Meu Anjo escrita por BG


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Personagens fictícios, qualquer semelhança - o que eu duvido que haja - com a realidade é mera coincidência.



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Passou-se dois dias desde o incidente e Luke havia deixado o hospital somente uma vez. Teresa não podia ficar a disposição da melhora ou piora da filha no hospital, o trabalho não dava essa opção, além do mais, ela trabalhava em um restaurante como cozinheira, caso faltasse seria demitida, não teria como dar desculpas, e eles não se sentiriam emocionados por Bianca estar no hospital, só se importariam com o dinheiro que seria perdido trocando o chef. Por isso quem a dava informações, ou no caso, informava que não havia mudança no estado de saúde, era Westerfield.

- Pedro? – Perguntou Luke quando o doutor passou pelo corredor.

- Sim? – Disse o homem, meio impaciente com tantas perguntas feitas pelo garoto anteriormente.

- Eu posso vê-la?

- Pode, mas não demore, sim?!

- Tudo bem. – Respondeu o garoto com um sorriso no rosto. Depois de algum tempo sem vê-la, a saudade era enorme, mesmo que ele soubesse que ela não iria falar nada.

O garoto entrou pela “porta proibida” e sentiu a esperança preenchendo o vazio de não saber como Bianca havia ficado após o acidente.

- Bi? – Perguntou Luke baixinho, pois era um lugar onde haviam outras pessoas se recuperando. Assim que entrou no quarto de hospital e viu a amiga toda ralada, com roxos e costuras pelo rosto e braços se sentiu um tanto culpado. – A culpa é minha, não é?! – Sem obter resposta, ele continuou. – Naquele dia eu tive coragem bi, eu juro, eu ia te contar que te amo desde que sei que um mais um são dois. Desde que consigo respirar, desde que meu coração bate, desde que tenho a capacidade de falar meu nome. Desde sempre. Eu te amo. Te amo, me ouviu. – Ele sussurrava no ouvido da garota, alisando seus cabelos cacheados que ele sempre gostou de enrolar com o dedo enquanto estavam deitados na grama do jardim da casa dele. – Talvez você consiga me ouvir, talvez não, mas daqui pra frente prometo não ter vergonha de te dizer o quanto você é linda, do quanto faz minha pernas fraquejarem quando sorri, do quanto me faz rir quando só come a casca da uva. Do quanto eu fui bobo de não dizer isso antes.

Luke sentou em uma cadeira disponível ao lado da cama e observou os lábios dela. Bianca era linda. Disso ele não tinha duvida, mas como ele poderia nunca ter dito isso a ela antes? Ele pensava que só um cego não veria isso. Por um impulso ele se levantou e ficou a poucos centímetros da boca de sua amiga.

De repente uma enfermeira chegou para dar um remédio ou sei lá o que para Bianca e acabou interrompendo.

- Oh, desculpa. Não sabia que Bianca tinha companhia.

- Não foi nada. Teremos muito tempo ainda para aproveitar. – Respondeu o garoto com um sorriso no rosto. Abaixou-se e beijou a testa da menina, que era o único lugar disponível, sem muitos cortes e sem pontos.

- Mais uma vez, me desculpe. – Disse a moça, totalmente envergonhada. Luke sorriu, aceitando as desculpas e deixou o quarto.

- É Bianca, ele te ama mesmo. Pelo menos agora você vai acreditar em mim quando eu falar que ele te adora. – Disse a enfermeira, que já era amiga da garota desde antes. Sorriu, injetou o medicamento e deixou Bianca com seus pensamentos subconscientes no quarto.

- Peter? – Perguntou Bianca, flutuando de seu corpo para o chão do hospital.

- De onde você tirou essa ideia maluca de ser atropelada? – Disse o anjo que estava sentado na beirada da janela.

- Sei lá. – Respondeu a garota ainda confusa.

- Eu te dei duas opções. – Falou Peter, um pouco bravo.

- Você já devia saber que eu sou um tanto... - Bianca parou por falta de adjetivo para expressá-la.

- Curiosa? Irresponsável? Desobediente?

- É por aí.

- É, eu sei. Mas você deveria saber que isso tudo ia doer. – Disse Peter, pulando da janela para o chão. Ele apontou para o corpo quase sem vida na cama, com vestes brancas e com o rosto quase que irreconhecível de tão retalhado.

- Nem doeu tanto. E feia eu já era antes. – A garota respondeu rindo para não deixar as lagrimas escorrerem.

- Não minta pra mim. Sou seu protetor, lembra? Eu sei que dói, e que você está com medo de morrer.

A menina sentou-se na cadeira antes ocupada por seu amigo e colocou as mãos no cabelo cacheado. Apoiou os cotovelos no joelho e sentiu a garganta trancar e as narinas queimarem de tanto que ela tentava não deixar as lagrimas caírem.

- Eu vou morrer? – Perguntou ela com um fio de voz.

- Não sei, minha querida. – Peter disse, colocando sua mão sobre a cabeça de sua protegida. Bianca olhou para cima e viu aqueles olhos castanhos misteriosos e por um impulso pulou nos braços do anjo. Ela precisava de um abraço para se sentir segura, porque viva ela não se sentiria de nenhuma maneira mais.

Peter se assustou um pouco entretanto retribuiu o carinho.

- Vai ficar tudo bem, meu amor.

- Não vai não, Peter. Não vai e nós dois sabemos disso.

O anjo pediu silencio e continuou a passar as mãos no cabelo da menina. Ele realmente não tinha toda certeza do mundo se ela iria sobreviver e nem que tudo ficaria bem pra ela. Ele não sabia se iria acordar, assim como seu protetor não sabia quando isso acontecera com ele, anos atrás.

De repente Bianca ouviu a voz de Luke. Ela se afastou de Peter e ficou perto da Bianca “morta”.

- Bi?

- Oi meu amor. Estou aqui. – Respondeu ela sorrindo.

- Ele não pode te ouvir bi. – Disse Peter, fazendo-a entristecer.

- Eu sei que você ouviu tudo que eu disse antes, e que nós fomos interrompidos na ultima vez, mas eu não iria conseguir ir pra casa sem fazer isso. – Disse Luke enquanto respirava forte uma ultima vez antes de fazer o que estava proposto a fazer.

Bianca olhou confusa para Peter, que dava os ombros pra ela, sem entender também o que o garoto queria.

Luke olhou para a amiga com ternura e a beijou nos lábios delicadamente. A Bianca “morta” não teve reação alguma, porém a Bianca “alma’ sentiu seus lábios contra os do amigo pela primeira vez em dezessete anos. A alma dela pulava como louca quando Westerfield deixou o quarto com um sorriso de orelha a orelha.

- Menino maluco esse. Beijar uma menina em coma. Ele acha o quê? Que você vai acordar como na Bela Adormecida? – Falou Peter meio indignado, não que ele estivesse com ciúmes, ele estava com inveja, afinal fazia muitos anos que ele não se apaixonava. Isso nunca mais iria acontecer com ele.

- Pois eu acho ele muito fofo Peter.

O anjo bufou e voltou a sentar-se na janela. Colocou suas mãos sobre a bancada e ficou balançando seus pés como uma criança ansiosa que espera o dentista a chamar para ver as caries.

- Peter, posso te perguntar algo? – Questionou a menina, deixando o lado animado e dando espaço a uma Bianca preocupada.

- Sim. O que quer saber?

- Como vou voltar para meu corpo? – Perguntou ela, dando uma risada nervosa.

- Quando for a hora você vai voltar.

- Quando for a ho... – Bianca foi puxada para seu corpo em uma velocidade indescritível, como se fosse um ímã.

A garota abriu os olhos e fitou o teto branco do hospital. Mexeu seus dedos devagar, depois os pés e decidiu chamar a enfermeira através de um botão vermelho ao lado da cama, que ela havia visto nos filmes, afinal nunca passara por uma situação como aquela antes. E esperava também nunca mais passar. Em poucos minutos a moça estava lá para ajudá-la.

- Bianca...você acordou. – Afirmou a mulher, com um largo e gentil sorriso no rosto.

- Camile. Não sabia que você trabalhava neste hospital. Que bom te ver. – Disse Bianca, um pouquinho atordoada.

- Igualmente. Se me dá licença, vou chamar o doutor para vê-la. – Dito isso, a garota viu Camile se retirar do leito. Bianca pensava em muitas coisas e em nada ao mesmo tempo. Ela não sabia o que dizer para o amigo que a amava, e era uma amor reciproco mas impossível ao ver dela.

- Senhorita Bianca? – Uma voz rude interrompeu os pensamentos da menina e a fez notar o homem parado no pé da cama com um guarda pó escrito Pedro Vasques em letras pretas.

- Sim?

- Sou seu médico e vim lhe explicar seu quadro de saúde.

Depois de alguns minutos Bianca sabia de tudo que havia acontecido com ela. Mais uma vez, é claro, afinal ela já sabia de tudo aquilo.

- Quando posso ir pra casa? – Foi a única coisa que ela conseguiu falar, alias, a única coisa que ela ainda não sabia. E a coisa que ela mais queria saber além de “o que vou fazer com relação a Luke?”

- Amanhã ou depois. – Respondeu Pedro. – Bem, eu tenho que ver outros pacientes, qualquer coisa é só chamar a enfermeira, ok?

- Sim. Obrigada.

A menina fechou os olhos e resolveu conversar com Peter mentalmente.

- Peter, eu nunca soube se você podia ler meus pensamentos ou não, mas de todo jeito vou tentar me comunicar com você. – Pensou Bianca. Sem obter nenhum tipo de resposta, continuou. – Sabe, eu não me arrependo de ter feito o que fiz, mas agora eu já não sei o que fazer.

Bianca esperou um minuto, dois, e nada de Peter falar algo. De repente a televisão ligou sozinha, fazendo-a pular, que como consequência deu um gritinho de dor pelas suas costelas que havia sido machucadas na colisão, mas nenhuma quebrada, graças à Deus.

- Amnesia foi a solução. – Dizia o entrevistado. Bianca notou que era o noticiário das seis horas da tarde. E então novamente, como se tivesse vida própria, o aparelho desligou-se sozinho.

- Amnesia, Peter? Sério mesmo? – Disse a garota, baixinho, temendo que alguém ouvisse e a tachasse de maluca ou lunática.

- Sim. – A televisão ligou e desligou em questão de poucos segundos, só se fazendo ouvir uma concordância.

- Você é um anjo criativo hein...televisão como comunicação. Essa é nova. – A garota deu uma risada sozinha e voltou a pensar. Amnesia. Até que não era uma ideia tão ruim assim.

- Filha? Meu amor, como você está? – Perguntou Teresa, na manhã seguinte, bem ansiosa com a resposta da menina.

- Bem, mamãe... mas já estive melhor. – Respondeu ela, apontando triste para a face toda retalhada.

- Pra mim, você continua linda bi. – Disse a mãe, sorrindo, mas era um sorriso meio preocupado. Elas não tinham condições de pagar o hospital e o senhor Westerfield havia se disposto a ajudar, mas a mulher não sabia se era correto aceitar.

- Mamãe, você tem que dizer isso, você é minha mãe. – Falou Bianca, dando um sorriso amarelo.

- Não é verdade.

- É sim.

Luke entrou no quarto e parou atrás de Teresa e por alguns minutos ficou olhando para Bianca, admirado que aqueles grandes olhos verdes da menina estivessem abertos e brilhando novamente. Notando a presença do melhor amigo da filha, Teresa deu uma desculpa e saiu do quarto.

- Eu trouxe pra você. – Disse ele, mostrando um ramalhete de girassóis, as flores favoritas da amiga.

“Amnesia, será que você vai me ajudar a sair dessa?” pensava Bianca.

- Obrigada. – Ela resolveu aceitar a ideia e começar com o teatro. – Mas quem é você?

- Não brinque comigo, meu amor.

- Me desculpa, mas eu não estou brincando.

- Bi, você não se lembra de mim?

- E por que devia lembrar?

- P-o-r-r-q-u-e nós nos amamos... – Gaguejou Luke.

- Então somos namorados?

- Não, mas quase isso.

- Não me lembro de te amar, e assim você está me assustando. – Disse a garota, enfrentando o personagem, que incrivelmente estava convincente.

- Bi, não... – Ele não conseguia terminar a frase.

- Eu não te amo.

- Não... – Westerfield continuava travado.

- Por favor moço, você está me assustando. – Ela teve de se controlar para não chamá-lo de Luke ou Westerfield.

- Talvez você recorde de algo depois, mas eu preciso te dizer algo. E tem de ser agora. – Falou ele com lagrimas nos olhos, a garota estava sem entender nada.

- O quê? – Perguntou ela, tentando fazer uma voz que escondesse a sua real preocupação.

- Eu estou aqui uma ultima vez pra te pedir uma ultima coisa antes que... – Ele fez uma pausa novamente.

- Antes que...?


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