Here Without You escrita por lawlie


Capítulo 9
Surpresas.




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Kakashi esperava ansiosamente para que a aula terminasse. Ele queria mostrar a Takari o que ele conseguira escrever no dia anterior e, acima de tudo ele queria escapar daquela cara perplexa e inconformada de Anko. Não adiantava. O Hatake sabia que ele possivelmente quebrara os sentimentos da garota, mas, enfim, talvez fosse essa a coisa certa a se fazer ao invés de ficar dando falsas esperanças a ela.

 

O garoto também precisava torcer para que Asuma estivesse lá quando o sinal tocar. Com certeza, o garoto-problema estaria encostado naquela árvore implorando para que um milagre acontecesse e Kurenai fosse falar com ele. E Kakashi queria acima de tudo se desculpar com o amigo.

 

O horário da aula de Química no laboratório já estava quase terminando e em seguida, eles teriam a matéria de Estudos Sociais. A aula foi extremamente chata. Tudo bem que à vezes o garoto deu breves cochilos sobre o livro pesado, mas nada se comparava ao sono que Hayate estava tendo desde a hora que ele entrara na sala.

 

Até que, finalmente, aquele sinal tocou avisando mais um dia de escola terminado. Kakashi mal acaba de colocar os cadernos dentro da pasta e já sai correndo pelos corredores. Por hora, tropeça em seus próprios pés ou naqueles pequenos degraus incômodos a qualquer apressado. É de se convir que essa obsessão por não perder seus compromissos era extremamente paradoxal com o Hatake. Viver nessa pressa contínua está ao longe de ser o feitio dele.

 

Mas essa era uma forma de enganar sua própria personalidade, em busca de um refúgio na correria para apenas escapar dos olhares, dos rostos e dos comentários das pessoas. Corria somente para que a velocidade ocultasse seu olhar apreensivo, como se isso fosse possível para ele esconder seus medos.

 

- Asuma! – grita Kakashi. – Até que enfim te encontrei!

 

O garoto está ofegante e para junto ao amigo que está encostado no muro do prédio principal da escola, onde está o Sarutobi olhando em meio aos rostos de alunos a procura mais uma vez da garota de olhos vermelhos.

 

- Kakashi... – fala o garoto surpreso com a pressa do garoto. – Por que você ta correndo assim? Você não é disso... Não é você que fica dizendo que o relógio estraga a vida do ser humano? – Asuma solta uma gargalhada prolongada.

 

- Digo isso mesmo Asuma, mas é que correr está me dando a impressão de que os meus objetivos se aproximarão! Além do mais, tem umas pessoas que eu não estou afim de ver hoje. Pelo menos por enquanto... Mas não é isso que eu vim te falar.

 

- Então o que é?

 

- Pelo visto você não ficou chateado comigo né? Tudo bem que eu fui um completo babaca ontem. Eu tava de cabeça cheia e não pensei no que eu ia dizer e...

 

- Ta tudo bem Prateado! – interrompe Asuma. – Essas coisas acontecem. Não precisa de tanta formalidade assim...

 

- Me desculpa. – diz Kakashi olhando profundamente nos olhos negros de Asuma.

 

- Ta tudo bem. Eu já disse. Mas agora eu tenho que ir Kashi. Digamos que eu quero ver a minha musa de novo... – ele gargalha mais uma vez.

 

- Musa? Já está nesse nível? – pergunta Kakashi rindo.

 

- Ora, Kakashi... Eu não consigo tirar essa garota da minha cabeça... Você acredita que eu ando até sonhando com aqueles olhos vermelhos... – ele suspira e olha para o céu. – Lá vem ela mais uma vez andando em meio a multidão. – ele fala isso praticamente para si mesmo, nem se dando conta da presença de Kakashi.

 

- Tudo bem. Vou te deixar sozinho... Tenho que ir. – diz o Hatake. Porém, Asuma sequer presta atenção, pois está fortemente focado em Kurenai.

 

Kakashi logo segue seu rumo novamente. Ele vai em direção àquelas mesas que ele se reuniu com Takari. Talvez hoje ela reconhecesse seu progresso e desse algum crédito à produção do garoto. Ou talvez ela se transformasse numa crítica rude e veemente. Mas isso só ficando cara a cara com ela.

 

Já nas mesas, Takari o esperava com a cabeça baixa. Ela parecia mais triste que o normal. Tinha a expressão de alguém que em breve iria se debulhar em lágrimas. Seu rosto estava sufocado de tristeza e sua energia era mais melancólica do que Kakashi jamais vira.

 

- Você está bem? – pergunta ele chegando próximo à garota.

 

- Sim. – responde ela com a voz fraca. – Estou bem.

 

Contudo, a palavra “bem” não combinava com sua entonação e seu brilho nos olhos. Ela estava sofrendo e Kakashi apenas ficava imaginando o porquê. Isso era em vão. Takari jamais falaria o que a angustiava. O garoto se contentou então em dar apenas um sorriso confortável a ela, junto com um olhar enternecido.

 

Takari mais uma vez abaixou o olhar e fitou os pés.

 

- Você escreveu? – perguntou ela.

 

- Sim. – disse Kakashi olhando preocupadamente para a cabeça baixa da garota. – Mas antes, me fala o que está acontecendo com você.

 

- Não é nada. – ela prontifica-se a responder.

 

- Claro que é. – ele responde. – É óbvio que tem algo te entristecendo.

 

- Não tem nada. Eu já disse. – teima ela.

 

- Você é muito cabeça dura. Por que você não me fala. Eu sou seu amigo, não? – insiste Kakashi.

 

- Amigo... – repete ela quase que não abrindo os lábios para pronunciar tal palavra. Após o garoto ver o quanto Takari ficara abalada com a palavra ele reconhece que tinha dito uma bobagem.

 

- Desculpa... é que... eu to preocupado com você... você está com uma cara hoje... – tenta ele.

 

- Eu já disse que não é nada. Por favor...

 

- Eu quero que você confie em mim, Takari. – ele pronuncia lentamente o nome da garota.

 

- Por favor, não me faça acreditar que... – começa ela. Porém ela pára como se fosse impedida de continuar.

 

- Acreditar em que? – continua a indagar Kakashi.

 

- Por favor... Kakashi... Me deixe... em paz. – ela diz isso lentamente. Por um momento Kakashi percebeu que os lhos de Takari ficaram cheios de água, mas na mesma hora pareceram duros. Talvez fosse impressão, mas o garoto sentia que estava prestes a descobrir algo a respeito da Uchiha.

 

- Por incrível que possa parecer eu... – começa Kakashi.

 

- Não diga nada. – interrompe Takari quase que adivinhando o que ele iria dizer.

 

- Eu me importo com você! – fala ele não obedecendo a garota. Ela ergue seus olhos e olha firmemente para Kakashi. O garoto não desvia seus olhos, pelo contrário, continua firme em seu olhar.

 

- Você veio aqui pela música não foi? – fala ela com uma ponta de desdém na voz. – É apenas isso. Vamos lá. Eu quero ver a música.

 

A feição dela mudara de fragilidade para firmeza. Ela agora estava dura em seus olhos. Toda aquela humanidade que aparecera em seu rosto deixara de existir para dar lugar mais uma vez à feição de uma Takari fria e sem sentimentos.

 

- Tudo bem. – responde Kakashi. O garoto tira um papel amassado do bolso e coloca sobre a mesa.

 

- Você ainda ta de cara amarrada. – reclama Takari.

 

- Você me dá motivos ora... – Kakashi faz uma carranca.

 

- Desculpa... Eu não imaginava que você ia ficar assim...

 

- Por que você não confia em mim, Takari? – pergunta ele firmemente.

 

- Não é isso... Eu não posso te falar... Mas eu confio sim em você... Confio como eu nunca confiei em ninguém antes. – diz ela quase que inaudivelmente. Kakashi se surpreende com tamanha mudança de personalidade da garota.

 

Ele agora tinha quase certeza que Takari possuía algum transtorno de personalidade. Como alguém podia mudar tão radicalmente de humor assim? Na mesma hora que ela se encontrava triste, ela ficava ríspida, frágil, irônica, humana, sentimental, fria... Era um poço de sentimentos desvairados sem ordem alguma. Talvez a mente dela estivesse um caos.

 

- Eu queria conseguir poder te entender. – diz Kakashi. – Você é uma garota complicada demais. Inconstante...

 

Takari sorri um tanto sem graça. Na verdade ela estava começando a ficar com medo das afirmações do Hatake. Provavelmente ele diria logo que ela devia procurar um psiquiatra com uma boa dose de remédios, pois a racionalidade dela estava por um fio. Mas não foi isso que exatamente aconteceu.

 

- Posso te contar uma coisa? – perguntou Kakashi. Takari assentiu com a cabeça.

 

- Vá em frente.

 

- Ok. – fala o Hatake franzindo a testa. – Esse é um segredo meu. Desde quando eu era criança, logo depois que a minha mãe morreu, eu consegui ouvir.

 

- Ouvir o que? – pergunta ela.

 

- Os sons. Eu podia escutar as músicas vindo de dentro das pessoas... Ok... Pareço um lunático não é?

 

- Não mais que eu. – disse Takari.

 

- Que bom... – respira aliviado. – Mas então, era como se cada pessoa representasse uma música para mim, sabe... E, de alguma forma, depois que ela se foi, eu acostumei olhar para a lua todas as noites e implorar aos céus que ela voltasse. Eu era uma criança. E minha mãe morreu. Às vezes eu chorava, mas nada do que eu pedia ao universo acontecia. Ela nunca veio até mim... falou comigo de novo... Mas mesmo assim, eu acreditava na presença dela. Eu olhava a lua e ficava pensando no rosto da minha mãe... Até que, eu escutava uma canção... vinha do nada... Eu pensava que podia ser ela falando para que eu parasse de chorar... Então, a partir desse momento, comecei a olhar as pessoas como se fossem uma música.

 

- Quando ela morreu? – perguntou Takari.

 

- Quando eu tinha seis anos. Mas ela sempre esteve comigo...

 

- Eu acredito em você Kakashi. – pela primeira vez Takari pronunciara o nome do garoto.

 

- Você não acha que eu to louco, ou drogado ou bêbado, não é?

 

- Não. Eu não acho isso... – ela sorri. – Mas então você associa pessoas às músicas?

 

- Na verdade as músicas se associam a elas sozinhas. O que você tem que fazer é observar. – falou Kakashi.

 

- Você realmente entende o mistério dos sons, das músicas... Você um dia será um grande compositor. – fala Takari olhando para o nada.

 

- Acho isso muito distante...

 

- Mas que música você acha que representa você? – indagou Takari projetando um sorriso.

 

- Hun... – murmurou pensativo. – Não sei. Nunca parei pra pensar... Mas quem sabe uma do U2. Stuck in a Moment (Preso em um momento)

 

- Discordo. – disse Takari. – Acho que Aerosmith combina mais com você.

 

- Aerosmith?! – fala ele surpreso. – Sério?

 

- Pode apostar que sim...

 

- Qual música Takari?

 

A garota sorri, com os olhos apertados. Morde o lábio e suspira. Os dois conversavam como velhos amigos. Nem parecia que se conheceram no dia anterior.

 

- Digamos que é você que deveria saber isso não é? – disse Takari. – Você é quem faz isso.

 

- Agora eu fiquei curioso... Pra você eu lembro uma música do Aerosmith. Mas qual? – Kakashi fala pensativo. – Crazy?

 

- Eu não vou falar. Um dia você descobre.

 

- Por favor! – implora ele.

 

- Mas antes, me diga qual música me lembra pra você. – pede ela.

 

- Uma do Metallica. – responde Kakashi.

 

- Metallica? – surpreende-se Takari.

 

- Nothing Else Matters. – diz ele. – “Nada mais importa”.

 

- Mas por que essa música? – pergunta a garota confusa.

 

- Exatamente pelo título. Você é exatamente a personificação da frase “Nada mais importa”.

 

- O que você ta querendo falar com isso? – diz ela um tanto assustada.

 

- Você é muito inconstante. E eu sou incapaz de decifrar seus pensamentos, suas ações e suas reações. Veja só o que a música diz: “Nunca me abri desse jeito. A vida é nossa. Vivemos como quisermos. Essas palavras eu apenas digo. E nada mais importa. Confiança eu procurei e encontrei em você. E a cada dia algo novo. Mente aberta para uma visão diferente. E nada mais importa. Nunca me importei com o que eles fazem. Nunca me importei com o que eles sabem. E eu sei.”

 

Takari permanece calada por um instante, fitando o chão. Kakashi permanece a cantar a música.



Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
Hold these words I don't just say
And nothing else matters

Trust I seek and I find in you
Every day for us something new
Open mind for a different view
And nothing else matters

Never cared for what they do
Never cared for what they know
But I know

So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters

Never cared for what they do
Never cared for what they know
But I know

Para a surpresa da garota Kakashi tinha uma voz demasiadamente linda. Ela nunca imaginara que ele cantava tão bem. Takari chegara de ficar arrepiada com as últimas frases da música. Mas mesmo assim ela apenas olhava para o chão. O garoto era encantador. Sua voz era bela demais para ser verdade. Até que esse momento de hipnose passou e Kakashi se calou. Takari permaneceu confusa.

                              

- Estou te aborrecendo? – perguntou ele vendo a expressão da garota.

 

- Não. – responde Takari fracamente. – Daqui a pouco eu tenho que ir. Mostre-me sua música.

 

Kakashi abre o papel dobrado e lê seus versos com aquela voz apaixonante. Rouca e afinada:

 

“ Tonight the sky above

Reminds me of you, love

Walking through wintertime

Where the star all shine

The angel on the stairs

Will tell you that I was there

Under the front porch light

On a mystery night”

 

~ × ~

 

“Esta noite, o céu acima

Me lembra de você, amor

Andando através do inverno

Quando todas as estrelas brilham

O anjo na escada

Irá dizer que eu estive aí

Sob a sacada frente à luz

Em uma noite misteriosa.”

 

Takari se cala por um momento, envolta ainda por aquelas palavras pronunciadas daquele jeito tão doce e encantador. Ela está confusa e com medo do que está sentindo.

 

- O que você achou? – pergunta Kakashi finalmente. A garota não responde de imediato. Até que ela abre a boca para dizer:

 

- Encantador. Ficou incrível essa estrofe. Você realmente tem talento. Meus parabéns Kakashi. Você entendeu como se compõe.

 

O garoto fica vermelho e sorri sem graça. Fita o papel em suas mãos e murmura um obrigado. Começa a cair uma fina garoa sobre a cabeça dos dois.

 

- Elas tem razão. – diz Takari como se fosse para si mesma. – Você é todo cheio de charme...

 

- Ãhn? O que você disse? – ele ainda estava concentrado no elogio que ela fizera sobre a música. Talvez por sorte ele não ouvira o comentário da garota.

 

- Nada. – responde Takari escondendo seu olhar. Ela se levanta da mesa. – Eu tenho que ir. Adeus.

 

- Mas vai chover Takari! Você devia esperar... – fala Kakashi.

 

- A chuva nunca me espera. Por que devo esperá-la? Não faz mal algum sair por aí com um pouco de garoa... Adeus.

 

Ela começa a caminhar e diz:

 

- Amanhã. A gente se vê. – a expressão de tristeza tomou conta do semblante e da voz da garota. Até que, ela desaparece de vista.

 

 

 


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