O que eu estava sentindo era indescritível, uma mistura de sentimentos, todos os sentimentos horríveis que possa se imaginar, era isso que eu sentia, e ao mesmo tempo uma grande duvida prevalecia em minha cabeça, qual foi o motivo de Ty ter feito aquilo?

Ver ele daquele jeito, era insuportável, a faca não estava localizada no centro do abdome, estava no canto, de forma que parecia não ter ferido nenhum órgão, mas ainda sim Ty gemia de dor, seu rosto estava sem cor, parecia um vampiro, lindo por sinal, havia hematomas no seu rosto, a testa estava sangrando por causa dos socos de Loren, a blusa de Ty branca já estava ficando completamente vermelha, eu ia estancar o sangue, mas era muito arriscado fazer qualquer movimento que mexesse na faca, e Ty não tinha falado nenhuma palavra até agora, meus olhos percorreram a cozinha rapidamente e eu vi o telefone, ainda com as mãos todas ensanguentadas, com o cansaço do meu corpo e mancando eu consegui ligar para a ambulância, disse que meu namorado foi gravemente ferido com uma faca, e então os dei o endereço. Eles pediram pra eu não retirar a faca, obedeci.

Eu estava completamente em pânico:

–Ty, vai, vai ficar tudo bem, porque fez isso?- perguntei quase chorando

–Por. Você- disse ele em pausas como se cada palavra causasse muita dor.

–Seu louco- resmunguei- Você pode morrer!

–É justo, sei disso, mas se eu não tentasse ai- ele gemeu, não podia evitar as lagrimas nos meus olhos.

A campainha tocou e eu fui o mais rápido possível para atender, mesmo que o mais o meu mais rápido não fosse rápido.

Alguns minutos depois estávamos no hospital, Ty estava internado, me colocaram um gesso na perna, não foi nada de tão grave, o médico afirmou que após Ty se recuperar nos teríamos que falar com a policia. Mas porque eles insistem na policia?! ok, ela é necessária, quando o caso é real, não que o nosso não seja real, mas eu posso apostar que ninguém acreditaria se eu dissesse que foi uma alma.

Ty estava fazendo alguns exames, já parecia melhor, e bem, e eu não parava de pensar nas hipóteses do motivo dele ter feito aquilo, tinha duas e nenhum das duas era bom.

A primeiro era que eu relacionei a frase dele “Sabe que no momento em que uma alma mata alguém ela é castigada e extinguida para todo sempre certo?” então se Ty se matasse, Loren ia ser extinto, esse pra mim era o pior motivo.

Mas as essa hipótese tinha sido anulada pois antes de eu entrar na ambulância eu peguei os papeis de Adam, e meu coração quase saiu pela boca ao lê-los. Tinha um trecho que era quase incompreensível, com letrinhas minúsculas, e todas tortas, mas deu para ler, então eu tive certeza que era o verdadeiro motivo de Ty ter quase se matado.

Lembro-me de quando me explicaram sobre o meu dom, eu já quase morri, minha alma ficou presa entre a vida e a morte. No papel também explicava isso, era isso que Ty queria também poder ver almas, para poder me defender delas.

Eu não sei o que eu senti, senti raiva?! Eu sei que vou parecer ingrata e tudo mais, mas, ele sabia o quão ruim era pra mim conseguir ver almas, sabia quantas dificuldades eu passei, e quanto eu queria ser uma adolescente de 17 anos normal, mas não era, e ele que tinha uma vida inteira pela frente quis desperdiçar essa oportunidade? Acabei chorando, eu não sei, estava sendo horrível, não suportaria perder mais alguém, muito menos Ty. Mesmo que ele não tenha morrido, ele conseguiu, graças aquele maldito do Adam, atingir um ponto do corpo dele para poder assim deixar sua alma presa, e assim ver almas, isso poderia tornar sua vida bem mais perigosa do que ela já é. Eu estava tão confusa quanto jamais estive.

A noite veio, Ty já tinha sido dispensado de exames, os médicos disseram que apesar da faca ter entrado, não houve nenhum dano, apenas ia ter de ficar no hospital três dias sob supervisão. Seu pai entrou que nem um doido no hospital, contamos parte do ocorrido a ele, não exatamente porque o cavalheiro fez isso, mas só que ele tinha feito, e também dissemos que foi o cavalheiro que havia enfiado a faca em Ty. Matt (o padrasto de Ty) ficou encarregado de cuidar da policia.

Já eram quase nove horas da noite eu realmente precisava voltar. Me despedi de Ty com um beijo na testa:

–Se cuida tá?!- disse

–Ah, isso é constrangedor- ele resmungou sorrindo.

–Por... ? – perguntei sem entender bem.

–Era pra eu estar fazendo isso, quer dizer, te dar um beijo na testa e pedir pra você se cuidar- ele riu

–Besta.- retruquei

Despedi-me de Matt, e peguei um ônibus até a minha casa, no meio do caminho meu celular vibrou, eu fico me perguntando, como é que pode acontecer tanta coisa e esse bendito do meu celular não cair?! Lá tinha uma mensagem.

“Eu não consegui dizer pessoalmente Yla, mas você deve já saber o motivo que eu fiz isso, e também imagino que você ficou com um pouco de raiva de mim por ter feito isso, mas eu fiz isso por você! E você já sabe o que acontece agora né? Almas... Enfim só queria pedir desculpas, Loren não vai mais te atrapalhar, por um tempo ao menos. Te amo”.

Apenas respondi outro “te amo” novamente, era tanta coisa num dia só. Quando cheguei meu tio e minha “tia” estavam na cozinha jantando, junto com Abby, passei pela cozinha e dei um oi, o que saiu muito desanimado.

–O que aconteceu Ayla?!- perguntou meu tio

–Nada não- respondi imediatamente

– Você quer jantar?- perguntou Clarie pegando outro prato e colocando na mesa.

Confesso que o cheiro estava delicioso, eu não sei o que é exatamente, mas o cheiro é muito bom, quando percebi era strogonoff, eu simplesmente amo strogonoff, mas se eu ficasse ali, ia ter um questionário e... não, preferia ficar sem comer. Recusei o convite e peguei uma maça, pedi licença e subi para meu quarto.

Percebi que meu casaco estava cheio de sangue, na verdade, minha roupa estava, eu já tinha tentado me limpar lá no hospital, mas a sujeira das roupas não tinha como tirar, sabe tudo é tão... Anormal, sério, cada coisa que acontece, uma pior que a outra, e eu estava me sentindo tão, estranha, eu me sentia... Culpada?! se eu talvez não tivesse falado com Ty, se envolvido com as almas nada disso teria acontecido, e com certeza, se a minha vida já é ruim, agora com Ty vendo almas, vai ser pior ainda, na verdade, eu não sei ao certo se ele vê almas ou não, mas se realmente deu certo?! Ah, eu não quero pensar nisso, é como se eu tivesse um milhão de pensamentos, mas nenhum deles fossem completos. Comecei a arrumar o material com as aulas de amanhã, suja mesmo, ah, depois eu tomo banho, então alguém bateu na porta, sabe eu tenho más experiências com portas ou campainhas, ou qualquer coisa, qualquer coisa me faz lembrar-se das almas, de Loren. Mesmo disse pra pessoa entrar, com o mesmo tom desanimado, não que eu queira mas eu estava desanimada, primeiro a cabecinha de Abby aparecia na porta como se fosse me espionar, depois ela foi entrando aos poucos, até estar totalmente no meu quarto.

–Posso te perguntar uma coisa?- Abby diz. Lembrei-me de Ty, quando fiz a mesma pergunta pra ele. Porque diabos, tudo me lembrava do Sr. Perfeição?!

–Pode- respondo deixando escapar um sorriso, então ela me olha com duvida

–Você esta triste ou feliz?- Abby pergunta em um tom fofo

–Nem eu sei- disse eu um suspiro- É tanta coisa By, tudo as vezes é tão horrível, tão perfeito, tão confuso.- resmungo

–Esta triste por causa das almas?- pergunta ela se sentando na minha cama, sento-me ao seu lado e conto tudo, tudo mesmo, todos os mínimos detalhes, as vezes eu fico pensando se não vou fazer a menina ter pesadelos de noite com tanta coisa macabra que acontece na minha vida. E por incrível que pareça, sabe do o que ela disse depois que eu contei isso:

–Eca! Você beijou um garoto!- e depois sorriu, não pude evitar de rir, ah, só Abby mesmo. – Porque esta rindo?!

Eu a fitei e cada vez mais comecei a rir. Sem poder responder, depois de um tempo, respirei fundo e me acalmei:

–Isso é normal na minha idade- disse

–E quantos anos você tem- ela arqueou a sobrancelha

–17- respondi

–Minha mãe disse que só se podem beijar garotos depois dos 30 anos, e mesmo assim que eles são bem nojentos e chatos.

Eu acho que ri mais ainda do que ri anteriormente.

–Mais Ty é diferente, ele não é chato e nem nojento.

–Minha mãe disse que os meninos que não são chatos e nojentos são gays

–Olhe- comecei a rir- Não é bem assim, mas fique tranquila, e espere mais alguns anos.

Clarie entrou no quarto, no comecei achei que ela veio para chamar Abby, mas depois percebi que não quando ela pediu pra falar a sós comigo:

–Tem certeza que esta bem?- ela perguntou novamente, apenas assenti – Olhe, se for por causa de seu namorado, eu posso te ajudar...

–Não, não é- interrompi- É que, ah, deixa pra lá.

Ela não continuou o assunto, talvez percebeu que eu não queria falar, ou talvez desistiu.

–Sei, eu preciso falar sobre seu tio.- disse Clarie, eu assenti e pedi pra ela continuar, quando Abby nos interrompeu abrindo bruscamente a porta de meu quarto:

–Ayla! Ayla! Tem uma mulher lá em baixo desesperada, querendo falar com você!

Eu fiquei com medo, sabe não veio nem noção de quem era na minha cabeça. Eu não tinha ideia, podia ser uma mulher, assim como podia ser outra alma, pois, By também via almas.