– Para com isso, Luke Westerfield. – Falava Bianca, de maneira falhada, afinal estava quase que sem fôlego algum, enquanto ele fazia cosquinha nela. Estavam os dois brincando no chão, bem no meio do ginásio de esportes do colégio. Eles eram melhores amigos desde sempre, um sempre considerado desde a primeira série. Luke era o menino mais bonito e pegador da escola inteira, já Bianca era a garota mais tímida, desastrada e legal. A parte legal dela somente Luke conhecia, pros outros ela era nerd demais pra ser considerada assim.

– Eu não vou parar até você me dizer que vai comigo naquele casamento. – Ele continuava a fazer a pobre garota se contorcer na tentativa de fazê-lo parar. Bianca se recusara afinal casamentos a obrigavam a usar vestido e se maquiar, ainda mais se ela fosse como madrinha ou sei lá o que, que era o que Luke estava a convidando e além de tudo ainda era para ser seu par.

– Eu não quero garoto, já disse. Você nem se sensibiliza depois que eu quase desmaiei com a bolada que a Caroline me deu, não?! Ainda está doendo. – Ela continuava rindo, ele sabia que cosquinha era o ponto fraco dela. Isso e o brigadeiro que só ele sabia fazer. E também a cabeça da garota ainda doía pela bolada – proposital - da namorada de seu amigo, isso só fazia ela se sentir pior, Caroline não gostava nem um pouco dela, e Bianca temia que Luke se afastasse dela por conta disso.

– Eu não sinto pena não, você é forte, vai sobreviver. E além do mais eu também já falei. Só vou parar quando você disser que vai.

– Eu não quero ir, Luke.

– Tudo bem, eu tenho mais meia hora pra fazer você mudar de ideia.

– Não, não, não.

– Tenho sim. E vou usar cada minuto, pense nisso.

– Por que não convida outra hein? Tipo sua namorada? – Falou ela, aproveitando que ele havia parado um pouco para olhá-la nos olhos.

– Porque eu quero te levar para aquele inferno junto né. E Caroline tem compromisso no sábado. – Respondeu ele, sorrindo de canto, fitando os olhos grandes e castanhos dela.

– Obrigada pela consideração, mas vou recusar.

Dito isso, ele voltou a fazer cosquinhas, alternando entre os pés e a barriga, lugares onde ela mais ria.

– Certeza que vai recusar? – Perguntou ele, rindo da risada dela e implorando por dentro que sua melhor amiga aceitasse o convite.

– Você promete que nunca mais vai fazer cosquinha em mim se eu disser que vou?

– Não.

– Então não vou.

– Um mês sem. – Falou Luke, tentando um acordo.

– Três meses. – Disse ela.

– Dois.

– Fechado.

– Fechado.

Os dois se levantaram como se nada tivesse acontecido e voltaram a implicar um com o outro como sempre faziam. Com empurrões, socos e tapas. Saíram do ginásio e foram para o estacionamento, o pai de Luke já devia estar quase chegando.

Bianca saiu pela porta da escola e olhou para o céu, vendo o azul mais vivo que já havia visto em seus dezoito anos de existência. Ouviu os pássaros cantando sobre a maior arvore da escola, a mais bonita também, era uma mangueira gigante, que fazia abrigo para os dias mais quentes do ano e insuportáveis também, afinal ela adorava subi-la para observar o sol se pôr quando estava cansada da namorada de Luke, ou cansada de ser invisível, ou mesmo triste por não ter mais seu pai por perto.

– Levo o vestido para você amanhã. Acho que minha tia já deve ter levado ele até minha casa. – Disse Luke, enquanto esperavam o pai de Luke chegar para levá-los para casa. Bianca e Luke eram vizinhos.

– Tudo bem. Mas não me diga que é rosa, eu não fico muito bem de rosa sabia.

– Não é rosa. É azul.

– Pelo menos isso.

– Minha mãe disse que você vai ficar perfeita nele. Discordei com ela. Você não ficaria bonita nem com uma plástica. – Falou Luke, rindo.

Bianca deu um soco no ombro do menino e riu.

– O pior é que é verdade.

– Eu estava brincando, você sabe que é linda bi.

– Nem tente me fazer te emprestar o vídeo game que comprei ontem. Ele é meu, e não vou te emprestar ele tão rápido assim não. – Falou Bianca, séria.

– Eu nem queria mesmo.

Os dois riram e se olharam. Bianca pensava em como era bom estar ao lado de um menino como Luke, ela sabia que ele nunca iria descobrir a paixão dela por ele e muito menos se apaixonar por ela, ele já tinha a namorada “perfeita” que pra ela era uma patricinha burra, nojenta, riquinha e loira oxigenada, porém continuava a sonhar com ele toda noite, imaginando como seria o dia em que a timidez a deixaria e ela iria poder contar tudo pra ele. Esse dia nunca passou de sonho. Luke pensava em como ela o deixava feliz, e que sua namorada não o fazia sorrir como Bianca sabia fazer. Luke sempre sentiu algo pela melhor amiga, mas por alguma razão desconhecida nunca falou nada. Até o dia em que surgiu a oportunidade de esquecê-la, e namorando Caroline ele esperava que isso pudesse acontecer.

Vendo que passaram-se alguns minutos e os dois continuavam se olhando intensamente, Bianca olhou para seus tênis envergonhada de seus pensamentos, imaginando como seria se ele pudesse lê-los, viu seu All Star azul com uma carinha feliz em canetinha preta que seu melhor amigo havia desenhado mais cedo naquele mesmo dia. Sorriu de repente fazendo Luke perguntar a razão da felicidade.

– Eu te amo. – Falou ela. Bianca tirou o sorriso do rosto quando notou que ela havia mesmo dito aquilo em voz alta. A garota havia pensado nessa resposta, entretanto nunca iria dizer em bom tom para que ele pudesse ouvir. Ela corou, e torceu com todas suas forças para que ele não houvesse escutado, mas ele estava sorrindo. Bianca se perguntava o que aquilo significava, quando ele puxou delicadamente seu queixo para cima, fazendo com que ela pudesse ver os olhos verdes brilhantes e cabelos castanhos cacheados dele.

– Eu também te amo. – Disse ele, fazendo Bianca sentir suas pernas tremerem com a proximidade dos dois, ela conseguia sentir o cheiro do perfume dele, que era seu favorito.

– Que bom que nos amamos então. – Falou ela, baixando a cabeça e encarando o chão novamente.

– É sério, eu te amo mesmo. De verdade. – Luke disse, não acreditando que tivera coragem de se expressar daquela maneira. Ele sabia que ela era muito mais que uma simples amiga, mesmo que ele fosse compromissado. Naquele momento não se importou com Caroline e seus gritos e estresses, muito menos com os pedidos de seu pai para que ele mantivesse aquele namoro até que pudessem se casar com aquela irritante namorada que tanto o consumia, tirava seus sorrisos e bom humor. Segundo o pai, se casar com ela, que era muito, muito, muitíssimo rica, seria a solução para a inevitável falência que estava tão perto da família Westerfield e seus negócios.

– Você me ama mesmo? – Perguntou ela, sem nem imaginar o que se passava na cabeça de seu amigo.

Antes que ele pudesse respondeu qualquer coisa, o tempo parou. Literalmente. Bianca viu o tempo parar. Tudo ao seu redor simplesmente ficou imóvel.

– O que está acontecendo? – Perguntou ela, na esperança de que tudo não passasse de uma brincadeira ou algo do gênero. Ela não estava entendendo nada. Bianca viu os pássaros pararem no meio daquele céu tão azul, as árvores pararem de balançar por causa do vento, Luke imóvel, assim como tudo, tudinho, sem exceção. Além dela. “Por que só eu consigo me mexer e falar?” era a pergunta que pairava na mente da garota. – Luke, para de brincar comigo. – Cochichou ela.

– Ele não está te ouvindo, não adianta nem tentar. Ninguém vai falar com você. – Disse uma voz masculina vindo de trás dela.

Cada musculo dela se petrificou. Ela estava sozinha, sem ninguém para ajudar, estranhamente todo mundo resolveu congelar enquanto ela era assediada por um homem que ela sequer tivera a coragem para se virar e ver o rosto.

– Não me machuque. – Falou ela, sem força para correr e tentar se salvar. Ela riu vendo o quanto era coisa de protagonista de filme de terror pedir por misericórdia em um momento que ela poderia fugir ou gritar por ajuda.