Bem Vinda Ao Inferno, Alice escrita por neko


Capítulo 10
Fim da viagem




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“Mais uma vez sinto que estou me afogando em meu próprio mundo, olho de um lado, só vejo um espelho refletindo quem pareço ser, mas não quem sou, olho para o outro lado e vejo uma porta semiaberta, o papel de parece que a envolve está muito gasto, já está descascando. Sua direção parece menos ruim, o chão parece se mexer e tudo que está sobre ele ganha vida e anda até mim, a mesa está se alongando em minha direção, e o que está nela, parece se alongar junto com seu corpo inanimado.

Eu finalmente consigo sair desse quarto, quando percebo que seguro dois objetos na mesma mão. Meu coelho que está olhando para mim, com seus grandes olhos de vidro, e um cordão de ouro branco. Meus joelhos tremem a tal ponto que tenho que me apoiar na parede para me manter em pé, minha respiração está ofegante, quando ouço uma porta abrir, estou tão tonta que não consigo levantar minha cabeça para ver quem está a minha frente, mas não consigo levantar, não consigo olhar para ele, não consigo mais ficar em pé...”

Seu cabelo era o que lhe definia, curtos, pouco longos e muito negros, mas tinha algo errado. Demora um pouco para Amy acordar por completos. Estava sentindo algo bater em sua testa, algo fraco, como se fosse um conta gotas, quando isso finalmente a acorda, ela olha ao seu redor, estava no colo de Ericles, coberta por uma manta grossa e bem cheirosa, os dois estavam de casado, ele com um branco que lhe tampava até as mãos, ela com um vestido branco tomara que caia, e um colar de ouro branco com um medalhão nele que não dava para entender, igual ao do seu sonho. E ao seu lado, o coelho de pelúcia, que parecia novo em folha. Quando ao sentar-se ao lado do rapaz, acaba acordando-o, que a olha assustado, como se tivesse visto um fantasma ou algo parecido, mas logo relaxa e fica sério novamente.

Ele estava estranho, seus cabelos continuavam pretos e pouco longos, mas sua pele parecia mais pálida, sua boca menos rosada e seus olhos... não eram mais castanhos escuros, estavam verdes, quase mel. Quem era esse homem que deixava ela dormir em seu colo tão profundamente? Será que ainda era Ericles?

–Você está muito linda, Amy. – Sua voz era mais rouca que a de Ericles, mas como ele poderia saber quem sou? Não me lembro de ter falado com ele na noite anterior ou em momento algum.

–Desculpa, nós nos conhecemos? – Seu rosto fica com uma expressão confusa, mas logo parece voltar ao normal, revelando um sorriso conhecido.

–Aparentemente não me pareço tanto com aquele corpo carnal que me deram, Ericles.

–Os corpos são diferentes? Então eu estou diferente? – Toca o próprio rosto, tentando sentir alguma diferença.

–Podemos dizer que sim, bom, eu não tenho nenhum espelho comigo, mas quando chegarmos, você vai poder se admirar. – Seu sorriso estava inconfundível, era ele realmente, e não alguém querendo engana-la.

Amy confirma com a cabeça e vira para olhar a janela, tudo era branco, rodeado de nuvens, mas logo ela consegue ver uma espécie de cidade medieval, muito simples, mas aparentemente agradável, se inclinando para ver melhor, como uma criança.

–Essa é Crist, a cidade dos celestiais, ou conhecida como cidade divina. – Seu bafo quente lhe vazia arrepiar, com a voz mais grossa e rouca sussurrando em seu ouvido a fezendo estremecer.

–Nós vamos para lá?

–Não, somos impuros ainda, aquela cidade é destinada a paz, sem guerra, sem discussões, respeito e prosperidade, toda essa baboseira que os pacifistas pregam. – Ele se fasta e se senta novamente, deixando as costas de Amy livres e menos tensas.

–Deve ser lindo isso tudo...

Alguém bate na porta e ele atende, era o homem que a fez entrar novamente no quarto com a enfermeira psicopata, Ericles hesita por um estante, mas logo lhe a deixa entrar na cabine.

–Amy, esse é Aicaros, Aicaros, essa é Amy.

–Amy? Me desculpe, pensei que fosse Alice... min.. – Começa Aicaros, porém Ericles o interrompe.

–Vamos discutir isso quando chegarmos lá.

Aicaros recua com a resposta, mas entende e decide entregar um objeto a Amy.

–Talvez a senhorita queira ver com estas.

Ela o pega e entende que é um espelho, um pouco grosso, como se fosse um compartimento, mas não parecia ter como abrir, então entende que é só por ser velho, aquilo era retangular, um pouco maior que sua mão. Quando ela se vê, se assusta de quem era esse reflexo? Não parecia lhe pertencer, um moça de 17 anos com cabelos quase brancos olhos azuis vivos, boca amarela, com sardas clarinhas por todas suas bochechas e um pouco na testa. Ainda em choque, ela toca em seu próprio rosto, tentando entender e sentir o que estava ali, se era mesmo ela. Quando vira o espelho, ela lê um nome, “Aurora”, será que essa era a antiga dona? Isso era assustador.

Ela observava atentamente seu rosto mudado, e pensou no que mais mudou, se ainda pensava da mesma forma, se ainda enxergava da mesma maneira, se agia igual a antes. Estava tão chocada com todo esse processo, que nem nota Aicaros saindo e Ericles olhando atentamente com um sorriso em sua direção.

–Essa sou eu mesma?

–Linda, não?

–Sim, no entanto... Não parece ser eu.

–Eu te entendo – Fala girando o objeto em sua direção, fornecendo uma visão dele mesmo.

Depois de um tempo de admirando no espelho, o trem começa a parar, e logo ela se encontra em uma estação com um cobertor como casaco. Os dois andavam sem direção exata, como se estivessem perdidos, até que encontram uma moça com uma placa escrita “Alice”, eles se aproximam da mulher com roupa de chofer.

–É...Sou eu, Alice.

A moça a cumprimenta e abre a porta para ela entrar junto de Ericles. Os dois se se sentam um do lado do outro, Amy se olha novamente para o espelho em sua mão. Ericles tenta se ver um pouco, e ela entrega o espelho para ele. Em quanto se vê, ela percebe que há algo atrás dele, um nome cravado nele, “Aurora”, devia ser a proprietária anterior dele.

Quando Amy olha para o lado, vê a cidade mais de perto, o carro era tão silencioso que nem percebeu que tinha dado a partida. Ericles ainda se admirava no espelho, o que a fez rir um pouco.

Depois de uma hora de viajem, se encontravam no meio de uma floresta, muito verde, e à medida que o carro ia passando, placas surgiam. Nelas estavam escritas coisas em outra língua, e mesmo que se estivesse no português, não daria para entender, apesar de serem textos curtos, o carro passava muito rápido.

–Significa “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim.” Está no livro do Apocalipse. – A motorista finalmente falou dês da entrada no carro. Pra falar a verdade, é a primeira vez que ela fala.

Amy fica surpresa ao ouvir sua voz, era masculino, o que não combinava nem um pouco com sua aparência, bonita, delicada, com traços angelicais (fazendo sentido morar no céu), e com uma voz grossa, parecendo que foi feita uma dublagem errada, escolhendo a voz errada para um determinado personagem de algum filme ou novela.

–Ah, bom, isso chega há ser irônico, quer dizer, o apocalipse é o ultimo livro, e que se trata do fim, e estamos indo para onde tudo teve seu começo... – Amy olhava atentamente pela janela, observando a belíssima imagem da floresta, com todas as cores do arco-íris, e até algumas que ela não vira até então.

–Bom, na verdade, esse foi o último a ser criado, ele colocou todas as maravilhas neste lugar, tudo o que o mundo carnal negou. Mostrando que mesmo terem rejeitado, ainda estaria ali. – Sua voz suava sensível, como de uma mulher, mas que era em um tom masculino, era estranho, mas muito bonito.

–Desculpa, mas quando vamos chegar?

–Em pouco tempo.

O frio estava aumentando, até Ericles estava em baixo das mantas com ela, suas pernas se encontravam sob as dele, e o espelho já a pertencia novamente. Ele já estava dormindo profundamente, parecia muito cansado, mas ela ainda observava o espelho, mas dessa vez, ao contrário, olhando para o nome que estava gravado, “Aurora”, quem terá sido ela? Será a mãe daquele homem que a deu o espelho? Depois queria lhe devolver, parecia ser extremamente valioso, muito enfeitado, feito de prata, com flores ao seu redor, e algumas em tons rosa mais suaves.

As placas já não estavam mais aparecendo, e as poucas que se atreviam a surgir vinham com uma frase de boas vindas. Por mais que se afastassem parecia que a paisagem não mudava nunca, sempre árvores, grama, flores, e isso já a incomodava um pouco. Não tem mais nada no céu? Escolas filosóficas, matemática avançada, histórias diversas, bibliotecas, nuvens, nada? Só... mato. E quanto até que finalmente avista algo, um monte, com uma cidade construída ao seu redor, e com tempo em seu topo, lembrando o monte Olimpo, e finalmente via nuvens.

Não demorou cinco minutos para que chegasse na cidade, mas também, sua carona tinha acabado, tiveram que descer do carro com a desculpa de que objetos mundanos não eram dignos de entrarem no céu. Amy acordou Ericles e desceu do carro com o cobertor cobrindo seus ombros, como se fosse uma capa.

–Certo, pra onde vamos agora? – Amy olha para Ericles que parecia ainda estar dormindo.

–Hã... Por aqui. – Disse indo pra frente e tomando cuidado para não bater nas pessoas, ali parecia muito uma feira, muita gente, mas ao contrário da feira, era organizado.

Ela o seguiu por meia hora, entravam e saiam de becos, subiam e desciam escadas, até que finalmente Amy perde a paciência e pergunta para ele.

–Você não tem a menos ideia pra onde ir né?

–Não... – Já bem acordado, ele olha sem graça pra Amy, a qual parecia furiosa.

–E por que me fez andar tudo isso? Meus pés estão me matando... – disse choramingando.

–Que bom que encontrei vocês... – Um homem totalmente desconhecido atrás deles, apoia as mãos nos joelhos e começa uma respiração rápida, como se tivesse corrido uma maratona inteira.

– Me desculpa a demora, eu tenho que levar vocês para casa, por favor, me acompanhem... – Disse abrindo suas asas, que saíram de suas costas, elas eram realmente grandes e brancas, mas quando Ericles as abre, elas estão menores e marrons, parecendo ser mais fracas que quando estava no mundo carnal.

–Tá, e como eu vou?

–As asas de seu amigo não vai aguentar levar vocês dois, então a senhorita vai comigo

Antes que Amy pudesse protestar, o homem a pega no colo, sorri e decola, deixando seus rostos muito próximos um do outro, fazendo-a corar. O impulso faz com que ela agarre ele, com medo de cair, e só deu tempo dela ouvir sua risada. O espelho ainda continuava em sua mão, e só pra garantir, ela o deixa dentro do casaco. Quando eles estão no ar, Ericles o acompanha tranquilamente, e quando vê o rosto apavorado de Amy, ele tenta ficar o mais próximo possível dela, lhe esticando a mão, e ela tentando segurar o mesmo. Mas antes que eles consigam se segurar um no outro, a força da batidas das do desconhecido, o faz ir pra longe, tento que só observar ele segurando dela.

Depois de pouco tempo, os três estavam no topo do monte, no templo. No mesmo instante em que ele coloca seus pés no chão, e a solta, ela se afasta dele, colocando as mãos na barriga, e se curvando, como quem fosse vomitar. Ele ri um pouco e logo Ericles chega e Amy corre para seus braços, se segurando firma com medo de desabar no chão.

–Seu... – Antes que ele consiga terminar sua frase as portas se abrem e uma luz sai de dentro delas, e o homem se ajoelha diante elas.

–Alice... – No mesmo instante que a voz aparece, Ericles se arrepia todo e se ajoelha em sua direção, fazendo Amy cair em seus braços, ainda tonta.

–Deus...


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Notas finais do capítulo

Leiam e me digam o que acharam
bjs