo aqui à toa.

            Ela se atirou em mim e me abraçou. Ela olhou para Lavi estranhamente.

 - Esse ai é o...  Kanda Yuu? – ela apontou de leve para ele.

            Lavi empalideceu. Eu levemente empurrei Bia para longe de mim. O nome dela era originalmente Bianca, mas se você a chamasse disso acabaria com uma flecha na testa. Ela tinha uma pele escura e olhos castanhos. Seu cabelo preto cacheado estava preso em um coque malfeito, típico de um ser noturno como ela. Ela era mais nova que eu, ela tinha 16 e eu 17, mas nós tínhamos a mesma altura. Bia suspirou e repousou a cabeça em meu ombro.

 - Você não me respondeu. – ela resmungou.

 - Eu sou o Lavi... – ele murmurou. Eu acho que entendo o porquê dele estar sem palavras, Bia podia ser bem... Esquisita quando queria.

 - Oh. – um sorriso estampou-se em seu rosto. – Perdão. Eu sou Bia.

 - Nome pequeno, não? – ele deu um sorriso irônico.

 - É um apelido. – ela revirou os olhos. – Meu nome é uma merda então me chame de Bia.

 - Tenta usar menos palavrões. – eu empurrei a cabeça dela do meu ombro.

 - Merda não é palavrão. – ela resmungou e ajeitou sua jaqueta de Exorcista.  – Vou falar com os outros.

            Bianca era acostumada a vestir jaquetas que iam até a metade da coxa e leggings pretas com botas de couro. Ela foi cumprimentar Allen. Depois de um tempo, Júlia acabou chegando. Nós três cumprimentamos todos eles, enquanto Komui deveria estar discutindo com Katherine. General Katherine Cade. Mesmo não sendo nativa da América do sul, ela além de ser uma general exorcista, era a chefe da filial sul-americana. Como dizer isso? Bem... Ela me dava medo. Katherine era a mestre de Bia, eu acho que tutora seria o termo correto porque elas raramente vão para missões juntas. Já eu tinha como tutor Tiedoll e Júlia tinha Sokaro. Enquanto esperávamos os dois, ficamos sentados na beira duma pequena arena para treinos olhando Júlia e Kanda terem um duelo. Treinamento não seria o nome para aquilo.

 - Ela compra briga com todo mundo, né? – Bianca murmurou, abraçando suas pernas e observando a luta atentamente.

 - Como se você fosse um anjo. – respondi, suspirando. – Que demora de Komui...

 - Será que eles está examinando os prisioneiros? – Bianca disse, apoiando a cabeça nas pernas.

 - QUE PRISIONEIROS?!?! – Allen, Lavi e Lenalee berraram simultaneamente.

 - Huh? Vocês não sabiam? – eu disse.

            Komui escondeu aquilo deles. Cinco Noahs haviam aparecido na filial sul-americana seis dias atrás. Desde então eles haviam estado sob custódia da Ordem. Pois eles desejavam se unir a Ordem.